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Neste percurso de aprendizagem foram inúmeros os contributos obtidos que se repercutiram no meu enriquecimento pessoal e profissional e na qualidade dos cuidados prestados.

Com o intuito de desenvolver uma PBE, a realização da scoping review, possibilitou-me mapear a evidência disponível sobre a temática abordada. Esta atividade permitiu consciencializar-me acerca da importância da investigação como fundamento da prática e da prática como ponto de partida para a investigação. Dada a indissociabilidade e os contributos destas duas dimensões, investigação e prática, para a Enfermagem enquanto profissão e disciplina, torna-se fundamental a compreensão e redução do hiato significativo que existe entre a produção do conhecimento em Enfermagem e a sua incorporação no cuidar (Pereira R. P., 2017).

A transferência da evidência obtida, através da investigação em saúde, para a práxis, processo designado por translação de conhecimento, revela ser um desafio complexo, mas essencial não só para a tomada de decisão relativa ao cuidado direto da mulher/família, mas também a um nível mais abrangente, na elaboração e reestruturação de políticas/programas em saúde. Adequar a evidência com o intuito de garantir que o utente recebe o cuidado que necessita, implica o conhecimento da natureza complexa e multidimensional que reveste os cuidados de saúde. Este carater translacional dos achados, sustenta-se na interação entre quem desenvolve a pesquisa e quem aplica os resultados da mesma na prática clínica, só assim sendo possível prover um cuidado de enfermagem seguro e assegurar o sucesso de uma PBE (Crossetti & Goés, 2017).

Promover a investigação clínica surge como uma das ações que visa dar resposta à prioridade estratégica do Plano Nacional para a Qualidade na Saúde 2015-2020, no âmbito da melhoria da qualidade clínica e organizacional. Definindo qualidade em saúde como a “prestação de cuidados acessíveis e equitativos, com um nível profissional ótimo, que tem em conta os recursos disponíveis e consegue a adesão e satisfação do cidadão” (Despacho n.º5613/2015, p. 13551), esta pressupõe a adequação dos conhecimentos e competências do profissional às necessidades e expectativas do utente e à realidade dos contextos da prática.

Outro dos contributos obtidos relaciona-se com o desenvolvimento do raciocínio clínico e do pensamento crítico. O raciocínio clínico está presente em todas as intervenções e decisões do enfermeiro, bem como em todas as etapas do processo de enfermagem. Inerente ao seu aprimoramento do raciocínio encontra-se o treino do pensamento crítico com base quer nos conhecimentos, quer no contexto da práxis. Segundo Cerullo & Cruz (2010), o desenvolvimento do pensamento crítico corresponde a um processo de orientação da mente no qual se integra o domínio afetivo e cognitivo. Como estratégias para o seu desenvolvimento destaco o exercício reflexivo sobre a prática, a relação estabelecida com a mulher/família, o ambiente de trabalho no qual me inseri, sendo este promotor da reflexão e discussão entre os pares, a observação dos profissionais em exercício e a mobilização dos meus conhecimentos e competências perante situações novas, em contextos multidisciplinares. De acordo com Silva & Silva (2004), só a plena interação entre o individuo, a formação e o contexto possibilita que os processos formativos potenciem o desenvolvimento de capacidades de resolução de problemas e do pensamento criativo.

Foi com o intuito de desenvolver competências e obter contributos essenciais para a minha prática de cuidados que me propus a realizar parte deste estágio no HAP da região norte. Neste contexto contactei com uma filosofia de cuidados pautada pela humanização, proximidade e continuidade. No seu modelo de cuidados, a mulher/família assume, indubitavelmente, um papel central e ativo e o respeito pelas suas necessidades, expetativas, crenças e valores são uma realidade. Exemplo disso é a existência da consulta de plano de parto, realizada por um enfermeiro obstetra, na qual participei. Durante a minha permanência nesse serviço foi-me possibilitada a participação nas sessões do CPPP, nas quais foram abordadas as temáticas da dor em TP e da sua gestão através de medidas farmacológicas e não farmacológicas. Nestas sessões a dor é compreendida como sendo positiva e necessária e são apresentadas e proporcionadas todas as medidas de conforto e gestão da dor disponíveis, de acordo com a sua preferência. As manifestações da sua dor deverão ser valorizadas e entendidas não como a expressão de sofrimento mas do grande esforço que está a realizar. A mulher é então incentivada a “expressar as suas sensações físicas sem constrangimentos ou restrições” (OE, 2015, p.44). A gestão da dor é centrada na mulher, sendo esta capacitada para lidar com a mesma e para

confiar no seu corpo e na sua capacidade de parir. Nestas sessões são apresentadas e exemplificadas várias medidas não farmacológicas que se encontram disponíveis no BP tais como: a liberdade de movimentos, a respiração, a bola de pilates, a música, a aplicação de calor e de frio, o rebozo, a massagem e a hidroterapia, tendo tido a oportunidade de as proporcionar à mulher e acompanhante de acordo com a sua preferência. Outra atividade interessante em que pude participar foi o CPPP em meio aquático. Nestas, fui incluida no grupo de casais participantes e pude observar os efeitos associados ao uso da água, referindo-me ao efeito hidrocinético, hidrostático e aos benefícios fisícos e psicoemocionais que lhe estão associados. Foi também extremamente interessante constatar que o meio aquático e que os exercícios nele realizados permitem uma maior consciencialização da mulher sobre o seu corpo e sobretudo sobre a respiração, sendo extremamente útil no contexto de TP. Na partilha de experiências com os casais foi notório o seu elevado grau de satisfação e bemestar.

As principais razões que me motivaram a solicitar este campo de estágio foi o fato de disponibilizarem a hidroterapia sob a forma de imersão, às parturientes no primeiro estádio do TP e de poder consatar na prática a filosofia de cuidados prestados. Este corresponde atualmente ao único serviço hospitalar, ao nível nacional, que proporciona esta medida. Não tendo sido possível observar a utilização da hidroterapia sob a forma de imersão, foi possível aceder aos protocolos existentes e aperceber-me dos recursos implicados. Junto da equipa de enfermagem participei em momentos de partilha, reflexão e discussão das suas experiências relativas ao uso da hidroterapia, nas quais expressaram as suas perceções sobre a efetividade da medida, o grau de satisfação das parturientes/acompanhantes e dos beneficios associados à sua utilização.

Neste contexto, a equipa de enfermagem é apenas constituída por EEESMOS e todos partilham a mesma filosofia de cuidados e encontram-se motivados para a promoção de um parto normal. A vigilância do TP sustenta-se na filosofia de intervenção mínima, dando-se enfase ao suporte contínuo do EEESMO e do acompanhante, ao recurso a medidas não farmacológicas para a obtenção de conforto e gestão da dor e à opção pelo parto verticalizado. Os partos nos quais participei foram, à exceção dos distócicos, realizados em posições verticalizadas, de acordo com a opção da parturiente, adotando-se uma postura “hands-off”.

Todos os enfermeiros participam de forma rotativa nas várias atividades (consulta de diagnóstico pré-natal, consulta de risco, consulta de termo, consulta de plano de parto e nas sessões de preparação para o parto e para a parentalidade) e prestam cuidados nos vários serviços (bloco de partos, atendimento de urgência, internamento de grávidas e puerpério) o que proporciona uma maior proximidade com a mulher/família e continuidade dos cuidados. Foram vários os momentos de partilha de experiências e conhecimentos em equipa, constituindo-se como momentos de plena aprendizagem. Apesar de se tratar de um estágio de observação participativa, considero ter conseguido desenvolver não só as minhas competências, cognitivas, como também técnicas e relacionais. As experiências vividas e as aprendizagens realizadas foram extremamente enriquecedoras, assim como os seus contributos para a minha prática futura enquanto EEESMO.

Profissionalmente, todo o percurso efetuado nos dois campos de estágio fortaleceu-me. Enalteço os conhecimentos adquiridos e as competências desenvolvidas como recursos essenciais para a melhoria do meu desempenho e da qualidade dos cuidados prestados. A par da evidência que mobilizei e tenho mobilizado na minha prática profissional, exercida nesta área específica, sinto agora uma maior responsabilidade quer para com o utente, alvo dos meus cuidados, quer para com a equipa multidisciplinar em que me insiro. Capacitada pelas aprendizagens realizadas, desenvolvi algumas iniciativas no meu local de trabalho quer ao nível da formação, quer ao nível da promoção de momentos de reflexão sobre as práticas, implicando-me em alguns projetos que me permitirão, enquanto futura EEESMO, proporcionar à mulher/família uma vivência mais positiva da gravidez e do parto e continuar a desenvolver as competências necessárias à condição de perito.

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