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Implicações das constatações do Processo de Benchmarking sobre a

CAPÍTULO VI PROCESSO DE BENCHMARKING ESTADUAL

7.2 Implicações das constatações do Processo de Benchmarking sobre a

Familiar

A partir da pesquisa realizada, a exploração da pecuária leiteira através do sistema de produção intensivo a pasto, surge como alternativa econômica viável para pequenas propriedades rurais da agricultura familiar. A maior prova disto advém da comparação entre a situação econômica da média dos produtores rurais do município de Vitor Meireles e a da unidade benchmarking municipal da atividade leiteira (UP J)

A característica socioeconômica mais marcante do município de Vitor Meireles continua a ser o predomínio do universo rural na economia. No meio rural meirelense, por sua vez, a característica mais impressionante continua a ser o predomínio e a vitalidade da agricultura familiar. Hodiernamente, reproduzem-se os padrões tradicionais de colonização, que se refletem na estrutura fundiária do município, quer quando se considera o aspecto dos estratos de área das propriedades, quer quando se a considera o aspecto da condição dos produtores rurais.

Assim, no ano agrícola de 1995/1996, 91,1% das propriedades rurais meirelenses possuíam, de acordo com os últimos dados oficiais, menos de 50 ha de área e as grandes propriedades representavam apenas 2,2% do total. Enquanto, a área média das propriedades rurais meirelenses correspondia a 29,05 hectares, a média das propriedades com menos de 50 hectares correspondia a 19,31 hectares. Na medida em que as propriedades com menos de 50 ha concentravam apenas 60,6% da área agrícola do município, registra-se um nível significativo de concentração de terras nas mãos de um número pequeno de produtores. Segundo a condição do produtor, predominavam as propriedades que são exploradas por seus

Nesse mesmo ano agrícola, os estabelecimentos rurais do município ocuparam 2.988 pessoas, entre as quais predominava a mão-de-obra familiar com 91,7%. Isto significa que a produção agrícola meirelense requeria uma média de 8,28 ha para cada oportunidade de ocupação gerada. Esses estabelecimentos rurais geraram um Valor Bruto da Produção (VBP) agrícola equivalente a cerca de 10,4 milhões de reais, uma receita de cerca de 8,3 milhões de reais e uma renda total de cerca de 7,6 milhões de reais. A renda média anual dos estabelecimentos rurais equivaleu a R$ 8.905,00, dos quais 29,8% eram representados por rendas não monetárias. Por unidade de área, a agricultura meirelense gerou um VBP de R$ 422,48, uma receita de R$ 334,09 e uma renda de R$ 306,43. Por pessoa ocupada, a agricultura meirelense gerou um VBP de R$ 3.496,65, uma receita de R$ 2.765,06 e uma renda de R$ 2.536,14.59

Os dados coligidos sobre a UP J e referentes ao ano 2001 são extremamente significativos, mesmo quando se atualizam os valores econômicos de acordo com qualquer indicador econômico e financeiro e se desconsidera o fato de que, no qüinqüênio 1995/2001, a agricultura catarinense vivenciou um processo recessivo e de empobrecimento. Assim, caso se tome como fator de atualização a variação do valor real do salário mínimo (entre julho de 1996 e junho de 2001), os valores de VBP, receita e renda devem ser acrescidos em 24,86%. Caso se tome como fator de atualização a variação real do PIB brasileiro, os valores devem ser acrescidos em 25,45%. Caso se tome a variação no INPC (índice nacional de preços ao consumidor), esse acréscimo deve ser de 26,54%. Enfim, pela variação cambial em relação à moeda norte-americana, aqueles valores devem ser acrescidos em 135,95%. Feitas as atualizações, os valores médios da agricultura familiar meirelense e catarinense apresentariam o perfil descrito no Quadro 36:

58 Fonte: Fundação IBGE, Censo Agropecuário – Ano Agrícola 1995-1996.

59 Cabe notar que, para os estabelecimentos da agricultura familiar meirelense (96,7% do total de estabelecimentos), estes indicadores são ligeiramente inferiores. A renda média anual por estabelecimento correspondeu a R$ 8.593,00. Por unidade de área, o VBP gerado correspondeu a R$ 481,00, a receita a R$ 373,00 e a renda a R$ 358,00. Por pessoa ocupada, a agricultura familiar meirelense gerou um VBP de R$ 3.300,00, uma receita de R$ 2.561,00 e uma renda de R$ 2.454,00 (Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995- 1996; tabulações especiais para o estudo “No vo Retrato da Agricultura Familiar: O Brasil Redescoberto”, www.incra.gov.br/sade).

Ano Agrícola 1995 1996

Vitor Meireles Santa Catarina

Fator de Atualização Salário Mínimo Evolução PIB INPC Variação Cambial Salário Mínimo Evolução PIB INPC Variação Cambial Renda Bruta 11.119 11.171 11.268 21.011 8.461 8.500 8.574 15.988 VBP 4.366 4.387 4.425 8.351 5.681 5.708 5.758 10.736 Receita 3.452 3.469 3.499 6.524 4.896 4.919 4.962 9.252 Renda Per capita 3.166 3.181 3.209 5.984 2.394 2.405 2.426 4.523

Fonte: IBGE, Censo AgroPecuário 1995-1996. Cálculos de atualização dos valores monetários pelo autor. Fonte de dados para o cálculo dos coeficientes de atualização: www.ipeadata.gov.br.

seja aplicado aos resultados da agricultura meirelense e catarinense no ano agrícola 1995/1996, verifica-se que são inferiores quer à renda bruta quer à renda per capita geradas pela atividade leiteira da UP J (renda bruta de R$ 46,0 mil e renda per capita de R$ 8.732,00) e da UP S (renda bruta de R$ 38,3 mil e renda per capita de R$ 8.422,00). São também inferiores aos valores médios e medianos da renda bruta dos quatro estabelecimentos das duas amostras consideradas (a meirelense e a de controle) que derivam suas receitas exclusivamente da atividade leiteira (média de R$ 50,5 mil e mediana de R$ 45,5 mil). Todavia, quando tomado (e só quando tomado) o fator de correção mais amplo (a variação cambial), os resultados da agricultura meirelense tornam-se ligeiramente superiores ao dessas quatro unidades produtivas, exclusivamente, dependentes da atividade leiteira como fonte de suas receitas anuais no que se refere ao indicador de renda per capita (média de R$ 5.318,00 e mediana de R$ 5.427,00).60

Tendo em vista as considerações, é justificado concluir que a exploração da atividade pecuária de leite no sistema de produção intensiva a pasto constitui uma alternativa economicamente viável para as pequenas propriedades da agricultura familiar. Justifica-se, também, a conclusão de que o incentivo ao sistema intensivo de produção de leite a pasto, continua sendo uma política de significativo impacto social e econômico em áreas rurais caracterizadas pelo predomínio das pequenas propriedades rurais e da agricultura familiar.61

O sucesso da exploração da atividade pecuária leiteira no sistema intensivo a pasto, como instrumento de garantia e elevação do padrão de vida das pequenas unidades produtivas da agricultura familiar, não é, contudo, inevitável. Assim e significativamente, os dados analisados demonstram que duas das unidades produtivas cujas receitas são exclusivamente dependentes da atividade leiteira (a

60 Cabe registrar que, de acordo com a mesma fonte de informações (IBGE, Censo Agropecuário 1995-1996; tabulações especiais para o estudo “Novo Retrato da Agricultura Familiar: O Brasil Redescoberto”, www.incra.gov.br/sade), os resultados médios da agricultura meirelense e catarinense nos indicadores econômicos e financeiros eram, no ano agrícola de 1995-1996, muitas vezes superiores aos da agricultura brasileira (renda média por unidade produtiva equivalente a R$ 4.548,00, VBP per capita de R$ 2.666,00, receita per capita de 2.428 e renda per capita de apenas R$ 1.233,00).

61 Cabe lembrar que, no ano agrícola 1995-1996, os estabelecimentos da agricultura familiar concentravam 79,9% das áreas agrícolas e geravam 91,0% do valor bruto da produção (VBP) agrícola do município. A agricultura patronal contava com apenas 28 estabelecimentos rurais, que concentravam 20,1% da área agrícola e geravam cerca de 9,0% do VBP agrícola do município.

qualquer que seja o fator de atualização, usado para os resultados médios dos estabelecimentos rurais desses dois universos de análise. Por conseguinte, os estabelecimentos rurais que explorem o sistema de produção de leite a pasto, como estratégia de geração de renda, têm, simultaneamente, de atentar para o conjunto de fatores condicionantes (processos capacitadores), que o processo de benchmarking permitiu identificar. É este o tema da seção subseqüente.

7.3 Fatores condicionantes da viabilidade econômica da Pecuária

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