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O PROCESSO ESCULTÓRICO

1.1 Breve histórico da origem da técnica e seu uso desde a antiguidade ao século XXI.

1.1.2. Idade Média

O período que compreende a Idade Média transcorre sem maiores transformações no que se refere às técnicas de molde e modelagem. O gesso é raramente utilizado e o material mais difundido nesta época tanto nas estruturas das

12 Durante escavações arqueológicas em Ain Ghazal realizadas em 1985 por uma equipe jordano-

americana, foram encontradas aproximadamente 30 estátuas em gesso, que, acreditam os pesquisadores, eram executados por pequenos grupos para uso ritualístico de suas comunidades.

construções assim como na ornamentação foi a pedra – ofício da cantaria13. O românico (950-1250) fez uso de figuras vegetais e zoomorfas, que em muitos casos eram ritmadas por elementos geométricos. No entanto, o gótico trouxe elementos como arcos ogivais, pináculos, estátuas, mísulas, dosséis, florões, capitéis, colunas e gárgulas. E utilizou, ainda, decoração em folhas e flores do campo e do bosque – girassóis, rosas e lírios. A maior parte das fachadas das principais catedrais da França, edificadas nesta época, recebeu conjuntos de esculturas de vulto sobre as superficies das portadas frontais que permitiam o acesso a estes templos.

Mais tarde, as edificações medievais se transformaram em elementos de controvérsia, pois foram, no final do século XVIII, quando se instalou a Revolução Francesa, violentadas pelo povo como um sinal de rebeldia em relação ao descontentamento com a nobreza. No entanto, estes atos de agressão ao patrimônio serviram posteriormente como uma maneira de “perceber” a importância que se deveria destinar a tais monumentos. Logo após estes conflitos físicos e ideológicos, a arquitetura e engenharia do período medieval foram considerados estilo nacional do país, sendo muito estudado e venerado pelo arquiteto Viollet-le-Duc a partir das primeiras décadas do século XIX.

Paralelamente ao que acontece na França, a península ibérica apresenta um movimento arquitetônico e ornamental completamente distinto. Ao ser dominada pelos árabes do século VII até o século XVI, a arte islâmica se expandiu rapidamente e contribuiu para a difusão de padrões de ornamentação com base no arabesco,14 tornando-se uma das artes mais originais e criativas ao utilizar ainda a caligrafia como parte da decoração arquitetônica, substituindo os ornatos figurativos que predominavam nos monumentos europeus. Os artistas revelavam apreço pelo horror

vacui – aversão a espaços vazios. Aqui, o gesso é o material mais utilizado tanto para os moldes quanto para as cópias, sobretudo, nas áreas internas das coberturas das

13 A cantaria designa aquele ofício onde o profissional talha a pedra até alcançar uma forma desejada. 14 Os arabescos são ornamentações caracterizadas pelo uso minucioso de decoração, nas quais

prevalece a geometria vegetal estilizada de folhagens, frutos e flores, alternando-se em movimentos repetitivos e cobrindo inteiramente as superfícies. Deve-se notar a rara presença ou a ausência da representação de figuras humanas e da fauna, uma prática proibida pela religião desses povos do Oriente, que não permitiam o uso de seres animados em sua ornamentação. Em consequência disto, o

termo ‘arabesco’ também foi utilizado para denominar certos trabalhos de ornamentação que mesclavam

cúpulas das mesquitas ou medersas (escolas do corão), nas quais prevalecem elementos conhecidos como estalactites que podiam se apresentar monocromáticas – na cor branca – ou policromadas. Motivos fitomorfos geometrizados são comuns e repetitivos, e predominam nesta arquitetura. As estalactites também ganharam o nome de muqarnas15 (FIGURA 5) e designavam aqueles elementos que ornamentam as cúpulas, nichos e arcos das mesquitas e medersas16.

FIGURA 5: Muqarnas: estalactites – ornamentação mourisca: Forro de mesquita em Isfahan no

Irã |fooro da biblioteca da Fiocruz no Rio deJaneiro .

Fotos: Alexandre Mascarenhas, 2003 – 2010.

Portanto, o processo construtivo de ornamentação utilizando o gesso se restringe praticamente ao universo mourisco.

1.1.3 A Renascença

O homem renascentista valoriza as construções da Antiguidade clássica, baseadas nas culturas da Grécia e de Roma antigas. O termo monumentum surge

15 O termo muqarnas é recorrente na bibliografia destinada à decoração mourisca em gesso que,

esteticamente, se assemelha às estalactites de cavernas ou grutas.

16

O termo ‘estalactite’ está associado, hoje, às estruturas verticais encontradas no interior das grutas e cavernas, formadas pelo depósito de sais que com o tempo se enrijecem.

para designar aquelas construções de caráter celebrativo, evocando celebridades e eventos importantes como, por exemplo, vitórias militares materializadas nos arcos do triunfo. A noção de monumento está associada ao interesse pelas antiguidades e, consequentemente, vão proliferar as escavações arqueológicas em busca de fragmentos e ruínas do passado.

As primeiras medidas de preservação foram empreendidas pelos papas por meio de bulas nas quais defendem a proteção de ruínas do passado greco-romano. Este interesse surge por duas razões: a letrada, defendida pelos humanistas; e a artística, defendida pelos artífices (arquitetos e escultores, etc.). Há, portanto, a redescoberta, o resgate e a difusão da arte clássica que seria bastante almejada pelos antiquários e colecionadores da época, pois eles acumulavam ainda em seus gabinetes fragmentos e livros com desenhos que retratavam as ‘antiguidades do passado’, principalmente aquelas provenientes da Grécia, Egito e Ásia Menor.

Somente a partir do século XV, com o escultor Andrea Verrochio (também pintor, nascido em Florença, Itália, em 1435), a técnica é resgatada e utilizada por ele na confecção de numerosos moldes para reproduzir distintas partes do corpo e os empregou como modelos de estudo formal e anatômico. Verrochio havia sido contratado, em 1483, pelo Governo do Vêneto para a confecção do monumento equestre comemorativo a Bartolomeo Colleoni, importante general e chefe da infantaria que, em meados do século XV, realizou serviços para a República de Vêneto. No entanto, Verrochio falece antes de realizar a cópia em bronze por meio da forma perdida17 que já estava finalizada. O escultor Alessandro Leopardi fica encarregado de executar a fundição em bronze do monumento equestre de Bartolomeu Colleoni e seu polimento. Este conjunto escultórico foi instalado, em 1496, na Praça Campo de São João e São Paulo – Campi di Santi Giovanni e Paolo - em Veneza. (FIGURA 6).

17 A forma perdida se dá quando se copia somente uma vez o modelo e é preciso destruir o molde para

a retirada do objeto fundido. É o processo em que a forma fica inutilizada após a retirada da escultura, não sendo possível, portanto, obter outra cópia do mesmo original.

FIGURA 6: Fundição em bronze da Estatua eqüestre de Bartolomeo Colleoni por Andréa Verrochio.

Fonte: ANDREA Verrochio, [19--]. Fonte: READ, 1954.

No mesmo período, as práticas e os processos de moldes e reproduções em gesso foram também muito difundidos nos ateliês de outros artistas como Donatello, Desiderio da Settignano ou Rossellino. A estátua de mármore que representa um jovem homem musculoso conhecida como O gladiador de Borghese se torna muito famosa e admirada pelos artistas da época, pois teria sido largamente reproduzida e usada por muitos deles como modelo anatômico em seus ateliês (FIGURA 7).

FIGURA 7: O gladiador de Borghese.

a) O gladiador, estátua em mármore, Museu do Louvre, em Paris.

b) O gladiador , reprodução em gesso, The Beazley Archive, Oxford, Inglaterra.

c) O gladiador , reprodução em gesso, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Fonte: O GLADIADOR, [19--]; idem; Alexandre Mascarenhas, junho de 2011.

No final do século XV e início do XVI, escavações arqueológicas em Roma encontraram uma série de espaços soterrados identificados como sendo a casa de Nero. As superfícies apresentavam pinturas e motivos escultóricos aplicados ou executados diretamente sobre as paredes. Os artistas desciam por meio de cordas e cestos de palha até alcançar o nível onde tinham acesso à decoração para copiar em tamanho natural a iconografia observada sobre as superfícies.

A retomada das técnicas arquitetônicas e construtivas, pelos padrões de ornamentação e pelo ideal humanista da cultura clássica, contribui para o movimento do Renascimento. Nesta época, observa-se uma gama de artistas a realizar trabalhos ornamentais, em argamassa, sobre forros e paredes que mais parecem esculturas. Alguns deles eram considerados estucadores e escultores, como os italianos Francesco Primaticcio18 e Rosso Fiorentino (FIGURA 8). Eles foram os responsáveis por parte da decoração parietal que se encontra na escadaria do castelo de Fontainebleau na França. O material utilizado mesclava gesso e argamassa de cal e pó de mármore bem fino.

FIGURA 8: Decoração em estuque executada por Francesco Primaticcio e Rosso Fiorentino para o castelo de Fontainebleau – século XVI.

Fonte: DUBY & DAVAL, Vol. 2, p. 636. Fonte: FOGLIATA, 2004, p.29

A descoberta do grupo escultórico Laocoonte, durante este período, contribuiu para impulsionar a execução e a coleção de moldes e modelos em gesso.

18 O pintor, escultor e arquiteto Francesco Primatício nasceu em 1490 em Bolonha (Itália) e morreu em

Paris em 1570. Foi aluno de Bagnacavallo e Giulio Romano. Ele se torna, após a morte de Rosso Fiorentino, um dos mestres renomados da Escola de Fontainebleau.

Michelangelo foi testemunha deste acontecimento em 1506 e logo associou este grupo escultórico à escultura mencionada por Plínio19 em seus textos.

Jacopo Sansovino foi um dos responsáveis pela sua restauração e executou o molde em gesso, em 1510, com o objetivo de produzir uma série de cópias deste grupo escultórico que pertencia à Domus Aurea20 de Nero. A partir destas reproduções em gesso, foi possível a confecção de cópias em mármore como aquela executada por Bandinelli em 1525. É provável que esta cópia em mármore tenha sido oferecida a Francisco I. Essas reproduções em gesso foram encomendadas e distribuídas pelos ateliês dos artistas para a prática destes e de seus discípulos em relação às proporções – estilo e anatomia – do corpo humano (FIGURA 9).

FIGURA 9: Grupo escultórico Laocoonte.

a) Laocoonte, origianal em mármore, Museu do Vaticano, Itália. b) Laocoonte, reprodução em mármore, Galeria Uffizi, Florença, Itália.

c) Laocoonte, reprodução em gesso, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Fotos: Alexandre Mascarenhas, junho-julho de 2011.

O gesso também foi o material utilizado para se concretizar baixos-relevos. Destacamos um fragmento de ornamentação executada em gesso sobre suporte de madeira que se localizava na igreja Saint-Pierre-des-Ormes em Sarthe.

19 Este conjunto escultórico também é descrito por Plínio no volume 36 de sua obra Naturalis Historiae

como sendo uma obra de arte superior a qualquer pintura ou bronze conhecido do autor. Em São Paulo, encontramos uma cópia, em bronze, localizada, desde princípios da década de 1950, no Parque Ibirapuera. (www.bellapauliceia.com.br, [200-])

20 A Domus Áurea [Casa Dourada] foi um grande palácio projetado pelos arquitetos Célere e Severo e

construído pelo imperador romano Nero, após incêndio que devastou Roma em 64 d.C. A maioria das salas recebeu decoração em mármore, estuques ornamentais e pinturas artísticas. (ENRIC apud MASCARENHAS, 2008, p.30)

Posteriormente, este elemento foi transportado para o Museu de Arqueologia de Mans, por apresentar uma tecnologia construtiva particular.21

Variados são os artistas que se dividem entre a ornamentação de tetos e a execução de “esculturas”, já que, tanto para o estuque ornamental quanto para a primeira etapa do processo de feitura da escultura era exigido o domínio das mesmas técnicas – modelagem, moldes e moldagens. Portanto, a partir do Renascimento este processo tecnológico estará associado também à ornamentação em alto relevo das edificações.

Mencionaremos dois edifícios que possuem exímios trabalhos neste sentido. O Palácio do Duque de Veneza apresenta um grupo de estuques ornamentais sobre os tetos, sendo de especial interesse aquele observado na Sala delle quattro porte, de autoria de Giovanni Cambi e Marcantonio Palladio.22 O Teatro de Vicenza, um dos últimos projetos do arquiteto Andrea Palladio23 antes de sua morte, possui, acima da boca de cena do palco e em toda a cimalha que contorna o forro da plateia, um conjunto de estuques modelados que podem ser considerados os mais representativos deste período (FIGURA 10).

FIGURA 10: Ornamentação de tetos e paredes.

a) Ornamentacao de Giovanni Cambi e Marcantonio Palladio para o Palácio do Duque de Veneza. b) Ornamentação parietal do Teatro em Vicenza.

Fonte: FOGLIATA, 2004, P.38; Alexandre Mascarenhas, julho de 2011.

21 MINISTÉRE DE LA CULTURE ET DE LA COMMUNICATION, 1978, p. 64

22 Filho do arquiteto e tratadista do Renascimento italiano Andréa di Pietro Palladio (1508-1580).

(TASCHEN, 2003).

23 Influenciados pela obra de Vitrúvio, Andrea Palladio, assim como outros arquitetos e eruditos do

Renascimento – Leon Battista Alberti, Sebastiano Serlio e Iacomo Barozzi da Vignola – publicaram edições ilustradas de tratados arquitetônicos. Estas publicações contribuíram para a difusão, capacitação e formação de mão de obra especializada e para a permanência da técnica e do conhecimento ao longo dos tempos. (FOGLIATA, 1995).

Uma das primeiras coleções de gessos – gipsotecas (a palavra gypsos vem do grego antigo e significa ‘gesso’; teca: coleção, portanto, coleção de gesso) – surge, ainda, no século XV, em Pádua, a partir do artista, antiquário e colecionador Francesco Squarcione (1397-1468), que os utilizava para treinar e capacitar seus discípulos. O termo gipsoteca é usado, portanto, historica e culturalmente para designar um espaço que abriga uma coleção de moldagens em gesso. As peças poderiam ser aquelas moldagens “diretas” executadas e retiradas do molde confeccionado a partir do original de esculturas consideradas célebres, sobretudo das obras do período clássico, ou ser cópias de moldes executados a partir da moldagem direta. Estes conjuntos “escultóricos” facilitaram a difusão destas culturas, serviram de decoração e, principalmente, contribuíram para o ensino da arqueologia e das belas-artes nos principais museus e instituições afins do mundo. Na Itália, notam-se importantes coleções constituídas pelas universidades de Roma, Torino e Bolonha. Na Alemanha, destacamos a coleção de Bonn, atualmente sob a direção do arqueólogo Friedrich Gottlieb Welcker, de Berlim, de Dresden e de Munique. Já na França destacamos os acervos de Estrasburgo e de Paris – Museu do Louvre e Museu dos Monumentos Franceses.

A convite do rei francês Francisco I, sob a coordenação do escultor e estucador italiano Francesco Primaticcio, foi executada uma reprodução do grupo escultórico

Laocoonte, em bronze (FIGURA 11), por meio de molde de gesso, para o Castelo de

Fontainebleau, na França. Nesta mesma época, o artista assumiu a direção geral dos trabalhos de restauração desta edificação. Em algumas das diversas visitas que teria realizado à Itália, ele encomendava e enviava obras antigas e reproduções para a decoração das galerias e cômodos internos das construções da realeza espanhola. 24

24 VASARI, 2010.

FIGURA 11: Grupo escultórico Laocoonte: reprodução em bronze, 1542-1543.

Fonte: DUBY & DAVAL, Vol. 2, p. 647.

Geralmente, essas reproduções eram o resultado de moldes que podiam ser realizados em cera ou em gesso, e executados diretamente sobre o original, sendo possível, então, obter uma cópia fiel – apresentando todas as informações da peça, inclusive, em alguns casos, mínimas marcas das espátulas. No Renascimento, alguns artistas, como Michelangelo e Sansovino, teriam sido os primeiros a se encarregar das restaurações das obras originais – esculturas – que serviriam mais tarde para a execução de moldes e a fundição de cópias em gesso.

A obra de Lucca della Robbia merece ser comentada, pois o escultor elabora uma técnica para a produção de relevos em barro cozido. Por meio dessa técnica, se aplicava um tipo de verniz vitrificante que resultava na esmaltação das superfícies as quais passavam a apresentar diversificadas tonalidades brilhantes e muito resistentes às ações das intempéries.25 Seu conjunto de obras, realizadas com auxílio de familiares, eleva o valor da arte decorativa. No entanto, vale mencionar que seus primeiros trabalhos de escultura, durante as décadas de 1430 e 1440, foram realizados sobre o mármore e o bronze, e que sua habilidade manual em criar modelos por meio da técnica da modelagem contribuiu para novas possibilidades no uso da cerâmica.

Numerosas reproduções foram adquiridas por tantos outros monarcas e sacerdotes por meio de escultores e artistas de suas épocas. Tais peças colaboravam para a criação de coleções que serviam também para estudos técnicos e análises estilísticas entre as obras expostas. Assim, era comum solicitar permissão ao papa para reproduzir cópias de determinadas estátuas – esculturas e imagens religiosas.

Leone Leoni (1509-1590) procura e compra para o cardeal Frederico Borromeu uma rara coleção de gessos – mais tarde exposta na biblioteca de Milão para fins didáticos e documentais.26 Nesta mesma época, grande parte do acervo pertencente à Real Academia de Belas Artes de San Fernando, em Madri, era, entre os anos 1649 e 1651, adquirida por Diego Velásquez (1599-1660) e Giuliano Finelli (1601-1653) para o então rei Felipe IV.

Segundo o dr. Tomas Lochman, restaurador e atual diretor do Museu Skulpturhalle Bâle (Basel, Suíça), cerca de quarenta cópias em gesso de esculturas em mármore pertencentes à Villa dei Papiri, situada próximo a cidade de Herculano, no sul da Itália, haviam sido encomendadas pelo rei Carlos III em 1764. Sabe-se, ainda, que um outro lote de cem reproduções teria sido agrupada pelo pintor Anton Raphael Mengs para o mesmo monarca, tornando a coleção uma das mais completas e notórias da Europa. Anos depois, algumas peças desta coleção receberiam suas primeiras intervenções de restauro. Em outubro de 2011 inaugurou-se a exposição

Skultur des Monats onde é apresentada uma série de vinte e cinco gessos

representando o período da arte clássica greco-romana.27

1.1. 4 O barroco

O estilo barroco surge a partir do século XVII, em oposição aos padrões clássicos da arte renascentista. Suas manifestações contribuíram para confrontar o classicismo pagão. Pode-se afirmar que a Igreja usa os valores e o estilo barroco para

26Leone Leoni, disponível em <http://www.caso4.it/francais/page2.html >. Acesso em: 05 jun. 2011. 27 Tomas Lochman, disponível em <www.skulturhalle.ch/skulptur-des-monats/>. Acesso em: 22 out.

enaltecer o mundo católico, criando o movimento da contra-reforma. Sua arquitetura se funde de tal forma com a escultura e pintura que não se percebe os limites entre tais artes. Outra característica é a fusão da teatralidade, da cenografia e do excesso de ornamentos que transforma o espaço onde se destacam ainda o efeito dramático de luz e sombras (a perspectiva ilusionista), os falsos verdadeiros e as exuberantes e movimentadas formas dos elementos compositivos.

Os ornatos mais difundidos neste período são as conchas, rocalhas, volutas, cartelas, querubins alados, flores, frutos e figuras femininas. Os ornamentos clássicos quase bidimensionais (pouca altura nos relevos) do Renascimento ganham volume e expressão, seguindo a técnica denominada a sbalzo – os ornatos se sobressaem de

maneira exagerada em relação ao plano da parede e recebem internamente uma estrutura de ferro ou de madeira fixada à alvenaria e que facilita ainda a presa da argamassa que vai sendo adicionada até alcançar a forma desejada pelo artista. Destacamos o estucador Giacomo Serpotta que executa, entre os anos de 1685 e 1688, monumental trabalho de estuque decorativo na Galleria Nazionalle em Palermo onde também se encontra outra obra de refinamento técnico do Oratório do Rosário de Santa Cita, na Sicília (FIGURA 12).

FIGURA 12: Giacomo Serpota, Palermo, Sicília: .Estátuas alegóricas, 1685-1688 | Oratório do Rosário de Santa Cita.

O gesso é um material bastante difundido, sobretudo quando agregado a argamassas de cal e material pozolânico28 na execução destas “esculturas” de grande porte e no acabamento destas. No entanto, não se encontra muita informação sobre as coleções de gessos neste período.

No início do século XVIII, o movimento barroco já se encontrava completamente desgastado na Europa. A França atravessa um período de turbulência sociopolítica e econômica culminando com a Revolução Francesa, em 1789. Os monumentos são, a partir de então, de domínio público - de todos os cidadãos -, e a noção de monumento passa a ser diretamente associada à ideia de Nação, de valor histórico, e a apresentar caráter eminentemente museológico. Em função deste novo olhar sobre o “patrimônio” nacional, propõe-se a idealização de museus compostos de objetos históricos de pequeno e médio porte, com o objetivo de instruir e ensinar o público em relação, principalmente, à história e à técnica construtiva e artística. O termo “monumento histórico” abarca um conceito mais amplo que inclui aquelas obras que lembrassem um fato ou apresentassem uma técnica construtiva particular. É a partir deste momento que o Museu do Louvre inaugura seu Atelie de Moldagens onde reproduz em gesso grande número de peças que são distribuídas por estas instituições acadêmicas e museológicas da França reafirmando a perspectiva de divulgação “em massa” da arte francesa e, consequentemente, seu entendimento e valorização pela população.29