• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 5. MODELAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DAS HORTAS URBANAS

5.3 A VALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DAS PRÁTICAS ATUAIS DE REGA E FERTILIZAÇÃO

5.3.3 Horta da Granja_Conv

cenário apresenta, no período das precipitações de primavera, uma cultura (tomateiro) com maior extensão radical e com maiores evapotranspiração e absorção de N potenciais (Figs.

5.6 e 5.9). Figura 5.9 – Resultados do balanço hídrico dos zero aos 100 cm de profundidade, para o sistema da Horta Granja Conv.

No período das precipitações de outono encontra-se a fava ainda em fase de crescimento inicial (Fig. 5.9).

Capítulo 5. Modelação dos impactos ambientais nas Hortas Urbanas “casos de estudo

60 Balanço hídrico

A Fig. 5.10 apresenta alguns termos do BH. Também neste cenário não há evidência da ocorrência de

stress hídrico (Fig. 5.10a). A

análise comparativa com o cenário Granja Bio mostra que aqui as perdas por drenagem são superiores em resultado do maior volume de rega aplicado aliado à maior condutividade do solo (Ks = 12 cm h-1). Novamente verifica-se a ocorrência de picos de drenagem em resposta às precipitações elevadas. Novamente o armazenamento de água no solo se apresenta sempre próximo da CC, mantendo- se o potencial para drenagem.

Figura 5.10 – Resultados do balanço hídrico dos zero aos 100 cm de profundidade, para o sistema da Horta Granja Conv.

No entanto, o pico de drenagem originado com as primeiras precipitações de primavera é menor do que na Granja Bio uma vez que a cultura instalada apresenta maior profundidade radical. Com o segundo acontecimento de precipitações (outono) há uma resposta rápida da drenagem, uma vez que o solo tem baixa capacidade de retenção e a fava apresenta raízes em início de desenvolvimento. Neste caso o volume de água drenado é maior do que na Granja Bio, em resultado das propriedades hidrodinâmicas mais condutivas.

O Quadro 5.9 mostra que no total ocorreu um volume de drenagem de 300 mm para as camadas de solo abaixo da zona radical máxima, representando 26% do total das entradas (rega + precipitação) e 32% da ETa. Nos ciclos do tomateiro e da abóbora os valores percentuais de drenagem foram baixos [15 e 10 % (R + P respetivamente)], sendo no caso da abóbora essencialmente devido à rega. No ciclo do tomateiro a ETa foi ligeiramente superior às entradas de R + P o que significa que a cultura esgotou ainda parte do armazenamento do solo. A maior demanda climática da época do ano aliada à maior

Capítulo 5. Modelação dos impactos ambientais em hortas urbanas em Lisboa

61

profundidade radical do tomateiro permitem-lhe extrair uma maior quantidade de água do perfil diminuindo a disponibilidade para a drenagem. O maior valor percentual ocorre no ciclo da fava [D = 55 % (R+P)], em associação com a rega, que utilizou 49% das entradas de R+P, que foram superiores à sua ETP. A variação de armazenamento durante o ano foi de 7.4%.

Quadro 5.9 – Balanço hídrico até aos 100 cm de profundidade para o sistema Granja_Conv (todos os termos em mm)

Cultura Período Armazenamento P R D ES ETa

dias Inicial Final

Tomate 120 162 156 124 198 48 0 324

Abobora 150 160 157 37 450 49 0 415

Fava 90 163 174 187 180 203 0 180

Total 360 162 174 347 828 300 0 919

P-precipitação, R-rega, D-drenagem, ES-escoamento superficial, ETa-evapotranspiração atual

Balanço de azoto

Na Fig. 5.11a), que representa a evolução do azoto nítrico armazenado no solo, as setas representam a estrumação e as aplicações do adubo Foskamònio. Outra entrada importante neste sistema é o N transportado na água de rega, cuja concentração é de 83.5 mg L-1 de nitrato, praticamente igualando a contribuição da estrumação. Ao contrário do que se verifica na Horta Granja_Bio, aqui a disponibilização do N pelo estrume é muito mais lenta, em resultado da sua C/N mais elevada (Fig. 5.11a). Verifica- se a rápida disponibilização do N adicionado com o fertilizante, com parte na

forma amoniacal, mas que Figura 5.11 – Resultados do balanço de N dos zero aos 100

Capítulo 5. Modelação dos impactos ambientais nas Hortas Urbanas “casos de estudo

62

rapidamente nitrifica. setas representam a estrumação e as fertilizações).

Não se registam lixiviações durante o ciclo do tomateiro, pois as suas raízes atingem os 95 cm e é elevada a sua absorção potencial (Fig. 5.11b).

No entanto, devido à lenta disponibilização por parte do estrume, o tomateiro sofre algum

deficit de N. A abóbora satisfaz as suas necessidades em N (Fig. 5.11c) mas, sendo

pequena a profundidade das raízes, o nitrato é gradualmente transportado para as camadas inferiores, ficando acumulado até às precipitações de outono, durante o ciclo da fava. O resultado demonstra que o armazenamento de N em profundidade constitui risco de contaminação, podendo ser facilmente lixiviado com os fluxos de drenagem para profundidades sem raízes capazes de utilizar o nutriente acumulado. O Quadro 5.10 apresenta o balanço de N mineral entre a superfície e os 100 cm, para todo o ano cultural. Verifica-se que cerca de 36% do N disponibilizado pelo estrume, pelo fertilizante químico e pela água de rega é perdido. A lixiviação representa 60% das perdas. A maior perda percentual ocorre no ciclo da fava onde 56 % das entradas são transportadas para fora do perfil pelo fluxo de drenagem que encontra elevada disponibilidade de N no perfil. Nos ciclos do tomate e da abóbora a perda percentual por lixiviação é nula ou não significativa. As perdas gasosas por volatilização e desnitrificação correspondem a 22 % do total de perdas. Os restantes 18 % ficam temporariamente indisponíveis por imobilização. No ciclo do tomate as maiores perdas gasosas ocorrem por volatilização da amónia presente no estrume aplicado e por imobilização temporária devido à razão C/N = 20. No ciclo da fava as perdas na forma gasosa associam-se à desnitrificação, apresentando o solo teores de água superiores à CC durante um período considerável. O armazenamento de azoto mineral no solo aumenta em 91 kg ha-1 durante o ano cultural.

Quadro 5.10 – Balanço de N mineral até aos 100 cm de profundidade para o sistema da Horta Granja Conv. Todos os termos em kg ha-1 (aplicação de 20 ton ha-1 de estrume com C/N de 20)

Cultura Período N_Arm N Min N Estr N Fert N Reg N Lix N ES N Abs N Gas N Imob (dias) Inicio Fim

Tomate 90 62 91 12 84 125 41 0 0 133 36 46

Abobora 120 92 210 20 63 125 67 36 0 198 1 2

Fava 150 210 153 16 52 125 36 120 0 80 20 1

Total 360 62 153 48 197 375 144 156 0 411 56 48

N_Arm é o N armazenado, N_Min é o N resultante da mineralização da mo do solo, N_Est é o N disponibilizado pelo estrume, N_Fer é o N aplicado com a fertilização química, N_Reg é o N presente na água de rega, N_Lix é o N lixiviado, N_ES é o N perdido por escoamento superficial, N_Abs é o N absorvido pelas culturas, N_Gas são as perdas gasosas de N e N_imob é o N imobilizado.

Apesar de se esperarem maiores perdas por lixiviação em relação à Granja_Bio, devido à maior cinética da água, verifica-se que o oposto acontece. O maior potencial para drenagem deste solo é de certa forma compensado pela C/N mais adequada de um composto com maior percentagem de estrume de cavalo que de galinha e que disponibiliza o N de forma

Capítulo 5. Modelação dos impactos ambientais em hortas urbanas em Lisboa

63

mais gradual. Deste modo, aumenta a eficiência com que as culturas utilizam o nutriente existente, embora este, pela mesma razão, possa não ser o suficiente. O estrume da Granja Conv disponibiliza por ano cerca de 9 kg N por ton de estrume, enquanto que o da Granja_Bio disponibiliza quase 20 kg N por ton de estrume (cálculos apresentados no Anexo 6), valor em acordo com o apresentado em LQARS (2000).

Documentos relacionados