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Conforme a análise feita por Trajano (2013) em seu artigo publicado para o site “Conteúdo Jurídico”, o número da população carcerária a cada dia vem aumentando de forma progressiva, causando um déficit notável no sistema prisional brasileiro. Segundo o Conselho Nacional de Justiça até julho de 2019 o Brasil abriga cerca de 812mil presos no sistema prisional, chegando a possuir a quarta maior população carcerária do mundo.

Gilvan e Anderson (2018) afirmam que não apenas no Brasil, mas assim como no resto do mundo o sistema penitenciário tem se mostrado ineficaz. Os autores ainda vão mais além e afirmam que o sistema penitenciário se quer sofreu algum tipo de crise, uma vez que o próprio em si já remete a situação de crise, uma vez que é notável à formação de uma má estruturação, onde é evidente a formação de um sistema incoerente, contraditório e desequilibrado, onde ao invés de atingir sua finalidade de

combater e reduzir a taxa de criminalidade, acaba muitas vezes em compactuar com a fama de serem consideradas como escolas para a formação de novos criminosos.

Esse aumento nos números de presos no sistema penitenciário vem sendo justificado por muitos autores e doutrinadores, como consequência ocorrida na alteração na lei de drogas passada para a vigência da nova Lei nº 11.343/2006, que segundo Silva (2018) apesar da existência mais rígida na aplicação da penalidades para os traficantes e abrandar a penalidade impostas para os usuários, sua interpretação vaga muitas vezes faz com que seus usuários acabem sendo considerados como traficantes, muitas vezes pelo fato de serem vítimas de preconceito por parte da cor de sua pele, classe social e local onde reside.

Damian (2017) dispõe em seu artigo índices que demonstram o aumento no número de presos devido a vigência da nova lei de drogas, Damian afirma que:

[...] Em 2006 – ano em que a atual Lei de Drogas passou a vigorar – a população carcerária no Brasil contava com 401.236 presos e, em 2014, esse número evoluiu para 622.202, ou seja, nesse período houve um aumento de 55% da população prisional brasileira.[...] Esse aumento colocou o Brasil em quarto lugar no ranking de países com a maior população prisional absoluta do mundo – 622.202 pessoas presas em 2014 – ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América, China e Rússia. Segundo o DEPEN (2014), o alto e constante crescimento do encarceramento brasileiro nas últimas duas décadas refere-se a duas problemáticas: o grande índice de presos provisórios e as prisões relacionadas ao tráfico ilícito de drogas. O estudo realizado apontou que, no ano de 2014, 40% da população carcerária brasileira era composta por presos provisórios, ou seja, quase 250 mil pessoas presas antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória (DEPEN, 2014). Quanto à natureza dos crimes pelos quais as pessoas estão privadas de liberdade no Brasil, segundo grandes categorias do Código Penal, destacam-se os crimes contra o patrimônio (46%), os crimes relacionados às drogas (28%) e os crimes contra a pessoa (13%) que, juntos, somam 87% do encarceramento total.[...]é possível verificar que os crimes relacionados ao tráfico ilícito de drogas são uma das maiores causas do encarceramento no país, sendo a segunda maior causa entre os homens e a maioria absoluta entre as mulheres. Assim, a preocupação não é somente com o aumento constante no número de encarcerados, mas também com o crescimento proporcional e cada vez maior de pessoas presas em razão do sistema proibicionista.

Observa-se que diante o exposto a autora do artigo demonstra por meio de dados de pesquisa, que a maioria dos presos que se encontram alocados no sistema carcerário brasileiro, são formados por pessoas relacionadas com o crime de drogas, constatando que o atual sistema de proibição vigente no brasil, cujo o objetivo de reduzir o tráfico e proteger a saúde pública tem como finalidade principal não vem

funcionando como o planejado, gerando resultados contraditórios ainda mais gravosos na atuação do direito penal.

Damian (2017) ainda dispõe que:

A Lei de Drogas instalada sob o viés desse sistema proibicionista, além de ferir os direitos e garantias individuais e violar gravemente os direitos humanos em virtude das normas penais em branco, das exceções e das penas exageradas, acarretou, decisivamente, no aumento da população carcerária. Verifica-se que o principal efeito desse aumento está nos vazios de legalidade da atual Lei de Drogas que se relaciona diretamente com um excesso normativo, ou seja, com a redação de condutas idênticas nos dois tipos penais – artigo 28 (posse para consumo pessoal) e artigo 33 (tráfico ilícito de entorpecentes). Porém, enquanto no delito de posse de drogas para consumo pessoal impõem-se penas restritivas de direitos, no crime de tráfico ilícito de drogas a pena privativa de liberdade é variável de cinco a quinze anos. Dessa forma, o artigo 28, § 2º, da Lei de Drogas determina ao Juiz analisar todas as circunstâncias a fim de enquadrar o indivíduo como usuário ou como traficante, ou seja, será feita uma análise essencialmente de natureza subjetiva. Portanto, constatou-se que esse dispositivo possui o ensejo de reproduzir os preconceitos sociais e raciais que estão inseridos na nossa sociedade, encarcerando constantemente jovens negros e pobres como se traficantes fossem e deixando impunes grandes traficantes brancos e ricos.

Portanto, a autora quer mostrar-nos que a falta de uma regulamentação específica com relação ao tráfico de droga muitas vezes acaba colocando aqueles de menor potencial ofensivo em um ambiente mais propício a volta da prática da marginalidade, onde ao invés de preparar esse indivíduo para um caminho de ressocialização a comunidade, acabam tornando-os mais propícios a continuação na vida criminosa, tanto devido aos preconceitos sociais e raciais que a brecha da própria regulamentação os proporcionam no tratamento dos presos, quanto dentro da situação caótica encontrada no interior da administração dos presídios.

A necessidade de mudar a forma da atual política de combate a drogas é evidente quando se analisa os tópicos apresentados neste capítulo da pesquisa, os impactos já vivenciados e benefícios trazidos com a legalização da maconha em diversas partes do mundo vêm se mostrando eficaz, tanto na diminuição no número da taxa de criminalidade, quanto na superlotação prisional, observa-se a seguir no próximo capítulo da pesquisa o quanto se mostra necessário uma discussão acerca da legalização no Brasil.

4 DISCUSSÃO ACERCA DA POSSIBILIDADE DE LEGALIZAÇÃO DO CULTIVO E PRODUÇÃO DA CANNABIS PARA USO MEDICINAL

A importância em discutir-se sobre uma possibilidade de mudança em nossa regulamentação acerca da utilização medicinal da maconha é fundamental, uma vez que o assunto presente abordado diz respeito a um problema tanto de interesse individual, como também de cunho social.

Sabe-se que quando se trata de uma droga ilícita como a maconha, surge divergentes opiniões na sociedade com relação a viabilidade da possibilidade de uma legalização do seu uso, dar-se-á a ocorrência desse debate pelo fato de que os comércios ilegais da cannabis, gera na sociedade variados problemas como a disseminação da violência e o tráfico ilícito de drogas (CARVALHO, 2007 apud HENRIQUE, 2017).

Para Delgado (2001), a possibilidade de legalização de uma droga como a maconha, não seria a solução para exterminar com o atual problema que se tem em relação as drogas, para o autor a situação teria efeito negativo e acabará por trazer ao governo ainda mais problemas do que aqueles até então já existentes, um exemplo explicitado pelo autor seria o aumento em relação consumo da substância.

Araújo (2014) ao contrário da concepção aludida por Delgado afirma que com a venda, o cultivo e a industrialização legal da maconha, o enfraquecimento na comercialização do tráfico ilícito de drogas seria uma realidade observada na sociedade. O autor vai mais além com seus argumentos e afirma que com a ocorrência de uma venda regulamentada e tributações legais impostas, aqueles que são adeptos a utilização da erva procurariam um jeito mais viável, legal e seguro de adquirir o produto de controle feito pelo estado, assegurando para elas mesmas a diminuição de riscos de sofrerem com as penalidades aplicadas.

Com a tramitação de novos projetos, a discursão acerca da legalização do uso medicinal da cannabis sativa vem sendo debatida desde o ano de 2014 pela Anvisa, os projetos leis em trâmite surge novamente neste ano de 2019 com discussões atuais acerca da legalização do uso da cannabis. Dar-se-á o motivo de retomada de discussão com relação a esses projetos devido a demanda crescente de consumo da planta no uso medicinal e o aumento na judicialização de famílias que querem o

acesso menos burocrático e mais acessível do uso dos princípios a base da cannabis (O GLOBO, 2019).

Ainda na mesma matéria tratada por Paula Ferreira, para o site O Globo traz- se o posicionamento estabelecido pelo até então atual Diretor/presidente da Anvisa, William Dib com relação a possível criação de regulamentação do plantio, produção e transporte da maconha medicinal por parte de indústrias farmacêuticas e sobre registro de medicamentos à base de cannabis sativa.

Dib destaca que a falta de regulamentação provoca um aumento de busca por produtos estrangeiros caros e geralmente de qualidade duvidosa, Dib para a reportagem no site (O GLOBO, 2019) afirma que:

O objetivo é submeter os produtos às mesmas regras aplicados aos medicamentos para garantir o que hoje é ausente: a qualidade. Para que a disponibilidade de medicamento cresça amparada pela solidificação das evidências científicas — defendeu o relator durante o voto. — Os números favorecem compreender que há uma demanda real sobre prescrição para esses produtos, que não podem mais ser entendidos no universo da regulação como uma excepcionalidade.

O presidente e diretor da Anvisa, William Dib ainda defende e acredita que uma permissão controlada e regulamentada do plantio da Cannabis, viabiliza a produção segura dos medicamentos no país gerando o benefício do acesso seguro a população, Dib (O GLOBO, 2019):

A produção do insumo controlado já adotada pelas nações apontadas permite enfrentar a temática da extrema dependência brasileira de insumos farmacêuticos, como também que o Brasil não se torne mais uma vez dependente do insumo importado, caro e de qualidade duvidosa. Permitir o insumo controlado é fortalecer a produção nacional de qualidade.

Observa-se que sobre a legalização do uso da cannabis medicinal o assunto vem tomando proporções favoráveis com relação a necessidade de determinar-se uma regulamentação adequada para sua utilização, nota-se que de 2014 para 2019, a cannabis foi incluída na lista de plantas e substâncias que tem controle especial da Anvisa, e que cuja medida de importação excepcional permitiu-se o registro de medicamentos com derivados da planta.

O debate do uso da maconha medicinal gera divergentes posicionamentos e opiniões, a sua utilização versa e gera pontos negativos e positivos na sociedade. Deparando-se com opiniões que divide a população em dois lados, sendo um lado

que acredita que o brasil não esteja preparado para uma mudança dessa magnitude e o outro apoia a necessidade legalização do cultivo da cannabis para auxiliar no avanço da saúde e da legislação brasileira buscando o controle de utilização sobre o uso de uma das drogas ilícitas mais consumidas e utilizadas em nosso país.

Os posicionamentos distintos existentes acerca do uso medicinal da cannabis, trouxe entre os brasileiros questionamentos acerca dos benefícios e malefícios trazidos com essa possibilidade de legalizar uma droga. Dentre os possíveis benefícios existentes com a legalização destacam-se a diminuição do crime organizado, diminuição nas mortes ocasionadas em confrontos entre polícia e traficantes, na taxa de homicídios criados por dívidas de tráfico, além de contribuir nos índices econômicos gerados com uma própria produção da maconha.

Com relação aos malefícios existentes de uma legalização de uso da maconha, segundo delgado (2001), se a planta for legalizada pode-se trazer para a sociedade um aumento significativo no consumo da planta e o acesso cada vez mais fácil para uso recreativo entre jovens.

4.1 O DIREITO FUNDAMENTAL INDIVIDUAL FRENTE AO USO MEDICINAL DA

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