Em relação à Baía de Guanabara existe muito pouca informação sobre as concentrações de metais nas águas, com poucos estudos publicados na literatura (REGO et al., 1993; MADDOCK et al., 2007), mas desde a década de 1980 existe a preocupação com a circulação de metais na baía e até mesmo com a exportação destes para fora dela, que pode afetar as áreas ao redor (REBELLO et al., 1986).
Este risco pode ser aumentado se acontecer uma maior remobilização de metais dos sedimentos do fundo. Alguns estudos mostram que geralmente os sedimentos de fundo não apresentam metais em formas biodisponíveis para acumular na biota (CARVALHO et al. 1991) e causar toxicidade (BAPTISTA NETO et al., 2005), mas pode haver exceções (MORAES et al., 2000; VILELA et al., 2004).
Como existem e devem continuar existindo atividades de dragagem na área, que causam preocupação ambiental (BARBOSA & DE ALMEIDA 2001; BARBOSA et al. 2004; MADDOCK et al., 2007), existe risco de que a qualidade da água seja piorada no local das atividades ou nos locais para onde os metais sejam transportados (KJERFVE
et al., 1997; PERIN et al., 1997).
Para avaliar este risco, é preciso considerar como é o comportamento químico dos metais diferentes nestes sistemas eutrofizados (por exemplo, MORSE, 1994; SIMPSON et al. 1998; MORSE & LUTHER, 1999), incluindo a interface água-sedimento, que vai ajudar a predizer quais são os fatores que afetam a acumulação no sedimento ou a liberação para a água.
Destaca-se que os valores de ERL e ERM foram os adotados como critérios de qualidade pela legislação brasileira, por meio da Resolução CONAMA 344/2004, que dispõe sobre avaliação dos materiais a serem dragados em águas jurisdicionais brasileiras (Anexo 8.2). Assim, esta comparação mostrada acima apresenta implicações para o manejo dos sedimentos da área de estudo, no caso específico de atividades de ressuspensão dos sedimentos do fundo para a coluna d’água, como as dragagens, pois para efeito de classificação do material a ser dragado, são definidos critérios de qualidade, a partir de dois níveis, conforme procedimentos estabelecidos na resolução CONAMA 344/2004 (Anexo 8.2):
• Nível 1 - definido como o limiar abaixo do qual prevê-se baixa probabilidade de efeitos adversos à biota (= ERL).
• Nível 2 - definido como o limiar acima do qual prevê-se um provável efeito adverso à biota (= ERM).
Os resultados mostraram claramente que as concentrações de Zn, Cu, Pb e Cr ocorrem em valores que geram diferentes níveis preocupação para atividades como o gerenciamento da disposição do sedimento, no caso dele ser dragado.
Porém, a Resolução indica que existindo dados sobre valores basais (valores naturais reconhecidos pelo órgão ambiental competente) de uma determinada região, estes deverão prevalecer sobre os valores usados na resolução (os Níveis 1 e 2 citados acima) sempre que se apresentarem mais elevados.
Mesmo no caso dos valores de background adotados nesta discussão (BAPTISTA NETO et al., 2000) serem reconhecidos por um órgão ambiental competente, como estes valores foram 40,5 mg/kg de Cr (< ERL de 81 mg/kg), 9 mg/kg de Cu (< ERL de 34 mg/kg), 27 mg/kg de Ni (> ERL de 20,9 mg/kg), 24,4 mg/kg de Pb (< ERL de 46,7 mg/kg), e 58,4 mg/kg de Zn (< ERL de 150 mg/kg), nota-se que apenas em relação ao Ni o valor de background deve prevalecer para a classificação da qualidade dos sedimentos, de acordo com a Resolução. Porém, este foi o metal que apresentou valores menos preocupantes, pois foi sempre < 15 mg/kg. Desta forma, devem ser mantidas as considerações acima sobre a área de estudo em relação a orientação da Resolução CONAMA 344.
6 CONCLUSÕES
Tendo em vista os dados obtidos e as discussões aqui apresentadas, pode-se concluir que:
• A Enseada de São Lourenço, na região sudeste da Baía de Guanabara, foi confirmada como um ambiente altamente impactado, com condições físico- químicas das águas superficiais (salinidade, pH e oxigênio dissolvido) que são afetadas pelo aporte de esgotos, sendo que estas condições afetam a qualidade dos sedimentos, como a acumulação de matéria orgânica e enxofre. Isto favorece condições mais redutoras, que influenciarão a capacidade de retenção de metais-traço.
• O COT e o S não pareceram afetar diretamente a distribuição dos metais-traço, mas serviram como indicadores do gradiente de influência marinha sobre a qualidade dos sedimentos, que afeta os processos biogeoquímicos que promovem a acumulação dos metais.
• As características granulométricas e geoquímicas do sedimento (COT, S, Fe e Mn) foram caracterizadas como fatores que podem estar afetando a acumulação de contaminantes, mas somente na estação mais externa da enseada foram
encontrados correlações freqüentes de metais-traço com o Fe, que pode ser indício de que estes elementos devem estar associados a processos diagenéticos com este metal.
• Caracterização das concentrações de Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn nas camadas próximas da interface sedimento-água (0-14 cm de profundidade) em diferentes áreas da enseada (PN1 – interior; PN2 – intermediária; PN3 – externa) indicaram que, em média:
- as concentrações de Cd foram: PN3 = PN2 > PN1; - as concentrações de Cr foram: PN3 > PN2 > PN1; - as concentrações de Cu foram: PN3 > PN1 > PN2;
- as concentrações de Ni, Pb e Zn foram: PN3 > PN1 = PN2.
• Fatores de enriquecimento em relação ao background e inventários (massas de metais acumuladas por área de sedimento) de Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn mostraram que a contribuição antrópica para a concentração destes metais foi moderada a alta para Pb e Zn, chegando a ser extremamente alta para Cu e não mostrou contaminação para Ni e Cr.
• Correlações foram observadas entre os metais-traço, todas positivas, principalmente na estação mais externa da enseada, podendo indicar que os processos diagenéticos envolvidos na retenção dos metais e/ou suas fontes emissoras podem ser as mesmas.
• A confrontação das concentrações de Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn com critérios de qualidade dos sedimentos internacionais adotados pela legislação brasileira (Resolução CONAMA 344/2004) mostraram que as concentrações de Zn, Cu, Pb e Cr ocorrem em valores que geram preocupação ambiental para atividades humanas na área, como o gerenciamento da disposição do sedimento, no caso deste ser dragado.
• Considerando que as principais possíveis fontes de contaminantes para a enseada são de origem antrópica (esgoto doméstico e atividades portuárias), estas devem ser mais bem monitoradas visto a constatação dos níveis de qualidade dos sedimentos estudados neste trabalho.
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