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A área de estudo está localizada no bairro do Costa Azul, na região da Orla Atlântica da cidade (Mapa 05). Durante a década de 1970, esse bairro teve um grande crescimento e valorização imobiliária, com a construção de muitos empreendimentos de edifícios de apartamento, voltados para as classes de rendas médias. Pela sua proximidade com a praia, também foi receptor de novos hotéis e serviços voltados para o turismo. Na década seguinte, pela sua localização estratégica entre o novo centro Iguatemi e a área de expansão da Av. Paralela, o Costa Azul também foi objeto de novos empreendimentos voltados para o comércio e serviços urbanos, conforme descrito mais detalhadamente, adiante.

Mapa 05: Localização do bairro do Costa Azul em Salvador/BA

Fonte: CDM (2008).

A localidade de Paraíso Azul formou-se originalmente por processo de ocupação informal no final da década de 1970, em terreno de propriedade do Instituto de Assistência e Previdência do Estado da Bahia (IAPSEB), localizado no Costa Azul, no mesmo momento em que eram construídas as primeiras residências no bairro do STIEP para funcionários da Petrobrás, como mostra o Mapa 06.

Na década de 1980 houve um aumento do número de habitações construídas, na localidade de Paraíso Azul, cujos moradores eram provenientes de outras invasões próximas a esta área, que foram extintas, como no antigo Hotel Costa Azul e o Kartódromo do STIEP (CDM, 2008, p.11).

Vale ressaltar que, nessa mesma década, essa região da cidade passa por um momento de intensa valorização imobiliária, em virtude dos investimentos públicos do Projeto Vale do Camurujipe, que previa obras de drenagem no leito desse rio e em diversos bairros a ele integrados. Segundo Gordilho-Souza (1990), para a viabilização desse projeto, a invasão conhecida como União Paraíso, situada entre a foz do Rio Camurujipe e a Av. Magalhães Neto, abrangendo as áreas do Kartódromo e do antigo Hotel Costa Azul, foi relocada para outras áreas da cidade, principalmente para loteamentos populares nos bairros mais periféricos de Beiru, São Cristovão, Mussurunga, Boca do Rio e Pituaçu. Entretanto, segundo relato de moradores antigos, algumas famílias da antiga União Paraíso receberam a indenização e ocuparam a área de Paraíso Azul. Ainda em 1980, o IAPSEB inicia o processo de cadastramento dos moradores da área com o objetivo de controlar a invasão, gerando um sentimento de incerteza na população (CDM, 2008, p.16).

O incremento dessas ocupações, legais e ilegais, pode ser constatado no Mapa 07, que mostra a ocupação urbana do bairro em 1992. Destaca-se que, nesse período, já haviam sido construídas todas as vias do Costa Azul, exceto as que foram implantadas nas obras de urbanização integrada em Recanto Feliz e Paraíso Azul, em 2009. Nos Desenhos 01 e 02, que mostram perfis transversais do terreno das áreas de Recanto Feliz e Paraíso Azul, juntamente com a Figura 07, com imagens desses locais, percebe-se que o greide da via foi planejado acima do nível do terreno existente. Analisando essa informação com a implantação dos prédios construídos no entorno (Figura 08), percebe-se que o projeto dessa via favorece a implantação de pisos de garagem dessas edificações, inferindo-se, portanto, que já existia a ideia de remover a população desse local para construção de mais edificações para rendas mais altas.

Desenho 01: Perfil do terreno – Recanto Feliz.

Fonte: HISA, 2001a

Desenho 02: Perfil do terreno – Paraíso Azul.

Fonte: HISA, 2001b

Figura 07: Edificações de Recanto Feliz e Paraíso Azul situadas abaixo do nível da rua existente.

Fonte: Imagens registradas pelo autor para esta pesquisa (2011)

Figura 08: Implantação de edificações do Costa Azul, aproveitando o nível da rua para implantação de pisos de garagem.

Em 1990 ocorreram alguns conflitos entre moradores e o IAPSEB, com a demolição de algumas casas em Paraíso Azul, que voltam a ser construídas, estendendo a ocupação para um novo núcleo, nomeado pelos moradores de Recanto Feliz. Esse novo assentamento também pode ser verificado através da aerofoto de 1992, no Mapa 07. Em 1991, o IAPSEB entra na justiça com o pedido de reintegração de posse, cuja ação foi julgada procedente em 1995 (CDM, 2008, p.17). Esse mandado não foi efetivamente executado e não se sabe quais as razões que justifiquem isso.

Esses embates fortaleceram o sentimento de associativismo entre os moradores e de pertencimento dos mesmos àquela área. A comunidade se mantém na luta e, em 1997, funda a Associação de Moradores Santa Rosa de Lima, que passa a buscar assessoria jurídica e solicitar melhorias urbanas frente aos órgãos competentes (CDM, 2008, p.17). O nome da associação deve-se ao apoio da Igreja Católica a essa comunidade, cuja paróquia no bairro do Costa Azul homenageia Santa Rosa de Lima, primeira santa do continente latino-americano.

Em 1999, a Secretaria de Administração do Estado da Bahia (SAEB) autorizou a venda dos terrenos do IAPSEB em leilão. A comunidade se mobilizou, tentando evitar que a venda desse terreno fosse efetivada: entrou com uma ação cautelar, tentando impedir a realização do leilão; buscou o apoio de políticos e parlamentares; fez panfletagem na orla de Salvador; envidou esforços para que matérias jornalísticas fossem divulgadas em grandes jornais de circulação (CDM, 2008, p.17). Ao final, não houve interessados na compra do terreno. Após a tentativa frustrada de venda dessa gleba, o Governo do Estado autoriza a CONDER a realizar estudos para a urbanização integrada da área. A evolução dessa ocupação, até 2006, está registrada nos Mapas 08, 09 e 10.

O primeiro projeto de urbanização integrada para a área é elaborado em 2001, pela empresa HISA Engenharia LTDA. Entretanto, devido à mudança de gestão na SAEB, o novo secretário tenta reverter a situação, no sentido de desocupar a área, no final de 2001 (CDM, 2008, p.17). A associação de moradores reivindica a manutenção da população no local e o início das obras, conseguindo o apoio do Secretário de Planejamento à época, que considera “irreversível a permanência da comunidade na área” (CDM, 2008, p.17). Esse imbróglio é resolvido em janeiro de 2003, quando a Assembleia Legislativa transfere a propriedade do terreno para a

CONDER, no intuito de executar as obras de urbanização. Em 2004, a empresa Geotechnique Consultoria e Engenharia LTDA é contratada para revisar os projetos, cujas obras iniciam em 2005, com recursos do Programa Pró-Moradia do Governo Federal (CDM, 2008, p.18).

Como síntese dessa etapa do processo de urbanização integrada, abrangendo desde o surgimento da ocupação até a realização dos projetos de urbanização integrada, o Quadro 04 apresenta os atores envolvidos e suas ações, 1970 e 2004.

3.2. INSERÇÃO URBANA NO BAIRRO: RECANTO FELIZ E PARAÍSO

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