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Fonte: Pesquisa de Campo do Mestrado realizado por SILVA, Elizângela Cardoso de Araújo, no Hospital Dr. João Machado em março de 2012.

A presença de filhos pequenos ainda é um fator que requer muitas manobras para permitir a participação das mulheres no mercado de trabalho principalmente pela inexistência de equipamentos sociais que deem suporte ao grupo familiar para seus pais trabalharem. O peso da ausência do Estado acaba recaindo sobre as mulheres que contam com familiares como avós, tias, irmãs e também vizinhas ou mesmo buscam serviços privados, que diante de seu poder aquisitivo, faz com que o acesso seja a serviços nem sempre de boa qualidade.

De acordo com o Banco de Dados sobre o trabalho das mulheres organizado pelas autoras Cristina Bruschini e Maria Rosa Lombardi,

A presença de filhos, associada ao ciclo de vida das trabalhadoras, à sua posição no grupo familiar - como cônjuge, chefe de família etc -, à necessidade de prover ou complementar o sustento do lar, são fatores que estão sempre presentes nas decisões das mulheres de ingressar ou permanecer no mercado de trabalho. Essa última decisão, certamente, é mais premente para as chefes de família, segmento que só tem aumentado: só nos últimos cinco anos analisados, a sua proporção na população residente passou de 25,5% para 33% (Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres. FCC, 2011).

Questionamos em nossa pesquisa se as mulheres eram as únicas responsáveis pela renda da família, 10 mulheres (59%) responderam que sim, entre as 6 que vivem com companheiro 3 (metade delas) são responsáveis exclusivas

pelo sustento da família porque os companheiros encontram-se desempregados. Importante destacar aqui que nos depoimentos, ouvimos relatos de companheiro que, mesmo em situação de desemprego, sentia-se envergonhado em realizar certas tarefas da casa, a mulher tendo que antes de sair preparar alimentos, e deixar “as coisas em ordem”. A ideologia patriarcal rege as relações de mulheres que estão em relação de assalariamento por várias questões determinantes, entre elas, um entrave cultural que dificulta questionar o status de subalternidade.

Apesar de algumas mulheres declararem que o trabalho dá mais condições de ampliação do poder de decisão, ele por si só, não é capaz de romper com a dominação, bem como a exploração das mulheres. Em alguns casos o assalariamento até aprofunda as ralações de exploração da vida das mulheres. São necessárias condições sociais, econômicas e políticas para intervir na transformação da submissão e exploração das mulheres.

Além da assistência que as mulheres precisam dar a crianças, algumas também são responsáveis por idosos, geralmente pai ou mãe (banhar, alimentar, por pra dormir, higienizar). Identificamos mulheres na condição de filhas. Ainda encontramos aquelas que assistem deficientes na família.

Nesse processo de construção social das relações de sexo, as mulheres assumem papeis diferenciados em cada momento histórico. No entanto é recorrente um papel submisso que as mulheres exercem contribuindo com a reprodução do sistema de relações sociais patriarcal.

O trabalho das mulheres no âmbito doméstico adquire grande importância para a manutenção desse modelo de família “[...] segundo o qual cabem às mulheres as responsabilidades domésticas e socializadoras, bem como a persistência de uma identidade construída em torno do mundo doméstico [...]” (BRUSCHINI, 2000, p.16). Para a autora, essa condição interfere nas formas de participação das mulheres no mercado de trabalho, entre outros fatores que moldam à sua qualificação.

BRUSCHINI; LOMBARDI (2011) no Banco de dados sobre o Trabalho das Mulheres/FCC, ressaltam que, no âmbito da oferta de trabalhadoras, vem ocorrendo significativas mudanças persistindo, no entanto, algumas continuidades que dificultam a dedicação das mulheres ao trabalho ou fazem dela uma trabalhadora de segunda categoria.

[...]. Em primeiro lugar, as mulheres seguem sendo as principais responsáveis pelas atividades domésticas e pelo cuidado com os filhos e demais familiares, o que representa uma sobrecarga para aquelas que também realizam atividades econômicas. Exemplificando concretamente essa sobrecarga, confronte-se a grande diferença existente entre a dedicação masculina e a feminina aos afazeres domésticos: os homens gastam nessas atividades, em média, 10,3 horas por semana e as mulheres, 26 horas51.

Homens e mulheres dedicam tempos diferenciados às atividades produtivas e reprodutivas. Bruschini e Lombardi (2011), ao avaliarem tempo total gasto nessas atividades, constatam que as mulheres destinam mais tempo do que os homens ao trabalho em geral - 65,4 horas para mulheres elas; 57,7 para eles, por semana, em 2007.

Em nossa pesquisa questionamos sobre essa realidade, 100% das mulheres realizam algum tipo de serviços domésticos quando estão em casa. Como podemos observar na tabela abaixo:

TABELA 14 - Realização de atividades domésticas

Numero de respostas por mulheres

Sim % Não %

Lava roupas com máquina de lavar 8 47 9 53

Lava roupas sem máquina de lavar 9 53 8 47

Passa roupas? 6 35 11 65

Lava pratos? 17 100 - -

Varre e organiza a casa? 17 100 - -

Cozinha 17 100 - -

Cuida* de crianças pequenas? 9 53 8 47

Cuida* de idosos 3 12 14 88

Cuida* de deficientes 1 6 16 94

*Utilizamos o termo popular “cuidar”, mas explicamos que nos referimos à assistir como banhar, alimentar, pôr para dormir e higienizar.

Fonte: Pesquisa de Campo do Mestrado realizado por SILVA, Elizângela Cardoso de Araújo, no Hospital Dr. João Machado em março de 2012.

51 Cristina Bruschini e Maria Rosa Lombardi. Banco de dados sobre o trabalho das mulheres. Sessão

Mulher, trabalho e família. São Paulo: Fundação Carlos Chagas. Disponível em: http://www.fcc.org.br/bdmulheres/serie2.php?area=series. Acesso em 27 de set. de 2011.

Na realização dos serviços domésticos, ouvimos importantes inquietações quanto à prevalência dessas atividades sob a responsabilidade das mulheres, Algumas apresentavam revolta ou resignação ao tratar do assunto. Quando perguntamos se elas realizavam serviços domésticos, ouvimos muitas vezes a resposta enfática: “com certeza!” “em casa é que trabalha!” E uma necessidade eminente de compartilhar desse martírio.

Entre as trabalhadoras que responderam a nosso formulário, 6 (35%) passam roupas. Observamos que passar roupas é uma atividade considerada dispensável, não se trata de uma tarefa considerada obrigatória, indispensável na reprodução da força de trabalho, como produção de alimentos, lavagem das roupas, etc. Algumas relataram que não passam porque dá trabalho, gasta mais energia, que até compram tipos roupas que não precise passar, ou ainda “cada um passa a sua”, ou mesmo, “só passa quando vai sair”.

Todas as mulheres cozinham, lavam pratos, varrem e organizam a casa. Esse tipo de atividade é considerada indispensável para a sobrevivência pois implicam na produção da alimentação, e das condições reais de subsistência no âmbito da casa.

Quanto ao “cuidado”, assistência às crianças pequenas? (banhar, alimentar, pôr pra dormir, higienizar): 9 mulheres (53%) realizam essa tarefa, 8 (47%) não (duas na condição de avó e uma na condição da tia). Considerando que 12 entre elas (71%) têm filhos e o gráfico abaixo apresenta a faixa etária destes:

Do grupo das 17 trabalhadoras, 3 (18%) eram casadas e um total de 6 (35%) viviam com companheiros (nenhuma declarou relação afetiva com companheira), como observamos nos gráficos que seguem.

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