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Era 1966, quando dona Carminha chegou ao Hospital Psiquiátrico José Alberto Maia, um ano após a inauguração do mesmo. Trinta e cinco anos depois, el era o maior hospital do estado de Pernambuco em termos de estrutura manicomial com mil leitos, 400 femininos e 600 masculinos; 99% deles conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS), abrigando pacientes de 80 municípios pernambucanos. Foi fechado no di

Observatório de Saúde Mental & Direitos Humanos, desde 2004 o Programa Nacional de Avaliação de Serviços Hospitalares (PNASH), recomendara o seu descredenciamento do SUS, devido à situação de abandono em que se encontrav A instituição foi considerada uma das cinco piores no que se referia a qualidade do atendimento, dentre 168 unidades psiquiátricas do país. O seu fechamento é considerado um marco por aqueles que participam da Luta Antimanicomial no Brasil.

Foto 2 - Fachada do Hospital Alberto Maia (Camaragibe

pouco mais de quatro décadas no cuidado do portador de transtornos mentais, que lida com códigos e saberes de saúde legitimados pela ciência médica, que cuida do corpo físico, da assistência medicamentosa. Investigar como ela elabora estes dois

res em saúde é o principal desafio ao qual me proponho neste trabalho.

O hospital psiquiátrico Alberto Maia

Era 1966, quando dona Carminha chegou ao Hospital Psiquiátrico José Alberto Maia, um ano após a inauguração do mesmo. Trinta e cinco anos depois, el era o maior hospital do estado de Pernambuco em termos de estrutura manicomial com mil leitos, 400 femininos e 600 masculinos; 99% deles conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS), abrigando pacientes de 80 municípios pernambucanos. Foi fechado no dia 30 de dezembro de 2010. Segundo o Observatório de Saúde Mental & Direitos Humanos, desde 2004 o Programa Nacional de Avaliação de Serviços Hospitalares (PNASH), recomendara o seu descredenciamento do SUS, devido à situação de abandono em que se encontrav A instituição foi considerada uma das cinco piores no que se referia a qualidade do atendimento, dentre 168 unidades psiquiátricas do país. O seu fechamento é considerado um marco por aqueles que participam da Luta Antimanicomial no Brasil.

Fachada do Hospital Alberto Maia (Camaragibe – Pernambuco

Foto: Wilson Inácio – Acervo pessoal (2012)

pouco mais de quatro décadas no cuidado do portador de transtornos mentais, que lida com códigos e saberes de saúde legitimados pela ciência médica, que cuida do corpo físico, da assistência medicamentosa. Investigar como ela elabora estes dois

res em saúde é o principal desafio ao qual me proponho neste trabalho.

Era 1966, quando dona Carminha chegou ao Hospital Psiquiátrico José Alberto Maia, um ano após a inauguração do mesmo. Trinta e cinco anos depois, ele era o maior hospital do estado de Pernambuco em termos de estrutura manicomial com mil leitos, 400 femininos e 600 masculinos; 99% deles conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS), abrigando pacientes de 80 municípios a 30 de dezembro de 2010. Segundo o Observatório de Saúde Mental & Direitos Humanos, desde 2004 o Programa Nacional de Avaliação de Serviços Hospitalares (PNASH), recomendara o seu descredenciamento do SUS, devido à situação de abandono em que se encontrava. A instituição foi considerada uma das cinco piores no que se referia a qualidade do atendimento, dentre 168 unidades psiquiátricas do país. O seu fechamento é considerado um marco por aqueles que participam da Luta Antimanicomial no Brasil.

O ex-deputado federal Marcos Rolim (PT/RS), integrante das Caravanas Nacionais de Direitos Humanos, criada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados descreve assim o Hospital Alberto Maia por ocasião de sua visita em 2000:

[...] O que parece incrível nesta instituição é o número de internos. Camaragibe é uma pequena cidade da região metropolitana. Quando se entra no Hospital, há uma sala de recepção através da qual se tem acesso à área interna por uma porta. Quando os integrantes da caravana entraram por aquela porta puderam vislumbrar um mundo absolutamente "alternativo" do outro lado; algo assim como outra dimensão da vida reunindo pessoas com sofrimento psíquico em uma convivência natural nos marcos de uma área que faz lembrar uma pequena vila. No momento em que chegamos ali, havia um intenso movimento dos pacientes por essa área aberta. A decoração para as festas juninas ofereciam ao ambiente uma imagem ainda mais familiar de uma cidadezinha de interior. Uma cidade de loucos, essa foi a primeira impressão. A favor do hospital, podemos afirmar que os pacientes não estão abandonados. Há aqui um acompanhamento efetivo. Até que ponto ele é resolutivo não podemos afirmar. Também aqui é absolutamente evidente a mistura de miséria, abandono familiar e doença mental. (ROLIM, 2012, p. 1).

Foi neste ambiente que dona Carminha desenvolveu as suas atividades profissionais, primeiro como auxiliar de enfermagem, depois como técnica de enfermagem, por 43 anos (de 1966 a 2009). Foi lá também que conheceu o seu atual marido, um médico psiquiatra.

Nas diversas conversas que tivemos a respeito desta unidade hospitalar, a yalorixá jamais se referiu ao estado de abandono ou falta de condições de tratamento digno aos pacientes. Ao contrário, sempre que questionada sobre o assunto, saiu em defesa do hospital, deixando bem claro o seu descontentamento com a maneira como a desospitalização, fruto da luta antimanicomial, aconteceu.

Quando eu cheguei ao Alberto Maia, não tinha muro, era cerca, só tinha um telefone na portaria, o dinheiro (salário) era pago na mão do funcionário. Era bem pequeno...quando eu cheguei eu acho que ele podia abrigar uns duzentos pacientes...Porque tinha quatro pavilhões e naquele tempo se podia botar qualquer quantidade de paciente. Não tinha uma quantidade exigida porque não era SUS, era INPS (Instituto Nacional de Previdência Social)... As condições eram muito boas! Era muito bom. O Alberto Maia era assim...Não tem preço você falar do Alberto Maia! (informação verbal45).

E continuou:

O fechamento do Alberto Maia pra mim foi terrível. Terrível pra mim não foi só ver o hospital fechar, foi em ver que aqueles pacientes não tinham direito

45

de decidir a vida deles e iam pra onde o pessoal queria que fosse...Porque se eu soubesse que eles sairiam dali pra ta melhor...Mas não ficaram melhor46. (informação verbal47).

O desmantelamento da assistência prestada pelo Hospital Alberto Maia foi atribuído à interferência do governo municipal na gestão das verbas dedicadas à instituição (municipalização). Em nenhum momento dona Carminha fez referência a superlotação, abandono familiar, ineficiência no tratamento ou qualquer um dos motivos comumente alegados nos diversos grupos que defenderam a desospitalização dos pacientes com transtornos mentais e fechamento do mesmo. Ela só conseguiu apontar como dado negativo a falta de verbas para dar conta do aumento do número de pacientes. No entanto, em nenhum momento a palavra superlotação foi pronunciada. A sua tristeza ao narrar o fato foi bem visível. O fechamento do hospital foi também o fechamento de um importante período de sua história.