• Nenhum resultado encontrado

HISTORICIDADE DA CIRURGIA PLÁSTICA E ESTÉTICA

3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO

4.1 HISTORICIDADE DA CIRURGIA PLÁSTICA E ESTÉTICA

A cirurgia plástica como ramo da cirurgia geral surgiu como especialidade logo após a primeira guerra (1914), em face da necessidade de atender os feridos e traumatizados advindos daquela guerra. Foi, portanto, o marco principal do surgimento dessa especialidade. No final do século XIX, com as primeiras próteses nasais, seus conhecimentos adquirem dimensões principiantes, dando origem ao que se chama atualmente de rinoplastia (intervenção cirúrgica reparadora efetuada no nariz) (STOCO, 2014, p. 760).

Na mesma posição, Gustavo Borges (2014, p. 114-115) discorre que:

A cirurgia plástica constitui uma especialidade independente que surgiu a partir da primeira guerra mundial (1914/1918, em face da necessidade de profissionais destinados às reparações corporais, especialmente de Sir Harold Gililes neozelandês, que na Inglaterra atuou fortemente na realização de cirurgia plásticas aos mutilados pela guerra”. “Mais tarde, no século XX, com as novas especialidades, que demandavam maior técnica e habilidade manuais, surgiram os procedimentos denominados cirurgia plástica.

O autor ressalta, ainda, que “dessa maneira, a valorização social no século XX, está voltada a produção e o corpo é a máquina mediante a qual se realiza essa produção” (BORGES, 2014, p. 115).

A cirurgia estética, ao longo do tempo, passou por três fases distintas no que tange sua aceitação como procedimento médico científico: fase da rejeição; da aceitação com reservas; e a da admissão ampla. Caio Mário da Silva Pereira (2012, p. 155), assevera que a fase da rejeição ocorreu quando do surgimento das cirurgias plásticas. Corresponde a um período em que tais intervenções não estavam, ainda, dotadas de um rigor científico. Era uma fase de descobertas e experiências. Entendia-se que a cirurgia plástica não se destinava a curar uma enfermidade, mas tão-somente corrigir eventual imperfeição física. Daí o fato de ser discriminada e, consequentemente, rejeitada. Assim, caso não obtido o resultado previsto,

47

presumia-se que fora realizada uma intervenção sem qualquer utilidade para a saúde do paciente.

A segunda fase se deu quando da aceitação com reservas, surgiu por volta da segunda década do século passado, mais precisamente à época do julgamento do Tribunal do Sena, em 25 de fevereiro de 1929, o qual considerou a questão de saber se o médico incide em culpa sempre, ou se depende esta das circunstâncias de cada caso. Destarte, passou-se a entender que, como a cirurgia plástica não era proibida por lei, não poderia ser considerada um ato ilícito. Conciliou-se, então, o Direito, com o anseio das pessoas em corrigir imperfeições físicas, renovando, em muitos casos, o prazer pela vida, a esperança de novas chances na área sentimental e profissional, em face da melhor aceitação pela sociedade, que privilegia os de “boa aparência” (PANASCO, 1984, p. 241).

Somente em 1930 é criada a Sociedade Científica Francesa de Cirurgia Reparadora, Plástica e Estética, embora tendo suas raízes assentadas há milênios, pelas mãos dos artesãos indianos, que destinavam-se aos mutilados, que ali recorriam para que fossem feito uma modelagem e reconstituição de alguns órgãos ou membros, mais somente em 1950 que os tribunais italianos, franceses, espanhóis, entre outros, admitiram as cirurgias destinadas a melhorar ou embelezar o corpo, como sendo uma atividade legalmente justificada (GIOSTRI, 2009, p. 114-15).

Vale ressaltar que a cirurgia plástica divide-se em cirurgia plástica reparadora ou corretiva, que visa corrigir enfermidades congênitas ou adquiridas, como por exemplo, pessoa que nasce com lábios leporinos ou alguém que sofreu um acidente e, por isso, ficou com alguma deformidade; e cirurgia estética propriamente dita, ou consmetológica, que objetiva eliminar imperfeições da natureza, como os vincos na pele causados pelo decurso do tempo ou, ainda, obesidade em locais indesejados, concluindo, que visa melhorar a aparência (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 416).

4.1.1 Cirurgia plástica reparadora

Sabe-se que a primeira cirurgia plástica reparadora teve como objetivo corrigir uma deformidade física congênita ou traumática, que nasceu com a pessoa ou surgiu no curso da vida. Um exemplo desse tipo de cirurgia é a eliminação de uma cicatriz causada pela retirada de um tumor. Além disso, a obrigação do médico, nesse caso, é de meio, pois ele não se compromete a curar o paciente, e sim, a fazer tudo que está ao seu alcance para melhorar a

48

aparência física de seu paciente, aplicando as técnicas disponíveis pela medicina e o conhecimento necessário (RIZZARDO, 2009, p. 345).

Para um entendimento melhor no tange a cirurgia reparadora, tem-se a explicação de Fabrício Zamprogna Matielo (2001, p. 66) aonde reporta que:

Quando utilizada para a recuperação de queimados de todos os graus, na restauração de membros lacerados por acidentes de automóveis, na constituição de partes do corpo suprimidas por cirurgias de controle de doenças como o câncer, como mecanismo de reparação de males congênitos e em tantos outros casos assemelhados, a cirurgia plástica recebe a denominação de terapêutica, exatamente porque se destina a corrigir uma falha orgânica ou funcional provocada por fatores exógenos, ainda que com origem endógena.

Concluindo, a cirurgia plástica reparadora tem como objetivo corrigir lesões deformantes, defeitos congênitos ou adquiridos, sendo considerada tão necessária quanto qualquer outra intervenção cirúrgica.

Entretanto, são procedimentos em que a cirurgia plástica procura aprimorar ou reparar as funções, e ainda restabelecer a forma mais próxima possível do normal, para dar ao paciente um conforto psicológico melhor, portanto:

Ao médico, nesses casos, por mais competente que seja, nem sempre pode garantir, nem pretender, eliminar completamente o defeito. Sua obrigação, por conseguinte, continua sendo de meio. Tudo fará para melhorar a aparência física do paciente, minorar-lhe o defeito, sendo às vezes, necessárias várias intervenções cirúrgicas sucessivas (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 416).

A seguir aborda-se a cirurgia plástica estética e suas especificidades.

4.1.2 Cirurgia plástica estética

Em contrapartida a cirurgia plástica estética tem como objetivo a realização de melhorias na aparência do paciente. A pessoa quando se submete a tal intervenção cirúrgica não a faz com a intenção ou propósito de obter melhoras em sua saúde, mas sim para proporcionar melhoramento em alguma parte física de seu corpo qual seja deformidade ou mesmo aspecto físico, com a intensão de fazer a correção na forma desejada. A cirurgia plástica estética tem como desígnio melhorar a aparência ou atenuar as imperfeições do corpo. Portanto, tendo como alguns exemplos de cirurgia plástica embelezadora, a eliminação de gorduras localizadas na área do abdome e a colocação de próteses de silicone (RIZZARDO, 2009, p. 345).

Como enfatiza Teresa Ancona Lopez (2004, p. 118-119), essa modalidade de cirurgia plástica é considerada como:

49

Ramo da medicina hoje em dia em franco desenvolvimento é o que diz respeito às operações que visam melhorar a aparência externa de alguém, isto é, tem por objetivo o embelezamento da pessoa humana. São as operações estéticas ou cosméticas. Tais intervenções foram muito combatidas no passado e, hoje, apesar de aceitas, a responsabilidade pelos danos produzidos por elas é vista com muito maior rigor que nas operações necessárias à saúde ou à vida do doente.

Entretanto, sabe-se a cirurgia plástica por si só não possui caráter emergencial, portanto, é meramente estética, tendo em vista que o paciente já se encontra sadio, procurando o especialista médico para apenas melhorar alguma parte de seu corpo que pretende fazer uma correção estética com o fito de embelezamento, conforme expressa Teresa Ancona Lopez (2004, p. 119-120), aonde diz que:

Na verdade, quando alguém, que está, muito bem de saúde, procura um médico somente para melhorar algum aspecto seu, que considera desagradável, quer exatamente esse resultado, não apenas que aquele profissional desempenhe seu trabalho com diligência e conhecimento científico. Caso contrário, não adiantaria arriscar-se a gastar dinheiro por nada. Em outras palavras, ninguém se submete a uma operação plástica se não for para obter um determinado resultado, isto é, a melhoria de uma situação que pode ser, até aquele momento, motivo de tristezas.

Observa-se que nesse tipo de cirurgia plástica a obrigação assumida pelo médico é de resultado, pois ele se compromete a chegar ao resultado acertado anteriormente em seu consultório. Além disso, para que o médico não venha ocorrer em riscos advindo de seu procedimento cirúrgico, deve o profissional agir de forma mais cautelosa possível, visto que o procedimento é feito em pessoa saudável.

Documentos relacionados