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2.4 A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

2.4.1 Histórico de tramitação de PNRS

A lei que instituí a PNRS é a número 12.305, de 2 de agosto de 2010 e sua regulamentação ocorreu pelo Decreto no 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Apesar de sua

datação ser definida em 2010, o início do trâmite legal que a antecede sua promulgação foi em 1989, contabilizando de mais de vinte anos de tramitação no congresso.

O iniciar de um debate brasileiro no âmbito legislativo a respeito de regulação e implementação de uma política na esfera de gerenciamento de resíduos sólidos é do final dos anos oitenta (FARIA, 2012). O processo se inicia com uma proposição levada ao Senado de uma legislação específica para os resíduos de serviço de saúde, o Projeto de Lei (PL) do senado nº 354, de 1989 (BRASIL, 1991).

A partir de então, da década de noventa, foram elaborados mais de cem projetos de lei voltados aos resíduos (CUPERTINO, 2008; NETO; MOREIRA, 2010). Todos esses puderam ser vinculados ao posterior PL 203 do ano de 1991, estabelecido como projeto de lei na Câmara dos Deputados, o qual dispunha sobre o acondicionamento, coleta, tratamento, transporte e destinação final dos resíduos de serviço de saúde (BRASIL, 1991).

O inicial PL n° 203/91, acompanhado de suas atualizações, tramitou juridicamente por dezenove anos, acompanhados por um extenso histórico de modificações, inclusões e requerimentos do teor legal ao longo dos meses e anos de trâmite na câmara (CÂMARA DOS DEPUTADOS, s/d).

Santiago (2016), baseada nas informações disponibilizadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) destaca importantes acontecimentos e respectivas datações que fizeram parte do processo de elaboração e instituição da política nacional de resíduos, com a finalidade de melhor compreender o processo burocrático desta tramitação, elaborou uma linha do tempo com tais acontecimentos (Figura 6).

Extraído de: SANTIAGO, 2016.

Siglas da Linha do Tempo: RSS – Resíduos de Serviços de Saúde; PL – Projeto de Lei; RS – Resíduos Sólidos; MA – Meio Ambiente; MMA – Ministério do Meio Ambiente; CNMA – Conferência Nacional de Meio

Ambiente; CNI - Confederação Nacional das Indústrias; MNCR – Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis.

Com o passar dos anos, e no decorrer do processo de tramitação, o projeto de lei passou a incorporar outras questões relativas aos resíduos sólidos, ampliando o escopo que previamente era restrito aos resíduos se serviço de saúde, alicerçando-se nas premissas estabelecidas na Agenda 21 quanto ao manejo ambientalmente e socialmente adequado dos resíduos (FARIA, 2012).

Tal ampliação da abrangência do projeto de lei teve início em 1988 com a instalação de um Grupo de Trabalho no Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) que teve como finalidade elaborar um documento de proposição, resultando na resolução CONAMA nº 259/99 intitulada “Diretrizes Técnicas para a Gestão de Resíduos Sólidos”, que apesar de ter sido aprovada no âmbito plenário do CONAMA, acabou não entrando em vigor (CUPERTINO, 2008; NETO; MOREIRA, 2010).

No ano de 2001 a Câmara dos Deputados criou uma Comissão Especial da Política Nacional de Resíduos, tal medida aparentava ser decisiva no fechamento do processo do projeto de lei e apresentação de uma política nacional, pois tal comissão tinha como eixo central de

Figura 6 - Linha do tempo de principais eventos que constituíram a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

trabalho a elaboração de um único documento que reunisse os diversos projetos apensados ao PL nº 203/91 (CUPERTINO, 2008), a qual pode ser observada dando início a linha do tempo da Figura 6. Entretanto, a Comissão foi dissolvida pelas novas eleições para o cargo de Deputado Federal antes que fosse encaminhado qualquer documento efetivo (NETO; MOREIRA, 2010).

Três anos posteriores, o Ministério do Meio Ambiente se envolveu com a construção de um texto de regulamentação para a questão dos resíduos, enquanto o CONAMA realizou um seminário visando o levantamento e discussão de contribuições para o projeto de lei, os quais foram objetos centrais de estudos na Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos do MMA a fim de consolidá-los e sistematizá-los juntamente com os projetos de leis já existentes no Congresso (CUPERTINO, 2008).

No âmbito da sociedade civil, debates e fóruns ocorreram a fim de progredir e subsidiar a estruturação de tal política (NETO; MOREIRA, 2010). Como o 1º Congresso Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis no ano de 2001, e dois anos depois, o I Congresso Latino- Americano de Catadores, além de, no ano de 2005, ocorrer a II Conferência Nacional de Meio Ambiente, tinha como um dos propósitos, consolidar participação da sociedade na formulação de políticas ambientais, na qual a temática de resíduos sólidos foi trabalhada como prioridade (BRASIL, s/d).

Já no ano de 2005 foi formado um grupo de trabalho a partir da Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanas constituinte do Ministério do Meio Ambiente, a fim de discutir as questões levantadas pelos eventos citados acima, a partir dele foi então elaborado o PL n° 1991/07 – Política Nacional de Resíduos Sólidos que após apresentação e análises das comissões responsáveis, o PL n° 1991/07 foi apensado ao já existente PL n° 203/91 sustentando o PL como uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (FAGLIARI, 2017).

No ano de 2008, audiências públicas foram realizadas, contando com a participação de representações da Confederação Nacional das Indústrias, do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis e demais setores interessados (BRASIL, s/d).

Neste contexto, o processo de constituição da lei contou com discussões que envolviam representatividades governamentais das esferas federais, estaduais e municipais, stakeholders de segmentos empresariais, comerciais, de defesa ao meio ambiente e aos consumidores e de cooperativas de catadores de materiais recicláveis (FARIA, 2010).

Faria (2012) descreve como um dos desafios a ser perpassado no processo de aperfeiçoamento e consolidação do conteúdo do então projeto de lei, o de constituir uma lei que fundamenta diretrizes gerais e ações aplicáveis relativas aos resíduos sólidos contemplando as

competências dos entes federativos, com instituições específicas aos estados e municípios, além de aplicações gerais e conjuntas entre eles, considerando a autonomia imputada a cada um. O que pode ser identificado como um dos fatores de complexidade na elaboração do texto do projeto de lei, contribuindo para o perlongar do processo.

Após o envolvimento dos entes federativos governamentais e da sociedade civil, de forma conjunta aos constantes processos de tramitação jurídica. O projeto de lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos foi então encaminhado ao Senado Federal passando por análise de comissões imputadas, sendo aprovado em regime de urgência em julho de 2010, passando para a sanção do presidente da República (NETO; MOREIRA, 2010)

Em 02 de agosto de 2010, as documentações legais anteriores são transformadas na Lei Ordinária nº 12.305/2010, regulamentada, em dezembro, pelo decreto nº 7.404/2010, instituindo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2010; BRASIL, 2010b).

Apesar do longo período do processo de tramitação, e da promulgação tardia ao se considerar, também, o contexto de necessidade de regulamentação e instituição de política para os resíduos sólidos no país, a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi considera um marco para a gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, o qual perdura até os dias atuais.