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CAPÍTULO II – O PATRIMÔNIO HISTÓRICO DO CENTRO DE LIMEIRA–SP

2.2 Os edifícios selecionados para a pesquisa

2.2.1 Igreja Nossa Senhora da Boa Morte e Assumpção

Figura 06 – Foto digitalizada da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte e Assumpção na década de 1960. Fonte: Acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Major José Levy Sobrinho”.

A igreja é considerada o edifício mais antigo da cidade, cuja construção se iniciou em 1858 e foi concluída em 15 de agosto de 1867 com intensas festividades. O imóvel é de propriedade particular, erguido pela Irmandade Nossa Senhora da Boa Morte e Assumpção que desejava freqüentar uma igreja à altura da elite cafeeira da época e assim se separar dos cidadãos comuns que usavam a deteriorada igreja matriz. O local escolhido para abrigar a igreja era um largo composto por árvores e arbustos situado em um terreno de altitude mais elevada que a matriz, estando a duas quadras a sudoeste desta em distância (BUSCH, 1967).

A igreja foi construída em estilo barroco, sob responsabilidade do Barão de Cascalho que utilizou a mão de obra escrava para erguer as paredes laterais em barro socado e as torres laterais em tijolos. Já a cobertura, o acabamento interno, e os sinos, importados de Portugal, ficaram ao encargo de Bento Manoel de Barros, o Barão de Campinas, que contratou o arquiteto Aurélio Civatti para o serviço artístico.

Em 1869, a irmandade foi elevada à condição de Confraria Nossa Senhora da Boa Morte e Assumpção pelo Papa Pio IX e no mesmo ano, o Barão de Campinas doou o cemitério da Boa Morte, que havia mandado construir, à Confraria através de escritura pública. Neste cemitério da Boa Morte foram realizados os sepultamentos dos limeirenses até a década de 1880, quando foi inaugurado o atual cemitério municipal (GAZETA DE LIMEIRA, 1980).

Em 1873, o Barão de Campinas morre e seu corpo é enterrado na capela-mor da igreja, possuindo ainda seu retrato na sacristia e uma inscrição ao seu respeito no sopé da escada (BUSCH, 1967).

A igreja passou a funcionar como matriz, ironicamente, um ano após a sua inauguração até 1876, dada as reformas pela qual passavam a Igreja Nossa Senhora das Dores. Em 1917, começou a funcionar no andar superior da igreja a “Escola Mista N. S. da Assumpção”. E de 1949 a 1971 a igreja voltou a sediar as atividades da igreja matriz devido às obras de demolição e construção da nova Igreja Nossa Senhora das Dores (CONDEPHALI, 2009b).

Sobre o imóvel merece destacar que:

Sua construção é do tipo barroca, com paredes de taipa de pilão em dois pavimentos. Sua fachada principal possui duas torres laterais que dão acesso ao sino. O telhado é formado de duas águas em telhas de barro do tipo francesa sobre tesouras originais de madeira. Possui nave principal com pinturas parentais e forros decorados com esculturas florais em douração. No altar-mor o forro é de madeira em arco ogival com belíssima pintura de Nossa Senhora. A capela de Nossa Senhora Aparecida possuía forro original do tipo saia e camisa, tendo sido substituído por novo forro sem critérios de restauro. A sacristia e demais salas também possuíam forros de madeira do tipo saia e camisa, estes, porém foram retirados sem nenhum critério de preservação e ainda encontram-se sem forro. Resta apenas um forro original em uma das salas do pavimento superior. No altar-mor existe altar principal decorado com elementos neoclássicos, ao estilo barroco. Na nave principal estão dois altares laterais na parede do arco cruzeiro, além de outro altar na Capela de Nossa Senhora Aparecida. Todos os altares possuem características barrocas. O pavimento térreo possui piso de ladrilho hidráulico em todos os ambientes, sendo que no altar-mor existem degraus de mármore branco. O pavimento superior possui piso em tábuas largas de madeira, ainda originais. As esquadrias (portas e janelas) são de madeira com vidros coloridos e vitrais. As janelas laterais do pavimento superior possuem guarda-corpo em ferro pintado. As janelas do altar-mor são de vitrais. O para-vento da porta principal também é de madeira com vitrais desenhados. Para acesso ao pavimento superior, onde estão localizados o Côro e algumas salas, existem duas escadas laterais de madeira com corrimão em balaústres de madeira. O mobiliário existente (bancos, confessionário, área da sacristia) é original. Existem banheiros novos construídos de maneira inadequada, fazendo divisa com paredes de taipa.” (CONDEPHALI, 2009b, p. 4).

Figura 07 – Croqui digitalizado da fachada frontal, fachada posterior e fachada lateral da igreja. Fonte: (CONDEPHALI, 2009b).

Figura 08 – Fotos digitalizadas do interior da igreja: panorâmica, detalhe do altar na nave central e detalhe do vitral no para-vento da entrada principal. Fonte: (CONDEPHALI, 2009b).

Sobre as intervenções realizadas na igreja, destacam-se a de 1900 onde foram realizados alguns reparos, como re-pintura interna e atualização da iluminação artificial. Em 1924, foi feito o conserto da parede lateral que começava a cair, a demolição e reconstrução da platibanda, a re-pintura externa e o conserto da cimalha. Os telhados foram reparados em 1946, devido a presença de goteiras. Uma parte do piso de ladrilho hidráulico foi substituída em 2006 pelo pároco da igreja Padre Alquermes Valvassori por outro piso novo e a fachada da igreja foi re-pintada (CONDEPHALI, 2009b).

Em janeiro de 2008, o mesmo pároco lidera a “restauração” da igreja que foi publicamente criticada pelo CONDEPHALI (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Município de Limeira) o qual denunciou as intervenções ao Ministério Público Estadual, embargando as obras um mês após o seu início.

Em defesa às medidas de restauração da igreja o padre afirmou:

A reforma da igreja está sendo realizada em quatro etapas: primeiramente a troca de todo o telhado, que foi comprometido pela ação do cupim e infiltração, realizada em janeiro de 2008, nesta etapa foi feita a troca de todo o madeiramento, as calhas e rufos e impermeabilizados os mesmos – se não tivesse feito isso poderia, com as chuvas recentes, ter havido um acidente maior; depois começamos a limpeza do forro da nave central, descobrindo a originalidade da igreja; limpamos em seguida o forro das salas laterais, trocando a madeira original (pinho) para o Cedro e agora esperamos pintar na cor quer era o original; e por fim a restauração de toda a taipa que foi pintada com látex e começou a estourar. O projeto está pronto e aguarda permissão da prefeitura para se realizar, sendo que as obras foram acompanhadas por arquitetos que estudaram o barroco.1

Em novembro do mesmo ano, a Prefeitura Municipal de Limeira lançou um decreto que tomba, provisoriamente, alguns edifícios históricos da área central da cidade, dentre eles a igreja, que passa a ser inventariada pelo CONDEPHALI. Segundo o IPAC (Inventário de Patrimônio Cultural) elaborado pelo CONDEPHALI (2009b), a estrutura do imóvel está comprometida pela: presença de insetos xilófagos (cupins) nas escadas, forros, pisos, esquadrias, decoração e no acervo sacro; umidade vinda dos banheiros; presença de intenso tráfego em suas redondezas, que compromete sua frágil estrutura; e pelas instalações hidráulicas e elétricas precárias.

O Jornal de Limeira publicou, em agosto de 2009, que a promotoria pública estadual solicitou recentemente ao grupo IPR (Inovação e Pesquisa para o Restauro), da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, uma perícia para apurar as condições do imóvel que se encontra interditado. Os peritos elaboraram um laudo composto por 14 intervenções emergenciais que visam sanar os danos causados pela última “restauração” no imóvel. O promotor ainda requisitou uma vistoria final a ser realizada pelo coordenador do IPR, Marcos Tognon, a fim de verificar se as obras estão de acordo com as recomendações periciais e assim, reabrir a igreja. Para Marcos Tognon, a igreja é caracterizada por um “sistema construtivo exemplar da arquitetura religiosa monumental do Brasil Imperial, sendo o patrimônio histórico-cultural mais valioso da Comarca.” (JORNAL DE LIMEIRA, 2009b, p. 6).

É importante salientar que a população limeirense homenageia este imóvel há 11 anos com a festa beneficente “Vem pro Largo”, realizada pelo Movimento Vem pro Largo e pela Prefeitura de Limeira. A festa ocorre durante três noites de festa, no mês de agosto, e é composta por barracas de alimentação e apresentações culturais de bandas locais.



1 Informação verbal do Padre Alquermes Valvassori no dia 16 de março de 2009 em sessão da Câmara de

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