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A v HUMBOLDT participa direta e intimamente da formação do conhecimento histórico e geográfico da América Latina e a América

Latina faz parte da formação da geografia moderna, na medida em que oferece ao observador novas paisagens, novas culturas, novas línguas, em fim, novas formações sócio-espaciais, de forma que, na evolução do pensamento geográfico, se pudesse instaurar um sistema de conhecimento que estivesse à altura da complexidade do espaço geográfico.

O seu projeto científico integra uma grande saída de campo, uma circunavegação, que infelizmente não aconteceu, e o destino, como ele mesmo diz, o levou à América Latina, onde passou cinco anos (1799- 1804). Essa foi, de longe, a sua saída de campo mais frutífera, mais marcante, e constituiu, junto com excursões pela Europa e uma viagem pela Rússia até o Mar Cáspio e a região dos Urais, a parte metodológica fundamental do seu trabalho científico.

Na história do pensamento ocidental, A. v. HUMBOLDT representa uma forma original de abordar o espaço geográfico e inicia uma nova etapa na relação da Europa com a América Latina. Mas em que consiste a postura de A. v. HUMBOLDT em geral, e especialmente a sua experiência na América Latina, que o diferencia dos viajantes e exploradores que o antecedem, ao ponto de Simón BOLÍVAR o considerar o segundo descobridor da América?

[Friedrich Wilhelm Heinrich] Alexander [Freiherr] von HUMBOLDT nasceu em 1769, em Berlim, e aí morreu, a quatro meses de completar noventa anos, em 1859. Como já mencionado, era irmão do lingüista W. v. HUMBOLDT, que contribuiu significativamente para formação da lingüística moderna. Wilhelm, além disso, foi ministro da educação da Prússia e fundou a Primeira universidade de Berlim, em 1810, que ainda hoje leva o nome da família, HUMBOLDT Universität.

Os irmãos HUMBOLDT cresceram em Berlim no pequeno Castelo da família, chamado Tegel, que foi, para falar de uma pequena curiosidade, mencionado no Fausto de J. W. v. GOETHE. Ao fim da segunda guerra, com a entrada do exército Russo em Berlim, o Castelo foi invadido,

documentos, figuras, obras de arte e parte de obra de A. v. HUMBOLDT perderam-se.

Como de costume nas famílias nobres, ambos foram educados em casa, por preceptores renomados, e desde cedo A. v. HUMBOLDT interessou- se por botânica, lia os dos grandes exploradores, como James COOK (1728-1779) e Georg FOSTER (1754-1794), estudou latim, língua em que escreveu a sua primeira monografia, e que era ainda eminentemente a língua da botânica, e de fato, parte de sua obra posterior à viagem à América Latina, dedicada à botânica, foi escrita em latim.

Ainda em relação ao conhecimento de línguas, foi criado tanto em alemão quanto em francês, pois sua mãe era de origem francesa. Isso é importante, porque a França era o centro filosófico e cientifico do ocidente. A ciência e a filosofia, que falaram latim por um grande período, começaram a falar francês, e quem não soubesse francês, participaria do diálogo científico e filosófico pela intermediação das traduções, que, como se sabe, à exceção dos best-sellers, experimenta uma certa morosidade. Para se ter idéia da importância e sofisticação do francês, na corte alemã do século 18 falava- se a língua de Voltaire; e a academia de ciências de Berlim, fundada por Gottfried Wilhelm von LEIBNIZ (1646-1716) em 1700, chamava-se Académie Royale des Sciences et Belles-Lettres.

Quando chega o momento de ir para universidade, A. v. HUMBOLDT vai para Frankfurt an der Oder, onde freqüenta o curso de Cameralística, que é uma espécie de finanças e economia, mais por desejo de sua mãe que por vontade própria. Depois vai para Freiberg assistir um curso de geognosia ministrado por Abraham Gottlob WERNER (1749-1817). A. G. Werner tinha então uma popularidade muito grande, a geologia à época ainda não se constituíra como ciência e a própria geognosia, termo proposto por A. G. WERNER, reunia um espectro de conhecimentos que ia da mineralogia à estratigrafia, e tinha como objeto a crosta terrestre, o que corresponde hoje mais ou menos à geologia estrutural.

Depois desse curso, A. v. HUMBOLDT consegue um cargo de chefe de minas e trabalha até o início dos preparativos para a viagem à América Latina. “Entre sus descubrimientos, A. v. HUMBOLDT destacó en estos primeros años de trabajo en la minería, el invento de una nueva lámpara antimefítica y de una máquina de respiración, de gran importancia para salvar vidas en las minas.” (PUIG, 2002, p. 6)

Juntamente com a tese de seu irmão, segundo a qual língua e pensamento influenciam-se mutuamente, e consequentemente toda língua encerra uma forma de ver o mundo, e também com a valorização das culturas exóticas, que é especialmente uma influencia de J. G. HERDER, A. v. HUMBOLDT professa uma América Livre e soberana, como única forma de preservação de sua riqueza cultural.

Isso explica o seu julgamento crítico com relação ao colonialismo, seu posicionamento pró revolução independentista e sua revolta contra a escravidão, um dos piores crimes europeus. A existência da escravidão era um afronta tão grande a A. v. HUMBOLDT, que ele propôs uma lei que tornava imediatamente livre todo escravo que entrasse na Prússia. “Todo escravo estaria livre no momento em que pisasse em solo prussiano. [Jeder Sklave wurde fortan in dem Augenblick frei, da er preussischen Boden betrat.] (FOUQUET, 1959, p. 31) A lei não foi aprovada.

Ao mesmo tempo J. W. v. GOETHE fala da importância da estética no processo de conhecimento. Hoje, como ramo da filosofia, estética ocupa-se do belo. Mas em J. W. v. GOETHE, como vimos acima, o termo tem o significado grego original de sensação, do sentir. A apreensão do real é também estética, não só racional.

A razão como direcionamento do espírito, na proposição de um método, o todo da natureza e a condição estética do ato de conhecer refletem-se em A. v. HUMBOLDT na sua maior força. Tanto que ele vai dizer que a ciência do cosmos, ou seja, da ordem do mundo, é uma junção de filosofia, física e poesia. Ele deseja satisfazer três exigências: a apresentação dos fatos, dos dados que a realidade oferece para razão; a continuação da investigação no sentido de F. SCHELLING, de forma filosófica para transcender a própria limitação racional empírica; e a apresentação de forma poética. A. v. HUMBOLDT chama também à sua ciência de Filosofia da terra. A função da mente, e a tarefa da filosofia, é descobrir a unidade que se encontra latente na diversidade.

Em estrito senso A. v. HUMBOLDT não é partidário de nenhum sistema filosófico. Como homem universalista, ele se empenha para penetrar o cosmos, a totalidade viva. A influência da natureza no espírito humano, na organização econômica e social, e também cultural, é uma das questões desenvolvidas por A. v. HUMBOLDT.

de percepção e análise que se atraem mutuamente no espírito humano, como condição do entendimento da realidade, porque a busca do entendimento do homem extrapola o domínio do humano, do social, requer a compreensão não só do meio, mas do homem em sua relação com o meio. E da mesma forma, a natureza como tal é uma construção, é um conceito, é natureza porque há o sujeito, sem o sujeito, não há predicativo.

Quando, no espírito humano, a busca pelo entendimento do espaço une estas duas faculdades numa síntese de idéias, vive-se a experiência da geografia. A. v. HUMBOLDT foi uma junção da curiosidade científica com a ânsia pela viagem. Em 1822, ele diz em carta a seu irmão, W. v. HUMBOLDT: Eu tenho um projeto de um grande instituto central de ciências no México para toda a América livre.

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