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A implementação da educação sexual em contexto escolar, os agentes educativos e os parceiros envolvidos

O presente estudo permitiu perceber que a implementação da educação sexual (ES) em contexto escolar, na região do Algarve, tem seguido as indicações previstas na lei (Lei n.º 60/2009; Portaria n.º 196-A/2010). O facto de os agrupamentos de escolas (AE) estudados terem desenvolvido, anteriormente à Lei n.º 60/2009, projetos na área da Educação para a Saúde/Educação Sexual (EpS/ES), parece ter facilitado o processo de implementação da ES. A ES foi integrada no projeto educativo de todos os AE estudados e a sua implementação tem contado com a participação das direções dos AE, dos docentes, nomeadamente, os de Ciências Naturais, dos coordenadores da EpS/ES, dos alunos, e de outros agentes educativos (e.g., Psicólogos, Enfermeiros, Assistentes Operacionais). Todavia, no geral, os pais têm sido pouco participativos. Sabemos que o conhecimento, as competências e a confiança dos pais para conversar com os seus filhos adolescentes sobre questões relacionadas com a ES têm potencial para promover os conhecimentos e os comportamentos preventivos nos jovens, sendo que os programas de ES devem considerar uma estratégia que aumente a frequência e eficácia de tal comunicação (Grossman, Frye, Charmaraman & Erkut, 2013).

Tal como previsto na lei, foram nomeados professores-coordenadores para a EpS/ES, com formação específica na área da ES, em todos os AE (n.º 1 do artigo 8.º da Lei n.º 60/2009). Contudo, percebemos que os requisitos previstos na lei (artigo 7.º da Portaria n.º 196-A/2010) para a nomeação deste cargo não têm sido considerados, uma vez que têm sido os professores de Ciências Naturais os que mais assumem este cargo, por se sentirem mais confortáveis com os temas a abordar. Por este motivo, não existe mobilidade nas funções com a frequência desejável, havendo professores há 18 anos no cargo, apesar de ser importante a rotatividade do mesmo, devido à necessidade de renovar ideias e motivações, garantindo a efetiva implementação da ES, como foi referido pelos coordenadores da EpS/ES, no capítulo II.

As equipas interdisciplinares (n.º 2 do artigo 8.º da Lei n.º 60/2009) foram constituídas apenas em dois AE. Uma vez que parte da direção do AE decidir o número de horas a reduzir na componente letiva de quem integra a equipa, os coordenadores da EpS/ES alertaram para a importância de sensibilizar as direções dos

AE para esta questão. Quando esta equipa não funciona nos AE, a organização e o planeamento anuais da ES têm sido elaborados apenas pelos coordenadores da EpS/ES, e partilhados com os diretores de turma, sendo, posteriormente, adaptados de acordo com as necessidades e características das turmas, como previsto na lei (Portaria n.º 196-A/2010; Lei n.º 60/2009). Percebemos que, na maioria, os AE dedicaram as 12 horas anuais previstas na lei, sendo esta a duração mínima para que um programa obtenha resultados positivos a longo prazo (UNESCO, 2009).

A implementação da ES tem contado, ainda, com a colaboração de profissionais de saúde dos centros de saúde e hospitalares (CSH) e de técnicos de organizações não governamentais (ONGs), de Outros Organismos do Estado e de Instituições de Ensino Superior (IESs) (previsto no artigo 9.º da Lei n.º 60/2009). Estas parcerias foram estabelecidas com o objetivo de promover o atendimento aos alunos nos Gabinetes de Informação e Apoio ao Aluno (GIAAs) e de desenvolver atividades com as turmas durante o ano letivo, contribuindo para o desenvolvimento e aquisição de potencialidades e competências dos alunos e da comunidade educativa (Portaria n.º 196-A/2010). No entanto, de acordo com as técnicas utilizadas pelos professores que dinamizaram a ES no 3º CEB (capítulo III), apenas 20% dos professores afirmou ter recorrido a agentes externos, disponibilizados por parceiros, para dinamizarem sessões de formação/sensibilização.

Também a existência dos GIAAs, enquanto estrutura de apoio à EpS/ES (previsto no artigo 10.º da Lei n.º 60/2009) no 3º CEB, foi verificada em cinco dos seis AE, os quais articularam a sua atividade com os CSHs, com ONGs e com outros Organismos do Estado, garantindo o horário estabelecido por lei (uma manhã e uma tarde por semana, pelo menos). Contudo, de acordo com o capítulo III deste estudo, a procura por parte dos alunos foi reduzida, uma vez que dos alunos que sabiam da sua existência (metade da amostra), apenas 13 o visitaram, sem se verificarem hábitos de frequência. Segundo as perceções da maioria dos coordenadores da EpS/ES (capítulo II), os alunos não frequentam o GIAA como seria desejável por terem horários muito preenchidos e, também, por terem receio de serem rotulados por frequentarem o espaço, visto que existe alguma dificuldade em conseguir um espaço discreto que garanta o anonimato dos alunos. Por sua vez, os resultados do estudo de Matos, Reis, Ramiro, Ribeiro e Leal (2014) demonstraram que, na perspetiva dos diretores dos AE, a adesão dos alunos aos GIAAs tem sido “muito boa”. Esta controvérsia entre as perpetivas dos diretores e dos coordenadores da EpS/ES e entre as perspetivas dos

diretores e as ações dos alunos pode refletir algum distanciamento da realidade por parte dos diretores. Apesar de todos os GIAAs terem garantido e disponibilizado recursos aos alunos (e.g., Internet, livros, atividades), apenas um AE garantiu o acesso a métodos contracetivos, sendo que os restantes coordenadores da EpS/ES alegaram não ter autorização para o fazer. Contudo, o número 8 do artigo 10.º da Lei n.º 60/2009 prevê que os GIAAs, articulados com os CSHs, assegure aos alunos o acesso a métodos contracetivos adequados. Estes resultados sugerem que a concretização da ES depende, em parte, das convicções e dos valores de quem a implementa e dinamiza.

De acordo com as perceções dos coordenadores da EpS/ES e do diretor de AE (capítulo II), as maiores limitações verificadas aquando da implementação da ES resultaram do pouco apoio do MEC, nomeadamente na formação de professores, mas também das políticas educativas implementadas recentemente, tais como a redução do número de horas disponíveis para a formação de professores, a qual é exigida e necessária nesta área, e a redução de horas letivas, limitando o tempo dos professores para cumprir os conteúdos programáticos, não disponibilizando horas para a ES. Também a falta de informação sobre as diferentes dimensões da sexualidade, por parte dos professores e pais, o facto de alguns professores considerarem os temas da ES de caráter privado, e a pouca (ou nenhuma) disponibilidade dos pais em participar nos projetos, foram referidos como obstáculos no percurso da ES, cuja continuidade parece depender da motivação e à vontade dos professores para a dinamizar.

A dinamização da educação sexual em contexto escolar e a