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CAPÍTULO 4 – Os impactos do ciclo Mínero Metalúrgico no Maranhão

4.2 Os impactos sobre o Comércio Exterior

O comportamento das exportações e importações internacionais maranhenses apresenta um conjunto de singularidades dignas de comentários e diverge, em grande medida, da trajetória do comércio exterior dos demais estados do Nordeste no período 1980-2001.

A Tabela 5 apresenta os valores absolutos das exportações e importações do Estado, assim como alguns indicadores derivados dos mesmos, referentes ao período acima mencionados.

As informações disponíveis indicam que as grandes transformações no comércio exterior maranhense acontecem pelos meados da década de 1980. Nessa década, o valor das exportações avançou de US$ 11 milhões em 1980, para US$ 459 milhões em 1989. Trata-se de um incremento de mais de 2.500 por cento. Além desse fato auspicioso, é possível observar que as vendas externas apresentaram um baixo coeficiente de instabilidade, mensurado através do comportamento das taxas anuais de crescimento. Parece claro que esse movimento ascendente das exportações do Estado pode ser creditado, fundamentalmente, ao início de funcionamento de uma grande planta industrial de produção alumínio, cuja produção é destinada basicamente ao mercado externo e inter regional. As exportações do Estado, que em 1980 representavam 0,51% do

total regional, alcançam, em 1989, uma cifra de 15,96%. Trata-se de um grande salto, fenômeno não igualado por qualquer outra unidade da federação.

Durante a década seguinte – 1990 – as exportações continuaram a crescer, mas de forma mais lenta. Eram US$ 442 milhões em 1990 e alcançaram o patamar de US$ 544 milhões em 2001.Nesse período, como será enfocado adiante, mudou a composição das exportações, com o Estado deixando de ser um exportador de um único produto. A participação das vendas externas em relação ao total regional se estabiliza e passa a variar entre os limites de 14 a 19 por cento.

De uma forma geral, esse comportamento das exportações estaduais constitui um reflexo dos grandes investimentos realizados na indústria de alumínio, como também no desenvolvimento da indústria de ferro-gusa, graças à exploração de minério de ferro da jazida do Quadrilátero Ferrífero de Carajás, no Estado do Pará. Vale assinalar que o elevado surto de crescimento das exportações resultou tanto do desenvolvimento da infra-estrutura de transporte ferroviário, necessário à exportação de minério de ferro da jazida localizada no Pará e escoada através do porto da ilha da Madeira de propriedade da CVRD, como também da construção de uma linha especial de energia elétrica para suprir as necessidades do complexo industrial de alumínio implantado no Estado. A contribuição da estrada de ferro foi vital para o alargamento das vendas externas, pois viabilizou tanto as exportações de ferro-gusa, oriundo das mini-siderúrgicas implantadas no eixo da ferrovia, quanto do complexo de produção de grãos que se instalou na região dos cerrados maranhenses, tendo a cidade de Balsas como pólo produtor e irradiador.

Tabela 5 Estado do Maranhão

Evolução no Saldo do Balanço Comercial, 1980-2001 Em US$ 1.000

Exportações Importações Saldo

Anos

US$ FOB % do NE Anual (%) Var. Cresc. Índice US$ FOB % do NE Var. Anual (%) Cresc. Índice US$ FOB

1980 11.810 0,51 - 100 26.939 1,95 - 100 -15.129 1981 12.294 0,46 4,1 104 18.136 1,70 -32,7 67 -5.842 1982 7.144 0,36 -41,9 60 31.399 3,17 73,1 117 -24.255 1983 16.085 0,68 125,2 136 61.212 7,78 94,9 227 -45.127 1984 27.882 1,03 73,3 236 43.575 6,21 -28,8 162 -15.693 1985 82.689 3,27 196,6 700 66.198 8,60 51,9 246 16.491 1986 162.728 8,05 96,8 1.378 68.178 7,37 3,0 253 94.550 1987 222.804 9,75 36,9 1.887 42.165 4,46 -38,2 157 180.639 1988 451.457 15,45 102,6 3.823 53.240 5,06 26,3 198 398.217 1989 459.591 15,96 1,8 3.892 100.282 7,76 88,4 372 359.309 1990 442.620 14,61 -3,7 3.748 101.657 6,81 1,4 377 340.963 1991 476.706 16,67 7,7 4.036 222.604 14,11 119,0 826 254.102 1992 427.458 14,08 -10,3 3.619 148.316 10,83 -33,4 551 279.142 1993 462.627 15,36 8,2 3.917 164.265 8,36 10,8 610 298.362 1994 575.719 16,44 24,4 4.875 173.995 7,09 5,9 646 401.724 1995 671.361 15,83 16,6 5.685 195.933 5,44 12,6 727 475.428 1996 681.462 17,68 1,5 5.770 416.684 9,99 112,7 1547 264.778 1997 744.597 18,80 9,3 6.305 413.001 9,77 -0,9 1533 331.596 1998 635.918 17,09 -14,6 5.385 316.164 8,34 -23,4 1174 319.754 1999 662.962 19,76 4,3 5.614 367.102 10,42 16,1 1363 295.860 2000 758.245 18,84 14,4 6.420 485.630 10,15 32,3 1803 272.615 2001 544.329 13,01 -28,2 4.609 830.310 16,17 71,0 3082 -285.981 Fonte: MDIC/SECEX. Elaboração Olímpio Galvão

O Gráfico 1 ilustra, com bastante propriedade, a trajetória dos dois principais indicadores do comércio exterior do Estado.

Observa-se que as importações sinalizam uma trajetória crescente, mas em formato de degraus. Registra-se uma primeira fase, caracterizada por um modesto crescimento, embora com tendência crescente, que abarca o período 1980 a 1989.A partir de 1990, o valor das importações muda de patamar, alcançando o máximo em 1996. Trata-se da segunda fase. Finalmente, as importações disparam a partir de 1998, alcançando o máximo em 2001. Observa- se que as importações evoluíram de US$ 26 milhões em 1980, para US$ 100 milhões em 1989 e para US$ 830 milhões em 2001, refletindo, portanto, as fortes

mudanças que ocorreram na estrutura econômica do Estado nas duas últimas décadas.

A Tabela 6, referente ao período 1989-2001, apresenta a pauta de exportações, segundo os principais produtos comercializados.

O posicionamento do Maranhão, em termos de vendas externas, está fortemente atrelado ao comportamento do complexo mínero-metalúrgico do Estado, que está associado ao desdobramento do Programa Grande Carajás. Um exemplo desse fato está na produção de alumínio por parte da empresa Alumar, que respondeu por 48% das exportações totais do Estado em 2001 e tem grande peso na economia maranhense. Essa participação, que era de mais de 80% no final de década de oitenta, diminuiu em termos relativos devido ao aumento das vendas para o exterior de Ferro-Gusa e Pelotas, que saltaram de 1,77%, para 24%, no período estudado, como resultado da implantação de inúmeras usinas de ferro-gusa ao longo da extensão da Estrada de Ferro Carajás que corta boa parte do Maranhão.

O destaque do comércio externo do Maranhão, entretanto, fica por conta do crescimento do pólo de grãos localizado no sul do Estado, no qual a produção de soja se expande de maneira surpreendente. Nesse contexto, as exportações de sementes oleaginosas e grãos despontam em terceiro lugar, com 13 % do total das vendas externas do Estado em 2001. É inequívoca a contribuição da Estrada de Ferro Carajás para esse resultado, na medida em que permitiu maior integração de áreas antes isoladas e que hoje se encontram integradas ao circuito produtivo do Estado através da produção de grãos.

Tabela 6 Estado do Maranhão

Principais Produtos Exportados, 1989-2001 Em %

Produto 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Peixes e crustáceos,

moluscos etc. 0,04 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,14 0,16 0,58

Sementes e frutos

oleaginosos, grãos etc. 0,01 0,01 0,01 0,51 3,56 5,35 4,56 9,17 11,19 10,96 9,92 11,79 13,77

Gorduras, óleos e ceras,

animais e vegetais 0,03 0,03 0,01 0,02 0,04 0,02 0,04 0,06 0,04 0,05 0,06 0,04 0,04

Produtos químicos

inorgânicos 15,09 9,61 4,16 6,03 6,96 7,55 6,74 8,12 7,03 4,89 7,23 8,01 10,55

Produtos químicos

orgânicos 1,66 1,86 2,24 2,96 2,28 0,73 1,52 1,41 1,55 1,58 1,58 1,63 1,10

Madeira e suas obras,

carvão vegetal 0,09 0,25 0,33 0,61 0,92 1,07 1,06 0,60 0,30 0,28 0,44 0,55 1,07

Papel e cartão e duas obras 0,23 0,12 0,43 0,44 0,51 0,36 0,14 0,04 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Fibras sintéticas ou

artificiais, descontínuas 0,00 0,00 0,00 0,19 0,53 0,13 0,02 0,03 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00

Ferro fundido, ferro e aço 1,77 3,71 5,44 6,46 5,66 10,1 14,2 10,0 13,0 22,2 14,5 17,2 24,5

Alumínio e suas obras 80,8 84,3 87,0 81,6 79,3 74,0 71,1 69,4 65,8 59,4 65,9 60,1 48,1

Móveis, mobiliário médico-

cirúrgico etc. 0,00 0,00 0,00 0,02 0,07 0,06 0,05 0,03 0,03 0,03 0,01 0,20 0,04

Não utilizado 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,09 0,10 0,09 0,02 0,08 0,10

Produtos não mapeados 0,12 0,03 0,05 0,11 0,08 0,14 0,08 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte dos dados básicos: MDIC/SECEX. – Elaboração Olímpio Galvão

A despeito do crescimento de suas exportações, as importações acompanharam as medidas de liberalização tomadas no início da década de noventa e intensificadas no Plano Real, resultando num extraordinário incremento em um curto período de duas décadas.

Em termos mais específicos, as importações do Maranhão estão concentradas em poucos itens, tais como combustíveis, óleos e ceras minerais, com um percentual de aproximadamente 84% do total do Estado. A existência de empreendimentos de grande porte no Estado e o grande consumo de energia justificam tais números. Outro aspecto interessante é o aumento nas importações dos adubos e fertilizantes, que atingiram 4,58% em 2001, decorrentes do fortalecimento do pólo agrícola que está se desenvolvendo no sul do Estado.

A performance do comércio internacional do Maranhão, mesmo bastante favorável, não assegurou um saldo positivo em suas transações com o resto do mundo ao longo de todo o período analisado. Percebe-se que, na primeira metade da década de 1980, os saldos se apresentaram negativos, contrastando totalmente com o comportamento de outros Estados da região. Acredita-se que esses saldos negativos estejam associados às fortes importações de combustíveis da Vale do Rio Doce, para movimentar as locomotivas de sua ferrovia, e às importações de máquinas e equipamentos para a construção da grande fábrica de alumínio.

A partir do ano de 1985, até o ano 2000, o saldo comercial torna-se crescente. Mercê desse resultado, a economia maranhense apresenta uma combinação notável entre os impactos gerados pela abertura comercial, que fortaleceu as importações, e a continuidade de um processo de vendas externas, cristalizado na ampliação e diversificação de sua base exportadora.

Uma outra perspectiva de análise está relacionada com o estudo da dinâmica de crescimento das exportações e importações do Estado no período 1980-2001. O Gráfico 2 ilustra o comportamento do índice de crescimento dos dois indicadores, cujos valores encontram-se na Tabela 3. Em primeiro lugar, constata-se que as exportações apresentaram um padrão de crescimento muito acima das importações. Em segundo lugar, é possível observar um claro processo de divergência no comportamento dos dois indicadores, especialmente entre os anos 1980 – 1999. Em terceiro lugar, as importações apresentam um

comportamento ascendente, refletindo as grandes transformações que vêm ocorrendo na base produtiva do Estado. Os fortes investimentos que se estão realizando no segmento agropecuário do Estado têm o seu rebatimento no comportamento das importações, através de um crescimento das compras de insumos químicos – fertilizantes, principalmente – como também nas compras de combustíveis, para o setor de transporte ferroviário. Também há que chamar atenção para a importação de alumina, matéria-prima básica para a indústria de alumínio instalada no Estado.

Por último, é interessante destacar-se, como fato notável, o comportamento das Exportações, que apresentaram taxas de crescimento quase que explosivas ao longo do período 1985 - 2001.

Finalmente, cabe destacar-se a localização espacial dos principais núcleos de exportação do Estado. Embasado nas estatísticas de 2001 – Mapa 1 - é possível afirmar que o grosso das exportações do Estado localiza-se na área polarizada pela cidade de São Luís, capital do Estado, onde está localizada a grande planta industrial voltada para a produção de alumínio. Também se destaca o pólo de produção de grãos na região dos cerrados maranhenses, tendo como núcleo central a cidade de Balsas. Por fim, cabe destacar-se as regiões de

Açailândia, Santa Inês, Bacabeira e São Luís, onde estão localizadas algumas plantas industriais voltadas para a produção de ferro-gusa.