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5. A INFLUÊNCIA DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS NA FECUNDIDADE – O

5.2.1. IMIGRANTES VERSUS NÃO IMIGRANTES

Na análise univariada a variável sexo não se revelou estatisticamente significativa (valor p = 0,300) na intenção de vir a ter (mais) filhos nos próximos 3 anos, pelo que não foi incluída no modelo inicial multivariado.

Relativamente à variável “nacionalidade portuguesa”, esta também não foi incluída no modelo devido à colinearidade com a variável “naturalidade portuguesa” (sendo que esta apresenta um valor p menor, tendo por isso sido escolhida).

Na análise multivariada, permaneceram no modelo somente as covariáveis que em conjunto se revelaram significativas.

Testaram-se cada uma das covariáveis relativamente às demais, para verificar se havia possíveis interações entre elas. As interações que se mostraram significativas não tinham interpretabilidade no contexto em estudo, pelo que se optou por um modelo sem interações (Quadro 9).

Quadro 9 – Coeficientes, desvio padrão e valores p do modelo logístico binomial

Fonte: Elaboração própria

Quando em conjunto com as restantes covariáveis, apenas o grupo etário dos 34 a 40 anos deixou de ser significativa, todas as outras mantiveram significância estatística, confirmando-se a importância da idade, do nível de escolaridade, do emprego, da conjugalidade e de ser (ou não) imigrante, na intenção de vir a ter (mais) filhos nos próximos 3 anos.

A partir dos resultados obtidos para as razões de verosimilhança ou odds ratio (Figura 51), por ordem de importância dos valores superiores a 1 e estatisticamente significativos, e admitindo como constantes as restantes covariáveis, pode concluir-se que, a possibilidade de ter intenção de vir a ter (mais) filhos nos próximos 3 anos é:

a) 2,4 vezes maior nos indivíduos com parceiro do que nos indivíduos sem parceiro (IC95% = ]1,5; 3,6[);

b) 2,2 vezes maior nos indivíduos não nascidos em Portugal (imigrantes) do que nos indivíduos nascidos em Portugal (IC95% = ]1,3; 3,7[);

c) 2,0 vezes maior nos indivíduos com idades compreendidas entre os 25 e os 33 anos do que nos indivíduos do grupo etário 15-24 anos (IC95% = ]1,1; 3,5[);

Variáve is valor do

coe ficiente

desvio padrão

do coeficiente valor p

Grupo etário [25,33]

(Grupo etário [15,24] como categoria de referência) 0,67 0,29 0,022* Grupo etário [34,40]

(Grupo etário [15,24] como categoria de referência) -0,20 0,32 0,532 Grupo etário [41,46]

(Grupo etário [15,24] como categoria de referência) -1,70 0,40 <0,001*** Ter naturalidade não portuguesa

(Ter naturalidade portuguesa como categoria de referência) 0,78 0,28 0,005** Ter parceiro

(Não ter parceiro como categoria de referência) 0,85 0,22 <0,001*** Ter trabalho remunerado

(Não ter trabalho remunerado como categoria de referência) 0,47 0,23 0,020* Ter nível de escolaridade superior

(Não ter nível de escolaridade superior como categoria de referência) 0,56 0,24 0,041*

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d) 1,7 vezes maior nos indivíduos com ensino superior do que nos indivíduos que não possuem aquele grau de ensino (variável significativa a 10% IC95% = ]1,1; 2,7[);

e) 1,6 vezes maior nos indivíduos com trabalho do que nos indivíduos sem trabalho (IC95% = ]1,0; 2,5[).

FIGURA 51–ODDS RATIO E RESPETIVOS INTERVALOS DE CONFIANÇA A 95%

Fonte: Elaboração própria

Finalmente, com base nos odds ratio, procurou-se estimar a probabilidade de ter intenção de vir a ter (mais) filhos nos próximos 3 anos para perfis estabelecidos com combinações das variáveis idade, naturalidade, parceiro, trabalho e nível de escolaridade (Quadro 10).

Apenas se reportaram os perfis que têm uma probabilidade estimada não inferior a 25%, tendo sido eliminados os perfis com probabilidade estimada maior que 25%, mas com menos de 3 observações na amostra e/ou que não continham pessoas com intenção.

Quadro 10 – Probabilidades estimadas (principais resultados) de ter intenção de ter filhos nos próximos 3 anos, por grupos de combinação das variáveis idade, naturalidade, parceiro, trabalho e nível de escolaridade

Fonte: Elaboração própria

Os principais resultados, revelam que:

a) A maior probabilidade de ter intenção de vir a ter (mais) filhos nos próximos 3 anos se encontra entre os indivíduos não nascidos em Portugal (imigrantes), com idades entre os 25 e os 33 anos de idade, com parceiro (cônjuge ou companheiro/a), com trabalho e sem ensino superior, sendo que a probabilidade é de 0,67.

Comparativamente, os indivíduos com as mesmas características mas nascidos em Portugal (não imigrantes) apresentam uma probabilidade de apenas 0,48.

b) Para os indivíduos com idades entre os 25 e os 33 anos de idade, com parceiro (cônjuge ou companheiro), mas sem trabalho e sem ensino superior, as probabilidades descem em ambos os grupos, assumindo os valores 0,55 para os não nascidos em Portugal (imigrantes) e 0,36 para os nascidos em Portugal (não imigrantes). Para além da emergência da importância que a variável ter emprego parece assumir na probabilidade de ter intenção de vir a ter

Idade Naturalidade portuguesa Parceiro Trabalho rem unerado Nível de escolaridade superior Nº Pessoas no perfil Nº Pessoas com intenção Probabilidade

estim ada IC95%

[25,33] (Não) (Sim) (Sim) (Não) 3 2 0,67 (0,51; 0,79)

[25,33] (Sim) (Sim) (Sim) (Sim) 18 14 0,61 (0,49; 0,73)

[25,33] (Não) (Sim) (Não) (Não) 8 5 0,55 (0,39; 0,71)

[25,33] (Sim) (Sim) (Não) (Sim) 4 1 0,5 (0,34; 0,65)

[25,33) (Sim) (Sim) (Sim) (Não) 44 21 0,48 (0,38; 0,58)

[25,33] (Não) (Não) (Sim) (Não) 6 1 0,46 (0,31; 0,61)

[34,40] (Não) (Sim) (Sim) (Não) 11 3 0,45 (0,31; 0,60)

[15,24] (Sim) (Sim) (Sim) (Sim) 3 2 0,45 (0,28; 0,63)

[25,33] (Sim) (Não) (Sim) (Sim) 13 5 0,4 (0,28; 0,53)

[34,40] (Sim) (Sim) (Sim) (Sim) 19 7 0,4 (0,28, 0,53)

[25,33] (Sim) (Sim) (Não) (Não) 11 6 0,36 (0,25; 0,49)

[15,24] (Sim) (Sim) (Sim) (Não) 7 2 0,32 (0,20; 0,46)

[25,33] (Sim) (Não) (Sim) (Não) 42 13 0,28 (0,20; 0,38)

[34,40] (Sim) (Sim) (Sim) (Não) 65 16 0,28 (0,20; 0,36)

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(mais) filhos nos próximos 3 anos – as probabilidades são menores do que nos grupos anteriores, sendo que apenas se altera a condição perante o trabalho.

c) Para os indivíduos com idades entre os 25 e os 33 anos de idade, mas sem parceiro (cônjuge ou companheiro), empregados e sem Ensino Superior, encontramos uma nova descida nas probabilidades em ambos os grupos, assumindo os valores de 0,46 para não nascidos em Portugal (imigrantes) e 0,28 para os nascidos em Portugal (não imigrantes). Estes resultados fazem notar a importância que a variável ter parceiro assume na probabilidade de ter intenção de vir a ter (mais) filhos nos próximos 3 anos – as probabilidades são menores do que nos grupos anteriores, sendo que neste perfil os indivíduos não têm parceiro, fator que assume assim, claramente, um papel ainda de grande relevância, contudo com menor importância do que o ter um emprego.

d) Para os indivíduos com idades entre os 34 e os 41 anos de idade, com parceiro (cônjuge ou companheiro), empregados e sem Ensino Superior, os valores das probabilidades de ter intenção de vir a ter (mais) filhos nos próximos 3 anos são de 0,45 para os não nascidos em Portugal (imigrantes) e 0,28 para os nascidos em Portugal (não imigrantes). Estes resultados fazem notar a importância que a variável idade assume na probabilidade de ter intenção de vir a ter (mais) filhos nos próximos 3 anos – as probabilidades são menores do que no primeiro grupo analisado em que a única diferença se encontra no grupo etário (25 a 33 anos de idade, com probabilidades de 0,67 e 0,48, respetivamente para imigrantes e não imigrantes).

Em síntese, conclui-se que na sociedade portuguesa, em 2010, os imigrantes evidenciam uma maior possibilidade de ter intenção de vir a ter filhos do que os não imigrantes. Além disso, a maior probabilidade verifica-se naqueles imigrantes que com idades entre os 25 e os 33 anos, vivem em

união (com um cônjuge ou companheiro), trabalham e possuem como nível mais elevado de instrução o ensino secundário.

Os resultados do modelo permitem validar as duas primeiras hipóteses formuladas (H1 e H2) e concluir ainda pela importância de três dimensões identificadas como mais relevantes no processo de tomada de decisão de fecundidade entre os imigrantes: (1) a idade; (2) a situação conjugal (estratégias matrimoniais, em geral, e de reunificação familiar, em particular) e (3) a condição perante o trabalho.

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