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Pesquisas que tratam do emprego da inovação em um determinado contexto são consideradas um terreno fértil de exploração. O tema inovação já é conhecido. (BANU et al., 2016, JOHANNSSON et al., 2015; MARILUNGO et al., 2016). Da mesma forma, a aproximação entre os temas inovações e empresas de menor porte. (KLAAS ET AL., 2010; LESÁKOVÁ 2014; SÁEZ-MARTÍNEZ, DÍAZ-GARCÍA, GONZALEZ-MORENO, 2016; ŠOLTÉS; GAVUROVÁ 2014; WOSCHKE; HAASE, 2016). No entanto, ao adicionar o Universo BOP, objeto de estudo deste trabalho, juntamente aos temas supracitados, surge a oportunidade de pesquisa para o avanço do conhecimento. Pois o tratamento destes temas em conjuto, diante de um ponto de vista epistemológico, ainda é insipiente na literatura.

Assim, a contribuição teórica deste trabalho se dá pelos referenciais sobre inovação como um todo e sua aproximação do universo BOP no ambiente das empresas de pequeno porte do setor de alimentos; e, por levantar o problema da definição de pobreza e da contextualização da mesma com o objeto de consideração mercadológica, independentemente de julgamentos morais ou éticos.

Para tal, foi proposto uma estrutura teórica de ações em inovação a partir de uma hierarquia de requisitos sob a ótica dos consumidores da BOP. Esta estrututa teve como motivação e alicerce as colocações a partir de lacunas teóricas de autores como Guesalaga e Marshall (2008) que colocam a pouca evidência de estudos acerca do poder de compra da BOP dividido em diferentes países, regiões, tipos de indústrias e produtos específicos; Nakata e Weidner (2012), pois os próprios autores sugerem mais estudos aprofundados acerca da inovação para BOP ao apontarem as limitações do seu modelo exploratório; Schrader, Freimann e Seuring (2012) que sugerem como pesquisas futuras o entendimento da capacidade dinâmica das estratégias voltados a BOP; Gobble (2017) ao encorajamento de entender com mais clareza quem são os verdadeiros pobres, as potencialidades de mercado e a realidade das ações voltadas a este grupo; e, Karnani (2017) a partir das críticas acerca da confusão e falácias existentes em pesquisas voltadas ao universo BOP.

Em síntese, a estrutura do trabalho permite: compreender aspectos do conceito de inovação à luz dos mercados emergentes e suas principais barreiras; (BACK; PARBOTEEAH; NAM, 2014; GOBBLE, 2017); refletir acerca do questionamento de quem são os consumidores da BOP em diferentes níveis de vulnerabilidade (KOLK; RIVERA- SANTOS; RUFIN, 2014); a formação de insights para novas pesquisas em inovação para as massas (RAY, S.; RAY, P., 2011); no Brasil, especificamente em empresas alimentícias de pequeno porte do Rio Grande do Sul, tentar compreender sobre o comportamento de consumo dos pobres e suas reais necessidades (NOGAMI; PACAGNAN, 2011), a aplicabilidade das estratégias auferidas da literatura BOP ante as empresas (GOBBLE, 2017; SCHRADER; FREIMANN; SEURING, 2012); e, refletir sobre as dissonâncias existentes na literatura acerca de conceitos em torno de pobreza. (KARNANI , 2017).

Nesse sentido, a contribuição teórica permitiu analisar individualmente os aspectos em discussão: objeto de estudo, o universo BOP; o ambiente da pesquisa, Micro e Pequenas Empresas do setor alimentício; e, a teoria de base, inovação em produtos para BOP, considerando simultaneamente as inferências sobre essas variáveis.

Quanto ao objeto de estudo, universo BOP, o framework teórico a partir da revisão de literatura desenvolvido na primeira parte apresenta o que tem sido discutido nos últimos anos em pesquisas alusivas ao comportamento da BOP. A partir de uma análise, pela compilação dessas referências, buscaram-se as lacunas teóricas. Poucos trabalhos discutem o tema sob a perspectiva proposta nesta tese, e este fato indica que o mesmo ainda pode ser explorado sob o aspecto da pesquisa científica.

Quanto ao ambiente de análise, Micro e Pequenas Empresas (ou pequenos negócios), trazem uma perspectiva a ser discutida quanto ao emprego da inovação, no sentido de promover maior lucratividade e competitividade para as mesmas (SÁEZ-MARTÍNEZ, DÍAZ- GARCÍA, GONZALEZ-MORENO, 2016; WOSCHKE; HAASE, 2016). A partir da revisão de literatura, e da pesquisa de campo, constatou-se haver uma carência nos métodos de pesquisa e de uma sustentação teórica empírica mais robusta acerca dos processos decisórios em inovação pelos gestores. Estes aspectos são corroborados pelas colocações de autores como Ošenieks e Babauska (2014) e Radas et al. (2015) ao apontarem as dificuldades dos gestores de empresas de menor porte em absorver novas oportunidades de mercado por motivos distintos.

Quanto à teoria de base, inovação em produtos para BOP, permeia entre um mercado complexo e na maioria das vezes de difícil absorção. (THEMAAT et al. 2013). Assim, ante um ambiente que geralmente sofre escassez de recursos, no caso as micro e pequenas empresas, buscou-se alcançar uma maior aproximação da real aplicabilidade e possibilidades nos processos de inovação para a BOP. Para tal, o modelo de análise proposto pauta-se pela busca de generalizações com vista a estruturar um conjunto de ações que servem para orientar o suporte a decisão em inovações voltadas ao universo BOP. Nesse sentido, a aprendizagem ocorre na análise do contexto, das alternativas, e da abordagem multicriterial hierárquica utilizada. Assim, ante a análise racional dos critérios e, subsequente, na escolha da alternativa, tem-se àquelas que melhor podem ser absorvidas em um contexto BOP.

Por fim, o estudo avança na consolidação de uma estrutura conceitual de atributos e ações que podem ainda servir de arcabouço para avaliar as condições de ofertas e desenvolvimentos de produtos voltados a BOP. De modo amplo, o tema se enquadra nas áreas de gestão estratégica e organizacional de operações, gestão do desenvolvimento de produto e pesquisa operacional com avaliação e apoio à tomada de decisão, áreas características da engenharia de produção. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (ABEPRO), 2017).