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B: Fecha VO-CÊ a porta

1.1.8 Imperative-like Ultimatum (ILUs)

Ainda que Han (2000) não lide com as construções a partir desta alcunha, as imperative-like ultimatum (ILU) são as frases complexas em que há uma decisão clara entre seguir o ϕimp ou uma consequência negativa será validada. Os exemplos mais prototípicos estão a seguir

(37) Saia ou eu atiro

(38) Faça a tarefa ou ficará de castigo (39) Não faça bagunça ou ficará de castigo

A autora examina vários tipos desta construção imperative-like, e dentre elas, ela considera a formalização ‘¬ p → will(q)’ (HAN, 2000, p.

26 Colocar apenas um ou um conjunto de mundos possíveis é apenas uma forma de notação.

Optaremos pela primeira forma quando for discutida (cap. 4) a noção de mundos possíveis e o impacto das seleções, relevâncias, fontes de ordenação, entre outros.

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187). Provavelmente, a formalização se refira a sentenças como (39), mais do que (37) ou (36), que acabam sendo consideradas por generalização, já que, para nós, a melhor formalização é IMP v ULT. Por enquanto, o necessário é apontar que, a partir deste ponto, temos um argumento a mais para dizer sobre a futuridade: a permissão de haver sentenças imperativas com sentenças que envolvem o futuro, mostram a própria projeção de futuro do imperativo, trazida por [irrealis] dentro de [IMP]. Assim, se tivermos

(40) */??? Saia ou atirei

(41) */??? Saia ou eu tivesse atirado

O que nos interessa é o fato de a autora discutir que qualquer tipo de construção (imperative-like) que traga a conjunção disjuntiva ou ou uma construção com futuro (FUT(p)) faz com que a primeira sentença, a imperativa, tenha sua força diretiva garantida, enquanto a segunda sempre será interpretada como uma condicional. Isso nos é válido, como apresentaremos ao retornarmos em 2.5 com o tema, argumentando que as ILCs são condicionais positivas, enquanto as ILUs são condicionais negativas.

1.1.9 Conclusão

De acordo com as discussões apresentadas em relação aos imperativos, Han (2000) contribui muito com seu trabalho, sendo possível sua comprovação também em português brasileiro.

Ela nos oferece uma saída sintática muito válida com o operador abstrato [IMP], localizado no núcleo de CP elevado, no qual atrai o verbo que será codificado como imperativo até ele. Dentro desse operador há outros dois operadores que automaticamente atuam quando usada uma sentença

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imperativa: o [directive] e o [irrealis]. O primeiro operador codifica a força diretiva da oração, enquanto o segundo operador oferece a modalidade com uma interpretação de ação (ainda) não realizada.

O locus do operador [IMP] equivale, inclusive, ao locus do operador [+Wh] (DAYAL, 2016), determinante para as sentenças interrogativas, ou seja, o operador que garante a força para que a interpretação da sentença seja uma pergunta. Por se tratarem de operadores abstratos que se alocam no mesmo nó, é impossível haver uma sentença com as duas forças simultaneamente (uma ordem e questionamento), como apontamos anteriormente. Confirma-se, desta forma, que além de uma ratificar o local dos operadores, e não só, da validade teórica que ambos carregam, ambas as autoras propuseram caminhos frutíferos a serem aprofundados.

No que tange aos advérbios, por sua vez, ϕimp faz suas exigências em relação ao tempo e à possibilidade de certos usos se dirigirem sempre ao futuro. Estamos em consonância aos argumentos de Han (2000), quando defende que advérbios como ‘agora’, ‘neste momento’ e ‘já’, embora aloquem o tempo ao presente, são interpretados, quando sob escopo de ϕimp¸ necessariamente como de referência futura. O tópico em que se discutiu isso foi breve, pois em 1.2, traremos mais sobre imperativos e a tese de Tescari Neto (2008) sobre os advérbios aspectuais.

Outro aspecto importante é a relação entre ϕimp e a negação, em que se é possível defender que não há negação da força diretiva originada em [directive] por falta de capacidade de escopo da negação. Esta ausência de escopo se daria, acima de tudo, por uma restrição sintática. Veremos em 1.4, que a restrição que é mais determinante é a semântica, além de apontarmos para uma reformulação da formalização sintática de C. Han e a presença dos operadores [directive] e [irrealis].

O preenchimento da posição de sujeito em uma construção imperativa também apontam que esse tipo de sentença faz restrições bem claras. Han

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(2000) argumenta que [directive] objetiva sempre um addressee, um ouvinte direto no contexto de proferimento. Entretanto, achamos apenas esse argumento pouco elucidativo; por isso consideramos, também, os argumentos de Zanuttini et al. (2012) sobre um nó funcional – o núcleo jussivo.

Este nó funcional seria capaz de deslocar o sujeito ao núcleo de JussiveP em certas sentenças, como a imperativa, por exemplo, dando as restrições almejadas. No caso, o traço [+ humano] é a exigência juntamente ao agreement de segundas pessoas. O traço humano possibilita a interpretação agentiva do sujeito da ação a ser realizada. Outro aspecto que corrobora com o argumento dos autores, e com o qual concordamos para PB, é o fato de que o uso de tag questions captura esse tipo de restrição de 2ª pessoa com o traço. Mesmo quando os elementos são quantificadores, o uso de you/você não fica agramatical se o imperativo foi usado com ninguém ou até mesmo todos (claramente com verbos conjugados em terceiras pessoas). Apresentaremos uma representação possível, em que se estabeleça o local de JussiveP dentro da representação com [IMP] (cf. 1.4).

Por fim, Han (2000) argumenta que as mudanças de FD de ordem para sugestão ou conselho nada mais são do que inferências griceanas. Discordamos, por considerar que estas mudanças ocorrem na interpretação pragmática da força ilocucionária, dentro do próprio ato de fala, não por outro mecanismo, inclusive considerando o turno de fala em que se profere ϕimp. Inclusive, consideramos que a FD apenas oferece a interpretação de ordem aos imperativos: as nuanças são dadas por condições contextuais, como demanda anterior, se vem posterior a uma pergunta, etc. Deixaremos esta discussão para o capítulo 3, por ser mais relevante à luz da Pragmática, ainda que sintaticamente proporemos posições funcionais para [directive] (cf. 1.3) Por fim, a autora aborda as construções com imperativo (imperative- like X), em que examina os exemplos conhecidos da literatura: as ILCs (imperative-like conditionals) e ILUs (imperative-like ultimatum). Para

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ambas as construções compostas com ϕimp, Han (2000) oferece uma formalização, com que concordamos, porém preferimos a que sugeriremos adiante. O ponto principal foi que, por meio da Sintaxe, é também possível defender a interpretação das construções como feito por nós no cap. 2. Outro aspecto importante é o de apontar que a Sintaxe cumpre um importante papel nas restrições, mas que há, segundo nossa hipótese, inter-relação com as restrições semânticas de mundos possíveis.

Ainda que em um percurso breve, com apontamentos, concordâncias e discordâncias, transitar considerando os argumentos de C. Han nos possibilitou ter um terreno muito fértil, fortalecendo nosso ponto em relação aos ϕimp e à sua contraparte sintática, além de ser cabível para aplicação ao que proporemos nos próximos tópicos e às ocorrências em português brasileiro espeficamente.