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3. TURISMO DE RESORTS NO LITORAL SUL DA PARAÍBA: DIAGNÓSTICO

3.3 OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DOS RESORTS NO DESTINO

3.3.1 Impactos dos resorts na percepção do setor público

No que se refere aos resorts do Litoral Sul da Paraíba, o secretário de turismo defendeu a ideia de que tais empreendimentos e o próprio turismo não trazem, no geral, nenhum impacto negativo: “eu não vejo impactos negativos [...] só vejo impactos positivos, logicamente com muita precaução”, ou seja, respeitando o “desenvolvimento sustentável, que não seja predatório”. Entre os impactos positivos ele cita o emprego, a geração de renda, os impactos nos impostos, na urbanização da área e na divulgação do destino. Em relação às comunidades locais, ele explica que existe um termo de compromisso para empregar 80% da mão de obra local nestes empreendimentos e cursos gratuitos de capacitação (de garçons, camareiras, gastronomia, etc.) oferecidos pela prefeitura do município e alguns realizados em João Pessoa. Neste caso, não reconhecer os impactos negativos oriundos do turismo já representa um fator limitante para se pensar adequadamente nas políticas públicas de turismo a serem desenvolvidas na localidade. Além disso, a carência de infraestrutura básica no município (ausência de sistema público de esgotamento sanitário e tratamento de água), de planejamento turístico (através de planos e projetos públicos) e a pouca participação popular constituem alguns dos problemas do turismo local.

Para a SUDEMA é certo que os resorts devem gerar impactos físicos, químicos e biológicos, mas a arquiteta preferiu não citá-los especificamente, mas sim indicar os estudos de impactos dos empreendimentos em questão. A entrevistada não tinha conhecimento da quantidade de resorts que estavam sendo licenciados na região e indicou outro funcionário para auxiliar na consulta.

Após a análise dos processos na SUDEMA, foi possível constatar que, apesar dos dois resorts de Tabatinga (Mussulo e Vista Morena) se situarem na Área de proteção Ambiental de Tambaba, o impacto ambiental (sem o caráter social) é considerado pequeno pelo fato da área dos dois empreendimentos não ultrapassar 3 hectares e pelas características do loteamento, que segundo as informações, já era antropizado. Como não foram realizados estudos de impacto ambiental desses empreendimentos (devido ao pequeno tamanho e relevância das áreas), percebeu- se que não foram levados em consideração os aspectos sociais e de gestão ambiental dos recursos naturais, por exemplo, uma vez que estes resorts não possuem qualquer política ou programa de gestão e responsabilidade socioambiental, confirmada pela gerente do Mussulo, que justificou este aspecto afirmando que estão “em fase de planejamento e projeto”.

No caso do Vista Morena, que está em fase de construção, a SUDEMA explica que a implantação de obras de construção civil, especificamente de urbanização, acarretam diversos impactos ambientais diretos e indiretos à área de influência do projeto. Tais impactos são divididos em dois grupos: os impactos ambientais da fase de implantação e os impactos decorrentes da operação do empreendimento. Na fase de instalação, foram citados alguns deles como “material de limpeza de área, bota fora, material de escavações, água de drenagem das valas” e algumas medidas mitigadoras nas diversas etapas de execução do projeto. Na fase de operação, foram citados os “resíduos sólidos provenientes das atividades domésticas” e “os provenientes das instalações hidro-sanitárias, cujo destino será a absorção do solo”. Tudo isso gera muitos relatórios, prazos e fiscalizações. Mas estes documentos não foram disponibilizados à pesquisa, apenas os estudos de impactos de resorts e alguns pareceres encontrados foram disponibilizados. Os pareceres dos dois resorts de Tabatinga foram favoráveis (à instalação e operação do Mussulo e à instalação do Vista Morena), sempre mediante alguns condicionamentos do órgão.

No caso do complexo turístico Reserva de Garaú, a SUDEMA ainda está analisando o projeto e documentações, mas especula-se que o projeto terá que fazer algumas mudanças para se adequar à legislação ambiental e diminuir os possíveis impactos causados.

Nos resorts do município de Alhandra e Pitimbu, que estão na fase de licença de instalação, a SUDEMA considerou que os impactos socioeconômicos positivos superam os impactos ambientais negativos e por isso são considerados viáveis ambientalmente.

De acordo com a avaliação de impacto ambiental, os impactos positivos e negativos ocasionados com a implantação do Pitimbu Golf Marine Resort e que podem ser mitigados através de programas de controle, recuperação e educação ambiental foram:

Positivos:

 Implantação de projeto de recuperação da faixa de falésia composta por bambu (reflorestamento com espécies nativas de Mata Atlântica e Cerrado).  Programa de recuperação das áreas de manguezais pertencentes à fazenda

Cabeça com plantio de mangue nas áreas desmatadas.

 Implantação de projetos paisagísticos em todo o empreendimento voltados ao uso de espécies nativas (incentivo à atração de aves com o uso de plantas frutíferas nativas).

 Programa de enriquecimento da vegetação de Mata Atlântica através do plantio de espécies nativas em áreas degradadas.

 Implantação de um sistema de proteção e vigilância das áreas naturais, impedindo ou coibindo a retirada de madeira, a caça, os incêndios, e demais agressões ao meio ambiente.

Negativos:

 Implantação de um canteiro de obras que traz perturbações diretas e indiretas ao meio ambiente como um todo – de caráter temporário e irreversível.

 Supressão do canavial – que apesar de uma cultura agrícola resguarda-se como ambiente temporário e sazonal para inúmeras espécies da fauna.

Com sua supressão haverá perturbações diretas para a fauna associada de caráter permanente e irreversível.

 Aumento considerável na densidade populacional – indica maior circulação de pessoas, veículos, alteração na paisagem, geração de resíduos sólidos e efluentes sanitários de caráter permanente e irreversível.

 Utilização das praias e restingas com maior frequência – podendo haver sensíveis distúrbios na flora e fauna local – pisoteio da vegetação, barulhos, resíduos sólidos (lixo) de caráter permanente e irreversível. A conclusão do documento enfatiza que “a contribuição social com certeza será o maior benefício para aquela região que carece de empregos e empreendimentos desse porte” e as “condicionantes físicas, biológicas e socioeconômicas não apresentam na sua implantação e operação restrições no enquadramento na legislação ambiental e urbanística”. Portanto, de acordo com a SUDEMA, o ambiente torna-se ambientalmente viável trazendo melhorias na economia da região.

No caso do Condomínio Riserva Alhandra, foram identificados 166 impactos entre positivos e negativos, dos quais 7 foram classificados como de grande importância e destes, apenas a alteração da paisagem foi considerado negativo. Para a SUDEMA, a grande maioria dos impactos positivos é observada no meio socioeconômico. Dentre os impactos positivos e negativos podemos destacar:

Positivos:

 Oferta de emprego e renda

 Crescimento da atividade comercial e industrial  Maior arrecadação de impostos

 Aumento da oferta de infraestrutura básica  Desenvolvimento da atividade turística Negativos:

 Poluição do ar e do solo  Alteração da paisagem

 Formação de processos erosivos  Perda de cobertura vegetal  Fuga da fauna

 Alteração do ecossistema  Aumento do fluxo de veículos

Na PBTUR, como a presidente enfatizou que o papel do órgão era apenas de promoção do destino, também não foi especificada a opinião do órgão neste aspecto. Mas a entrevistada demonstrou-se favorável à consolidação de um mercado de resorts na Paraíba quando afirma que “precisamos ter esse tipo de equipamento”.

Desta forma, para o setor público, os impactos dos resorts são a priori positivos porque os empreendimentos vão fomentar o turismo na região e gerar emprego e renda para a localidade. Não houve nenhuma oposição a estes empreendimentos por parte deste setor.