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O conceito de humanização das práticas e da atenção à saúde está na pauta de discussões mundo afora há várias décadas, e nos últimos anos vem ganhando destaque na literatura científica nacional, principalmente nas publicações ligadas à saúde coletiva. Durante os séculos XIX e XX, muitos avanços tecnológicos passaram a

ser aplicado na área da saúde, em todos os níveis de atenção, seja na prevenção, no controle de co-morbidades (progresso da doença) ou na reabilitação.

Associada ao desenvolvimento tecnológico que experimentamos neste período, a doença vem sendo comumente interpretada pela concepção biomédica como um desvio de variáveis biológicas em relação à norma. Este modelo considera os fenômenos complexos como constituídos por princípios simples, isto é, relação de causa-efeito, distinção cartesiana entre mente e corpo, análise do corpo como máquina, minimizando os aspectos sociais, psicológicos e comportamentais. Não há como minimizar, ou mesmo, desprezar as importantes contribuições dos avanços tecnológicos, porém, cada vez mais constatamos que a dimensão humana, vivencial, psicológica e cultural da doença, assim como os padrões e as variabilidades na comunicação verbal e não-verbal, precisam ser considerados nas relações entre o profissional da saúde e os usuários (GOULART, 2006).

O confronto de idéias, o planejamento, os mecanismos de decisão, as estratégias de implementação e de avaliação, mas principalmente o modo como tais processos se dão, devem confluir na construção de trocas solidárias e comprometidas com a produção de saúde, tarefa primeira da qual não podemos nos furtar. Construir tal política impõe mais do que nunca que o SUS seja tomado em sua perspectiva de rede, criando e/ou fortalecendo mecanismos de coletivização e pactuação, sempre orientados pelo direito à saúde que o SUS na constituição brasileira consolidou como conquista. É no coletivo da rede SUS que novas subjetividades emergem engajadas em práticas de saúde construídas e pactuadas coletivamente, reinventando os modelos de atenção e de gestão (GOULART, 2006).

Segundo Oliveira, Collet e Vieira (2006), a reflexão sobre a humanização, deve considerar a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores; aumento do grau de co- responsabilidade na produção de saúde; estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão; identificação das necessidades sociais de saúde; mudança nos modelos de atenção e gestão dos processos de trabalho, tendo como foco as necessidades dos cidadãos e a produção de saúde.

Ainda segundo os autores, para a implementação do cuidado com ações humanizadoras é preciso valorizar a dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecer o trabalho em equipe multiprofissional, fomentar a construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos, fortalecer o controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do SUS, democratizar as relações de trabalho e valorizar os profissionais de saúde.

A temática ligada à humanização do atendimento em saúde mostra-se relevante no contexto atual, uma vez que a atenção e o atendimento no setor saúde, calcados em princípios como a integralidade da assistência, a eqüidade e a participação social do usuário, dentre outros, demandam a revisão das práticas cotidianas com ênfase na criação de espaços de trabalho menos alienantes que valorizem a dignidade do trabalhador e do usuário.

Atualmente discute-se a necessidade de humanizar o cuidado, a assistência, a relação com o usuário do serviço de saúde. Em se tratando de política pública nacional, no intuito de estabelecer um debate sobre os modelos de gestão e de atenção, aliados aos de formação dos profissionais de saúde e aos modos com que o controle social vem se exercendo, para que possamos garantir o direito constitucional à saúde para todos, bem como, entendendo que tal debate é uma condição para viabilizar uma saúde digna para todos, com profissionais comprometidos com a ética da saúde e com a defesa da vida, o Ministério da Saúde institui no ano de 2004, a Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde – HUMANIZASUS (BRASIL, 2004a).

Como foco de atenção e desenvolvimento de ações, o HUMANIZASUS tem como princípios norteadores (BRASIL, 2004a):

 Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão, fortalecendo/estimulando processos integradores e promotores de compromissos/responsabilização.

 Estímulo a processos comprometidos com a produção de saúde e com a produção de sujeitos.

 Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a transdisciplinaridade e a grupalidade.

 Atuação em rede com alta conectividade, de modo cooperativo e solidário, em conformidade com as diretrizes do SUS.

 Utilização da informação, da comunicação, da educação permanente e dos espaços da gestão na construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e coletivos.

Apesar dos avanços acumulados, a política de humanização do SUS enfrenta ainda hoje, fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais, fragmentação da rede assistencial, precária interação nas equipes, burocratização e verticalização do sistema, baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, formação dos profissionais de saúde distante do debate e da formulação da política pública de saúde, entre outros aspectos tão ou mais importantes do que os citados aqui, resultantes de ações consideradas desumanizadas na relação com os usuários do serviço público de saúde (OLIVEIRA; COLLET; VIEIRA, 2006).

O propósito ou meta de humanizar, em todos os sentidos apontados, mais objetivamente no caso da saúde, implica aceitar e reconhecer que nessa área e nas suas práticas, em especial, subsistem sérios problemas e carências de muitas das condições exigidas pela definição da concepção, organização e implementação do cuidado da saúde da humanidade, tanto por parte dos organismos e práticas estatais, como da sociedade civil.

Como ação da Política Municipal de Humanização (PMH) do Sistema de Saúde de Fortaleza – FORTALEZA HUMANIZA SUS – com atividades intensificadas em 2006, a Secretaria de Saúde de Fortaleza vem implantando na Rede da Estratégia Saúde da Família e de Saúde Mental o Acolhimento com Avaliação de Risco e Vulnerabilidade nos Centros de Saúde da Família e nos Centros de Atenção Psicossocial, com o objetivo de transformar o processo de trabalho na perspectiva da Humanização (FORTALEZA, 2007).

Segundo o Relatório de Gestão 2006 do município de Fortaleza, pretendeu- se com a implementação do Acolhimento na Rede Municipal de Saúde (FORTALEZA, 2007, p.310):

 Mudanças nos paradigmas hegemônicos curativista e biomédico;

 Garantia de acesso ao usuário, responsabilização e resolutividade;

 Construção de redes de apoio;

 Maior satisfação do usuário e do trabalhador;

 Humanização das relações entre equipes de saúde e usuários;

 Humanização no atendimento;

 Melhoria na ambiência;

 Construção da assistência à saúde para melhoria da qualidade de vida da

população.

Dentre os motivos pelos quais, a estratégia Saúde da Família foi criada, está o de permitir o acesso da população aos serviços de saúde; para isto os que ali trabalham devem ser acolhedores. O servidor deve saber acolher o outro, sobretudo quando este outro, o usuário está necessitado de compreensão, de cuidados humanos.

Para Machado (2005), acolhimento é tecnologia que deve ser empregada pelo trabalhador de saúde, com o objetivo de assistir o usuário numa relação afetuosa, integral e solidária. Qualquer profissional de saúde deve acolher o usuário do serviço, compreendendo que ele tem direito a uma assistência digna e personalizada. Portanto, cabe ao servidor aliviar o sofrimento do cliente e promover a sua saúde. O acolhimento do usuário, o compromisso do serviço em resolver problemas e de estabelecer vínculos são fatores potenciais de mudanças do modelo de atenção à saúde.

De acordo com Monteiro, Figueiredo e Machado (2009), o acolhimento é um arranjo tecnológico que busca assegurar acesso aos usuários com o objetivo de escutar todos os pacientes, resolver os problemas mais simples e/ ou referenciá-los se necessário. A acolhida consiste na abertura dos serviços para a demanda e a responsabilização por todos os problemas de saúde de uma região.

Neste sentido, considerando as necessidades dos usuários, a sala de espera tem o intuito de garantir um cuidado humanizado, efetivando a aproximação cada vez maior entre a comunidade e os serviços de saúde.

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