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CAPÍTULO 3. Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no sistema estuarino

3.2.2 HPA em ambientes aquáticos

Nas últimas décadas, o aumento da poluição por HPA no meio aquático é motivo de grande preocupação. Estes compostos, gerados a partir de atividades naturais e antropogênicas, são transportados para águas receptoras através de deposição atmosférica seca e úmida, escoamento superficial, efluentes industriais e esgoto sanitário, e podem ter um impacto negativo na qualidade dos ambientes aquáticos, pois são caracterizados por persistência, toxicidade, capacidade de transporte ambiental de longo alcance e propensão a se acumular nos tecidos vegetais e animais [44].

HPA foram diagnosticados em seis diferentes variações de tamanho (10–15, 15– 20, 20–25, 25–30, 30–35 and 35–40 mm) de moluscos bivalves conhecidos como sururu (Mytella charruana) e coletados na Lagoa Mundaú, Brasil [4]. Estes organismos foram coletados em três épocas diferentes: julho/2006, outubro/2007 e fevereiro/2008. Neles, foram diagnosticados 16 HPA considerados prioritários pela USEPA. A concentração

média de HPA foi de 41,4 a 52,5 ng g−1 (massa seca). Os organismos de maior tamanho acumularam HPA de baixa massa molecular (2–3 anéis: naftaleno, acenaftileno, acenafteno, fluoreno, fenantreno e antraceno), enquanto os menores acumularam maiores concentrações de HPA de alta massa molecular (4–6 anéis: benzo(a)antraceno, criseno, benzo(b)fluoranteno, benzo(k)fluoranteno, benzo(a)pireno, indeno(1,2,3-cd)pireno, dibenzo(a,h)anthracene e benzo(g,h,i)perileno). Os moluscos de 30–35 mm acumularam maiores quantidades de HPA, em particular fenantreno, antraceno, fluoranteno e pireno. Os autores relataram que o metabolismo pode explicar este padrão, porque os HPA de HMM podem ser metabolizados mais rapidamente do que os de LMM devido a diferenças na afinidade enzimática.

Foram realizadas análises de HPA em ostras de 18 estações de coletadas no mar de Yatsushiro, oeste do Japão [45]. Os HPA foram detectados em todas as amostras analisadas. Dezessete das 18 amostras apresentaram concentrações médias de HPA de 19 ± 3,9 ng g−1 (massa úmida), caracterizado, segundo os autores como background de poluição. Do total de HPA, fenantreno (19%), fluoreno (19%) e pireno (16%) foram os HPA dominantes nestas amostras. Mas, as amostras localizadas na baía de Tanoura apresentaram ∑HPA que variaram de 57 a 350 ng g−1 (média = 210 ng g−1), sendo que fluoreno, pireno e benzo(b)fluoranteno foram os HPA dominantes em 30; 18; e 14% do total de HPA nas amostras. Esta estação é mais próxima a costa e os autores indicaram fontes de contaminação pontual. Nas amostras da estação D foram quantificadas os HPA benzo(a)pireno e benzo(g,h,i)perileno com 2,7% e 1,8% do total dos HPA destas amostras.

A ocorrência generalizada e o acúmulo de HPA no ambiente tem se tornado questão de saúde global por seus efeitos tóxicos, mutagênicos e carcinogênicos. Sendo assim, foram analisados dados da concentração e distribuição de HPA em água superficial, sedimentos e peixes (Clarias gariepinus) coletados em um rio de importância ecológica e econômica para o Sudeste da Nigéria, o rio Ovia [9]. Este rio é frequentemente contaminado através do descarte de efluentes urbanos e industriais. Os HPA foram detectados nas três matrizes. Em peixes, foram observados alguns dos HPA considerados com maior potencial carcinogênico como: benzo(a)pireno, benzo(k)fluoranteno, benzo(a)antraceno e criseno.

O estuário do rio Vaza-Barris é um ambiente de grande circulação turística, principalmente a partir de embarcações. Sendo assim, foram apresentados dados da quantificação de HPA em sedimentos superficiais nesta área de Sergipe [46]. As

concentrações dos HPA variaram de < LD a 410,39 ng g (período chuvoso) e < LD a 337,14 ng g−1 (período seco). Das 13 amostras coletadas, 69,23% indicaram que as amostras possuem características de aporte pirolítico, 29,23% apontaram fonte petrogênica e apenas 1,54% como oriunda da combustão de biomassa. Algumas amostras apresentaram mistura de fontes. O estuário do rio Vaza-Barris possui um alto fluxo de embarcações de pequeno a médio porte, e é um local de turismo.

Um total de 46 hidrocarbonetos policíclicos (21 parentais e 25 alquilados) foram determinados na água do mar, sedimentos superficiais e ostras da área costeira de Dalian, norte da China em 15 pontos de coleta (1 industrial, 2 urbanos e 12 rurais) em janeiro (inverno) e agosto (verão) de 2010 [47]. Na água do mar o somatório das concentrações (∑46HPA) no verão variou de 136 a 621 ng L−1, com o valor médio de 357 ± 128 ng L−1. Os HPA parentais apresentaram (∑21HPA) entre 76,6 e 384 ng L−1 no inverno e 30,1 a 746 ng L−1 no verão. As maiores concentrações encontradas nas águas do mar, tanto no inverno quanto no verão, foram quantificadas em área industrial, sendo próximo a um local de derramamento de óleo. Nos sedimentos, a soma das concentrações (∑46HPA) no inverno variou de 172 a 4.700 ng g−1, com o valor médio de 1140 ± 1.250 ng g−1 (massa seca) e no verão entre 71,1 a 1.090 ng g−1, com o valor médio de 196 ± 258 ng g−1 (massa seca). Nas ostras, a soma das concentrações (∑46HPA) no inverno variou de 60,0 a 129 ng g−1, com o valor médio de 89,2 ± 20,8 ng g−1 (massa seca) e no verão entre 72,8 a 216 ng g−1, com o valor médio de 129 ± 40,7 ng g−1 (massa seca). Não foram encontradas correlações significantes entre a concentração total dos HPA, peso, comprimento ou conteúdo lipídico, sendo este resultado relacionado ao curto tempo de residência do HPA nos organismos marinhos estudados ou a fatores não conhecidos.

HPA foram quantificados em águas superficiais do estuário do rio Japaratuba, estado de Sergipe [48]. Observou-se que as concentrações totais de HPA apresentaram diferenças significativas na comparação dos períodos de coleta. No período seco, os níveis de HPA variaram de 4 a 17 ng L−1, enquanto que no período chuvoso de 12 a 119 ng L−1. Os autores relacionaram os resultados encontrados a fenômenos tais como: fotodegradação, o aumento da temperatura, biodegradação dos HPA ou deposição no material particulado através do fenômeno das marés. A maior parte das amostras no período chuvoso apresentaram fontes pirogênicas (queima de biomassa), enquanto uma mistura de fontes foi observada no verão. Os riscos ecológicos calculados associado aos HPA mostraram um grau moderado com maior contribuição dos HPA de 4 anéis.

A distribuição espaço-temporal dos 16 HPA prioritários em 12 amostras, tanto de água, quanto de sedimento superficial no lago Guchenghu e no canal de Wushen, ambos adjacentes, serviram para avaliar o perfil de contaminação da área [44]. Os HPA de dois e três anéis foram os compostos predominantes na água, enquanto os HPA de 4 a 6 anéis dominaram o sedimento, em ambos os locais, a montante e a jusante. Nas águas, as concentrações dos HPA variaram de 184 a 365 ng L–1 com um valor médio de 280 ng L−1 (período de verão) e 410 a 1.160 ng L−1 com um valor médio de 727 ng L−1 (período de inverno). As concentrações dos HPA foram significativamente maiores no inverno do que no verão (p < 0,001), sendo explicadas a partir da luz do sol mais forte e a temperatura mais alta no verão que, provavelmente, aumentaram a possibilidade de fotodegradação dos HPA nas amostras de água. Já as concentrações totais de HPA nos sedimentos variaram de 86,7 a 1.790 ng g−1 com um valor médio de 424 ng g−1 (massa seca, período verão) e 184 a 3.140 ng g−1 com um valor médio de 946 ng g−1 (massa seca, período inverno), sendo que as concentrações de inverno foram significativamente maiores que no verão (p < 0,05) em todos os locais de coleta. Para os autores, isto pode ser resultado da mistura e/ou diluição dos HPA nos sedimentos durante a estação chuvosa. Além disso, temperaturas mais altas no verão podem ter acelerado a degradação microbiana dos HPA nos sedimentos. Os resultados das razões diagnósticas indicaram que os HPA nos sedimentos provinham principalmente de fontes pirogênicas.