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Impacte da Certificação no desempenho Organizacional

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. A Certificação ISO 9001

2.1.4. Impacte da Certificação no desempenho Organizacional

Verifica-se na literatura atual, vários estudos empíricos sobre o impacte da implementação ISO 9001 e o seu contributo para o desempenho organizacional, mesmo não havendo um consenso entre eles. Alguns trabalhos concluem que existe uma relação positiva com a ISO 9001 e o desempenho financeiro e não financeiro das organizações; enquanto outros não sugerem essa evidencia.

No entanto têm-se verificado a partir das versões 2000 e 2008, que estas têm sido menos criticadas (Lourenço, 2012).

Estudos concretizados com o objetivo de confrontar o impacte da certificação e o seu contributo para o desempenho financeiro e não financeiro das organizações, exibem resultados interessantes. Autores como Gotzamani e Tsiotras (2002); Escanciano et al. (2002) e Sampaio et al. (2009), sugerem que após a certificação ISO 9001 existe um desempenho positivo significativo nas empresas, afetado pela certificação, mostrando que o desenvolvimento e a certificação pela ISO 9001 aumenta o desempenho nas empresas certificadas, podendo propulsionar a cultura e compromisso de qualidade, oferecendo benefícios significativos.

Comparavelmente, no estudo de Casadesús et al. (2001) relacionado com empresas bascas, conclui que as empresas certificadas obtinham substanciais benefícios financeiros

19 e operacionais. O mesmo acontece com empresas certificadas de Singapura, num estudo efetuado por Chow-Chua et al. (2003).

Romano (2000) demonstrou que as empresas após a certificação tiveram um impacte importante a nível do processo produtivo, na conformidade do produto e na qualidade percecionada pelos clientes, obtendo deste modo um decrescimento considerável dos custos de qualidade após a certificação, concluindo que a implementação de melhorias de qualidade e produtividade têm um impacte positivo no desempenho financeiro das empresas.

Gotzamani e Tsiotras (2002) contradizem esta relação positiva entre desempenho organizacional e certificação, devido ao elevado investimento monetário e temporal. Terziovski et al. (1997) e Singels et al. (2001) fortificam o estudo anterior, não encontrando também ligação estre os mesmos fatores. Num estudo de Adam Jr. et al. (1997) também não foram encontradas evidencias que as práticas de gestão de qualidade influenciavam os seus desempenhos financeiros. O mesmo foi concluído no estudo de Lima et al. (2000) confrontando empresas certificadas com empresas não certificadas. Martínez-Costa e Martínez-Lorente (2007) suportam que a certificação gera um efeito negativo nos resultados financeiros devido aos custos inerentes ao sistema serem demasiado altos, mas Carlsson e Carlsson (1996) defendem que o sucesso dependerá sempre da forma como este é implementado, dependendo do empenho da gestão de topo e dos restantes recursos humanos.

Já Heras et al. (2002) observou nas empresas certificadas da região Basca, que o desempenho das empresas não é consequência da implementação da certificação, mas sim da sua causa, pois estas já apresentavam um maior desempenho financeiro antes da certificação.

A gestão empresarial está fortemente ligada ao desempenho financeiro das empresas. Uma eficaz implementação e controlo do SGQ, anexado a um maciço e consistente sistema de documentação, contribui fortemente para o aumento do desempenho. A definição de processos introduz mudanças na organização fundamentais para o seu desempenho, procurando sempre melhorias contínuas no desempenho, advindo estas das boas práticas da gestão. Estas, são geridas de forma a evitar perdas. Já as empresas que não conseguem obter a certificação sofrem perdas em termos de rentabilidade do ativo,

20 produtividade e volume de vendas (Corbett et al., 2002). A certificação é uma decisão estratégica de cada organização, e tal como os possíveis benefícios, terá de ser encarado como um investimento a longo prazo.

Em função do setor de atividade onde atuam as empresas, também o desempenho organizacional pode ser maior ou menor. Num estudo orientado por Dias et al. (2013) no setor das empresas agroalimentares, em que o controlo e regulação pelas entidades externas são mais restritas neste setor, e as diferenças em termos de práticas de gestão da qualidade são distintas, e adaptadas a cada um deles, observou-se um impacte relativamente maior, exibindo um efeito positivo no valor de vendas, em relação a outros setores.

As empresas certificadas diferem das não certificadas a nível das práticas de gestão da qualidade implementadas e da desigualdade do volume de vendas entre elas. Porém, no estudo realizado por Heras et al. (2002), os autores não encontraram qualquer evidência, no volume de vendas, que suportasse a ligação causal entre a certificação ISO 9001 e o aumento do mesmo, pois, os níveis de desempenho alcançados pelas empresas certificadas devem-se ao fato de as mesmas possuírem uma grande propensão para alcançar a certificação.

Prosseguindo este tema, é relevante analisar alguns estudos presentes na literatura, que se debruçam a estudar o impacte da certificação ISO 9001 no valor das ações das empresas certificadas, avaliando a valorização das mesmas. Num estudo realizado a empresas cotadas no New Zealand Stock Exchange, os autores, averiguaram que os valores das ações não reagiram à certificação (Aarts e Vos, 2001). Resultados próximos foram obtidos por Martinez-Costa e Martinez-Lorente (2003) que verificaram ligeiras melhorias, não significativas, no valor de mercado das empresas cotadas. Estes autores avançaram com a explicação de que estas empresas podem já ter incorporado o valor da certificação no valor das ações. Contestando estes resultados, Beirão e Cabral (2002) encontraram evidencias de que o valor das ações se manifestavam alguns dias antes do anuncio publico da certificação ISO 9001, concluindo que a certificação deve ser vista como um investimento a longo prazo para que as organizações disponham de tempo para capitalizar os benefícios do SGQ (Sampaio, 2008).

21 Para se poder avaliar o impacte da certificação no desempenho organizacional, é de extrema importância possuir um sistema integrado de avaliação de desempenho, onde se possa recolher o máximo de informação possível, para gerar uma análise completa, englobando simultaneamente indicadores financeiros e operacionais. Exemplo deste modelo é o Balanced Scorecard (BSC) que reflete as perspetivas que acrescentam valor à organização: perspetiva da aprendizagem e crescimento, de processos internos, de cliente, e perspetiva financeira. A nível estratégico dá a perspetiva do que a organização pretende atingir, e a nível operacional, determina quais os processos a monitorizar. Na literatura existente e que foi objeto de pesquisa, não se consegue evidenciar que a certificação ISO 9001 esteja associada à melhoria de desempenho financeiro das organizações. Há um grande leque de estudos a relatar o aumento de vendas, quota de mercado, melhoria dos produtos e satisfação do cliente após a implementação de sistemas de gestão da qualidade, mas um número muito estrito determina efetivamente as vantagens económicas que a certificação ISO 9001 pode proporcionar às organizações.