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4. USO DE RESÍDUOS NA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA

4.2. Aspectos ambientais dos resíduos

4.2.4. Utilização na pavimentação rodoviária

4.2.4.1. Impactos ambientais passíveis de ocorrência

A construção de estradas por si só, constitui-se num meio de intervenção do homem nos recursos naturais terrestres, levando os setores técnicos e ambientalistas a demonstrarem preocupações com relação aos seus efeitos junto ao meio ambiente. A erosão e a sedimentação nas regiões florestais brasileiras têm sido os principais objetos de reflexões da implantação de estradas florestais. O comprometimento da trafegabilidade e o carreamento do material para os cursos d’água, causando assoreamento e seus peculiares danos ambientais, são os principais problemas observados. O DNIT (1996, p. 35-39) descreve em seu manual, outros impactos que podem advir de obras rodoviárias.

Quando se considera a disposição final de resíduos em camadas compactadas de pavimentos rodoviários, diversos impactos podem surgir no ambiente em função, principalmente, da constituição química, da formulação (pó ou líquido) e da forma como o aditivo é aplicado ao solo, trazendo, com isto, sérios prejuízos não só para o meio físico (solo, água e ar) e biótipo (fauna e flora), como também para o meio antrópico (o homem e suas interelações sócio-econômicas). Para descrever um pouco esses fatores que podem gerar impactos ambientais, considera-se o efeito dos resíduos durante a etapa de

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sua aplicação e incorporação ao solo e após a etapa de compactação da mistura solo-resíduo (Quadro 4.1):

Fase 1 – Aplicação e incorporação do resíduo ao solo:

a) Impactos no meio físico

O uso de resíduos industriais como agentes estabilizantes de solos locais, gerando materiais susceptíveis às condições exigidas pelos órgãos rodoviários competentes, pode-se evitar a utilização de materiais de empréstimo, ou seja, materiais provenientes de jazidas, de decapeamento e remoção de perfis de solo e até mesmo de britagem (desmonte e fracionamento de rochas) minimizando, com isto, impactos ambientais.

Com relação ao processo construtivo de camadas rodoviárias estabilizadas com resíduos, após a passagem da grade de disco, pode ocorrer sob a ação de chuvas carreamento de partículas da mistura não compactada, levando com isso, substâncias químicas presentes no resíduo que podem ser arrastadas para solos que contém espécies comerciais, alterando o seu pH e a sua microbiota, podendo ocorrerem sérios prejuízos ao desenvolvimento dessas espécies.

A principal característica afetada na água pela ação de resíduos, é a sua qualidade, uma vez que, por escoamento ou por lixiviação, alguns constituintes químicos dos resíduos, dentre eles os metais pesados, podem ser arrastados sendo encontrados nas águas de superfície e nos lençóis freáticos. Desse modo, esses produtos podem estar presentes nas águas superficiais e, também, nas águas subterrâneas, o que pode ser mais grave. As estradas de vale, por exemplo, por serem muito próximas dos cursos de água, devem receber cuidado especial. As águas de chuva influenciam diretamente na ocorrência desse impacto negativo.

O ar pode, também, ter a sua qualidade afetada em função da composição química e da formulação (pó ou líquido) de um determinado resíduo, afetando com isto, operários e, até mesmo, comunidades da área que

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se utilizam da rodovia. Nessa situação pode, em alguns casos, ocorrer a possibilidade de surgimento de doenças do aparelho respiratório, dependendo do tempo de exposição. A ocorrência de ventos fortes e de temperaturas elevadas contribuem para a ocorrência desse impacto negativo. Ressalta-se que os ventos podem levar ao aumento da concentração de partículas no ar, para o caso de resíduo sólido, ou de odores ou gases indesejáveis, para o caso de resíduos líquidos.

b) Impactos no meio biótico

A alteração da composição química da água pelo deslocamento de substâncias presentes no resíduo, pode afetar tanto a fauna quanto a flora aquática. No caso da fauna aquática, a redução no tamanho da população e na saúde dos peixes, principalmente em rios e córregos, são as principais conseqüências negativas; Já a flora aquática, representada pelo fitoplâncton e macrófitas (aguapés, por exemplo) podem ter o seu desenvolvimento prejudicado, quando em presença de altos níveis de metais pesados ou pode ocorrer ganhos de nutrientes, provenientes dos resíduos.

A fauna terrestre, a exemplo da fauna aquática, pode ter sérios prejuízos em função da alteração da qualidade da água, podendo levar não só ao aparecimento de doenças como também, à própria morte de animais que consomem dessa água. O deslocamento de substâncias dos aditivos, de solos de estradas para solos de culturas, pode afetar o desenvolvimento da flora terrestre, principalmente em locais que contêm espécies comerciais, como o Eucalipto spp, devido em grande parte à alteração do pH do solo. Pode ocorrer também, aumento da concentração de nutrientes.

c) Impactos no meio antrópico

O aparecimento de doenças, causadas pela contaminação da água e do ar, pelos resíduos industriais, são os principais danos que estes podem causar às comunidades que moram nas redondezas das estradas florestais e se

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Quadro 4.1 – Impactos ambientais passíveis de ocorrência nas fases de aplicação e incorporação e, após a compactação em campo da mistura solo+resíduo industrial

Possível Impacto no Ambiente

Fator

Ambiental Fase de surgimento Positivo Negativo

Variável Influente

1* Uso de solo local Carreamento de Particulados Chuva Solo

2** Aumento do Esc. Superf.Redução da Infiltração e Perda de particulados Perda de fertilidade e Vol. Tráfego Erosão/ 1 Deposição de Nutrientes Contaminação por metais pesados Chuva Água

2 Deposição de nutrientes Mudança de turbidez Contaminação Vol. Tráfego Erosão/ 1 - Depreciação da qualidade Temperatura Vento e Ar

2 Redução de Poeira Depreciação da qualidade Temperatura Vento e 1 - Espécies prejudicadas Geração de doenças Chuva Fauna

2 - Espécies prejudicadas Geração de doenças Vol. Tráfego Erosão/ 1 Ganhos de nutrientes Desenvolvimento prejudicado Chuva Flora

2 Ganhos de nutrientes Desenvolvimento prejudicado Vol. Tráfego Erosão/

1 - - -

Condição Sócio- Econômica 2 Tráfego contínuo de veículos -

1 - Surgimento de doenças Chuva e Vento

Saúde e Segurança 2 - Surgimento de doenças Vol. Tráfego Erosão/

*Fase 1 - incorporação e aplicação do resíduo ao solo; e **Fase 2 - após compactação e conclusão da estrada.

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utilizam dessas como meio de deslocamento no meio rural. Salienta-se que a contaminação dos recursos hídricos por esses resíduos pode causar sérios problemas ao suprimento de água potável, podendo levar as comunidades que usufruem dessa água a terem a finalidade de vida comprometida, como por exemplo, problemas cancerígenos, em decorrência da presença de metais pesados.

Fase 2 – Após o processo de compactação:

a) Impactos no meio físico

Após processo de compactação, ocorre depreciação da qualidade do solo no que diz respeito à fertilidade; entretanto, para fins rodoviários, essa perda da fertilidade é desejável, visto que ocorre alteração de sua plasticidade com conseqüentes mudanças nas taxas de infiltração e de escoamento superficial, que diminuem e aumentam, respectivamente.

Os resíduos industriais podem conter diversas impurezas, entre elas os metais pesados. A ocorrência de erosão na estrada estabilizada ou melhorada com o uso de resíduos é um fenômeno que poderá acontecer, em função de diversos fatores. Van Put (1994 apud NÚÑEZ; AMARAL SOBRINHO, 2000) relatou que:

Os metais pesados presentes no material de solo perdido por erosão, quando atingirem o ambiente aquático dos rios, poderão ser liberados com mudanças de condições físico- químicas do meio, tais como: pH, potencial de oxirredução e força iônica, podendo, desta forma, contaminar os corpos d’água.

A erosão associada ao uso de resíduos industriais em pavimentação pode resultar em fortes impactos ao ambiente. A perda de solo por erosão, causada principalmente pelas chuvas, pode contribuir para a contaminação dos corpos d’água, os quais podem ser utilizados como fonte de água para as

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culturas, animais e até mesmo pessoas. A depreciação da qualidade da água, pelo carreamento de particulados, pode também alterar a sua turbidez.

Núñez e Amaral Sobrinho (2000), analisando a influência do sistema de preparo do solo na perda de metal pesado por erosão na microbacia de Caetés (RJ), concluíram que o uso intensivo de agroquímicos associados às elevadas perdas de solo por erosão podiam determinar sérios riscos de contaminação da água do córrego da microbacia.

McBride (1989 apud ARAÚJO; AMARAL SOBRINHO, 2000), descreveu que, no solo, os metais pesados podem estar adsorvidos eletrostaticamente nos sítios de troca (adsorção não específica), incorporados na superfície da fase inorgânica através de ligações covalentes ou semicovalentes (adsorção específica), participando de reações de precipitação e dissolução, ligados a compostos orgânicos e na solução do solo. Assim sendo, variações pequenas de pH podem causar grandes modificações nesse sistema.

Araújo (1998 apud AMARAL SOBRINHO; VELLOSO; COSTA, 1999) relatou que a possível contaminação por metais pesados de aqüíferos próximos à disposição final de resíduos dependerá, dentre outros fatores, da concentração e solubilidade dos metais pesados nos resíduos, da quantidade de resíduo colocada, da precipitação pluviométrica local, e da capacidade de interação dessas espécies iônicas com a fase sólida do solo (inorgânica e/ou orgânica), essa interação é bastante complexa, envolvendo reações de adsorção/dessorção, precipitação/dissolução, complexação e oxirredução.

Em estudo realizado por Amaral Sobrinho e Velloso et al., (1999), sobre a lixiviação de Pb, Zn, Cd e Ni em um solo podzólico tratado com resíduos siderúrgicos, concluiu-se que o pH elevado do resíduo siderúrgico alcalino resultou na diminuição da vazão das colunas de lixiviação, havendo menor mobilização de Zn, Ni e Cd, resultando em baixo risco de contaminação de aqüíferos. Entretanto, os percentuais de retenção nas colunas e as relativamente elevadas concentrações desses metais no resíduo ácido predisseram elevadíssimos potenciais de contaminação de aqüíferos.

A erosão pode levar ao aparecimento de outro fenômeno conhecido como ruptura hidráulica de solos, que se refere à perda de resistência e

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estabilidade devido às pressões de percolação de água. Rocca e Iacovone et al., (1993) mencionam que este tipo de erosão (piping) se inicia num ponto de surgência de água e progride para trás, carreando os grãos de solo, resultando na formação de um tubo interno ao maciço, ao longo da linha de fluxo. As argilas plásticas bem compactadas são muito resistentes a esse fenômeno, já os solos não coesivos mal compactados são pouco resistentes e a ruptura pode ser brusca e repentina.

Além da ocorrência de erosão, outro fator relevante que poderá ocorrer na estrada finalizada é o desgaste ou em alguns casos até mesmo ruptura, de determinados trechos considerados críticos, ou seja, manchas de solos que não responderam bem à estabilização química com o resíduo industrial; esse desgaste, pode ser devido a tráfico de veículos de alta tonelagem, tais como ocorre em estradas florestais. Com isso, também, pode haver carreamento de partículas para os recursos hídricos.

Com relação ao ar, alguns resíduos industriais podem conter um forte odor, na maioria das vezes desagradável, que mesmo após a sua disposição final, ou seja compactado sobre um leito de uma estrada, podem gerar odores que, dependendo da exposição (tempo e distância), são prejudiciais à saúde. Exemplo disso é o alcatrão de madeira de eucalipto, produzido em fornos de carbonização de madeira e já testado para fins rodoviários (FERNANDES, 2000).

b) Impactos no meio biótico

O carreamento de partículas da mistura solo e resíduo industrial compactada para os rios ou lençol freático, devido à erosão ou desgaste do pavimento, pode afetar o pH e a turbidez das águas, levando ao estreitamento da base genética de espécies animais e vegetais aquáticas. Esse estreitamento será mais significativo, na medida em que os níveis de metais pesados, presentes no resíduo, estiverem fora dos níveis aceitáveis.

Já a fauna e a flora terrestre, principalmente as que vivem nas proximidades da estrada estabilizada com o resíduo, terão maior possibilidade

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de ocorrência de doenças provenientes dos recursos hídricos, quando esses forem contaminados com resíduos, levando com isso à depreciação da qualidade de vida.

c) Impactos no meio antrópico

A estrada estabilizada com resíduo industrial gera o impacto positivo de permitir o fluxo contínuo de veículos, principalmente nas estações chuvosas, não causando prejuízos à economia da região. Entretanto, a possibilidade de contaminação, por altas concentrações de metais pesados, de aqüíferos próximos a estrada estabilizada gera o incômodo de possíveis danos à saúde pública, com a conseqüente depreciação da qualidade de vida.

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