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Parto, como foco principal para análise da questão da “sororidade” entre as mulheres num contexto de identidades que corroboram ou dificultam a aliança entre as mulheres. Estas se apresentam como um problema quando o que está em jogo são interesses políticos eleitorais e seus depoimentos são significativos e podem contribuir bastante para a formação de outro olhar sobre aspectos que envolvem este debate. Afinal, elas participaram, viveram e presenciaram todo este processo.

Na medida em que estas falas emergem nas analises vamos desvendando uma série de semelhanças, aproximações e distanciamento entre estas, que leva a uma melhor compreensão de como estas identidades se articulam, são forjadas e operam dentro de um eixo de desigualdades fortemente estruturado para manutenção das assimetrias e papeis sociais como um todo. Do detalhamento dos seus feitos é possível extrair uma série de identidades primordiais que servem de subsídios para se aferirem as escolhas que fizerem, os caminhos escolhidos, encontros, desencontros numa relação política intragênero.

Marcadores de desigualdades sociais forjando identidades, experiências e agendas

Conforme obsevamos nas eleições de 2008, a maioria das candidatas selecionadas já havia participado de outras campanhas eleitorais concorrendo à vaga de vereadora, com exceção de (Vida Bruno, Célia Sacramento, Clarice Pereira e Marta Rodrigues) que foram lançadas pela primeira vez. Contudo, poucas assumem cargo de direção em seus partidos, com exceção apenas para Olívia Santana, presidenta Municipal do PC do B; Aladilce, dirigente do Comitê Municipal e da Direção Estadual do PCdoB; e Marta Rodrigues - vice- presidenta do Diretório Municipal do PT.

No que diz respeito à forma de ingresso na política formal é possível constatar, a partir do Quadro 8 - Área de militância primária das entrevistadas, que a porta de entrada no cenário político eleitoral, das depoentes se deu, sem exceção, a partir da sua atuação em algum movimento social desde a juventude, sendo então, a política partidária, uma consequência de sua inserção atos nesses movimentos.

Quadro 8

Áreas de militância primária das entrevistadas

Associação de moradores Grêmio Estudantil Organização Sindical/ Classe Religioso Partido Político Outros Movimentos sociais Total 1 6 2 1 0 0 10

A partir deste quadro constato que a maioria das candidatas selecionadas (Olívia Santana, Aladilce, Célia Sacramento, Marta Rodrigues, Profª Nilza e Vida Bruno) teve sua iniciação política partidária no movimento estudantil. Esta sim tem sido o rito de passagem das mulheres negras para a vida política. O seu engajamento a movimentos sociais na juventude se apresentam não apenas como uma escola de exercício de cidadania, mas, sobretudo, como uma porta de saída, uma tábua de salvação às inúmeras negações impostas por uma sociedade clivada por desigualdade.

É possível constatar ainda que nenhuma delas ingressou inicialmente em movimentos negros, mulheres, LGBT ou feministas. Isso se deu posteriormente com algumas, como é caso de Marta Rodrigues – Movimento de Mulheres; Olívia Santana e Clarice Pereira – Movimento Negro; e Vida Bruno – LGBT, quando já estavam engajadas na militância política. Observe-se, também, que nenhuma se associou ao movimento feminista. Tampouco foram pinçadas para a política por influência da família - nome do pai, irmãos ou marido, como sugerido por algumas literaturas especializadas.

Quanto à escolha da legenda partidária é possível observar, a partir do Gráfico 1 – que a maioria das candidatas ingressou por partido de esquerda. (Olívia Santana, Clarice Pereira e Aladilce Souza – PC do B); (Marta Rodrigues, Creuza Oliveira, Marta Rodrigues e Vida Bruno – PT) e (Célia Sacramento – PV). Com exceção para (Tia Eron – PRB) e (Valquíria Barbosa – PT do B) que entraram por partidos considerados, ideologicamente, de direita.

Não quer dizer com isso que os partido políticos não tenham lançado mulheres nesses pleitos, senão que a pequena margem de votos conquistada por estas ficou muito aquém da margem necessária para ser eleita. Por esse mesmo motivo, pouco interesse foi observado pelo público, mídia seus feitos, de modo que estas aparecem no cenário político com pouca ou quase nenhuma expressão. O fato, portanto, da maioria incorporada nessa amostra ser de mulheres de partidos considerados de esquerda resulta desta falta de vinda das instituições políticas.

Gráfico 1 – Candidata selecionadas por Partido Político

Alguns estudos que discute a participação das mulheres na política formal têm destacado a família como uma forte via de ingresso das mulheres na representação político-partidária (RABAY et all, 2010; TABAK, 1987; COSTA, 1998). O resultado apreendido da trajetória política das candidatas negras aqui apresentadas quer sejam estas de direita ou de esquerda encontra ressonância, ainda que brevemente, no estudo de Fanny Tabak (1987), “O perfil da vereadora brasileira”, de que algumas candidatas, não muitas, “apresentam trajetórias políticas próprias”, isto é, resultante de seus próprios feitos; da sua militância nos movimentos sociais e político; da sua atuação e vínculos com entidades de defesa dos direitos humanos, no enfrentamento a inúmeras formas de opressão.

Nesse estudo de Tabak, em que ela seleciona 26 mulheres eleitas para a Câmara Federal, em 1986, constata-se que nove receberam a ajuda dos esposos; três eram militantes feministas; e “três eram de esquerda, com trajetórias políticas próprias”. Do que se concluiu que há uma tendência da maioria das mulheres, que conquistam espaços na política formal, o fazerem através da condução dos homens da família - pelas mãos do pai, maridos ou irmãos.

A obra de Fanny Tabak (1987) é um exemplo disso, na medida em que dá ênfase ao fenômeno da eleição de mulheres, em virtude da posição ou prestígio político dos seus maridos ou genitores. Ocorre que o fato de esta autora ter se utilizado de uma metodologia que preza por pressupostos modernos, privilegiou um único sujeito: a “mulher”, numa perspectiva universal, sem se ater as especificidades que habita nesses sujeitos. Ou seja, não priorizou o recorte de raça, gênero, classe social, dentre outros. Essa escolha a impediu

de chegar a uma conclusão que evidenciasse essa pluralidade e revelasse mulheres concretas que de fato protagonizam a vida real.

Defendo que se Tabak não estivesse tão impregnada por valores universalistas dessa ciência moderna, desde o momento da seleção de sua amostra, certamente uma gama de possibilidades de acesso, que varia a depender de qual mulher está sendo tomada como objeto de análise, certamente o resultado desta seria considerado como parte característica de determinado modo de ser e estar de sujeitos em interação na sociedade. Mas esse não se constituiu como um propósito desde o início.

Um dos ganhos de fato nessas constatações reside na desconstrução do entendimento de que a porta de entrada das mulheres na política formal ocorre de maneira uniforme para todas.

Saliento ainda, que de modo algum, podemos de tudo abandonar as contribuições introduzidas aos estudos sobre a inserção das mulheres na política formal, feitas pelas autoras Fanny Tabak (1987), Glória Rabay e Maria Eulina de Carvalho (2010) e Ana Alice Costa (1998) – de que as mulheres são introduzidas pelos homens na política representativa. Se considerarmos que a política partidária não é um espaço neutro, mas antes, um palco permanentemente marcado por relações androcêntricas, onde o poder é constituído pelos/para os homens, saberemos que nenhuma mulher consegue adentrar na política-partidária sem o consentimento, aval, apoio e sem que se estabeleça uma relação de interesse por parte destes.

De fato, hoje sabemos que o staff da estrutura política institucional, principalmente os partidos, todo ele é dominado historicamente pelos brancos. Os critérios de cooptação diferem de um partido pra o outro, contudo, ainda são esses dirigentes que definem a prioridade do acesso, a quem será disponibilizada a legenda do partido. Quem pode, ou não, fazer parte do projeto político que sustenta o segmento.

A partir das narrativas colhidas podemos constatar ainda que, no caso específico das mulheres negras selecionadas, esse acesso se dá antes, pela sua atuação como sociedade civil organizada ou não, através do reconhecimento daquele capital social, do potencial que está inserido naquela experiência. O que significa que, este ocorre a partir de suas práticas cotidianas no enfrentamento às adversidades típicas do processo de exclusão a que, individual ou coletivamente, foram submetidas. Do que se conclui que “o documentar das configurações específicas e das diferenças desconstrói o mito de uma condição feminina universal” (DIAS, 1992 p.48).

As democracias ocidentais têm sido monopolizadas por uma quantidade limitada de pessoas ou perspectivas e hierarquizadas numa concepção das relações raciais, gênero, orientação sexual, religião, capital trabalho. Tropeçado por muitas décadas na discussão sobre esta composição nas assembleias eleitas, a sociedade civil tem se apresentado cada vez mais plural e é desta forma que se organizam e têm buscado dentro desse campo tão diversificado construir suas relações políticas por maior justiça política, econômica e social.

Há uma preocupação crescente acerca deste modelo de democracia representativa adotado pelo Brasil não ser de fato democrática muito menos, representativa. De fato, após vinte e seis anos de redemocratização do país, não tem conseguido nesses espaços incluir setores tradicionalmente marginalizados social, cultural, econômica e politicamente. Ao se chegar a esta constatação percebe-se que não se trata de descartá-la, muito menos de mistificar os atuais mecanismos de representação, participação e controle social, mas sim de aperfeiçoa-los. Tornar a democracia mais inclusiva do ponto de vista de integrar a este cenário a pluralidade da sociedade civil brasileira.

[...] Eu conversava com a Profª Ivete Sacramento, hoje Secretária da Reparação, e ela sabe o que significa isso por ser mãe das cotas52. Quando ela concretizou aquilo que só ficava na oratória ela disse então vamos lá. Quando ela botou a cara pra bater quem é que veio com ela? [...] O número de liminares que ela recebeu, ela apanhou sozinha. Na época esta Casa tinha [...] uma legislação que respaldava e que legitimava ela enquanto reitora a implementar este sistema de cotas. Diferentemente do Estado, porque isso deveria partir dos Estados. Mas como no Estado nós não tínhamos ninguém então a Câmara fez. Aí eu pergunto o seguinte: „Porque que esse movimento negro que ansiava tanto, tanto, tanto, por esse sistema de cotas não a apoiou? Não respaldou? Não chancelou? Não foi prestar o seu apoio? Onde eles estavam?‟ Porque precisam perpetuar certos discursos. Porque isso é o que a gente chama de sobrevivência política, entende? [...] Lembro que nós fomos à única Comissão a visitá-la.” (TIA ERON)

Daí porque, de alguma forma, os agrupamentos excluídos tem requerido a partilha do poder, defendendo com tamanha ênfase os direitos de inserção proporcional a partir do seu pertencimento identitário. Entretanto, há de se reconhecer as inúmeras assimetrias de

52 Valdélio Silva (2010) em seu artigo intitulado “Políticas de ações afirmativas na UNEB: Memórias de um acontecimento histórico” faz referência de que no Brasil, as Ações Afirmativas alcançaram maior visibilidade recentemente, após a Universidade do Estado da Bahia – UNEB, em julho de 2002, ter aprovado, no Conselho Universitário – CONSU, a histórica Resolução de reservar 40% das vagas, no processo seletivo, aos estudantes negros que estudaram em escolas públicas. Esta decisão da UNEB repercutiu intensamente tanto nas comunidades acadêmicas em todo o Brasil como fora dos muros das universidades, abrindo caminho para uma agressiva disputa política e filosófica quanto à pertinência de tais políticas afirmativas.

recursos, conhecimento e poder que perpassam as disputas por esses espaços. É preciso se pensar “como lidar com interesses de grupos, entidades e Igrejas que, muitas vezes, colocam sua identidade corporativa acima da discussão sobre a política pública?” (TEIXEIRA et all, 2008, p.93)

A cientista política inglesa Anne Phillips (2001) em sua obra “De uma política de ideias a uma política de presença?” ao analisar algumas questões acerca da relação que existe entre estas duas formas de atuação política reconhece que, no processo de contestação às desigualdades políticas encorajar os cidadãos a uma política de presença, ou seja, a dirigirem a atenção às identidades sociais que são utilizadas para forjar a sua exclusão, pode ser um aspecto bastante importante para os grupos requererem a partilha do poder. A autora conclui sua análise retirando um bom partido dos pontos fortes que ambas possuem, enfatizando, entretanto, que para ela nenhuma das duas vertentes se mostra decisiva. (PHILLIPS, 2001, p. 287).

A esse respeito identificamos na fala de algumas entrevistadas situações que remete a polêmica que norteia a questão da partilha do poder em democracias representativas, que são reproduzidas a seguir:

“Lembro certa vez que saiu na revista Carta Capital uma chamada que era assim: Vereadora Eron faz um outro palanque. Alguns amigos de dentro do movimento negro não gostam muito desta minha entonação, que a gente da porque eu carrego umas cinco vertentes dentro deste colegiado, [...] que é a Casa legislativa mais antiga do país, mas que por ser mais antiga também não confere com o número dessa população que é majoritariamente negra e mais do que isso, ela nunca recebeu em seu colegiado uma mulher negra. Essa discrepância chama atenção e provoca até o movimento. Mas porque o movimento não reage? Não reage porque esta mulher não tem o cabelo rastafári, não reage porque esta mulher é de igreja evangélica, não reage e não apoia porque esta mulher ela usa o sapato alto, não usa determinadas senhas estabelecidas por esses movimentos negros, entre aspas. Então por isso justifica ela criar um outro palanque como chamou essa manchete. E o que é esse palanque? Esse palanque é para dizer, dentro destas vertentes todas, que esta mulher milita. Então, não há como se negar esta mulher entretanto, se nega, entretanto, invisibiliza, entretanto, tenta colocar inclusive no ostracismo, te deixa fora das discussões. (TIA ERON)

Duas ideias contraditórias ocupam espaço no pronunciamento feito por Tia Eron: a ideia do Movimento Negro e a ideia Evangélica Neopentecostal53. Se a segunda foi

53 Para Mendonça (2006, p. 98) o Neopentecostalismo corresponde a “uma teologia simples que atribui todo mal, desde doenças até problemas existenciais ou econômicos, a “encostos”, bruxarias e demônios de toda sorte”. Surgiram sessenta anos após o movimento pentecostal do início do século XX, em 1906, nos Estados Unidos. “O que se conhece como „teologia da prosperidade‟, parte positiva do culto neopentecostal, traz as características salvacionistas da superação da força do mal. O instrumento simbólico e prático desta salvação vem sendo colhido pelas igrejas neopentecostais no vasto arsenal simbólico das religiões cristãs e não-cristãs, sinal visível de um sincretismo progressivo”.

adensada no Brasil a partir da incorporação em seu repertório religioso de elementos das religiões de Matriz Africana, do Catolicismo e do Pentecostalismo – visto que carrega conteúdos e formas mágicas em seus cultos e cotidiano desse universo, assim como tira proveito evangelístico da mentalidade e do simbolismo religioso brasileiros ao apelar para o “sincretismo” na construção de sua própria prática – ao mesmo tempo em que rejeitam formalmente enquanto prática religiosa legítima as religiões de origem africana (SANTOS, 2008).

O Movimento Negro para fazer enfrentamento à ideologia racista e colonialista „africanizou-se‟ assumindo uma política estética da negritude (vestuário, penteados, a adesão de nomes africanos para as crianças negras), tendo como premissas tanto o discurso da negritude quanto o resgate das raízes ancestrais a promoção da identidade étnica negra. Nesse movimento impôs-se a cobrança moral para que a nova geração de ativistas assumissem as religiões de Matriz Africana, particularmente o Candomblé, como principal guardião da fé ancestral (DOMINGUES, 2007, p. 116).

Ademais não são apenas aspectos religiosos que norteiam o debate acerca dessas contradições. Há quem caracterize as igrejas Neopentecostais como sendo comprometidas com os interesses e pensamento de governos pronunciadamente liberais contraditórios aos interesses populares. Ao defender os interesses do pensamento dominante são acusadas de subestimar a correlação de força, o enraizamento, a capacidade de perversão e, consequentemente, a complexidade que envolve as ações de combate ao racismo, sexismo e também o colonialismo.

Ainda de acordo com Phillips a política de presença dá-se em razão de que a ênfase excessiva nas diferenças de grupo faz do gênero, raça ou sexo uma questão relevante para fundamentar o processo de contestação política. Entretanto estas podem barrar a ideia de unidade necessária para promoção e efetivação das mudanças favorecendo “uma „balcanização‟ da polis”, minando as possibilidades de aliança política ou a coesão sociais. (Idem, 2001, p. 287).

O androcentrismo combinado com o racismo, bem como a complexa relação entre as diferenças existentes entre as próprias mulheres e às possibilidades de alianças entre estes grupos a partir do reconhecimento destas diferenças no enfrentamento das inúmeras formas de opressão, sintetizam a luta das mulheres negras pela partilha do poder político. Mas esta luta não tem se embasado apenas nas ações para superar essas ideologias que mantêm o sistema de opressão. Nesta reflexão me aproprio do pensamento de Milton

Santos ao proferir que “a força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une” de fato.

Considerando a essência dessas falas no que se refere aos pertencimentos que perpassam as ações políticas das candidatas negras entrevistadas, é possível constatar que este dilema não tem como pano de fundo apenas uma única motivação. Resultam de fatores diversos que podem ter suas bases assentadas tanto em uma “política de presença” como em uma “política de ideias”.

Neste sentido, a ideia de “sororidade” entre as mulheres baseada na sua biologia se apresenta como ponto de partida da luta específica das mulheres de diferentes grupos raciais e classes sociais, apresentada como uma possibilidade de resposta para suplantar desvantagens e barreiras sistêmicas que, por um longo tempo, foi a base das desigualdades e exclusões impeditivas da participação igualitária das mulheres no poder e de se apresentarem como sujeitos políticos capazes.

Desafios e percepções: As políticas de coalizão conquistadas pelas mulheres

A noção de “sororidade” ou irmandade entre as mulheres neste contexto é tomada por alguns/mas autoras/es contemporâneos/as como força de unificação destas através da “crescente tomada de consciência das diferenças e desigualdades no que concerne ao enquadramento político; à posição de classe; às circunstâncias raciais/étnicas; às distâncias de geração e ideológicas” presentes neste modelo social brasileiro, associada as revisões formuladas pelas criticas feministas a partir dos anos 80, do século XX. (COSTA, 2004, p.25)

Nestes debates as diferenças identitárias são tomadas como uma questão importante para fundamentar o processo de contestação política, muito embora se reconheça o caráter essencialista que fundamenta tais categorias. Sinalizam para a possibilidade das políticas de presença ameaçarem impelir os cidadãos para fora do reino de ideias unificadoras, a possibilidade de cooperação, pelo fato de que segundo esses/as autores/as a ênfase excessiva nas diferenças de grupo reduz a concretização da unidade das mulheres negras entre elas mesmas e com outras mulheres para forjar um enfrentamento mais radical contra as estruturas de opressão patriarcal e racista.

Durante muito tempo o movimento feminista enfatizou as diferenças existentes entre homens e mulheres, considerando que seria o sexo que portavam o responsável por promover as diferenças em relação aos homens e que, portanto, estas seriam a base para a formação da identidade política necessária para mobilização e unidade das mulheres nas lutas contra a subordinação perpetrada pela lógica patriarcal e capitalista. Em razão disto, as “diferencialistas” por um longo tempo foram acusadas de serem “essencialistas” ao reproduzir categorias modernas que negam a temporalidade ao atribuírem umas ontologias54 primordial e imutável aos produtos históricos da ação humana (PEDRO, 2005, p. 81).

Portanto, essa dita unidade entre as mulheres, já tão proclamada no passado considerou apenas aspectos biológico inerente a estas. Chegamos a ser entendidas como uma classe, pressupondo que tínhamos interesses comuns, pelo simples fato de termos vagina. Mas adiante, já na década de oitenta as feministas negras, lésbicas, do terceiro mundo vieram e afirmaram que realmente temos essa coincidência biológica, entretanto, temos também diferenças marcantes que não podem ser desconsideradas. Apesar de sermos mulheres, temos interesses diferentes associados a identidades individuais e

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