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6. Conclusão

6.1. Implicações para a prática

Os principais aspectos de modelo de negócio encontrados apontam para a proximidade no relacionamento com o cliente, o estabelecimento de parcerias e desenvolvimento em rede.

Segundo a maior parte dos casos estudados, a viabilização de modelos de negócio sustentáveis e/ou circulares depende da realização de parcerias. Essa característica pode contribuir para acelerar, facilitar ou mesmo viabilizar alguns passos que a empresa precise dar. Essa sugestão vem como uma tendência já apontada na literatura para novas estratégias de produção e novos modelos de negócios, que podem ser criados a partir do pensamento sistêmico, parcerias, colaborações e alianças (HOMRICH et al., 2018; PIERONI; MCALOONE; PIGOSSO, 2019), de forma muito mais alinhada à cooperação que à competição (MORIOKA et al., 2017)

Identifica-se um espaço crescente para proposição de valores mais ligados a aspectos de sustentabilidade e economia circular, principalmente com uma comunicação alinhada. A falta dessa comunicação dedicada provavelmente se deve a um despreparo da empresa em relação a como comunicar, ou a uma descrença sobre quanto esses aspectos podem realmente agregar em valor percebido, ou uma combinação de ambos. Alguns dos casos analisados mencionaram o receio em destacar esses aspectos do BM em sua comunicação, mas por outro lado empresas que estão utilizando-se dessa comunicação fortemente, ainda que alinhadas a outros aspectos, apresentam bons resultados nesse sentido e demonstram que é possível e interessante comunicar a contribuição e os benefícios dos produtos e da marca para questões ambientais e socioambientais, ainda que atrelando a outros aspectos de valor percebido.

Investimentos de BM em direção a sustentabilidade e economia circular são vistos como um investimento a longo prazo pela maior parte das empresas, pois acreditam que o consumidor e o mercado ainda terão uma percepção melhor desses valores.

No entanto, o alinhamento de fornecedores ainda é algo que apresenta muito espaço para ser trabalhado, pois não foi uma preocupação fortemente percebida na maior parte dos casos.

Devido a falta de propagação dos conceitos de EC e da percepção de valor em diversos insumos tratados hoje puramente como resíduos, um trabalho significativo foi identificado para grande parte dos casos aqui analisados, no sentido de trabalhar lado a

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lado a conscientização de possíveis fornecedores de matéria prima para que entendam o valor daquele insumo. Nos casos apresentados, a partir do momento que esses fornecedores entenderam que alguém teria interesse em comprar aquele resíduo, passaram a armazená-los ou coletá-los ao invés de descartar. O interessante é que, com o estabelecimento dessa rede, não apenas se fazem possíveis as atividades, como também se espalha ao menos um pouco dessa visão de que o resíduo também pode ter valor.

Esses casos apresentados por desenvolver a conscientização do fornecedor, pagam, hoje, nada ou muito pouco pelos resíduos que utilizam como insumo. Esse aspecto apenas demonstra o quanto as outras pessoas ou organização não dão valor para aquele dejeito. Se o valor percebido fosse alto, também seria a cobrança pelo insumo.

De forma geral, os principais benefícios socioambientais identificados foram a redução dos impactos ambientais em comparação a negócios convencionais e geração de impacto social positivo, principalmente através da conscientização de consumidores e usuários. Diversas contribuições para o desenvolvimento sustentável foram identificadas através de triangulação com as metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

O uso de matéria prima reutilizada ou reciclada foi um critério ambiental bastante presente nos BM estudados, e identificou-se alguma preocupação com fases do ciclo de vida de produtos e insumos.

Observa-se que algumas empresas hoje podem estar realizando atividades de EC sem estar familiarizadas com o assunto, como foi o caso de algumas identificadas no estudo.

A influência de forças externas como questões regulatórias e políticas públicas foi destacada por parte das empresas. Nesse sentido, identifica-se uma necessidade de modernização ou atualização dos órgãos regulatórios no sentido de acompanhar novos interesses e demandas da sociedade brasileira, a partir de hábitos de consumo já praticados em outros países por consumidores e negócios, e que emergem, ou tentam emergir, como tendências no Brasil.

Em geral, observa-se que os principais obstáculos a modelos inovadores de práticas sustentáveis, não apenas a economia circular, estão relacionados a questões econômicas, regulatórias e de falta de políticas públicas que contribuam para essas inovações. São necessários avanços tecnológicos, mas também um avanço em direção ao apoio do governo e incentivos a iniciativas de sustentabilidade e redução de impactos ao meio ambiente.

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Diante desses aspectos e da análise das políticas brasileiras vigentes, pode-se dizer que a situação do país em relação à gestão integrada de resíduos sólidos avançou muito nos últimos anos, mas ainda há muito a ser melhorado. Para que a EC aumente e realize todo o seu potencial, é necessário criar condições favoráveis para essa transição, como educação de melhor qualidade, políticas públicas específicas, infraestrutura de circularidade e tecnologias inovadoras (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2018).

As motivações para desenvolvimento das soluções variam entre: o entendimento de que logo esse tipo de atividade será uma obrigatoriedade às empresas do setor, como já é feito em outros países; uma pressão de regulação internacional e exigências de certificações que, junto a um aspecto de escassez econômica, provocaram o interesse e visão de oportunidade no desenvolvimento de uma solução alternativa; aspectos econômico, visão de oportunidade de se produzi em escala industrial algo antes feito forma manual e informal; o desenvolvimento de uma solução para um incômodo da população em determinado contexto; a criação de uma marca de produtos que incorporem valores de sustentabilidade e economia circular.

É interessante observar também, que, à medida que uma empresa se torna uma referência em aspectos de sustentabilidade e/ou economia circular, ela fica refém dessas características, igual acontece com outros aspectos como qualidade. Por mais que a sociedade em geral ainda não esteja tão consciente sobre esses aspectos, ao selecionar o seu público, a marca assume um compromisso (esclarecido ou não) com aqueles valores e propósitos.

Os BM sustentáveis tem esse aspecto relacionado à capacidade da organização de criar satisfação, dada a necessidade de uma determinada parte interessada e também de destruir, quando não atingido este nível de satisfação, uma vez que a entrega de valor sustentável pode ser considerada um pouco mais complexa que a de modelos de negócio convencionais.