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As cores têm um papel fundamental na composição visual. No texto devemos analisá-las, procurando verificar o que representam simbolicamente. A simbologia das cores é conhecida de todos nós, por exemplo, o branco representa paz, espiritualidade, pureza; o vermelho simboliza sangue (vida ou morte), guerra, e é também, ainda hoje, bandeira de regimes políticos; o preto simboliza o luto, a viuvez, a escuridão. Toda essa simbologia tem um significado que é situado culturalmente. No texto, porém, a escolha das cores depende não apenas do contexto cultural e da simbologia, mas, principalmente, do grau de letramento do produtor do texto e está intencionalmente relacionada ao texto verbal.

Com referência ao uso das cores no texto, Taylor (1989, p.3) argumenta que

... não há base para a demarcação física da cor em categorias discretas.

Esse ponto de vista é aceito pelo fato de que as línguas diferem muito consideravelmente, ambos levam em conta o número de termos de cor que possuem e a gama denotacional destes termos15.

15This view is supported by the fact that languages differ very considerably, both whit regard to the number of

Isto é, as cores são as mesmas em qualquer lugar, porém, em cada língua há um número considerável de termos para nomear as cores, termos esses que diferem também quanto ao aspecto denotacional.

Essa vasta gama de cores visíveis constitui um continuum tridimensional, definido pelos parâmetros de comprimento de onda de tonalidade da luz refletida, luminosidade (a quantidade de luz refletida), e saturação (liberdade de diluição com branco).p.316

Essa afirmativa respalda o que diz Cardoso (2008 p. 68/69) com relação à função da cor

como marcador da modalidade naturalista (representação visual) a cor apresenta três escalas; a) cores saturadas – escala que vai da saturação inteira da cor até a ausência total de cores; b) cores diversificadas – escala que vai de uma diversificada série de cores até a monocromia; c)cores modalizadas – escala que vai do uso de diversos tons de uma cor (cores moduladas) até o uso de uma só cor (cores não moduladas).

Essas escalas de cores aparecem nas imagens que compõem o texto multimodal, embora nem sempre recorramos a elas, na análise dos aspectos visuais desses textos.

Na perspectiva de Taylor (1989),

Não há uma gradação de continuidade da cor de um extremo ao outro. Ou seja em qualquer ponto é apenas uma pequena diferença nas cores imediatamente adjacentes a ambos A gradação continua que existe na natureza é representada em um idioma por uma série de categorias discretas p.517

Essas pequenas diferenças nas cores são representadas em cada língua por termos específicos que as identificam. As tonalidades e os diversos matizes de uma cor no texto multimodal são fatores que realizam os contrastes que chamam a atenção do leitor (espectador), em diferentes graus, como explicado no princípio da saliência.

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Isso justifica o caráter distintivo da cor na leitura do texto multimodal, por exemplo, diante da imagem de dois copos com líqüidos de cores distintas, é possível diferenciar o conteúdo de cada copo em função da cor apresentada, como se pode ver nas imagens abaixo: (OLIVEIRA, 2007, p

Revista Saúde, n° 278, outubro 2006, p. 14-16 imagem 218

onde é possível identificar o tipo de suco que cada copo contém, pela cor do próprio suco, comprovando assim o importante papel das cores na leitura e análise do texto multimodal. O texto verbal, neste caso, traz as informações nutricionais de cada suco.

O terceiro princípio de composição apresentado por Kress & van Leeuwen é o framing, (estruturação, enquadramento), que apresentamos a seguir.

3. FRAMING ( ESTRUTURAÇÃO, ENQUADRAMENTO)

Esse princípio apresenta a disposição dos modos semióticos no texto, como fator de composição de significados. Refere-se também à presença ou ausência de recursos estruturais conectando ou desconectando os objetos ou elementos da imagem. Quando essas estruturas ou recursos estão presentes, os elementos são desconectados, visualmente separados de outros, através de espaço vazio entre os elementos, descontinuidade de cor. Quando há ausência dessas estruturas, os elementos são ligados em um fluxo contínuo, através de cores e formas semelhantes, de recursos de enquadramento, vetores.

Com respeito a esse princípio Kress & van Leeuwan (1996, p. 214/215) afirmam

uva morango tomate tangerina couve cenoura

[....] os elementos ou grupos de elementos são também desconectados, separados uns dos outros, ou conectados, todos juntos reunidos. E o framing visual é também uma questão de gradação: os elementos da composição podem estar mais fortemente ou mais fracamente enquadrados. Quanto mais forte o framing de um elemento, mais ele é apresentado como uma unidade separada da informação. .(MOZDZENSK, 2006, p. 33).

O framing é, portanto, responsável por uma estruturação fraca da imagem, quando os seus elementos estão conectados e, quando há a desconexão, dizemos que há uma conexão forte. A presença do framing também indica individualidade, diferenciação, enquanto sua ausência indica, ou enfatiza a identidade grupal. .(MOZDZENSK p. 33).

A imagem que apresentamos a seguir exemplifica o framing. Destacam-se dois planos, o que nos permite perceber que o enfoque da reportagem, pelo destaque da foto em primeiro plano, está nos passageiros prejudicados pela crise da empresa, apesar das promessas e planos anunciados pelo governo e pelos dirigentes da companhia para socorrê-los. A foto mostra um aglomerado de pessoas desnorteadas, sem saber para onde ir ou a quem recorrer. Num segundo plano, ao lado dessa foto está uma outra, de tamanho bem menor, mostrando os aviões parados, estacionados em um outro aeroporto. Essas imagens se destacam, chamam a atenção do leitor que, em primeiro lugar lê o visual, para depois ler o verbal. Dependendo do interesse do leitor, os planos podem se inverter, o que está em primeiro passa a segundo e vice-versa.

Revista Época nº 423, 26/6/2006, p.28 imaem 319

Procuramos mostrar alguns dos principais pontos da Gramática do Design Visual, com destaque para os princípios de composição. Pudemos observar que, à semelhança da

Imagem desconectada

Gramática Tradicional, esses princípios funcionam como regras que se aplicam ou se tenta aplicar à análise de textos considerados multimodais, isto é, têm caráter meramente aplicativo, como demonstram alguns dos autores consultados (Rocha, 2007; Ferraz, 2007; Almeida e Fernandes, 2008; Souza e Aquino, 2008; Cardoso, 2008; Delphino, 2006, entre outros), que em suas análises procuraram mostrar a aplicação dos princípios propostos por Kress & van Leeuwen a textos da mídia, alguns dos quais utilizados em salas de aula de língua portuguesa.

Referindo-se ao funcionamento aplicativo e remetendo a uma certa ingenuidade quanto à análise, BUZATO (2007) faz a seguinte crítica :

Felizmente, outros autores procuram abordar a relação entre o verbal e o visual de forma menos ingênua e mais centrada na heterogeneidade constitutiva dos discursos digitais assim como na sua imbricação com os processos sistêmicos de produção e/ou transformação do social que tais discursos realizam e representam. (p.115).