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Implantando o Programa Mulheres Mil no IFG

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CAPÍTULO IV – A PERCEPÇÃO DAS(OS) PROFESSORAS(ES) E GESTORA(ES)

4.1.2 Implantando o Programa Mulheres Mil no IFG

A implementação do Programa Mulheres Mil no IFG seguiu o ritmo e a direção que a expansão de seus campi conduziam, como se pôde notar na tabela 2. Neste segmento, descreve-se a evolução dessa implementação e apresentam-se especificidades que emergiram no atendimento às predeterminações estabelecidas para a execução do programa.

Prevê o Plano de Desenvolvimento Institucional do IFG que sua inserção regional não seja apreendida descontinuamente, ao contrário “como ações que articulam e materializam função social, princípios, objetivos e metas institucionais às demandas locais e regionais e às

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iniciativas que os servidores de cada campus idealizam promover.” (IFG, 2013, p. 17). Essa articulação, no caso da implementação do Programa Mulheres Mil, foi fundamental tanto para a troca de experiências entre as(os) gestoras(es) como para efetivação de parcerias e permuta de materiais durante as ofertas de 2011 a 2013, fato que foi reforçado nos depoimentos das(os) gestoras(es).

Ribeiro (2013) que pesquisou sobre o Programa Mulheres Mil, desenvolvido no campus Luziânia do IFG, tendo como principal objetivo verificar as contribuições desse programa para as egressas, delineia os grandes desafios enfrentados por esta instituição principiante na execução do Programa Mulheres Mil. Antes, porém, de apresentar os desafios a que a autora se refere cumpre ressaltar que o referido campus tinha apenas um ano de funcionamento, quando se implantou o programa o que naturalmente acarretaria o surgimento de dificuldades. Essas dificuldades logo ganharam contornos demarcados pela decisão em atender a demanda diagnosticada em uma área de formação que não fazia parte das oferecidas nos cursos regulares (APÊNDICE E). Logo, os primeiros desafios que emergiram para a gestão foram identificados pela autora como se pode ver a seguir:

Nesse primeiro momento de implementação do Programa Mulheres Mil no IFG, campus de Luziânia, algumas dificuldades se impuseram. As principais foram: o campus não dispunha de professores na área de alimentação e tampouco dispunha de uma cozinha onde as aulas práticas pudessem ser ministradas.

A falta de espaço físico foi solucionada por meio de um convênio com a Secretaria Municipal de Educação, que disponibilizou a cozinha do Centro de Atenção Integral a Criança (CAIC), mas a sua utilização estava restrita aos sábados. O referido convênio também disponibilizou o transporte das alunas até o campus e, em contrapartida, foram reservadas 20 vagas a serem destinadas, prioritariamente, às merendeiras das escolas municipais.

A segunda dificuldade foi superada com a vinda de um professor e dois estagiários do curso de cozinha do campus de Goiânia. Contudo, eles dispunham de um único dia na semana e, por isso, as aulas práticas eram realizadas com todas as alunas ao mesmo tempo (RIBEIRO, 2013, p. 61).

Considerando-se que a menor distância entre estas instituições é de pouco mais de 60 km (Inhumas e Aparecida de Goiânia), e a maior é de 600 km (Jataí e Formosa), pode-se dimensionar o esforço necessário para o compartilhamento de pessoal ou material entre os campi. Como o caso exposto por Ribeiro (2013), houve outros em que foi imprescindível firmar parcerias entre os campi no sentido de que professoras(es) lotadas(os) ou contratadas(os) - no caso de professoras(es) substitutas(os) - se deslocassem para outras cidades ou houvesse troca de materiais.

A tabela 3, abaixo, apresenta as áreas de formação profissional em que atuam os oito campi do IFG que desenvolveram o programa entre 2011 e 2013, e as tabelas seguintes trarão a especificação dos cursos do Programa Mulheres Mil ofertados, sempre seguindo o ordenamento cronológico de sua implementação nos campi.

Tabela 3: Perfil formativo dos 8 campus pesquisados

CAMPUS EIXOS TECNOLÓGICOS DOS CURSOS

TÉCNICOS

ÁREAS DO CONHECIMENTO DOS CURSOS SUPERIORES INH Controle e Processos Industriais, Informação e

Comunicação e Produção Alimentícia.

Ciências da Computação Ciências Exatas e da Terra

ITU Controle e Processos Industriais e Produção Alimentícia.

Ciências Agrárias, Ciências Exatas e da Terra

LUZ

Controle e Processos Industriais, Informação e Comunicação e Infraestrutura.

Ciências da Computação, Ciências Exatas e da Terra

ANA

Controle e Processos Industriais, Desenvolvimento Educacional e Social, Infraestrutura e Gestão e Negócios.

Engenharias

FOR Ambiente e Saúde, Informação e Comunicação e Infraestrutura.

Engenharias, Ciências Sociais e Ciências da Computação

APA

Controle e Processos Industriais, Infraestrutura, Produção Alimentícia, Produção Cultural e Design.

Engenharias

GOI Recursos Naturais, Produção Cultural e Design.

JAT

Controle e Processos Industriais,

Desenvolvimento Educacional e Social e Infraestrutura.

Engenharias, Ciências da Computação

Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados do site da instituição.

Nas primeiras ofertas de cursos do Programa Mulheres Mil no IFG, que iniciaram no final do segundo semestre de 2011 e encerraram no primeiro semestre de 2012, todos os cursos ofertados relacionavam-se ao eixo tecnológico de Produção Alimentícia. Como declarado por Ribeiro (2013), a opção em ofertar um curso deslocado do perfil formativo no campus Luziânia se deu em atendimento à demanda diagnosticada nas comunidades alvo, o que atendia às orientações do programa, as quais serão abordadas posteriormente.

Na tabela 4 são descritas quais linhas de produção alimentícia cada campus adotou para os respectivos cursos, a duração e o número de vagas de cada oferta.

Tabela 4: Cursos ofertados pelo Programa Mulheres Mil no IFG iniciados em 2011

CAMPUS CURSO PERÍODO DE

DURAÇÃO

MULHERES ATENDIDAS

INH AUXILIAR DE PADEIRO Dez. 2011/Set. 2012 100

ITU ALIMENTOS – LICORES E FRUTAS Fev. 2012/Jul. 2012 100

LUZ AUXILIAR DE COZINHA Dez. 2011/Jun. 2012 100

TOTAL 3 300

Fonte: Elaborado pela autora a partir de documentos cedidos pela Reitoria e levantamento das notícias no site do IFG.

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Nesse momento, o número de mulheres atendidas pelo Programa Mulheres Mil foi outro fator determinado pelas metas estabelecias pelo MEC. A primeira Chamada Pública da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), órgão responsável pelo desenvolvimento do programa, lançada em 2011, previa o atendimento de 10.000 (dez mil) mulheres por todo o Brasil por meio da implementação de 100 novos núcleos do programa, sendo que cada núcleo deveria matricular 100 mulheres.

No ano seguinte, os campi que iniciaram as atividades do Programa Mulheres Mil, Anápolis e Formosa, encontraram um terreno mais maleável para trilhar. A experiência vivenciada e transmitida pelas primeiras duplas gestoras já indicava que esse volume de matrículas aliado às características do perfil formativo dos cursos e à diversidade de atendimentos que eram necessários às mulheres reivindicava uma equipe mais encorpada e maior tempo para a realização dos trabalhos. Mesmo assim, os primeiros campi continuaram a ofertar as cem vagas, enquanto a opção dos campi que estavam aderindo foi de não acatar a meta pactuada decem mulheres por oferta.

Na tabela a seguir estão os sete cursos dos cinco campus do IFG ofertantes do Programa Mulheres Mil no ano de 2012.

Tabela 5: Cursos ofertados pelo Programa Mulheres Mil no IFG iniciados em 2012.

CAMPUS CURSO PERÍODO DE

DURAÇÃO

MULHERES ATENDIDAS INH FABRICAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE

ALIMENTOS Out. 2012/Jun. 2013

101

ITU

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL E SANEANTES

DOMISSANITÁRIOS Set. 2012/Maio 2013

100

LUZ AUXILIAR DE COZINHA Set. 2012/Maio 2013 140

ANA 1. ASSENTAMENTO CERÂMICO

2. CORTE, ESCOVA E SOBRANCELHA Set. 2012/Maio 2013

30 30

FOR APLICAÇÃO DE CERÂMICA Set. 2012/Jun. 2013 80

TOTAL 6 481

Fonte: Elaborado pela autora a partir de documentos cedidos pela Reitoria e levantamento das notícias no site do IFG.

As ofertas de 2012 apresentaram um perfil mais variado de cursos, em alguns casos, com intuito de melhor aproveitar o quadro de profissionais que os campi dispunham.

Ademais, a adesão dos novos campi trouxe outro fator diferencial dos cursos ofertados até aquele momento, pois realizaram cursos contemplados no eixo tecnológico de Infraestrutura para as mulheres, o que rompe com a os padrões normalmente cultivados de que o trabalho na construção civil é “coisa de homem”. No entanto, no Relatório Final do

campus Formosa, chama atenção a justificativa dada pelas alunas para a escolha do curso: “a princípio participar do curso para assentar piso cerâmico nas próprias casas e, também, trabalhar na área complementando a renda familiar” (Relatório Final do curso de 2012 – campus Formosa). A ordem do enunciado demonstra, além da situação financeira precária, o forte vínculo, ou prioridade, direcionado ao âmbito doméstico expresso na vontade de melhorar a casa em primeiro lugar para, então, buscar na atividade uma fonte de renda.

A terceira oferta de cursos do Programa Mulheres Mil no IFG, que ocorreu no segundo semestre do ano de 2013, contou com a participação de mais três campi: Aparecida de Goiânia, Cidade de Goiás e Jataí. A tabela 6 demonstra que, nas ofertas de 2013, consolidou-se a adaptação do número de vagas menor que o pré-estabelecido pelo MEC.

Tabela 6: Cursos ofertados pelo Programa Mulheres Mil no IFG iniciados em 2013.

CAMPUS CURSO VAGAS

OFERTADAS PERÍODO DE DURAÇÃO INH 1. FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE E LIMPEZA 2. PRODUÇÃO DE CONSERVAS DE VEGETAIS 26 25 Ago. 2013/Dez. 2013

ITU TÉCNICAS EM ARTESANATO 60 Set. 2013/Dez. 2013

LUZ AUXILIAR DE COZINHA 110 Ago. 2013/Dez. 2013

ANA

1. APLICADOR DE REVESTIMENTOS CERÂMICO

2. OPERADOR DE PROCESSOS QUÍMICOS INDUSTRIAIS / PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE COSMÉTICOS

35

35 Ago. 2013/Dez. 2013

FOR 1. AZULEGISTA 2. RECREADOR 30 30 Set. 2013/Dez. 2013

APA 1. PINTURA DE PAREDE 2. SABONETES E SANEANTES

30 30

Ago. 2013/Dez. 2013

GOI TÉCNICAS EM ARTESANATO 40 Ago. 2013/Dez. 2013

JAT ASSENTAMENTO E REVESTIMENTO

CERÂMICO

60 Ago. 2013/Dez. 2013

TOTAL 12 511 580*

Fonte: Elaborado pela autora a partir de documento com dados de outubro de 2013 cedido pela Reitoria em e levantamento das notícias no site do IFG.

* Disponível em: <http://www.ifg.edu.br/index.php/component/content/article/1-news/89222-formacao>. Acesso em: 05 nov. 2014.

Como se pode verificar, somente o campus Luziânia conseguiu atingir a meta de atendimento instituída nas orientações do Programa Mulheres Mil, na realidade despontando nesse quesito por superar, nas ofertas de 2012 e 2013, o número de 100 mulheres atendidas.

No total, o Programa Mulheres Mil do IFG atendeu 1.361 mulheres nos 21 cursos ofertados de 2011 a 2013, de acordo com dados disponibilizados pela Pró-Reitoria de Extensão e com as notícias divulgadas no site do IFG.

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Em âmbito nacional, a redução do número de mulheres atendidas pelo programa incidiu negativamente as metas de matrículas estipuladas para o ano de 2013.

A meta de matrículas para 2013 era de 30 mil alunas. Entretanto, neste período foram beneficiadas 19.433 mulheres em todo o País, sendo executado, para tanto, aproximadamente, R$ 17 milhões. Algumas dificuldades impactaram o desenvolvimento do Programa, como, por exemplo, o ajuste de calendário escolar em função da greve de servidores ocorrida no ano anterior e problemas relacionados ao repasse dos recursos financeiros, já que muitas instituições não cumpriram as metas de matrículas esperadas e devolveram os recursos descentralizados à SETEC (MEC, 2014, p. 50).

Até 2012, de acordo com a SETEC, 210 campi da Rede Federal executavam o Programa Mulheres Mil e, em 2013, esse número passou a 241. O número de mulheres qualificadas pelo programa chegou a 37.183 nos três primeiros anos de sua execução (MEC, 2014).

A adesão do IFG ao Programa Mulheres Mil, assim como a outros programas, de acordo com os depoimentos das(os) gestoras(es) não obteve aprovação de toda comunidade escolar muito menos foi isento de discussões e posicionamentos desfavoráveis. Assim como houve servidoras(es) que, respondendo às políticas elaboradas para a educação profissional, engajaram-se ao programa, houve também as(os) que combateram e se negaram a participar. O próximo subitem esboça alguns das considerações feitas acerca da adesão ou não a este programa, em especial, e a outros colocados a cargo da educação profissional.

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