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4. Custos de transação do CF brasileiro e do CE norte-

4.3.1 Implementação

O Código Florestal brasileiro, por se tratar de um instrumento compulsório, possui um custo significativo já na fase de implementação (etapa 4), pois os agentes privados não possuem incentivos para revelar informações sobre suas propriedades. Diante disso, os custos para obtenção dessas informações por meio do poder de polícia tendem a ser significativos em comparação à obtenção voluntária por parte dos produtores rurais.

O novo Código Florestal busca corrigir essa falha ao criar um cadastro com as informações ambientais de todos as propriedades rurais brasileiras, sendo a gestão dessas informações compartilhada entre os órgãos ambientais federais, estaduais e municipais. O Cadastro Ambiental Rural (CAR), instrumento criado pelo novo Código Florestal está sendo utilizado, e segundo estimativas das autoridades ambientais (Serviço Florestal Brasileiro – SFB) aproximadamente 70% dos imóveis rurais já possuem declaração no Cadastro (CHIARETTI, 2016). Quem não fizer a declaração do cadastro estará vedado a contratar financiamentos públicos para a atividade agropecuária, sendo o prazo para realizar a declaração da situação do imóvel no cadastro até 31 de dezembro de 2017, prorrogável por mais 1 (um) ano por ato do Chefe do Poder Executivo (BRASIL, 2016)12.

12 Esse prazo tem sido flexibilizado sucessivas desde a aprovação da lei que institui o novo

Código Florestal, que inicialmente previa a adesão ao a CAR em 1 (um) ano prorrogável uma única vez em igual período, até a data limite de julho de 2014. Posteriormente, estabeleceu-se o

Não obstante, ainda é cedo para ser otimista quanto ao funcionamento do CAR, pois os mecanismos presentes no CF não podem ser considerados um incentivo significativo, especialmente pelo caráter compulsório e por sua abrangência. O percentual de propriedades que fazem uso de crédito rural é próximo a 25% e, em tese, esses seriam os maiores penalizados por não compartilhar as informações a respeito da situação de sua propriedade com os órgãos regulatórios do meio ambiente.

Nesse sentido, os custos de transação nessa etapa do CF são significativos, a ponto de inviabilizar ou prejudicar drasticamente a sua implementação, embora os custos financeiros dessa etapa não sejam tão expressivos, uma vez que não há a necessidade de compra de terras, por parte do poder público. Porém esse tipo de arranjo nos direitos de propriedade implica custos econômicos (custo de oportunidade dos produtores rurais) não compensados, causando distorções nos mercados e consequentemente elevando os custos de transação.

Há implícita no Código Florestal a premissa de que a receita tributária é (e sempre será) grande o suficiente para equipar os órgãos ambientais com corpo técnico e equipamentos suficientes para a realização de visitas técnicas e aplicação das devidas sanções administrativas aos produtores rurais em desconformidade com a legislação em todo o território nacional. Infelizmente, não existem ainda estudos que estimem a magnitude do gasto necessário para se garantir a eficácia do Código Florestal, e durante a época de discussão no Congresso Nacional, o projeto de lei não foi submetido a uma avaliação econômica rigorosa, nem mesmo do seu impacto orçamentário, conforme observa Cunha (2010) em relatório da Câmara dos Deputados.

Nesse sentido, na etapa 4 de implementação, envolvendo as atividades de alocação de direitos, verificação de contratos e quebra de

contratos, o Código Florestal apresenta custos de transação significativos,

impondo limitações quanto a sua expectativa de vir a ser um instrumento eficaz.

prazo em julho de 2016, e o novo prazo vigente é 31 de dezembro de 2017, podendo ser prorrogado por mais 1 (um) ano pelo Presidente da República.

A atividade 4 (Implementação) no CE envolve a aquisição dos direitos de exploração da terra nas propriedades rurais, o que representa o maior custo do instrumento de maneira geral. Em termos financeiros, o custo dessa etapa no CE seguramente é superior ao Código Florestal brasileiro. Entretanto, pela forma como os direitos de propriedade são definidos no CE, os agentes econômicos alcançam por meio da barganha uma solução quase-eficiente, reduzindo os custos de transação. Por um preço estipulado e negociado entre as partes, a entidade conservacionista ou o órgão ambiental adquirem os direitos de exploração da área, e a partir desse momento o produtor rural deve abrir mão de desmatar aquela área, recebendo um benefício previamente acertado entre as partes, seja por meio de transferência monetária ou isenções fiscais.

Como o CE é um instrumento voluntário e os agentes econômicos dispõem de condições suficientes em termos de nível de informação para negociar uma transação de mercado via sistema de preços, os custos de transação tendem a ser significativamente inferiores à alternativa compulsória do Código Florestal brasileiro, que depende exclusivamente do poder de polícia do estado para funcionar.

O CE prevê que os produtores rurais sejam compensados pelas áreas de vegetação nativa conservada, o que induz os produtores rurais que mantenham tais áreas a revelar a localização dessas, e a abastecer as entidades ambientais (públicas ou privadas) com as informações necessárias (escritura, memorial descritivo, imagens de satélite, coordenadas georreferenciadas etc).

Nessa fase de implementação da política, nota-se que o fator determinante do custo de transação é o caráter voluntário ou obrigatório do instrumento, podendo ser decisivo já neste momento para o resultado da política ambiental. Nesse sentido, políticas ambientais que proporcionam incentivos aos agentes econômicos tendem a apresentar custos de transação inferiores àquelas que somente punem os infratores (McCANN et al., 2005; COGGAN et al. 2010). Além disso, há ainda os problemas do risco moral e da seleção adversa, ambos associados à assimetria de informações entre o regulador e o agente econômico (POLASKY e DOREMUS, 1998; LANGPAP, 2006; e DORSCHNER e MUSSHOFF, 2015). Porém, esses fatores afetam ambos os instrumentos e para simplificação da análise neste trabalho, a avaliação desses

fatores não será levada em consideração, embora admita-se que tais fatores possam vir a ser significativos para os custos de transação de uma política ambiental.

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