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2.5 Metodologia

2.5.1 Implantação do experimento

Para estudar os efeitos do pisoteio sobre a vegetação, foi usado o sistema de parcelas fixas. Tal procedimento foi utilizado em trabalhos desenvolvidos em áreas protegidas nos Estados Unidos (COLE, 1982; BOWLES; MAUN, 1982; COLE, 1988 e 1994; COLE; BAYFIELD, 1993; COLE, 1995a e 1995b; MARION; COLE, 1996; BELNAP, 1998) e mais recentemente na Europa como nos trabalhos de Gallet e Rozé (2001 e 2002), de Gallet, Lemauviel e Roze (2004) e de Roovers et al. (2004).

O estudo do efeito do pisoteio sobre a vegetação foi desenvolvido utilizando-se os protocolos de Cole e Bayfield (1993), que se preocuparam em padronizar os tipos de estudos com pisoteio e com áreas de camping, tornando-os comparáveis entre si. Segundo os autores, esse tipo de estudo fornece informações sobre a resposta da vegetação a diferentes intensidades de pisoteio, dando estimativas tanto dos danos como da recuperação da área, que podem ser comparados com estimativas de outros estudos de mesmo design experimental. Ainda segundo esses autores, uma outra meta seria caracterizar a vulnerabilidade de diferentes tipos de vegetação.

Utilizando-se as recomendações de Cole e Bayfield (1993), o experimento controlado

1. Foram alocadas 10 parcelas de 1,5m x 5m na região das dunas fixas, desprezando-se os metros iniciais da vegetação que são mais atingidos pelas marés mais altas do ano e pelas ressacas;

2. Foi realizada amostragem sistemática, com aleatorização do primeiro ponto amostral. A partir desse ponto, foram alocadas parcelas regularmente a cada 60 metros.

3. Dentro das parcelas, foram instaladas seis sub-parcelas de 0,5m x 1,5m (Figura 4), correspondentes aos diferentes tratamentos.

4. Entre as sub-parcelas foi deixada uma faixa de 0,4m x 1,5m, para tomar as medidas da vegetação, sem interferir nos tratamentos (Figuras 4).

Figura 4 - Parcela instalada em vegetação de duna da Praia da Fazenda (PESM, Núcleo Picinguaba, Município de Ubatuba-SP). As setas indicam o intervalo de 0,4m x 1,5m deixado entre cada dois tratamentos, para possibilitar a tomada de dados sem interferir nas subparcelas

5. Os tratamentos foram aleatorizados dentro de cada parcela, representando diferentes intensidades de uso, aqui definidos como número de passadas: controle (0 passadas); uso raro (25 passadas); uso ocasional (75 passadas); uso baixo (200 passadas); uso médio (500 passadas) e uso intenso (1000 passadas).

6. De maneira aleatória, cinco parcelas foram instaladas no verão (março de 2004) e cinco no inverno (julho de 2004), para verificar o efeito da sazonalidade. As datas escolhidas como verão e inverno correspondem aos períodos de maior visitação na área, coincidentes com o final das férias escolares, e, no caso das parcelas de verão, após o carnaval.

Uma passada corresponde a andar naturalmente uma vez na linha do tratamento, tomando o cuidado de não realizar a virada dentro da parcela, uma vez que o impacto aumenta no giro do calcanhar. O ideal é variar o local da passada para caminhar homogeneamente pela parcela de 1,5 metros (COLE; BAYFIELD, 1993).

De acordo com a revisão dos trabalhos sobre impactos do pisoteio em áreas naturais, os tratamentos acima descritos são suficientes para analisar o efeito da quantidade de turistas que caminham pela área ao longo do ano, sobre a cobertura vegetal existente (COLE, 1988; COLE; BAYFIELD, 1993; COLE, 1994; MARION; COLE, 1996; BELNAP, 1998). Quando não existem informações prévias sobre a resistência da comunidade vegetal ao impacto do pisoteio, a recomendação de Cole e Bayfield (1993) é de aumentar a quantidade de passadas até atingir o número que acuse a perda de 50 % da cobertura vegetal. Tal número de passadas é variável de um ambiente para outro, mas geralmente inferior a 500. Optou-se então pela inclusão do tratamento de uso intenso (1000 passadas) no experimento implantado, por não terem sido encontradas, até a data de realização desta pesquisa, publicações referentes a estudos para vegetação de dunas em regiões de clima tropical.

Embora Cole e Bayfield (1993) indiquem não haver encontrado diferenças substanciais nas respostas causadas pelo pisoteio por pessoas de diferentes pesos ou usando diferentes tipos de calçado, optou-se pela padronização do tipo de calçado (tênis comum), assim como do peso médio dos pisoteadores (de 60 a 75 kg), para que as medidas pudessem ser comparadas entre si e com a literatura vigente, conforme o sugerido por Cole (1995c).

Os trabalhos realizados por Bayfield (1979) e Cole (1985) indicam que não existem diferenças significativas entre os efeitos do pisoteio realizado em uma única vez e o distribuído ao longo de alguns meses. Cole e Bayfield (1993) sugerem que realizar o impacto de uma única vez padroniza as condições em que o evento ocorreu (chuva, solo seco, encharcado, etc). Além disso, como um dos objetivos deste trabalho é analisar a

1,5 m 0,5 m

0,3 m

0,5 m

influência da sazonalidade na resistência e resiliência da vegetação, fica mais fácil delimitar o período de ocorrência do impacto (verão/inverno). Dessa forma, o pisoteio foi realizado de uma única vez.

A coleta de dados foi realizada em duas sub-amostras de 0,3m x 0,5m colocadas no centro de cada subparcela, desprezando-se as bordas conforme sugerido por Cole e Bayfield (1993) (Figura 5). As medições foram realizadas seis vezes ao ano para os parâmetros escolhidos: uma antes do pisoteio, outra imediatamente após, 15 dias, três meses, seis meses e nove meses após o pisoteio. Essa metodologia foi repetida por dois anos consecutivos (pisoteio e avaliações), tanto para as parcelas de verão como para as de inverno.

Figura 5 -Parcela de 1,5m x 0,5 m, com subparcelas de 0,5 x 0,3 m, usadas para a coleta de dados de cobertura e altura da vegetação

Em cada coleta de dados foram avaliados: freqüência das espécies de plantas, medidas da altura da vegetação e cobertura de cada espécie de planta (Figura 6). Cole e Bayfield (1993) afirmam que essas medidas tomadas buscam avaliar a resposta de perda e recuperação da vegetação em relação à intensidade de pisoteio.

Figura 6 - Avaliação dos parâmetros estudados na vegetação de duna da Praia da Fazenda (PESM, Núcleo Picinguaba, Município de Ubatuba-SP); (a) cobertura; (b) altura

(a)

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