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IDENTIDADE, ETNOGÊNESE E TRADITIONSKERN.

Marlon Citon1

RESUMO: Este trabalho tem como proposta analisar os embates histori- ográficos constituídos na formação de três conceitos: Identidade, Etnogê-

nese e Tradionskern, sobre o período temporal da Antiguidade Tardia, em

especial aos embates entre a Universidade de Viena e Toronto. Como parte de um artigo de análise historiográfica, buscamos, de forma sucinta e objetiva, apresentar e problematizar diversas concepções constituídas por autores e linhas interpretativas, apontando determinados embates epis- temológicos na formação de terminadas perspectivas. Concerne-se, assim, numa interpretação do historiador frente ao cenário historiográfico de tais trabalhos acadêmicos, nas referentes inclusões e exclusões de obras e autores. Dentro do viés da legitimação historiográfica, tais conceitos refe- rem-se a importantes instrumentais para pensar o contexto do período e fundamentar ideias, tornando-os importantes em uma análise ampla. Palavras-chave: Antiguidade Tardia, Historiografia, Identidade, Etnogê- nese, Tradionskern.

Introdução

O conhecimento histórico, decorrente da análise interpretativa do pesquisador, é resultante da conjuntura temporal, social e pessoal em que este está inserido. Neste pré-âmbito, podemos delimitar conceitos que seriam importantes para fomentar uma pesquisa histórica em determina- dos campos historiográficos. Na Antiguidade Tardia, perspectivas sobre os conceitos de Identidade e Etnogênese, decorrendo na noção de Traditi-

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Graduando em História, Universidade Federal do Paraná. Membro discente do Núcleo de Estudos Mediterrânicos.

onskern, mostram-se relevantes na investigação histórica: como ocorriam

as relações entre populações de diferentes origens e suas representações nas fontes, juntamente com a historiografia constituída sobre. Tais nomi- nativos indicam a necessidade de qualificações e concepções de conceitos que refletiriam o respectivo período de forma concernente, evitando o anacronismo.

Para introduzir este trabalho utilizamos de aporias clássicas referen- tes ao ofício do historiador, muito presentes e importantes ao assunto que desenvolveremos nas próximas páginas, buscando apontar o objeto de forma sucinta dentro de uma metodologia específica, em especial, na constituição de conceitos.

De forma sintética e rápida, pretendemos introduzir tais noções para o melhor entendimento de conceitos, constituídos pela historiografia, não sujeitando de forma total as interpretações apresentadas pelos autores, intento impossível de ser cumprido em apenas um artigo2

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Frente a abstinência de outros conceitos importantes para a constituição da dis- cussão historiográfica, apontamos a impossibilidade de trabalhar com uma con- juntura metodológica maior, que não abrangeria de forma condizente em um trabalho que possui uma estruturação sintética e específica. Assim, apresentare- mos, ao longo do trabalho, uma bibliografia que poderá ser consultada para maio- res informações de conceitos, contexto e obras na perspectiva histórica sugerida acima.

. Frente ao tipo de análise proposta e interpretativa dos autores, esse trabalho possui con- cepções próprias, pela inclusão e exclusão de obras, autores e linhas histo- riográficas, já que decorre em escolhas em sua fundamentação. Assim, abrimos espaço para possíveis diferentes noções e constante revisão de concepções aqui expostas, não colocando opiniões pessoais sobre cada

linha historiográfica, fato que diminuiria a amplitude de exame do histori- ador. Tal conteúdo possui nível de dificuldade elevado para fazer sua aná- lise, já que as interpretações diferenciam-se através de conceitos bem localizados e por discussões historiográficas intensas.

Duas escolas, muitos historiadores.

Ao longo do decorrer do século XX, a constituição historiográfica acerca das relações entre o "Mundo Bárbaro" e o "Mundo Romano" foi relevante para pensarmos os conceitos de Identidade, Etnogênese e Gens.3

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As concepções de Identidade são basilares dentro de uma compreensão do em- bate historiográfico aqui apresentado, o qual possui a impossibilidade de concei- tualização de forma sintética devido a complexidade de tal. De modo mais geral, o conceito é discutido devido a fundamentação de cada perspectiva, ponto que é ressaltado no decorrer desse trabalho. Etnogênese concerne a ação recorrente de relações entre diferentes populações étnicas durante as movimentações nos sécu- los IV, V e VI. Já no caso da Gens, tem a conotação de uma família ou popula- ção. Refere-se a um fenômeno muito importante na constituição de político/social da Antiguidade Tardia, os vínculos que pessoas possuíam no desenvolvimento de um clã ou grupo nobiliárquico. Possui outra interpretação por ser utilizado desde a época da República Romana e Principado para considerar determinadas famí- lias influentes de Roma. Assim, apontamos para a mudança de denotação do conceito frente às mudanças temporais as fontes, o que é apresentado pela histo- riografia, e referente uso por Historiadores Tardo-Antigos e Medievalistas. Wol- fram aponta que Gens refere a uma comunidade com origem biológica comum, sendo Gentes uma perspectiva da mistura de diversas etnias, em caráter polissê- mico. (Cf. WOLFRAM. P.5)

São termos os quais promovem diferenciações metodológicas entre auto- res, decorrentes de variadas conjunturas de suas formações acadêmicas e intelectuais. O desenvolvimento conceitual referente à área tornou-se im- portante pela conjuntura apresentadas pelas fontes, contexto de mudanças

entre um mundo político/institucional Romano para um Romano/Bárbaro. Pensar interações contextuais já elenca a concepção clássica de Arnaldo Momigliano, de relações diretas entre povos4. No caso da Antiguidade

Tardia, entendemos que concerne a um período de transição e transfor- mação, em que conceitos e vocábulos utilizados pelas fontes podem ter

significados diferentes, referentes a uma nova perspectiva do período5

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Momigliano possui obra vasta sobre a Grécia Antiga, Cristianismo e Império Romano. Suas referências apontam para trabalhos sobre historiografia e análise de especificidades do período temporal. Sobre a concepção de interação, sua obra

Alien Wisdom : The Limits of Hellenization aponta como referencial, demons-

trando relações entre populações que estariam presentes na Grécia de Alexandre Magno. Interessante registro, pois Nietzsche denotou, em seu trabalho A Filosofia

na Época trágica dos Gregos, as relações que filósofos teriam de outras regiões e

perspectivas na formatação da Escola Jônica e Eleata. O que pode trazer concep- ções similares em alguns pontos.

. Assim, examinar as fontes torna-se algo complexo, decorrente de diversas análises e formação de interpretações. Tentando localizar a discussão, mesmo de forma sintética, podemos apontar duas linhas basilares para o desenvolvimento de trabalhos. Por um lado, historiadores da “Escola” de Viena, tendo vínculos estreitos com uma herança alemã na teoria da histó- ria e historiografia. Por outro lado, a “Escola” de Toronto aponta para interpretações questionadoras de determinadas perspectivas elencadas pela historiografia clássica e de língua alemã, relevantes com concepções de críticas elencadas pela antropologia “instrumentalista” dos anos 1950. Além de tais simplificações frente complexidade do assunto, pesquisado-

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Para considerações gerais sobre a Antiguidade Tardia, dentro das noções de

transfomação e transição, apontamos o referênte trabalho: FRIGHETTO, R. Antiguidade Tardia: Roma e as Monarquias Romano – Bárbaras numa época de Transformações (Séculos II-VIII). Curitiba: Juruá, 2012.

res fora de vínculos estão presentes ao longo do mundo, principalmente na Europa e Estados Unidos, caso de Gillett, Kulikowski, Woods, Heather, entre outros6.

“Escola” de Viena

O historiador mais importante na constituição de uma interpretação problemática inicial concerne a Reinhard Wenskus. Em Stammesbildung

und Verfassung: Das Werden der frühmittelalterlichen gentes, trabalho

clássico para a conceitualização da Etnogênese (Stammesbildung), Etno-

grafia e Traditionskern, Wenskus apresenta a “etnogenidade” como

transmissora de tradições étnicas na formação de uma identidade em uma população7, interpretação que a formação étnica e política pautam-se em elites nobres como formadoras de uma identidade, uma única Gens frente às diversas Gentes. Notamos, desse modo, a construção de ideias estáticas, modeladas na diferenciação territorial, em elites nobiliárquicas, denotando uma diferenciação biológica de populações8

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Existe ampla historiografia sobre o tema, muitos autores e muitas interpretações. Entendendo as limitações desse trabalho, indicamos que não referenciamos de modo total nesse artigo, mas quais estão mais presentes dentro do ambiente dos embates historiográficos da Universidade de Viena.

. Suas concepções indicam a

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Nesse caso, Identidade tem uma conotação mais ampla, além de simples mani- festação de traços culturais, mas representação política/social, referenciando uma população.

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A obra de Wenskus é problemática para fazer análises, já que não existem tra- duções dos originais em língua alemã, muito menos acesso longe de núcleos especializados. Assim, as proposições apresentadas aqui remetem, principalmen- te, aos trabalhos de Walter Pohl: Ethnicity, Theory, and Tradition: A Response e

Strategies of Distinction.The construction of Ethnic Communities, 300-800; jun-

formação de um paradigma dentro da historiografia, por ser uma teoria conceitual amplamente desenvolvida em língua alemã, além de extrema- mente discutida. Ele foi um dos pesquisadores que formaram a ideia geral de Etnogênese, indicando propostas de como certas populações surgiram, muitas vezes apontando características Germânicas provenientes da Idade do Ferro em tal função (C.f. BOWLUS, P. 243)9. A concepção de Wens- kus resulta na noção de Traditionskern10, a nobreza como um núcleo de tradição, formadora de uma identidade étnica frente a hordas de guerreiros de diversas origens, não esboçando uma heterogeneidade identitária pre- sente nesses povos ou a tentativa de identificação dos mesmos através de características étnicas, mas pela especificidade de uma Gens. Importante apontarmos a noção militar como ponto chave para a concepção de Etno-

gênese e Identidade de Wenskus, já que resulta na ideia de Traditionskern

na perspectiva de legitimação de tais guerreiros não apenas por um passa- do mítico, mas pela vitória em batalha11

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Etnogenesis: The Tyranny of a Concept. Artigo inserido na edição organizada por Gillett presente na bibliografia.

.Referente ao contexto de forma-

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Gillett define a origem da concepção: “This theory of the origins of ethnic groups (ethnogenesis) centres on the concept of a binding core of tradition

(Traditionskern) either embodied in an aristocratic elite which 'bears' the group's

identity-giving traditions, or transmitted by less tangible 'ethnic discourses'. The theory is essentially philological (in the original sense of the word) in approach but framed with reference to contemporary thought in the social sciences.

Traditionskern theory posits the replication of group identity through the sub-

scription by members to a mythic narrative of the group's past (the 'core of tradition'), focused on the divine descent of its rulers.” (GILLETT, 2002)

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“Vitória militar” releva ao próprio conceito romano de Vitória, além de repre- sentação religiosa. No caso dos povos bárbaros, sua origem militar e desenvolvi-

ção de sua obra remonta-nos ao Nacionalismo de emeados do século XX, relevando noções enquadradas com o recorte temporal, social e político em que o pesquisador estava inserido12. Em si, Wenskus ajudou a popula- rizar o termo Gens e Tradionskern, resultando em diferentes interpreta- ções de sua obra por parte de historiadores atuais13

Outra obra importante é Die Goten

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mento político, a Vitória representava o objetivo de tais populações em sua for- mação lógica social e política.

de Herwig Wolfram, a qual

representa uma noção de Etnogênese parecida com a de Wenskus e mais aceita no cenário historiográfico, delimitando linhagens nobiliárquicas e, consequentemente, uma formação identitária como formadora de identi- dade. Traditionskern é um conceito muito importante para Wolfram, já

que a noção de identidade relaciona-se com as linhagens nobres e autori- dade sobre uma população específica, o que ele desenvolveu muito bem em sua análise sobre os Godos. Porém, atualmente, é muito criticada por

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Como apontado por Gillett, o desenvolvimento de teorias etnográficas, resul- tante nos conceitos de Etnogênese e Tradionskern é decorrente do avanço do Nacionalismo. Em oposição, houve a criação de uma antropologia “instrumenta- lista” nos Estados Unidos pelos anos 1950 que possuía como objetivo identificar a “etnicidade” de forma social e culturalmente construída. Wenskus é identifica- do, muitas vezes, como um “racialista”, o que releva para uma interpretação con- trária por historiadores com vínculos relacionados a tal perspectiva. Tais noções denotam a interpretação pessoal de Gillett.

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Esse ponto é bastante problemático, pois dependente a interpretação de sua obra há discordâncias na legitimação de pontos específicos frente a Etnogene-

se/Etnologia e o Gens. Murray considera Wenskus como uma interpretação ideo-

lógica para a “Teoria da Etnogenese”, mas não biologicista apenas.

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Obra lançada inicialmente em 1979 em Alemão sobre o título Die Goten und

ihre Geschichte, é disponível com uma tradução em inglês desde 1988, denomi-

determinados núcleos acadêmicos, sendo acusada de “densamente elitista e enraizada em tradição autoritária”15

Contudo, é notório o desenvolvimento de modelos interpretativos sobre perspectivas de autores ao longo dos embates historiográficos, di- minuindo a problemática dos conteúdos apresentadas em obras extensas

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. No caso de Wenskus e Wolfram não é diferente, a aplicabilidade de suas interpretações restringe-se ao tipo de metodologia e concepções dos histo- riadores atuais nesse campo, o que possui generalizações significativas sobre seus trabalhos. Wenskus é apontado como biologicista ou ideológi- co, dependente a interpretação, porém o acesso a sua obra é bastante res- trito, colocando em questão a veracidade interpretativa17

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Alexander Murray aponta como uma concepção enraizada na historiografia alemã, desde tempos anteriores a Wenskus com a “lordship theory”, o que resul- taria na homogeneização das Gentes e formação da Teoria da Tradionskern. (Cf. MURRAY; 2002)

. Wolfram é mui- to mais lembrado pela aplicabilidade contextual de sua obra, na perspecti- va de Traditionskern, do que um pesquisador problemático na formação historiográfica, o que é bastante reducionista. Ele faz exercício da crítica,

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"Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, con- trola o passado." (Nineteen Eighty – Four. ORWELL). Essa frase é aplicada não apenas no âmbito político/social/econômico, mas no cenário historiográfico, nas escolhas e legitimidades de discussões e omissões de interpretações.

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Murray possui um capítulo de livro bastante interessante sobre Wenskus, nele aponta o uso e do termo genérico Stamm, concernente ao Gens. Em sua interpre- tação sobre o autor austríaco, denota o uso da concepção de Traditionskern na formação de conhecimento etnográfico. Considera como concepções idealistas e não biologicistas, pois Wenskus teria fundamentado sua concepção frente os ideais nacionalistas, como já apontado na “lordship theory” na nota 14. Para mai- ores informações verificar em o capitulo: Reinhard Wenskus on ‘Ethnogesis’,

além de um levantamento bibliográfico na introdução de seu livro Die

Goten, apontando que a aplicabilidade de estudos filológicos e historio-

gráficos sobre os povos bárbaros estão relacionados, respectivamente, com o Romantismo Francês e os Historicismo Alemão18. O autor denota que essas perspectivas interpretativas utilizavam-se do conceito de Gens na legitimação de ideias biologicistas, a busca por uma vitalidade Germâ- nica em um remoto passado tribal dos povos bárbaros, os quais formaram as identidades nacionais modernas. O exercício da crítica por Wolfram não é apenas rejeitar interpretações, mas utilizar de concepções válidas para sua análise metodológica19

A perspectiva de Wolfram acima é apresentada após a crítica às concepções biologiscistas, denotando que a problemática do conceito de

Gens, na “etnogenidade” presente em determinadas populações bárbaras.

Porém, a unidade e constituição de características comuns entre indiví- duos de diferentes ascendências implica ao exército, ao combate sobre a autoridade de líder, uma nobreza nobiliárquica específica, no comando

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Wolfram aponta o trabalho filológico de Johann Christoph Gottsched e a im- portância de Michael Schmidt na constituição da migratio gentium em consonân- cia com o Volkerwanderung. O uso do conceito de Gens por Schmidt é importan- te na constituição do conceito, na relação com significados distintos.

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“Words such as gens, genus/γενος, genealogia, and natio, refer to a comunity of biological descent. The tribal sagas, however, equate people with army and thus remain true historical reality. In addition, the sources attest the polyethnic character of gentes. These gentes never comprise all potencial members of a gens but instead always mixed. Therefore their formation is not a matter of common descent but one of political decision. Initially this implies not much more than the ability to unite and keep together the multitribal groups that make up any barbari- an army.” (WOLFRAM, 1990)

bélico. Assim, o conceito de Traditionskern torna-se referencial em sua obra.

No decorrer do desenvolvimento de novas ideias no âmbito da An-

tiguidade Tardia e Início da Idade Média20

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O uso de determinada nomenclatura é relativa ao pesquisador e suas apropria- ções metodológicas. Assim, para não excluirmos aqueles que usam um determi- nado conceito, preferimos citar ambos, fato que não indica parcialidade por parte do autor.

, diferentes proposições sobre os conceitos de Etnogênese, Gens e Traditionskern foram concebidos. A Universidade de Viena é palco de formação de novas concepções concer- nentes ao tema, problematizações metodológicas sobre o que seriam fon- tes de estudos e seus usos são frequentes. Pensar atualmente as noções introduzidas inicialmente por Wenskus e Wolfram necessita indicar Wal- ter Pohl, como um “herdeiro” de Wolfram, já que foi orientado por este. Pohl denota a abstenção da “bipolarização” de confiabilidade das fontes, considerando extratos e tradição oral como legítimos, fato que seria con- siderado inapropriado por alguns historiadores. A análise de textos “literá- rios” seria importante na opinião do autor, já que suas formações tiveram uma finalidade em um contexto específico, além de ampliar os horizontes na interpretação do que formaria uma identidade étnica. Pohl aponta que o conceito de Etnogênese é maleável, longe de uma estaticidade apontada pela “Escola” de Toronto. No caso do conceito de Traditionskern, Pohl utiliza-o, porém seu uso restringe-se a uma concepção específica, a pro- blematização do mesmo na aplicabilidade em análise de fontes. A discus- são sobre a utilização do conceito é recorrente no âmbito acadêmico, já que determinadas perspectivas sempre estão em discussão e não identifi-

cariam de forma complacente os fenômenos decorrentes do contexto es- pecífico, mas de forma parcial21

Pohl denota que a Etnogênese ocorria na transmissão de caracterís- ticas étnicas de forma espontânea com o contato de uma população com outras. O núcleo étnico, formador de uma identidade pautada na nobreza, aponta-nos a fragilidade na raiz identitária, pois o tronco familiar, muitas vezes, não possuiria mais de três ou quatro gerações. Assim, a formação de uma tradição identitária representaria uma construção necessária à legi- timidade de uma linhagem de poder. (C.f. POHL, 1997) Como apontado por Wolfram, a legitimidade de uma determinada família nobre pautava-se em cultos de Heróis e Deuses em uma remota origem, mesmo não haven- do provas de tais afirmações

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Pohl continua a tradição historiografia de Wolfram, o qual já apontava para problemáticas de conceitos. Nesse caso, o historiador austríaco está em combate, dentro dos embates, caso que Wolfram não estava tão inserido.

. Modificações nessas sociedades foram decorrentes desde as denominadas “migrações” (Völkerwanderung) da Escandinávia aos assentamentos posteriores, saindo de constituições tri- bais políticas/sociais bastante simples para poderes complexos pautados em certas famílias nobres. Em si, a apropriação de nominativos étnicos estavam muito mais relacionados a designações genéricas propostas pelos Romanos do que indicando de forma complacente a heterogeneidade das populações “bárbaras”, decorrente do processo de etnogênese. Devemos notar que a Etnografia é um conhecimento Romano e Grego, uma inter-

pretatio romana, e como recorrente do trabalho do historiador, a parciali-

dade é notória em uma análise específica, na dificuldade de uso de fontes

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Wolfram apresenta de forma interessante sua perspectiva na introdução de seu livro Geschichte der Goten, utilizamos, aqui, de sua tradução.

restritas e limitadas a interpretações romanas23

A continuidade no uso do conceito de Traditionskern apresenta a