Desenvolvido por Andrew Lippman, simulava uma viagem virtual pela cidade de Aspen, no Colorado, Estados Unidos, utilizando recursos como a fotografia, o joystick, o videodisk player e a tela do computador. Curiosamente, e retomando a história do cinema que nasce com características documentais, abordado no capítulo anterior na secção sobre as origens do documentário, por analogia pode-‐se dizer que os verdadeiros produtos hipermédia também nascem com um registo documental, sendo mesmo considerado por Sandra Gaudenzi, o primeiro documentário interativo, como se irá explicar no respetivo capítulo desta dissertação. Hipermédia é, portanto, o hipertexto de multimédia: os blocos de informação não são restringidos a texto e podem conter som, gráficos, vídeo, animação ou outros media. A utilização do hipertexto em aplicações capazes de integrar estes elementos, levou ao aparecimento dos produtos hipermédia. Dado que a interação do utilizador com o hipertexto e hipermédia é mais complexo do que a interação com texto linear, torna-‐se necessário considerar outros aspetos como aquele da interface e das formas de navegação. Para melhor compreensão do processo histórico e evolutivo dos sistemas
hipertextuais, apresento no seguinte quadro os principais “marcos” , como proposto por Nielsen (1995, p. 32):
1945: Vannevar Bush proposes Memex
1965: Ted Nelson coins the word " hypertext " (later elaborated in his pioneering book Literary Machines)
1967: The Hypertext Editing System and FRESS, Brown University, Andy van Dam 1968: Doug Engelbart demo of NLS system at FJCC
1975: ZOG (now KMS): CMU
1978: Aspen Movie Map , first hypermedia videodisk, Andy Lippman, MIT Architecture Machine Group (now Media Lab)
1984 Filevision from Telos; limited hypermedia database widely available for the Macintosh 1985 Symbolics Document Examiner , Janet Walker
1985 Intermedia , Brown University, Norman Meyrowitz 1986 OWL introduces Guide , first widely available hypertext 1987 Apple introduces HyperCard , Bill Atkinson
1987 Hypertext'87 first major conference on hypertext
1991 World Wide Web at CERN becomes first global hypertext, Tim Berners-‐Lee 1992 New York Times Book Review cover story on hypertext fiction
1993 Mosaic anointed Internet killer app, National Center for Supercomputing Applications 1993 A Hard Day's Night becomes the first full-‐length feature film in hypermedia (originally for Macintosh; now also available for Windows)
1993 Hypermedia encyclopedias sell more copies than print encyclopedias
1995 Netscape Corp. gains market value of almost $3B on first day of stock market trading 1998: AOL buys Netscape for $4B)
TABELA 1 -‐ RESUMO DA HISTÓRIA DO HIPERTEXTO. FONTE: MULTIMEDIA AND HYPERTEXT: THE INTERNET AND BEYOND, JAKOB NIELSEN, 1995 (P.32)
O exemplo mais comum de hipertexto e navegação é a World Wide Web, aliás o hipertexto está profundamente associado ao aparecimento da Internet. Para além do texto as páginas Web podem conter áudio, vídeo, sons e animações e scripts que implementam a interação com o utilizador. Para George Landow (2006) o hipertexto é a essência da Web, porque ela utiliza uma linguagem em rede em que as informações estão disponíveis para acesso por forma de associações não-‐lineares. Ao navegar pela Web não há caminhos de um só sentido, nem rotas fixas, apenas indicações de onde se pode ir. A multiplicação dos nós é intensa, direcionando até outros pontos da rede. Apesar todos os sites oferecem ligções pré-‐estabelecidas para
navegação, o utilizador é que vai delinear seu próprio caminho, dentro destas possibilidades, de acordo com o seu ritmo e necessidades pessoais. A rede de ligações entre estes conteúdos pertencentes a vários tipos de linguagem mediática é um exemplo de hipermédia. Apesar do conceito de leitura não sequencial já existir através dos usos mais quotidianos e informais (em jornais, revistas e enciclopédias), o leitor da época digital pode “ler” os artigos navegando pela ordem que lhe convém. Ademais, uma grande vantagem do hipertexto é a rapidez com que as ligações são estabelecidas, as ligações são imediatas ao contrário de, por exemplo, uma enciclopédia onde é necessário ir ver o índice, folhear e procurar, para encontrar algum artigo. A comunicação mediada pelo computador ligado em rede a outros computadores distingue-‐se daquelas produzidas pelos meios de comunicação tradicionais e também daquela realizada pelas pessoas presencialmente, dessa forma podemos ver a Internet como um ambiente de interligação, pois nela qualquer sujeito pode ser emissor, o recetor pode tornar-‐se emissor e transformar-‐se num provedor de informação, podendo mesmo produzir a informação e distribuí-‐la por rede, ou simplesmente repassar informações produzidas por outro.
O sociólogo espanhol Manuel Castells refere na sua obra de 2004, Galáxia Internet, que a Internet é um conjunto de redes a nível mundial de milhões de computadores conectados pelo respetivo protocolo, que facilita o acesso a todo o tipo de informação e transferência de dados. Sendo a Internet a principal das NTIC ́s (novas tecnologias da informação e comunicação), não é sinónimo da World Wide Web. A World Wide Web tem na sua fundação um princípio hipermediático e é um dos muitos serviços que a Internet oferece. De acordo com dados disponibilizados do site estatístico “Internet World Stats”, de junho de 2012, a Internet é usada por 34,3% da população mundial (cerca de 2,405 biliões de pessoas), apresentando um aumento de uso mundial de 566.4% de 2000-‐2012.
Neste sentido, Castells revê a história da evolução da Internet por ordem cronológica, destacando os principais factos desde a sua criação até à data de publicação da obra. Resumidamente: a Internet no seu estado mais embrionário, surge como resultado de investigações militares e evolui com base no trabalho de investigações
governamentais e universitárias, nomeadamente a ARPANET.