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Importância dos conteúdos afetivos no material do sonho, tendo como base no

No documento wanessasantanaafonso (páginas 53-55)

3 A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

3.1 TEORIA DO PSÍQUICO: O CAMINHO DO INCONSCIENTE COMO REALIDADE

3.1.1 Importância dos conteúdos afetivos no material do sonho, tendo como base no

Freud afirma que a problemática do material do conteúdo do sonho decorre de experiências, que são reproduzidas e lembradas, supondo ser um resultado nada fácil da comparação feita entre o sonho e a vida de vigília, já que as peculiaridades exibidas pela faculdade de memória escapam de explicações e, numa série de casos, permanece oculta durante muito tempo. “No sonho o conteúdo apresentado não é reconhecido como pertencente à experiência e conhecimento do estado de vigília, o fato sonhado é lembrado, mas não do fato e do momento de ter-se vivenciado aquilo” (FREUD, 2019, p. 34).

O sonho dá testemunho de conhecimentos e lembranças que o homem desperto acredita não possuir. Ao escutar as narrativas dos sonhos de seus pacientes, Freud demonstra que algumas citações presentes no discurso de seus sonhos, apesar de não se lembrarem delas na vida de vigília, na verdade, as conhecem muito bem (FREUD, 2019).

Nós reconhecemos uma impressão sensorial, nós a interpretamos corretamente, nós, ou seja, ela é inserida naquele grupo de lembranças ao qual, de acordo com todas as nossas experiências anteriores, ela pertence – desde que a impressão seja forte, clara e duradoura o bastante e tenhamos o tempo necessário a nosso dispor para essa consideração. Quando essas condições não são satisfeitas, nos enganamos quanto ao objeto do qual provém a impressão; formamos uma ilusão com base neste. [...] de natureza semelhantemente indefinida são as impressões que a psique recebe no sono por estímulos externos; com base nestas ela forma ilusões: a impressão desperta um número maior ou menor de imagens mnésicas, e é por meio destas que a impressão recebe seu valor psíquico (FREUD, 2019, p. 53).

A partir do exemplo, o esquecimento que acontece ao despertar dos sonhos como apenas a lembrança de um sonho curto, que apesar de um grande esforço para lembrá-lo tem-se apenas suas lacunas, pode ser, muitas vezes, recuperada por meio da análise, [...] “a partir de um pedaço

que restou podemos encontrar não o sonho – esse não importa muito, afinal –, mas todos os pensamentos oníricos” (FREUD, 2019, p. 567).

O esquecimento do sonho depende muito mais da resistência do que da diferença entre os estados de vigília e de sono, como insistem os estudiosos. A psicanálise afirma que entre o trabalho de interpretação e o pensamento de vigília não há um abismo psíquico, já que os sonhos no campo do inconsciente não são esquecidos, como visto ao compará-los a outras funções psíquicas, como a retenção na memória, e reforça que até mesmo nos sonhos mais bem interpretados há um ponto que permanece obscuro, [...] “pois na interpretação percebemos que ali há um novelo de pensamentos oníricos que não é possível desembaraçar, mas que também não contribui muito para o conteúdo do sonho [...] o ponto que se assenta no desconhecido” (FREUD, 2019, p. 575).

Freud diz que é justamente na interpretação, geralmente inconclusa, que a ramificação se estende a direções emaranhadas na rede do mundo dos pensamentos, ponto em que o desejo18surgiria, como o local mais denso desse tecido. Mas a questão do esquecimento do sonho em estado de vigília dificulta saber sobre o agente principal desta resistência do recordar, como se o estado de vigília apagasse o que se sonhou, ou recordasse apenas fragmentos. Mas, ainda assim, apesar da resistência, há algo que possibilita a formação do sonho, já que durante a noite a resistência é diminuída, possibilitando um “decréscimo” da resistência, permitindo a formação do sonho e reconstituindo sua força plena no despertar. Freud retoma a explicação de que a resistência como a base que reside no inconsciente, teria sua função, em grande parte, no esquecimento (FREUD, 2019, p. 576).

Em nota de rodapé (nota 9 do capítulo sétimo), acrescentada em 1914, Freud cita o filósofo alemão Eduard von Hartmann (1842-1906) que, em 1868, publicou a Filosofia do Inconsciente, editada inúmeras vezes e considerada pelo próprio autor como a base de seus trabalhos posteriores. Freud escreve que Hartmann tem a mesma concepção da representação19, esse importante tema da psicologia, e escreve:

Ao discutir o papel do inconsciente na criação artística, Eduard von Hartmann expressou com palavras claras a lei de associação de ideias orientada por representações com metas inconscientes, mas sem se dar conta da extensão

18 O conceito de desejo descrito por Freud está ligado ao retorno do vínculo estabelecido em que um impulso psíquico tenta investir novamente a imagem mnêmica da percepção e promover a própria percepção, de reproduzir a situação da primeira satisfação. A corrente que, no aparelho psíquico parte do desprazer visando ao prazer, é chamada de desejo (FREUD, 1019, p. 618; 652).

19 O conceito de representação em Freud se estende à sua relação com as pulsões e os afetos, um conceito complexo, um fenômeno cuja função está ligada à estruturação do aparelho psíquico.

dessa lei. Ele visa demonstrar que ‘cada combinação de representações sensoriais, quando não é deixada puramente ao acaso, deve levar a certo objetivo, requer a ajuda inconsciente’ e que o interesse consciente em determinada conexão de pensamentos é um incentivo para o inconsciente descobrir, entre as inúmeras representações possíveis, a mais adequada ao fim. É o inconsciente que seleciona conforme os fins do interesse: e isso vale para a associação de ideias à representação evocadora ou à representação evocada, no sentido da psicologia associativa pura, não pode ser sustentada (FREUD, 2019, p. 578-579).

As associações de representações ou imagens que surgem levam à afirmação de que não há ligação solta demais que não forme a ponte de um pensamento para outro.Sempre que um elemento psíquico é vinculado a outro por meio de uma associação, ainda que superficial e chocante, haverá também uma ligação importante, correta e profunda entre eles. Mesmo sujeita à resistência da censura, não há suspensão das representações com meta20 (FREUD, 2019).

As associações são uma regra da técnica nos estudos da psicanálise e, ainda que possíveis associações superficiais ou profundas, todas estão sob a pressão da censura, de um deslocamento de uma associação normal e séria, para uma superficial, aparentemente absurda. Quando não é possível transitar por vias normais, a censura causa um bloqueio, fazendo com que o caminho percorrido seja realizado por vias mais difíceis, desconfortáveis e complexas, com representações diferentes das quais partem a ligação reprimida. Em consequência deste fato, os pensamentos são então modificados e substituídos (FREUD, 2019, p. 581).

Fica claro para Freud que, ao abandonar as representações com metas conscientes, esse domínio passa para as representações com metas ocultas e as de que as associações com representações superficiais apenas substituem, por deslocamento, as associações mais profundas e reprimidas (FREUD, 1900/2019).

No documento wanessasantanaafonso (páginas 53-55)