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Identificação dos factores explicativos do comércio intra-sectorial

2 Revisão da literatura sobre o comércio intra-sectorial

2.6 Identificação dos factores explicativos do comércio intra-sectorial

Em forma de síntese, procura-se aqui identificar quais os factores que têm vindo a ser identificados como explicativos do comércio intra-sectorial e de que forma estes se relacionam com os modelos teóricos identificados no ponto 2.1.3.

De forma a estruturar um pouco este ponto, os factores apresentados surgem agrupados em dois grandes blocos: que são específicos do país e os que são específicos do sector.

2.6.1 Factores específicos do país

2.6.1.1 Nível de desenvolvimento

Quanto maior for o nível de desenvolvimento dos países em análise maior se espera que venha a ser o nível do comércio intra-sectorial devido à maior capacidade que este tipo de países terá de inovar e assim produzir produtos mais diferenciados. Mais, este tipo de países geralmente terá uma procura elevada de produtos diferenciados o que suportará a existência de um maior número de variedades. Quanto maior o número de variedades maior será o comércio intra-sectorial.

2.6.1.2 Similaridade do nível de desenvolvimento

A semelhança no nível de desenvolvimento entre países implica também uma similaridade na estrutura da procura. Assim, países com procuras similares desenvolverão ofertas similares, primeiro para o mercado doméstico e depois para exportação. Neste contexto, quanto maior a semelhança entre nível de desenvolvimento dos países maior deverá ser o comércio intra-sectorial.

Por outro lado, o modelo de diferenciação vertical desenvolvido por Falvey e Kierzkowski (1987) sugere uma relação inversa. Assim, países com diferentes níveis de desenvolvimento teriam estruturas da procura bastante distintas o que implicaria que se especializassem na produção de produtos adaptados à procura doméstica. As importações satisfariam a parte da procura que se aproximasse mais da procura do exterior. Daí que quanto maior a diferença dos níveis de desenvolvimento maior a probabilidade de se gerar uma diversidade dos gostos de cada mercado e assim aumentar a quota de comércio intra-sectorial diferenciado verticalmente.

2.6.1.3 Dimensão do mercado

Quanto maior o mercado maior a possibilidade da existência de economias de escala e também maior a possibilidade de existência de produtos diferenciados na acepção do modelo de Lancaster (1980). Assim, é de esperar uma incidência de comércio intra- sectorial superior nos mercados de maior dimensão.

2.6.1.4 Distância entre os mercados

Duas razões justificam uma relação negativa entre a distância e o comércio intra- sectorial: uma prende-se com os custos de transporte e a outra com a distância cultural. O aumento dos custos de transporte reduz de forma significativa a possibilidade de comércio intra-sectorial por criar uma barreira ao comércio.

A distância, nomeadamente cultural, normalmente explica estruturas de mercado e da procura diferentes e assim caímos nos argumentos do ponto 2.6.1.2.

2.6.1.5 Barreiras ao comércio

A existência de barreiras ao comércio, nomeadamente aduaneiras, funcionam na mesma formulação que os custos de transporte. Tornando mais competitivos os produtos nacionais reduz-se a atractividade das variedades importadas, reduzindo assim o comércio intra-sectorial.

2.6.2 Factores específicos do sector

2.6.2.1 Possibilidade de economias de escala

Em sectores em que a escala mínima eficiente é muito baixa então o número de empresas que podem atingir essa escala é muito elevado levando assim à existência de um grande número de variedades, no contexto do modelo desenvolvido por Krugman (1979,1980) o que potência o comércio intra-sectorial horizontal. Assim, com a presença de maiores economias de escala, espera-se uma redução do comércio intra- sectorial horizontal. Para o comércio intra-sectorial vertical não está estabilizada qualquer relação directa.

2.6.2.2 Diferenciação horizontal (vertical) dos produtos

Apesar de parecer intuitiva a relação entre a possibilidade de diferenciação dos produtos e a existência do comércio intra-sectorial, esta tem sido a relação mais difícil de provar na generalidade dos estudos empíricos. Em primeiro lugar, logo pela subjectividade do tema e, depois, pela sua natureza multifacetada, tem sido difícil encontrar uma variável que possa servir de proxy para este conceito.

Têm sido utilizadas as mais diversas variáveis, desde a dispersão dos preços de exportação, passando pelo número de produtos dentro de cada indústria (recorrendo às nomenclaturas estatísticas), até ao peso das despesas com publicidade nas vendas da indústria.

Em síntese, espera-se uma relação positiva entre a diferenciação dos produtos e o nível de comércio intra-sectorial para cada tipo de diferenciação.

2.6.2.3 Investimento directo estrangeiro

Uma parte significativa do processo produtivo está cada vez mais descentralizada e fora dos países desenvolvidos. Uma boa parte desta produção de componentes ou montagem de produtos é criada nos países em vias de desenvolvimento por filiais de empresas daqueles países ou por empresas locais que são subcontratadas para o efeito. Em qualquer dos casos os componentes e/ou as partes são fornecidos pela empresa localizada no país desenvolvido que posteriormente importa os produtos finais. Como a generalidade dos componentes são classificados estatisticamente na mesma indústria dos produtos finais, então, o IDE apresentaria uma relação positiva com o comércio intra-sectorial.

Por outro lado, Caves (1981) sugere que o IDE pode actuar como um substituto do comércio intra-sectorial. O argumento é o de que uma empresa pode investir numa unidade no exterior com o objectivo de poder fornecer a esse mercado a sua variedade através de produção local. Neste caso, seria expectável uma relação inversa entre o IDE e o comércio intra-sectorial.

2.6.2.4 Saldo Comercial

Como referido anteriormente, o indicador GL não ajustado tem um enviesamento para baixo devido ao saldo comercial. Daí que a generalidade dos estudos empíricos incluam o saldo comercial como uma variável explicativa por forma a minimizar o enviesamento do indicador de comércio intra-sectorial.

2.6.3 Síntese

O quadro seguinte procura sintetizar as variáveis identificadas e a relação que elas deverão ter com o comércio intra-sectorial.

Tabela 2 – Síntese dos factores explicativos do comércio intra-sectorial Relação Esperada

Dif. Horizontal Dif. Vertical

1 Nível de desenvolvimento + +

2 Similaridade do nível de desenvolvimento - +

3 Dimensão + + 4 Distância - - 5 Barreiras ao Comércio - - 1 Economias de Escala - ? 2 Diferenciação Horizontal + ? 2' Diferenciação Vertical ? +

3 Investimento Directo Estrangeiro ? ?

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