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Implantação de documentos fiscais eletrônicos no fisco brasileiro

O século XXI tem se destacado pelos avanços na comunicação e uso massificado de tecnologia de informação. O fisco tem investido esforços para modernizar e acompanhar os avanços de tecnologia que a iniciativa privada utiliza, de modo a não ficar desatualizado, o que poderia colocar em risco o controle de suas receitas.

Destacam-se iniciativas visíveis a todos os contribuintes como, por exemplo, a Declaração do Imposto de Renda, implantado pela Receita Federal do Brasil, somente por meio eletrônico e pela internet. Não é mais aceita a declaração em formulário em papel, o que dá mostras inequívocas de que o uso da internet já está sendo imposto de modo geral e irrestrito.

No caso dos fiscos estaduais, avanços também foram identificados em suas declarações. Em se tratando do Estado de São Paulo, por exemplo, a Guia de Apuração do ICMS – GIA - é um dos principais pilares para o controle da arrecadação daquele imposto. Trata-se, contudo, e como o próprio nome diz, de uma declaração, feita a posteriori, e cujo objetivo é informar ao fisco o quanto cada contribuinte deve ou não deve aos cofres públicos. Não traz informações granulares sobre cada operação comercial.

Iniciativas deste tipo têm sido estudadas na última década por diversos Estados. Exemplos disto não faltam, há quase uma década (2005): o livro eletrônico implantado pelo Estado de Pernambuco; o ICMS eletrônico, pelo estado do Rio Grande do Sul; a segunda via eletrônica das notas fiscais de telecomunicação e energia, implantada em São Paulo, ao lado de tantos outros exemplos.

Apesar das iniciativas independentes, todas tinham em comum o fato de se almejar documentar cada operação, individualmente. Seria muito prejudicial ao país se cada Estado, dentro da competência constitucional que possui de legislar sobre seu território, impusesse obrigações informatizadas distintas das demais unidades da federação. Atenderia muito bem aos seus propósitos, mas prejudicaria empresas que possuem estabelecimentos em mais de uma divisão territorial no país.

Neste sentido surgiu, em 2003, a emenda constitucional número 42, que introduziu no artigo 37 da Constituição Federal o artigo 22, e trouxe a previsão de atuação integrada e compartilhada entre as administrações tributárias da União, Estados, Distrito Federal e Municípios18:

XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.

Esta cooperação concretizou-se por meio de dois instrumentos:

18 Brasil. Constituição Federal Brasileira (1988). Disponível em

 Protocolo ENAT 03/2005: No fórum denominado Encontro Nacional de Administradores Tributários (ENAT), no qual participam as administrações da União, Estados e Municípios, foi assinado um protocolo de Cooperação, objetivando a implantação da Nota Fiscal Eletrônica, integrante do Sistema Público de Escrituração Digital;

 Decreto federal 6.022/2007, que instituiu o Sistema Público de Escrituração Digital - SPED. Conforme disposto no Decreto, o SPED é instrumento que unifica as atividades de recepção, validação, armazenamento e autenticação de livros e documentos que integram a escrituração comercial e fiscal dos empresários e das sociedades empresárias, mediante fluxo único, computadorizado, de informações.

O SPED (gênero) acabou por se subdividir em diversos “projetos filho”, cada qual com seu cronograma, prazo de implantação e coordenação, distintos um do outro.

No que se refere a documentos fiscais, o SPED gerou os seguintes documentos eletrônicos, a serem abordados, mais detalhadamente, no capítulo 2 deste trabalho:

(i) Nota Fiscal Eletrônica (modelo 55);

(ii) Conhecimento de Transporte Eletrônico (modelo 57); (iii) Manifesto Documentos Fiscais Eletrônicos (Modelo 58);

Outros livros e documentos eletrônicos foram criados, procurando atender aos entes federados que os instituem. O (iv) Cupom Fiscal Eletrônico, por exemplo, é um documento eletrônico voltado ao varejo, e não traz informações de veículo ou informações de cargas. Outros exemplos são (v) o SPED Fiscal, voltado à escrituração fiscal para fins de apuração de imposto, feita normalmente no mês subsequente ao da operação, que traz informações sobre os documentos emitidos (eletrônicos e em papel); (vi) o SPED contábil (escrituração contábil de cada empresa) e (vii) o SPED contribuições sociais, voltado à escrituração das contribuições sociais, de interesse da União.

Há que destacar três pontos importantes. Primeiramente, cada projeto vinculado ao SPED é instituído mediante legislação nacional, aprovada no âmbito da Comissão Técnica Permanente do ICMS (COTEPE) e do Conselho Nacional de Política

Fazendária (CONFAZ). Isto traz transparência e padronização aos projetos que serão implantados nas legislações estaduais e deverão seguir a legislação nacional.

Em segundo lugar, o SPED inovou ao exigir, em todos os projetos, a aplicação da Medida Provisória 2.200-2/2001 e o uso de certificação digital seguindo a cadeia nacional da Infraestrutura de Chaves Públicas – ICP-Brasil. Este aspecto trouxe garantias jurídicas às declarações fiscais que os Estados e Municípios não haviam experimentado, e forçou adaptação não apenas dos contribuintes, como de todo o aparelhamento estatal.

Por fim, para serem implantados, os projetos do SPED foram baseados em algumas premissas fundamentais para sua conclusão. Uma delas foi a mudança cultural, de modo que os documentos têm existência digital desde o seu nascimento: este novo conceito trazido implica em uma importante mudança cultural, não apenas nas relações entre empresas e o fisco, mas também em toda a cadeia de suprimentos, uma vez que o documento válido não é mais o papel, mas sim o documento eletrônico. Outra premissa é que a implantação do projeto deveria ocasionar o mínimo impacto operacional para as empresas, pois a operação e o faturamento da empresa não poderiam ser abalados pela existência da Secretaria da Fazenda no processo. Isso significou, para o governo, investimentos e modernização de seu parque computacional, para garantir disponibilidade e o funcionamento ininterrupto do sistema.