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CAPÍTULO III – OS MEDIA

3.1 A identidade cultural e os Media: Tradicional e Digital

Como se depreende dos capítulos anteriores, o impacto que os media exercem sobre os fatos sociais também é extensivo à identidade cultural que é, na sua essência, um fato da realidade social. Aliás, cultura e comunicação (entendido os media como um instrumento da comunicação e cultura, como a extensão da identidade), por estarem dentro de um substrato maior que são as ciências humanas, também poderão enfrentar “os mesmos problemas epistemológicos”. Segundo Lopes (1999),

(...) a investigação em comunicação tem sido dependente do uso dos mecanismos e das regras e métodos de outras ciências, como a sociologia, tradicionalmente, esta última, convencida de que deve apresentar soluções para o social – e que por isso é muito justamente chamada a realizar essa tarefa. (1999:03)

Há uma grande ligação entre a identidade cultural e os media, na medida em que segundo Castells (2001:), “os sistemas tecnológicos são socialmente produzidos e a produção social é estruturada culturalmente. Para o autor, “a internet não é exceção, sobretudo porque a cultura dos produtores da internet, moldou o meio” (2001:34).

Como se sabe, os media são uma das forças motrizes da globalização, sendo os efeitos desta só ter sido possível, graças ao seu mercado. Sendo verdadeira essa afirmação, Hall (1992:84), confirma “a possibilidade de que a globalização possa levar a um fortalecimento de identidades locais ou à produção de novas identidades”.

Entretanto, a globalização, por si só, não teria o impacto que tem, pelo que o recurso aos instrumentos dos media, torna-se necessário. Assim sendo, para Souza e Giglio (2015),

(...) a nova ordem mundial tem como principal característica o fenômeno da globalização. Esta pode ser definida como a “intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa. (2015:17)

Na sua abordagem sobre media e tecnologia, Lopes (1999:04), afirma que “evidentemente que falamos do conceito estabilizado de media, como plural da palavra latina medium, ou seja, como mediação entre sujeitos e entre sujeitos e o mundo”. É precisamente nesse quesito de mediação que emerge o papel dos media na identidade cultural, seja os media tradicionais, mas sobretudo os “mass media” e os media digitais, impulsionados pelo efeito da internet.

62 Assim, a importância dos media, na mediação a que se refere Lopes (1999), faz todo o sentido quando Leal (2012:43) disse que “de grande parte da antropologia contemporânea – cultura como um sistema de símbolos e significados partilhados, que dá forma objetiva à experiência subjetiva de práticas sociais e a própria noção de identidade cultural”. Tendo por base aquilo que defendem os referidos autores, essa partilha de símbolos e significados, tornou-se realidade, graças, uma vez mais ao papel dos media.

Para Barbosa, (2012:231, apud Gonnet 2007:57), “os media têm vindo a transformar o meio que

nos rodeia (…) eles modificam profundamente o nosso comportamento e o nosso imaginário”.

Para caraterizarmos os media tradicional e digital, recorremos a dois grandes investigadores, nomeadamente McLhuan (2001:24-35), com a sua abordagem à questão de que “o meio é a mensagem23” e “media hot and cold” e Castells (2001), com a abordagem centrada em “a rede é a mensagem” e “Galáxia da internet”. O foco do primeiro, centraliza-se em torno da temática “os meios de comunicação com extensões do homem”, tanto numa abordagem como na outra. Na primeira abordagem, o autor começa por dizer que “numa cultura como a nossa, há muito acostumada a dividir e estilhaçar todas as coisas como meio de controlá-las, não deixa, às vezes, de ser um tanto chocante lembrar que, para efeitos práticos e operacionais, o meio é a mensagem24” (McLhuan, 2001:07).

A explicação dada pelo referido autor sobre o significado do tema “the medium is the message”, “é que as consequências pessoais e sociais de qualquer meio, resultam da nova escala que é introduzida nos nossos assuntos por cada extensão de nós mesmos, ou por qualquer nova tecnologia”. Isto segundo o mesmo, “considerando os meios qualquer extensão de nós mesmos”

(2001:07). Interpelando McLhuan (2001), podemos facilmente concluir que existe uma forte ligação dos meios, com a cultura e sua identidade, pela via da tecnologia de informação. O autor fala ainda da “automação (automation)” e finaliza dizendo que “é o feedback elétrico, ou estrutura-diálogo, da ‘‘máquina" automática e programada pelo computador, que a distingue do velho princípio mecânico do movimento unidirecional” (2001:378-392): “A newspaper headline recently read, “Little Red Schoolhouse Dies When Good Road Built”. One-room schools, with all subjects being taught to all grades at the same time, simply dissolve when better transportation permits specialized spaces and specialized teaching” (2001:378).

23 Do original: “The Medium is the Message”. Todas as traduções de McLuhuan (2001) do EN para o PT, foi

feita pelo mestrando, com recurso a https://translate.google.com/?hl=pt-PT&tab=TT

63 Por seu turno, Castells (2001), aborda a temática “a rede é a mensagem”, em jeito de complementaridade à abordagem relativamente aos media tradicionais a que McLhuan enfatiza no seu estudo, desde os telefones a automação passando por televisão (2001:267- 378). Em “rede é a mensagem”, Castells (2001) defende ainda que a “internet é o tecido das nossas vidas” (2001:07). O autor faz uma justa análise comparativa, entre a tecnologia e a eletricidade, dizendo que

(…) se a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na Era industrial, na nossa época a internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão da sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana. (Castells, 2001:07)

“A internet passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da era da informação: a rede. Ela é um meio de comunicação que permite, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global”. (Castells 2001:7-8)

Na verdade, a internet e as novas tecnologias vieram alterar profundamente o paradigma socio-comunicativo do homem enquanto ser social. Para Carlos Silva (2009),

(...) as novas tecnologias trazem ao Homem um novo desafio: o de reequacionar a realidade e reelaborar a imagem do “eu” e do que o rodeia. A comunicação enquanto processo de interação e vice-versa é uma ideia central na análise das tecnologias multimédia. Este fenómeno estabeleceu novos conceitos de espaço e tempo na interação social – dos quais emergem novas e diferenciadas formas de sociabilidade. (Carlos Silva 2009:243)

Baseados nos estudos de McLhuan (2001)25 com “o meio é a mensagem” e em complemento, do Castells (2001), “a rede é a mensagem”, podemos facilmente identificar e estabelecer uma espécie de mudança de paradigma, entre a media tradicional com os mass media, nomeadamente a rádio e a televisão e os media digital e social, com a sua força da tecnologia, impulsionadas pelo surgimento e democratização da internet.

Há quem ainda caracterize os media de uma forma atípica, como um repertório complicado e interligado de imprensa, expressando deste modo, a sua relevância nas sociedades. Appadurai (2004), introduz um novo conceito, defendendo que,

(...) as media paisagens, sejam elas produzidas por interesses privados ou, públicos, tendem a ser explicações centradas na imagem, com base na narrativa, de pedaços da realidade, e que oferecem aos que as vivem e as transformam é uma série de elementos (como personagens, enredos e formas textuais) a partir dos quais podem formar vidas imaginadas, as deles próprios e as daqueles que vivem noutros lugares. (Appadurai, 2004:54)

Baseada na posição defendida pelos autores referenciados, a proliferação dos media e das redes sociais, resultante do surgimento e uso da internet, a nível mundial, torna cada vez

25 First published in the United Kingdom 1964 by Routledge and Kegan Paul. Reprinted 2001, 2002, 2003,

64 mais evidente a relevância dos media, mencionada anteriormente e a sua contribuição, na reconfiguração da identidade cultural.

Ainda para finalizar, convém refletir acerca do que Pereira (2002:108) defende, sobre a flexibilidade e dinamismo da identidade. Para a autora,

(...) a identidade não é totalmente determinada à nascença, por fatores exógenos, é (re)construída ao longo da vida, como resultado de múltiplos processos temporais, de inserção e interação, e como tal deve ser vista como uma reconstrução permanente, flexível e dinâmica, e não como uma pré-construção essencialista. (2002:108)

A ideia defendida pela autora reforça cada vez mais o sentido da construção da identidade, o que também vincula a relevância dos media, no processo.

3.2 O poder dos media na redefinição e reconfiguração da identidade cultural de