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Contextos educativos como o de Angola apresentam um vazio de recursos e estratégias de apoio aos professores e alunos. Os centros de recursos foram uma estratégia particularmente relevante em Inglaterra, nos anos 60 e 70, vista como uma forma de apoiar o desenvolvimento professional dos professores, e providenciar acesso a uma variedade de recursos educativos[68]. Este modelo influenciou depois outros países, que o adotaram e, atualmente doadores como o Banco Mundial também utilizam variações do mesmo modelo em projetos e programas de desenvolvimento30.

Faz todo o sentido no âmbito deste programa da cooperação portuguesa utilizar os Centros de Recursos como estratégia de apoio aos objetivos de formação inicial e contínua. Os centros de recursos não devem ser (redutivamente) percecionados como bibliotecas com repositórios de meios de ensino, pelo que a forma como são

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Um relatório que permite uma informação e ilações bastante claras acerca deste tipo de intervenção da cooperação é o realizado pela Universidade de Central England, UK, em 2005, para avaliação do programa Centro de Recursos para a Aprendizagem (CRA)- uma estratégia do projeto MECE (Programa de Melhoramento da Qualidade e equidade na Educação Média Pública), financiado pelo Governo Chileno e BM.

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implentados, geridos e dinamizados pode ditar o contributo que podem ou não dar para a qualidade do ensino nas Escolas de Formação de Professores.

2.7.1. Trabalho Desenvolvido

À chegada do contingente de professores portugueses à EFPB, estava alocada uma sala da EFPB para instalação do CR, com uma ligação de internet de alta velocidade disponível. A coordenação local definiu horas de trabalho semanais para quatro coordenadores de CR, grupo do qual a autora fez parte no primeiro ano. A ATP fez um enquadramento sobre aquilo que deverá ser um CR aquando de uma das missões-visita, e a pesquisa e leituras feitas posteriormente sobre esta estratégia levaram à formulação da imagem do CR para a EFPB como um local vivo, dinâmico, onde os docentes poderiam trabalhar em rede de apoio e troca de experiências para promoção do seu desenvolvimento profissional. Destinava-se também aos estudantes, como fonte de instrumentos de aprendizagem, de acesso à cultura e informação, e local de promoção de atividades para a comunidade académica.

O Regulamento do CR de Benguela viria a ser aprovado pela Cooperação Portuguesa como o regulamento a adotar pelos CR do SM. Neste documento estabeleciam-se como objetivos para o CR:

 Dotar a escola de materiais e ferramentas didáctico/pedagógicas, capazes de responder às necessidades consideradas mais prementes para os seus utilizadores, funcionando como um veículo de acesso à informação, cultura e tecnologia actuais;

 Promover a plena utilização dos equipamentos e recursos existentes, apoiando docentes e alunos na execução de trabalhos e projectos de âmbito curricular;  Dinamizar actividades e construir materiais que favoreçam o desenvolvimento,

pelos alunos, de competências consideradas essenciais para a sua formação como cidadão activo e informado;

 Colaborar com os docentes na planificação, implementação e avaliação de situações de aprendizagem diversificadas;

 Apoiar estratégias de ligação da escola à comunidade.

A intervenção da autora para a concretização destes objetivos, enquanto coordenadora do CR e/ou professora na EFPB está apresentada no quadro 2.7:

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Ações desenvolvidas Resultados

Pedidos de orçamento a casas de móveis e equipamento de escritório

 CR equipado com mobiliário básico e apto a ser utilizado

Elaboração do Regulamento de Centro de Recursos

 CR com utilização regulamentada: formas e procedimentos de gestão definidos e em prática

Elaboração de instrumentos para registo e regulação da atividade do CR

 Práticas de gestão facilitada, por ex., fácil identificação dos consumíveis que é necessário repor, controlo da limpeza do espaço, etc.

 Dados de utilização capazes de análise: caraterização dos grupos utilizadores do CR, registo da frequência de utilização e de quais os recursos mais procurados;

Colaboração nas atividades de pintura, decoração e organização do espaço

 A sala do CR tornou-se um espaço diferenciado na escola.

Utilização do espaço para os encontros de FC

 CR visto progressivamente pelos professores como espaço formativo e de aprendizagem

Utilização do tempo de coordenação para formar o/a colega coordenador da EFP

 Docentes da EFPB mais

interventivos e responsabilizados pelo sucesso/insucesso do CR

Utilização do espaço para as reuniões de par pedagógico

 A partir de certa altura os

professores sugeriam fazer os

encontros neste espaço Elaboração de uma lista bibliográfica de

apoio ao estudo das ciências

 Ampliação dos recursos

bibliográficos na área de Química e da formação de professores em ciências

Utilização do espaço para implementação de algumas estratégias de FI: pesquisas bibliográficas, introdução dos estudantes

 Aumento da presença dos alunos e maior variedade de atividades a serem desenvolvidas no CR

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Ações desenvolvidas Resultados

ao uso dos computadores e da internet, exposição de trabalhos feitos pelos alunos

Quadro 2.7: Ações desenvolvidas no âmbito da implementação e gestão do CR e respetivos resultados

Para além de um espólio bibliográfico considerável em algumas das áreas pertinentes para a EFPB, o CR dispunha de uma coleção de arquivos com materiais de apoio didáticos compilados e organizados pelos professores do SM, que eram continuamente enriquecidos e atualizados. Contudo, a utilização de qualquer destes recursos por parte dos professores da EFPB não era frequente, e em muitos casos, sequer ocasional. Eram os alunos que faziam maior utilização do CR, sobretudo para navegar na internet e fazer trabalhos ou estudar, e os professores portugueses, que utilizavam a sala para as formações contínuas (quando possível), para a dinamização das atividades extracurriculares, e para as reuniões de equipa. Posteriormente as reuniões de equipa deixaram de ocorrer no CR, para evitar a associação do espaço ao trabalho da equipa portuguesa, e as horas de coordenação do CR foram aceites pela direção da EFPB como componente letiva dos professores, o que incentivou um aumento gradual do número de professores da EFPB na sua coordenação.

O CR tornou-se um espaço de referência e diferenciação da EFPB, que trouxe boas práticas:

 Pesquisa de livros e internet para apoio ao estudo e à realização de trabalhos;  Estímulo da leitura lúdica como preenchimento dos tempos vazios;

 Utilização dos manuais escolares do CR para as aulas das disciplinas da EFP que tinham conteúdos curriculares comuns com o Currículo do Ensino Secundário geral;

 Dinamização de atividades extracurriculares num local propício à criatividade;  Atividades crescendo em variedade e consequente aumento do número de

utilizadores;

 Intervenção crescente dos professores locais na sua coordenação;

A observação das dinâmicas de utilização do CR mostrava algumas das suas

limitações, das quais a autora destaca:

 A dimensão do espaço, pequeno para o volume de utilizadores e diversidade de atividades;

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 Os materiais e ferramentas didático-pedagógicas disponíveis que pertenciam essencialmente às áreas de especialidade de apoio do SM, ficando várias áreas disciplinares “de fora”;

 A captação de professores para o espaço carecia de ser repensada, dada a fraca participação destes no CR, como utilizadores ou dinamizadores de atividade.

2.7.2. Resultados do CR

Um dos resultados esperados para o SM era ter instalados e em funcionamento Centros de Recursos (apoio pedagógico) nas províncias de intervenção do projeto. O CR do pólo de Benguela iniciou atividade em 2010 (e o do Namibe, em 2012) e tornou-se um espaço de referência e diferenciação da EFPB, embora ainda com um longo caminho a percorrer na apropriação por parte dos professores locais e na definição da sua identidade local.

Uma vez que este tipo de iniciativa não constitui uma novidade dentro do leque de estratégias utilizadas neste tipo de projetos em cooperação para o desenvolvimento[69], há um manancial de informações e ilações que se podem retirar da experiência dos outros, e de alguma experiência do SM, de modo a aperfeiçoar a utilidade desta estratégia. A autora desconhece se os dados recolhidos através dos formulários do CR foram alguma vez utilizados para caraterizar o CR, aferir o seu sucesso e redefinir estratégias para potenciar a sua existência face às carências locais.

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