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ideologia cultual passa por um longo processo de silenciamento e instrumentalização de tradições antigas O autor afirma que esse processo de

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redação passa por seis etapas:

1.1 Período pré estatal. A semente das leis mais antigas, presentes no livro do Deuteronômio, certamente nasceu na terra fértil da vida das famílias, clãs e tribos, no período pré-estatal. O espírito dessas leis é fruto da experiência de escravidão, pobreza, miséria, simbolizada pelo êxodo (Dt 24, 18. 22). Dentro desse sofrimento, o povo clama a Deus; Deus ouve o clamor e “desce para libertar” (Ex 3,7). Deus não só liberta, como faz a aliança com o povo pobre, fraco e maltratado, por pura gratuidade e amor (Ex 19). A experiência da pobreza, libertação e aliança cria no povo uma grande sensibilidade para com os pobres, órfãos e viúvas (Dt 14, 28-29) [...]. A liturgia era a fonte de abastecimento da memória da libertação (Dt 16,1.3.6.12) e do compromisso da aliança. Assim no coração da vida do povo, as leis são preservadas como expressão de sua fé no Deus da vida e em si mesmo [...]. com o passar do tempo, essas leis vão sendo relidas e recebem acréscimos em duas dimensões: na linha profética de defesa do pobre e oprimido e na linha do estado que se apropria delas e as manipula segundo seus interesses [...]. o que nos chama atenção é que a lei da centralização (Dt 12,5) distancia-se das

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NAKANOSE, Para entender....

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Ibid. p.176

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Ibid. p.176

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Ver GOTTWALD, As Tribos..., p.78-85. A pesquisa de Nakanose possui uma estreita interlocução com a obra de Gottwald. O ultimo foi orientador de sua tese de doutoramento em Nova York.

antigas leis que indicavam e possibilitavam diferentes locais de culto (Gn 28.18; 35,14; Ex 20,24; 24,4; Js 24,26). 1.2. Reino do Norte – metade do século VIII a.C. O reino do Norte ganha estrutura com Amri (885-874 a.C) e seu filho Acab (874-853 a.C), que consolidaram o sistema urbano (1 Rs 16,24) [...]. a política mercantilista, implantada pela casa de Amri para manter a aristocracia das cidades, vai produzindo um profundo conflito com os camponeses que reagem através de grupos proféticos que carregavam a tradição efraimita, as leis humanitárias da sociedade tribal; Elias, Eliseu, Miqueias de Jemla (cf. 1Rs 22,1-28) e outros para sustentar e manter a esperança do povo, esses grupos as leis de defesa do pobre no contexto de aliança com o Deus da vida, Iahveh libertador. Temos então o confronto de duas forças: o grupo efraimita profético com as leis de defesa do povo massacrado e o grupo da corte que explorava o povo [...] Em 841 a.C, Jeú (2Rs 9-10), chefe dos carros de guerra, apoiado pelo movimento profético de Eliseu, promove uma sangrenta revolta. Acaba com a dinastia de Amri, destrói os templos de Baal e assume o trono (841-814 a.C). A primeira vista parece um triunfo total de Iahweh, mas, na realidade, Jeú faz da religião javista uma força de sustentação de Estado. A partir desse episodio, Eliseu e seu grupo de sacerdotes e profetas levíticos passam a desenpenhar importante papel na corte, tornando-se conselheiros do Rei (cf. 2Rs 13, 14-19). A profecia institucionaliza-se. Através deles a tradição profética efraimita, portadora do “protodeuteronomio” entra na corte, que se apropria das leis aí contidas e as coloca em seu favor [...]. Com Jeroboão II (783-743 a.C) temos o apogeu político e econômico de Israel. Aumenta a diferença social. Cresce a classe urbana e rica às custas do empobrecimento de grande parte da população, sobretudo o campo, a maior vitima da injustiça e exploração (Am 2,6-16). Para manter seus interesses socioeconômicos, Jeroboão II intensifica uma política de centralização. O Estado precisa de produto do campo para manutenção da corte, da cidade e do comercio. Para isso usa a lei da centralização que obriga o povo a entregar seu produto num lugar único que, no caso, é o santuário de Betel, chamado “o santuário rei” (Am 7,13), em detrimento dos santuários populares do interior, como Siquém. Este tipo de centralização necessita de um Deus oficial forte, por isso a perseguição às outras religiões e a apostasia da fé em Iahweh (2Rs 10,18-27; Dt 13,13-16). É provável que a lei de centralização, presente no Deuteronômio, tenha surgido neste contexto (cf. Dt 12). 1.3. Reforma de Ezequias. Na corte de Ezequias havia escribas especialistas em sabedoria e leis do Oriente Antigo, tal como no Egito e Assíria (Pr 25,1). Esse grupo, que mais tarde recebe o nome de deuteronomistas, estava encarregado de legitimar as reformas. Eles acolheram com muito interesse as tradições vindas do Norte e as adaptam ao projeto da corte davidita. Na revisão das leis do Deuteronômio e outras tradições, usam elementos três elementos: a teologia davídica, a figura de Moisés como autoridade da tradição do êxodo e o nome de Deus como autor e promulgador da lei [...] o documento deveria ser depositado no templo e lido periodicamente em publico, para fortalecer ainda mais a autoridade do rei diante do povo. As leis de centralização, contidas no núcleo antigo do Deuteronômio (Dt 12-26), vem ao encontro da proposta da teologia davídica, cujo objetivo é dar sustentação ideológica ao rei. O instrumento é o culto centralizado. 1.4. A reforma de Josias. Josias rompeu a aliança com a Assíria e convocou novamente a nação a refazer a aliança com Iahweh oficial no esquema contratual de vassalagem, organizado pelos deuteronomistas. Dando continuidade à reforma iniciada por Ezequias, Josias levou até as ultimas conseqüências a centralização do culto. Fez de Jerusalém o centro político-religioso. Destruiu o santuário de Betel e os santuários

javistas do interior, bem como os lugares de culto cananeus (cf. Dt 12; 2Rs 22-23). O “livro da lei” falsamente encontrado no templo (2Rs 22, 3-10), tornou-se a base das reformas [...]. A centralização possibilita arrancar mais tributo dos camponeses, aumentar o lucro das rotas, intensificar o comércio. Logo, os que mais lucraram com a reforma josiânica foram a casa real, os sacerdotes sadoquitas da corte, os comerciantes e o “povo da terra” [...]. Outro grupo profundamente afetado com as reformas josiânicas foi o dos sacerdotes levitas do interior. Eles tiveram seus santuários fechados e destruídos e foram rebaixados a “clero” de segunda categoria na organização do culto em Jerusalém (2Rs 23, 8-9). É importante lembrar que os sacerdotes levitas eram os guardiões dos santuários do interior, onde havia muito pluralismo religioso. Entre os nomes de deuses e deusas venerados nesse santuário destacamos o nome de Aserá (2Rs 23, 4b), que era adorado ao lado de Iahweh e que não aparece nas criticas ferrenhas de Amós e Oséias! Como podemos observar, a reforma josiânica foi um triunfo do javismo oficial sobre a religiosidade popular. 1.5. Redação exílica. Temos a quinta etapa do processo de redação do Deuteronômio, onde foram acrescentados textos para explicar o motivo do exílio, as conseqüências e as possibilidades de saída: o abandono da aliança de Iahweh, para servir outros deuses (Dt 29, 25-26); a conseqüência é a ira ou a cólera de Iahweh (Dt 29,20.24.27.28), sua recusa de perdoar (Dt.29,20) e as maldições (Dt 29,20.27). Para os deuteronomistas, a saída desta situação está condicionada ao arrependimento e à volta a Iahweh, numa atitude de obediência e entrega. 1.6. Redação pós- exilica. Temos a sexta etapa com os acréscimos (1,3;31,14-23;32,48- 52;34) que fazem do Deuteronômio uma espécie de “ponte” entre o Pentateuco e a Historia Deuteronomista. E assim a elaboração do Deuteronômio chega a sua fase final [...]. O conjunto do livro quer ser um apelo à conversão ao Deus oficial, à sua lei e à unidade do povo eleito, Israel, na sociedade teocrática de Neemias e Esdras. Tudo isso faz do livro do Deuteronômio um dom de Deus oferecido a Moisés como testamento no fim de sua vida. Os judaitas sempre o tiveram em grande conta, tanto que Esdras fez dele o eixo para a elaboração de suas leis sobre o puro e impuro e sobre a raça eleita488.

A multiplicidade de tradições presentes na narrativa do Deuteronômio

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