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2.2

Identificação dos Informantes

Como foi dito, os fenómenos que a presente dissertação analisa são trata- dos numa perspectiva sincrónica, uma vez que a investigação visa conhe- cer determinadas propriedades de sistemas linguísticos específicos, mas também numa óptica diatópica, através da comparação dos resultados ob- tidos no português standard e no galego ocidental.

Nos últimos anos, os trabalhos que compararam os dialectos portu- gueses com os galegos foram focados maioritariamente no continuum lin- guístico da fronteira galego-portuguesa e, em grande medida, do ponto de vista dialectológico (Taboada Cid, 1979; Mota, 2001; Soalheiro, 2002; González González e Taboada Cid, 2002; Mota et al., 2003, entre outros). Existem também alguns trabalhos que confrontam dados sincrónicos de sistemas com um contacto menor: Vidal Figueiroa (1992); Regueira (2005) sobre a nasalidade, Álvarez (1986) a propósito dos dois sistemas fono- lógicos standard, ou, sobre a prosódia (Fernández Rei e Moutinho, 2006). Contudo, desconhecemos dados relativos à relação entre os elementos das rimas VC em ambos os sistemas, na sequência do que decidimos levar a cabo esta pesquisa.

2.2.1

Português Europeu

Contrariamente à variedade galega, cuja definição mereceu uma secção própria (1.4.2.1), a eleição do sistema português não levantou as mesmas questões. Sendo o dialecto de Lisboa considerado tradicionalmente como o standard português (e também um dos mais inovadores), optou-se pela

selecção de informantes falantes desta variedade.

Vários foram os aspectos a ter em conta. Por um lado, a naturalidade de cada um deles: os três indivíduos escolhidos nasceram em Lisboa e passaram lá a maior parte da sua vida, frequentando nessa cidade o en- sino obrigatório. Além disso, os pais dos três informantes eram também da região de Lisboa, ou, sendo procedentes de outras zonas de Portugal, viveram em Lisboa durante a maior parte das suas vidas. Este factor con- diciona o idiolecto de cada informante, uma vez que as influências diató- picas são muito reduzidas.

Por outra parte, os três informantes seleccionados frequentaram o en- sino universitário, facto que os posiciona sócio-culturalmente acima de outros perfis que não acederam ao ensino superior. Esta questão ajuda- nos também a delimitar o dialecto escolhido, e a aproximar-nos mais da considerada variedade padrão.

Em relação à idade, os três informantes tinham entre 25 e 29 anos no momento das gravações. Escolheu-se esta faixa etária porque, tendo os informantes já consolidado o seu idiolecto,2considerou-se que eram tipos

representativos do já referido padrão português. Além disso, os três indi- víduos escolhidos são do sexo masculino.

Chegados a este ponto, podemos afirmar que a variedade linguística balizada na selecção dos informantes situa-se dentro do padrão português e que os informantes (e portanto os dados extraídos das suas gravações) podem ser de certo modo representativos da própria variedade a que per- tencem.

2Sobretudo em relação ao sistema fonológico; não avaliamos as possíveis mudanças que nou-

2.2. IDENTIFICAÇÃO DOS INFORMANTES 29

2.2.2

Galego

No capítulo introdutório (Ponto 1.4.2.1) foi definida a variedade galega escolhida; a selecção dos informantes, porém, procurou responder a ques- tões distintas do que no caso português. O castelhano na Galiza é, apesar de menos falado popularmente,3a língua de cultura e prestígio, pelo que a

procura de um padrão galego não pode ser realizada nos mesmos termos. Vidal Figueiroa (1997), por exemplo, apresenta as características fonéticas de três dialectos da cidade de Vigo (viguês tradicional, galego urbano e castelhano) chegando a conclusões que mostram a enorme castelhaniza- ção do galego urbano com relação ao viguês tradicional, só conservado na periferia e nas áreas rurais do concelho.

Por outro lado, a língua utilizada nos meios de comunicação públi- cos galegos é também muito díspar, dependendo de quem a utilizar; em termos estritamente linguísticos, o facto de um locutor (e por extensão, qualquer indivíduo) ser —entre outros factores— falante nativo ou não de galego vai condicionar o seu inventário fonológico (provavelmente pos- suirá cinco segmentos vocálicos e não sete), as restrições para a formação da sílaba (podendo realizar diferentes estruturas silábicas, não gramaticais para um falante nativo) e a presença de diversos processos (menor activa- ção do FVA, diferentes graus e formas de nasalização no fim de sílaba: [s„on] e não [s„oN], etc.), entre outras características.

Assim, decidiu-se escolher três indivíduos falantes nativos da varie- dade galega como representativos de uma comunidade de língua habitual galega;4 deste modo, a comparação entre este sistema e o padrão portu-

3Veja-se o Mapa Sociolingüístico de Galicia (1992) emhttp://www.msg-92.com, ou a evo-

lução 1992-2003 em Consello da Cultura Galega. Sección de Lingua (2005).

4Pretendemos dizer com isto que o galego é o idioma principal da comunidade e dos infor-

guês baseia-se nos resultados contemporâneos de dois dialectos do domí- nio galego-português.

Além disso, e ao contrário de outros trabalhos de carácter mais dialec- tológico, que visaram recolher e analisar as formas mais antigas e conser- vadoras —recorrendo aos falantes de maior idade e com menor grau de escolarização—, resolveu-se seleccionar informantes de idades semelhan- tes aos escolhidos em Lisboa, a fim não só de estabelecermos as bases para uma comparação mais natural, mas também de delimitarmos um sistema linguístico mais realista das variedades contemporâneas da Galiza. Assim sendo, os três informantes seleccionados (também masculinos) da Galiza, tinham na altura das gravações uma idade compreendida entre os 25 e os 27 anos.

Com o mesmo objectivo de permitir a comparação dos dados, os indi- víduos galegos analisados têm também estudos universitários, que, apesar de serem realizados fora da sua localidade de origem, não impedem que o seu idiolecto seja identificado como representativo do próprio lugar de procedência.

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