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O corpo humano funciona como a combinação de vários sistemas em simultâneo e o processo da fala humana é o exemplo perfeito do funcionamento em relativa harmonia de funções com atividade simultânea, como comer e respirar, através do funcionamento dos músculos e válvulas sem que ocorram erros, quando estamos com pressa e tentamos fazer tudo ao mesmo tempo o resultado é que comida poderá seguir o percurso errado e entalamo-nos demorando o sistema alguns segundos a recuperar. A capacidade de falar é o meio de comunicação mais básico e eficaz de transmissão de informação e é ainda o mais rápido e expressivo em comparação com outras formas de comunicação, como a língua gestual. Se fizermos uma comparação rápida entre comunicação falada e a comunicação mediada pelo telégrafo vemos que são dois métodos diferentes de transmitir a mesma mensagem, têm ainda o mesmo débito de informação, contudo o que a mensagem falada transmite a mais é emoção, personalidade, etc.(Gold and Morgan 2000).

3.1 Órgãos de produção da fala humana

O ser humano tem a aptidão de produzir fala de uma forma muito variável e momentânea, sendo composta por energia distribuída em frequência, pressão sonora e tempo. Existem três órgãos responsáveis pela produção da fala: (1) os pulmões e a traqueia, que podemos considerar como sendo as fontes geradoras de energia, a traqueia é responsável por fazer chegar ao resto do sistema o ar fornecido pelos pulmões, por norma não contribuem de forma audível para a fala mas são responsáveis pela sua intensidade, (2) a laringe que é o mecanismo principal para a geração de sons, é um sistema complexo de músculos e cartilagens, incluindo as cordas vocais, que realizam, além de funções biológicas e acústicas entre as quais proteção de processo respiratório e permitir a acumulação de pressão no tórax e abdómen, vibrações que são o principal método de excitação da fonte sonora da fala e, (3) o trato vocal, representado na figura 9, que engloba tudo acima das corda vocais e é composto por uma série de estruturas e regiões que realizam várias funções biológicas e acústicas, à semelhança da laringe e pode ser considerado um sistema acusticamente ressonante, com cerca de 17 cm desde as cordas vocais até aos lábios. O trato vocal, Figura 9, é capaz de modular o som resultante, uma vez que não é um tubo linear mas sim um tubo que vai mudando de forma ao longo do seu percurso por causa da presença da língua e as suas ressonâncias são dependentes das várias formas que este toma, o que torna a resposta em frequência dependente da sua forma. Algo que também

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deve ser levado em consideração, é que a língua é um músculo com movimento, que provoca não só alterações de forma da cavidade oral e da faringe mas também constrições quase completas que produzem efeitos acústicos importantes e até oclusões temporárias (Parsons 1987, Everest 2001).

Figura 9: Representação do trato vocal (Parsons 1987)

O início do processo da fala reside no cérebro que, após ser decidido o que vai ser falado, comanda os músculos do tórax e o diafragma para pressionarem os pulmões e desta forma dar inicio aos processos mecânicos de produção da fala (Trujillo). A descrição mais básica deste processo é que o ar forçado pelos pulmões, no momento de expiração, é a causa da vibração das cordas vocais e o som emitido por este movimento viaja pelos tratos vocal e nasal, até sair pela boca e/ou nariz, dependendo do tipo de som a produzir.

É possível identificamos três tipos de fontes sonoras para sons da fala, um deles são as cordas vocais, responsáveis pelos sons vocálicos e vocálicos nasalados produzidos pela vibração criado pela passagem do ar. São sons que têm normalmente uma duração elevada, foneticamente são vogais orais e/ou nasaladas. Outro tipo de fontes de produção de sons de fala são criadas pela língua, dentes ou lábios que pelo movimento que têm forçam o ar sob pressão a passar pelos constrangimentos formados pelos elementos mencionados produzindo turbulências na passagem do ar com produção associada de ruído, criando os sons de fonemas denominados fricativos, que são representados pelas letras f, s, ch, v, z e j. Para completar a

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lista de tipos de fontes sonoras da fala humana é possível identificar ainda os sons produzidos pela paragem completa do fluxo de ar por oclusão do trato vocal seguida de libertação completa do ar de uma forma repentina formando os fonemas representados pelas letras p, t,

k, b, d e g a que chamamos os sons plosivos (Mateus, Andrade et al. 1990, Everest 2001). A

vibração das cordas vocais ou ausência da mesma divide ainda a fala em dois tipos de sons, os vozeados, quando existe vibração, e os não-vozeados, no caso contrário. Para finalizar, ambos os grupos exemplificados acima enquadram-se numa terceira categoria de sons, as consoantes que contêm ainda as consoantes nasais, as líquidas, as rolantes e as africadas, mas estes sons são muito dependentes da forma como a língua portuguesa é falada. Concluímos assim os vários tipos de sons da fala humana e as suas respetivas fontes (Mateus, Andrade et al. 1990, Everest 2001).

Figura 10: Produção da fala humana (Everest 2001)

A Figura 10 resume então a produção da fala humana desde a fonte até a emissão pela boca, mas este processo não é feito num só passo, vamos agora ver quais os mecanismos necessários para que haja discurso audível a sair da nossa boca.

3.2 A fisicalidade da fala humana

Existem quatro mecanismos físicos que o corpo humano realiza para proceder a produção do discurso: iniciação, fonação, processo oro-nasal e articulação.

O processo de iniciação é o momento em que o ar é expelido pelos pulmões passando pela laringe através das cordas vocais, que se encontram com uma abertura pequena no caso de ser um som vozeado. Se se encontrarem completamente abertas a vibração é mínima e temos então os sons não-vozeados.

O comprimento das cordas vocais é maior para os homens em comparação com as mulheres, sendo as frequências de vibração inversamente relacionadas. A este processo chama-se fonação

Sons Vocálicos

Sons Plosivos Sons Fricativos

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de um som. Depois da laringe o ar passa pela faringe e daqui pode seguir pela cavidade oral ou nasal. O palato identificado na figura 9, bloqueia a passagem do ar para o nariz direcionando- o assim para a boca, sendo este o terceiro processo na fala identificado como o processo ora- nasal. A fase de articulação acontece na boca e é o que nos permite produzir a maior parte dos sons utilizados na fala humana, devido à contribuição de todos os elementos constituintes da cavidade oral que juntamente com a garganta e a cavidade nasal criam os vários tipos de ressonâncias. A língua é a maior responsável pela variedade de volume e forma que a cavidade oral pode assumir (Trujillo). Esta combinação de formas e efeitos é capaz de alterar o som a ser produzido através de uma filtragem dos seus harmónicos e desta forma modificar o timbre produzido (Kinsler, Frey et al. 1982).

A vibração das cordas vocais produz uma sequência de frequências, chamados harmónicos naturais, cada um com frequência múltipla da frequência fundamental. É nos nossos ouvidos que o timbre de um som e a sua frequência fundamental são avaliados. Quanto às frequências harmónicas, que têm amplitudes de valores inferiores à fundamental, não é possível ouvir algumas frequências por impedimento das antirressonâncias e outras frequências são privilegiadas porque ressoam bem na sua passagem pelo trato vocal (Rowden 1992).

Figura 11: Área de frequências da fala humana (Everest 2001).

A Figura 11 mostra a área de frequências que o ser humano produz no processo de produção de fala (sombreado) em comparação com as frequências que é capaz de ouvir (tracejado), o ouvido humano é sensível a uma quantidade muito superior de frequências aquelas que é capaz de produzir.

A frequência fundamental da fala depende do orador, do seu estado de espirito, da ênfase e da emoção que atribuir à mensagem que está a ser produzida e é a magnitude e a relação entre as ressonâncias que faz com que os sons de discurso sejam facilmente reconhecidos (Rowden 1992).

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4 Simuladores com manequins e o

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