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2.3 SURGIMENTO E INFLUÊNCIAS DAS ONGs

2.3.2 Human Rigths Watch

A Human Rigths Watch se define como uma organização internacional de direitos humanos, não-governamental, sem fins lucrativos e que conta com aproximadamente quatrocentos membros trabalhando em vários países do mundo. (HUMAN RIGTHS WATCH, 2016). Possui uma equipe composta por profissionais de direitos humanos, tais como advogados, jornalistas, especialistas e acadêmicos de diversas origens e nacionalidades. Teve sua fundação no ano de 1978 e afirma ser internacionalmente reconhecida por investigações aprofundadas sobre violações de direitos humanos, pela elaboração de relatórios imparciais sobre essas investigações e o uso efetivo dos meios de comunicação para informar e sensibilizar diversos públicos sobre suas causas.

A própria organização salienta contar com o apoio de organizações locais de direitos humanos e de ter publicado mais de cem relatórios e artigos sobre direitos humanos em todo o mundo todos os anos. Ao ficar ciente de situações concretas de violações, a HRW se reúne com governos e organizações internacionais para propor políticas públicas e reformas legais necessárias para proteger direitos e garantir a reparação para vítimas de violações passadas.

Ballestrin (2006) afirma que a organização tem como proposta a defesa dos direitos de pessoas no mundo inteiro, investigando profundamente toda e qualquer violação de direitos humanos. Os casos são documentados e expostos ao público em geral. A HRW, constantemente, reúne-se com governos, com a ONU e blocos regionais para exigir políticas e práticas que promovam os direitos humanos e a justiça, sempre se baseando no direito internacional dos direitos humanos, no direito humanitário internacional e pelo respeito à dignidade da pessoa humana de cada indivíduo.

A organização é completamente independente, não recebendo financiamento público, direto ou indireto, ou financiamento privado no intuito de manter sua objetividade.

Autodenomina-se totalmente desvinculada de qualquer partido político e garante neutralidade em qualquer situação. Prioriza-se a precisão e a imparcialidade, buscando-se diversas perspectivas na produção de um entendimento profundo e analítico sobre violações de direitos humanos. A HRW assume total responsabilidade para com as vítimas e testemunhas que compartilhas suas experiências com a organização. (HUMAN RIGTHS WATCH, 2016).

O objetivo é chamar a atenção da opinião pública e gerar um impacto significativo. As ações de sucesso são consideradas aquelas que geram mudanças positivas e sustentáveis. Há um comprometimento em trabalhar em situações difíceis que exigem um engajamento de longo prazo, sempre buscando novas oportunidades de avançar nas causas de direitos humanos, sem se eximir e sem ser complacente. Para ampliar esse impacto, realiza um trabalho conjunto com inúmeros atores locais e internacionais da sociedade civil e se auto intitula “apoiadora de um movimento internacional de direitos humanos vibrante e diverso e de parcerias mutuamente benéficas”. (HUMAN RIGTHS WATCH, 2016). Trabalha na exposição e denúncia de ataques à sociedade civil e defende o espaço político em que o movimento de direitos humanos atua.

A Human Rigths Watch incialmente era a Helsinki Watch estabelecida no ano de 1978 e comprometida a apoiar grupos de cidadãos que se organizavam em todo bloco soviético para monitorar o cumprimento dos Acordos de Helsinque de 1975. A metodologia adotada era de tornar público os abusos cometidos pelos governos, através de sua exposição na mídia e por meio do diálogo com os formuladores de políticas. (HERZ; HOFFMANN, 2004). Teve significativa contribuição para as transformações democráticas do final dos anos oitenta, ao atrair a atenção mundial para as violações dos direitos humanos na antiga União Soviética, bem como na Europa Oriental.

Em 1981, quando sangrentas guerras civis ocorriam na América Central, foi fundada a Americas Watch. Essa organização realizou uma imensa apuração de fatos, com presença física de seus integrantes no local os quais aconteciam, demonstrando os abusos cometidos pelas forças de segurança dos governos e aplicando o direito humanitário internacional para que fossem também investigados e expostos os crimes de guerra praticados por grupos rebeldes. A Americas Watch desempenhava um papel na qual além de revelar preocupações nos países afetados, fazia ainda uma análise crítica da participação de governos estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos, na prestação de apoio político e militar aos regimes abusivos.

Na década de oitenta as organizações Asia Watch, Africa Watch, Middle East Watch foram acrescidas aos chamados “The Watch Committes”. Esse conjunto, em 1988, adotou

formalmente o abrangente nome Human Rigths Watch. Sua sede principal fica na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos e possui escritórios em diversas outras localidades. Seus fundadores foram Jeri Laber, Robert L. Bernstein e Aryeh Neier. (HUMAN RIGTHS WATCH, 2016).

Já no início dos anos noventa eclodiram diversos confrontos ao redor do globo e exigiram inovações relevantes no trabalho da Human Rigths Watch. A abordagem da organização sobre a Guerra do Golfo de 1991 e o seu relato sobre as violações das leis de guerra em campanhas de bombardeio foram considerados inéditos. O foco nos agentes de defesa de direitos ganhou amplitude e além da ONU, blocos regionais receberam maior respaldo. Genocídios como em Ruanda e nos Bálcãs, além de “limpezas étnicas” impuseram que fossem trazidos à tona, em tempo real, os acontecimentos e que se documentassem os casos para exercer pressão por responsabilização criminal no âmbito internacional, algo ainda incipiente na década de noventa. A organização apoiou e esteve presente, analisando criticamente os julgamentos internacionais da antiga Iugoslávia e de Ruanda, além de ter colaborado para o julgamento de ditadores que cometeram graves abusos como Augusto Pinochet, do Chile, e Hissène Habré, do Chade. Teve ainda, participação significativa na elaboração do Estatuto de Roma para criar o Tribunal Penal Internacional.

Atendendo a demandas mundiais, com o tempo a Human Rigths Watch foi ampliando e fortalecendo seu campo de trabalho para proteger os direitos das mulheres, das crianças, dos refugiados e trabalhadores migrantes, sempre trazendo uma perspectiva de direitos humanos a questões como violência doméstica, tráfico de pessoas, estupro como crime de guerra e crianças recrutadas como soldados e/ou combatentes. A organização encontrou novas maneiras de investigar as violações de direitos em sociedades fechadas, como exemplos a Arábia Saudita e a Coréia do Norte. Tópicos pouco ou quase nada tratados, como os direitos da população LGBT também passaram a estar presente na agenda. Iniciou-se ainda, um exame do comércio internacional de armas e a responsabilidade de empresas em matéria de direitos humanos, com estudos inovadores, tais como as violações de direitos nas indústrias de petróleo, ouro e frigorífica. (HUMAN RIGTHS WATCH, 2016).

Menos de dez anos após assumir a nomenclatura atual, ou seja, em 1997 a organização compartilhou o Prêmio Nobel da Paz como uma das idealizadoras da Campanha Internacional para a Eliminação das Minas Terrestres e desempenhou um papel de liderança no tratado de 2008 que proíbe o uso de bombas de fragmentação, bombas que foram usadas por Israel contra a população palestina, neste mesmo ano, sob a operação militar Chumbo Fundido.

Os desafios seguiram a surgir e no século XXI não foi diferente. Os ataques de 11 de setembro de 2001 e suas consequências revelaram a necessidade de novas formas de pressão sobre os grupos terroristas e seus simpatizantes, bem como o acompanhamento das leis de combate ao terrorismo, políticas e práticas que infringem os direitos humanos básicos. O surto do vírus HIV representado na doença AIDS gerou a criação de um programa específico da organização dedicado aos direitos humanos e saúde. (BALLESTRIN, 2006).

A Human Rigths Watch segue buscando aplicar, cada vez mais, sua metodologia de pesquisa aos direitos econômicos, sociais e culturais, principalmente nas áreas de educação e habitação. A organização também começou a usar pesquisas estatísticas, fotografias de satélite e estudos de uso de bombas, entre outros novos métodos. Combinando sua tradicional metodologia de investigação dos fatos inloco com as novas tecnologias e formas de intervenção, a Human Rigths Watch se mantém na vanguarda da promoção do respeito pelos direitos humanos em todo o mundo.

Especificamente sobre o conflito Israel/Palestina a organização afirma que os palestinos sofrem com restrições severas e discriminatórias no quesito dos direitos humanos e que Israel constrói e estimula assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada. A HRW salienta que as forças de segurança israelenses fazem uso de força excessiva contra manifestantes palestinos e contra suspeitos, elevando a questão dos assassinatos extrajudiciais. Assegura ainda que Israel tem renovado sua prática punitiva de demolições de casas. Assim como a AI também refere que a tortura e os maus-tratos permanecem frequentes e são cometidos com impunidade. (HUMAN RIGTHS WATCH, 2016).

Da mesma forma, por outro lado, aponta que a Autoridade Palestina tem prendido estudantes e ativistas, alegadamente por suas afiliações políticas ou por eles expressarem criticismo. Indica também que as forças de segurança do Hamas11 se utilizam da tortura e maus tratos às pessoas, incluindo jornalistas. A organização não deixa dúvidas de que o cerco exercido a Gaza por Israel, com auxílio do Egito, representa uma punição coletiva e tem impedido reconstrução do local.

Após a apresentação de ambas as organizações, passemos agora a compará-las, ainda que de maneira breve e geral, sem entrar no mérito específico dos relatórios da Operação Chumbo Fundido.

11 Segundo Hroub (2008), o Hamas foi fundado em 1987, vindo a vencer as eleições democráticas de janeiro de

2006, para governar a Faixa de Gaza. O controle da Cisjordânia segue sob o governo da Autoridade Palestina. Schoenman (2008) refere o Hamas como um partido com caráter religioso e que se recusa a reconhecer o Estado sionista.