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Capítulo II – Desenvolvimento da Competência Lexical na Aula de PLE:

3. A Oficina Lexical: uma estratégia para o desenvolvimento da competência

3.4.4. Implementação do guião: metodologia de intervenção

Independentemente da seleção lexical, os itens escolhidos deverão sempre ser apresentados primeiramente em discurso autêntico, ou seja, antes de proceder à realização das tarefas oficinais, os aprendentes deverão tomar contacto com as unidades a estudar por meio de documentos autênticos (orais e escritos), provenientes do quotidiano dos nativos da língua-alvo.

Por conseguinte, a Oficina Lexical deve ser posterior a um momento de compreensão global do discurso/texto, para permitir aos estudantes a familiaridade com a situação comunicativa em que as unidades lexicais que irão analisar de seguida ocorrem, pois será este o contexto de partida através do qual os discentes irão inferir as primeiras informações.

Assim, recomendamos que a Oficina Lexical seja encarada como uma estratégia de pós-leitura/audição, embora defendamos igualmente estratégias lexicais anteriores a estas atividades, como forma de potencializar a compreensão dos textos27.

Porém, aconselhamos o docente a não se limitar a trabalhar os significados contextuais dos itens léxicos no texto em estudo, pois tal seria minimizar o potencial das Oficinas Lexicais e reduzir a quantidade e qualidade do conhecimento lexical que através delas se pode obter (cf. Lawson & Hogben, 1996: 105). O professor deve procurar estender o mais possível o conhecimento sobre determinada unidade lexical partindo do saber que é possível inferir do contexto em que ela ocorre, mas não se restringindo a ele, inclusive porque, como defende Mário Vilela (2002: 348),

o texto – melhor diria, o contexto – serve de filtro às palavras, pondo-lhes um limite ao seu significado. As palavras da língua transportam com elas o seu significado, é-lhes inerente, mas esse significado recebe uma instrução no texto, impondo-lhes um dado valor e não outro (aquilo a que os lógicos chamam designação rígida).

A Oficina Lexical prevê, deste modo, um estudo mais aprofundado do léxico, por meio das várias tarefas que deverão não só possibilitar a descoberta do significado implícito no texto em questão, mas também e sobretudo conduzir o aprendente além no conhecimento acerca do objeto lexical, desvendando outras informações que complementam os dados obtidos pelo contexto de partida.

Todavia, para que tal intento se cumpra, o docente deve fornecer juntamente com a instrução do exercício pistas linguísticas que auxiliem os alunos a resolver os problemas colocados. Estas pistas podem consistir em diferentes ocorrências da unidade lexical em outros enunciados28, entradas de dicionário29, definições, explicitação da composição da estrutura30, etc. Em suma, parafraseando Decarrico (2001: 288), o

27 Ver a proposta apresentada em Silva, 2011. 28 Ver exercício 1 do Apêndice 4, pág. 139. 29 Ver exercício 10 do Apêndice 3, pág. 133. 30 Ver exercício 3 do Apêndice 6, pág. 145.

essencial é que o professor tenha o cuidado de apresentar os itens lexicais em contextos ricos o suficiente e que constituam uma boa fonte de indícios linguísticos para conduzir o aprendente à descoberta do objeto lexical.

Como qualquer outra atividade, a Oficina Lexical deve ser planeada com cuidado pelo professor. Neste sentido, propomos as seguintes etapas:

a) seleção do documento (oral ou escrito), ponto de partida para o trabalho lexical;

b) triagem dos itens lexicais a estudar, de acordo com os documentos orientadores do ensino/aprendizagem da língua em questão;

c) escolha do tipo e nível de conhecimento que os aprendentes devem desenvolver acerca das unidades selecionadas;

d) elaboração dos exercícios conforme o objetivo da tarefa em questão (Guião da Oficina Lexical);

e) encerramento da Oficina Lexical com uma tarefa de reutilização do léxico analisado.

Na conceção de Oficina Lexical que temos vindo a expor ao longo do presente capítulo, a correção dos exercícios é um momento de extrema importância, na medida em que, além de o professor validar as soluções e as conclusões propostas pelos alunos, durante a correção, ele pode igualmente fornecer outras informações relevantes para o conhecimento acerca do conteúdo lexical em questão, aprofundando e complementando esse conhecimento.

Sugerimos que a correção seja feita de modo faseado, à medida que os alunos vão terminando a realização das tarefas, de modo a evitar períodos longos de trabalho, imediatamente seguidos de períodos longos de correção, conferindo assim maior dinâmica à Oficina Lexical. O docente deve ainda estar atento ao erro e aproveitá-lo produtivamente, corrigindo-o e explicitando o porquê da não adequação dessa resposta ao problema inicialmente colocado.

No que respeita à frequência com que a Oficina Lexical deve ser posta em prática, parece-nos que tal deverá estar subordinado ao grau da competência lexical dos aprendentes. Cabe ao docente ponderar se os seus alunos têm uma maior ou menor necessidade de intervenção ao nível do ensino/aprendizagem do léxico. Todavia, mesmo em situações em que os discentes mostrem uma sólida competência lexical, as Oficinas

Lexicais devem ser realizadas com alguma regularidade, pois, como foi anteriormente referido, a aquisição lexical é um processo contínuo ao longo da vida, pelo que o desenvolvimento da competência lexical no quadro do ensino/aprendizagem da LE deve acompanhar este processo, traduzindo-se num trabalho sistemático dos conteúdos lexicais em sala de aula em todos os níveis de ensino.

Concluindo, defendemos a Oficina Lexical nas aulas de PLE/PL2 como uma metodologia de descoberta ativa integrada nos trabalhos letivos, que permite um estudo regular e prolífico dos conteúdos lexicais, através de uma atividade em que o aprendente é colocado no centro da aula, construindo o conhecimento e gerindo autonomamente a aprendizagem, resultando deste percurso o desenvolvimento da sua competência lexical. Na Parte II deste relatório, apresentaremos alguns exemplos de Oficinas Lexicais colocadas em prática e discutiremos a sua elaboração, aplicação e resultados.