• Nenhum resultado encontrado

SOCIOECONOMIC ASPECTS AND ENVIRONMENTAL PERCEPTION OF EXTRACTIVE PLANT OF NÍSIA FOREST-RN CITY ABOUT MANGABEIRA

3. Resultados e discussão

3.4. Percepção ambiental dos catadores de mangaba

3.4.1. Importância da mangabeira

A percepção local sobre a importância da mangabeira suscitou diversas respostas conforme Tabela 4. A maioria dos entrevistados atribuiu importância aos benefícios econômicos (97,37%) do extrativismo, tendo em vista que é uma fonte de renda e geração de emprego para muitos deles. Em seguida, destacaram a importância alimentar (34,21%), ambiental (10,53%), medicinal (5,26%) e estética (5,26%). As respostas dos entrevistados quanto à importância da mangabeira, normalmente, envolveram mais de uma categoria temática, como nesse exemplo: “ela dá muita vitamina, ela dá o suco, dá sorvete, dindin,

picolé e dá o dinheiro” (C36, 64 anos). Nas duas comunidades estudadas, foi possível

constatar a prevalência de uma visão antropocêntrica, que segundo Singer (1994) caracteriza- se em uma concepção utilitarista do meio ambiente, tal qual o homem utiliza-se da natureza para melhorar sua qualidade de vida. Tal ação é comprovada em algumas falas:

Representa-me muito bem, porque quando eu não tinha salário e minhas filhas eram todas pequenas, eu paguei até a faculdade com o dinheiro da mangaba. A minha filha hoje é formada, é professora. Eu comprava mangaba, sofria, criei oito filhos, sustentando com o dinheiro da mangaba. Eu comprava mangaba e ia vender, no dia de sábado era sagrado o dinheiro da minha feira, que era o dinheiro da mangaba. (C28, 58 anos).

Ela significou emprego pra nós, porque aqui não temos emprego. Ninguém por aqui, os jovens não tem emprego. E quando é na época da mangaba todo mundo tira mangaba, então é um emprego, todo mundo tem seu dinheiro. (C19, 53 anos).

Vieira & Loiola (2014), ao estudarem a percepção de artesãs que utilizam folhas de carnaúba no município de Parnaíba, Piauí, também constataram a predominância dos valores atribuídos aos benefícios econômicos do extrativismo e 10% incluíram o benefício estético da planta. Em estudos sobre a percepção ambiental e conhecimento de uso de recursos vegetais em reserva agroextrativista de Sergipe, Oliveira (2012) verificou que a mangaba está entre as mais citadas como de grande importância para a manutenção da alimentação familiar e de uso medicinal. Já Cardel et al. (2012) em estudos sobre o uso de plantas e o saber tradicional, constataram a utilização da mangabeira como uma das espécies de interesse medicinal presentes nos quintais das comunidades pesquisadas.

TABELA 4: Percepção dos extrativistas vegetais em relação à importância da mangabeira.

Categorias Citações Frequência

Econômica  “[...] a mangaba é a única coisa de mais renda”.

“É como um alimento de meio de vida, um trabalho, uma

fonte alternativa de renda”. “Ela significou emprego pra nós”.

37

Alimentar  “É de onde a gente faz o suco, que é um suco gostoso”.

“[...] o suco, pra comida, pra gente comer ela... dá muita vitamina, ela dá o suco, dá sorvete, dindin, picolé”.

13

Medicinal  “A casca da mangaba é bom pra diabetes, até a folha da

mangaba se faz o chá e baixa as taxas e a mangaba é muito

bom”.

“Se você levar um corte e tirar o leite da mangaba aí estanca logo”.

“Pra quem tem asma é só tomar a água da casca da mangaba e fica bonzinho”.

02

Ambiental  “A gente sabe que é um produto nosso, nativo e a gente tem

que preservar... se não preservar vai embora”.

“É a natureza botar os frutos dela”.

“É uma planta que não tem as pragas, ela é resistente. A planta que tem leite, a praga não ataca”.

04

Estética  “[...] além de ser uma frutífera muito bonita, se zelar todo

tempo tem mangaba”.

 A mangabeira é muito bonita, aliás, todas são quando botam suas frutas.

Frente a isso, levando-se em consideração que a mangabeira representa grande importância para as populações extrativistas desta região, principalmente por ser responsável pela geração de renda e de outras potencialidades, supõe-se que a planta seja protegida pelos catadores de mangaba da região. De acordo com a percepção local, constatou-se nas falas dos entrevistados a consciência de que a espécie é nativa da região e que dependem desses recursos para sobreviver, além da percepção dos fatores antrópicos e ambientais que afetam negativamente a sua manutenção. Isso é comprovado em alguns discursos: “[...] é, mas as

mangabeiras eles não cortam não.” (C11, 78 anos); “Corta não, mangabeira é ouro.” (C38, 58 anos); “Outro dia fui reclamar para o cara e ele quase que me engoliu, você não tem nada a ver com isso. Não pode, isso é fruteira, isso é da natureza, ninguém pode fazer esse tipo de coisa não.” (C36, 64 anos).

Vale ressaltar ainda que embora haja reconhecimento dos extrativistas em relação aos benefícios socioeconômicos, ambientais e culturais da mangabeira, um dos grandes problemas enfrentados pelos catadores da região é o acesso dificultado às áreas para a efetivação da prática extrativista. Eles relatam que antigamente tinham o acesso livre, porém hoje em dia foi dificultado devido à implantação de cercas e aumento de propriedades privadas na região. Assim, com a privatização das áreas tem aumentado o desmatamento para a construção civil ou para evitar que entrem nas propriedades para coletar mangaba.

Contudo, considerando-se que a maioria não dispõe de terras para plantio de mangaba e dos que têm granjas, poucos conservam a espécie, verifica-se que no caso das comunidades de Timbó e Boa Água, a melhor maneira de proteção desses recursos é subsidiar o seu uso e manejo sustentável, tendo em vista que a coleta da mangaba traz benefícios não só para a conservação do meio ambiente e por permitir geração de renda, mas, sobretudo, para a prática cultural, construída ao longo das gerações.

4. Conclusões

O estudo realizado demostrou que as comunidades locais de Timbó e Boa Água possuem conhecimentos em relação à mangabeira e percebem a redução desses recursos. Percebeu-se a sensibilização das comunidades em relação à diminuição de abundância da espécie na região ao longo dos anos. Ressalta-se ainda a necessidade de incentivos governamentais em desenvolver estratégias de preservação da flora nativa e do ecossistema de Tabuleiros costeiros, tendo em vista a perda de diversidade genética nessas áreas. Além disso, foi possível constatar que embora a mangabeira esteja enquadrada com alto valor de uso e represente grande potencial para a economia local, é necessário estabelecer estratégias de

sustentabilidade criando medidas que visem à melhoria das condições de vida das populações extrativistas e contribua para a conservação da espécie.

Com base nos aspectos socioeconômicos e dados de produção da mangaba levantados nesta pesquisa, conclui-se que a prática extrativista representa importante contribuição por permitir geração de renda as populações locais. Percebeu-se que os impactos negativos provenientes da ação antrópica e extrativismo exploratório são pontos críticos em relação à existência das mangabeiras, tendo em vista a redução das áreas remanescentes, e consequentemente, para a continuidade do ciclo dessa cultura. Nesse sentido, destaca-se a necessidade de maior atenção do poder público à proteção dessas áreas, bem como incentivos à utilização racional dos recursos, permitindo que populações locais possam utilizá-los de forma que estejam disponíveis para presentes e futuras gerações.

Portanto, faz-se necessário que haja maior envolvimento tanto dos atores sociais envolvidas nesse processo como de políticas públicas eficazes em buscar alternativas que contribuam para o desenvolvimento sustentável das comunidades extrativistas. Tendo em vista a isso, uma alternativa seria a criação de cooperativas, pois possibilitaria uma mudança na qualidade de vida das famílias e do meio ambiente, beneficiando um número significativo de pessoas que vivem do extrativismo da mangaba e o fortalecimento do desenvolvimento local. Além disso, ressalta-se a necessidade de criação de uma área de reserva extrativista para a conservação da espécie.

Por fim, esta pesquisa poderá constituir-se em um importante subsidio para estratégias de conservação da espécie e proteção do meio ambiente, podendo auxiliar em futuros trabalhos de manejo e uso sustentado da espécie na região de Nísia Floresta- RN, tendo em vista ser um recurso de grande importância socioeconômica, ambiental e cultural.

Agradecimentos

Aos moradores das Comunidades de Timbó e Boa Água que nos acolheram e colaboraram com nossa pesquisa e a todos que direta ou indiretamente nos ajudaram na conclusão deste trabalho. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa de pesquisa a primeira autora.

Referências

Andrade, A. J. P. de; Silva, N. M. da; Souza, C. R. de. As percepções sobre as variações e mudanças climáticas e as estratégias de adaptação dos agricultores familiares do Seridó potiguar. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 31, p. 77-96, ago. 2014.

Albuquerque, U. P. de; Lucena, R. F. P.; Cunha, L.V. F. C. Métodos e Técnicas na Pesquisa

Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, Ed. 3º, 2010.

Boni, V.; Quaresma, S. J. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC, vol. 2, n. 1, p. 68-80, 2005.

Cardel, L. M. P. S. et al. O uso das plantas e o saber tradicional em três comunidades ribeirinhas do rio São Francisco. Revista Cadernos de Ciências Sociais da UFRPE, p. 128-

151, 2012.

Campbell, R. J. South American fruits deserving further attention. In: JANICK, J. (Ed.)

Progress in new crops. Arlington: ASHS Press, 1996, p.431-439.

Combessi, J. C. O método em sociologia o que é, e como se faz. São Paulo, Ed. Loyola, 2004. Diegues, A. C. S. O surgimento do movimento ambientalista para a criação de áreas naturais protegidas nos Estados Unidos e suas bases ideológicas; Da criação à exportação do modelo de parques nacionais norte-americanos. In: O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo: HUCITEC, p. 23-38, 2001.

Diegues, A. C. S; Nogara, P. J. O nosso lugar virou Parque: Estudo sócioambiental do Soco

de Mamanguá – Parati, Rio de Janeiro. São Paulo: Hucitec – Núcleo de Apoio à pesquisa

sobre populações humanas e áreas úmidas brasileiras/USP, 2005.

Faggionato, S. Percepção ambiental. In: SANDRA FAGGIONATO. 2009. (Org.) Disponível em: < http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt4.html>. Acesso em: 14 abr. 2016. Fernandes, H. J. C. Etnografia visual das mangabeiras nas matas do tabuleiro costeiro. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, 2009.

Fontanella, B. J. B.; Ricas J.; Turato, E. R. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cadernos de Saúde Pública, v. 24, n.1, 17-27, 2008.

Franco, A. de. Porque precisamos de desenvolvimento local integrado e sustentável. 2ª ed. Brasília/DF: Millennium, 2000.

Holanda, F. S. R. et al. Percepção dos ribeirinhos sobre a erosão marginal e a retirada da mata ciliar do rio São Francisco no seu baixo curso. RA´EGA, v. 22, p. 219-237, 2011.

Hora, N. N. da et al. Saberes tradicionais e conservação da biodiversidade: usos, fazeres e vivência dos agricultores de uma comunidade de Ananindeua – PA. Redes (St. Cruz Sul, Online), v. 20, n. 2, p. 308-335, 2015.

Instituto de Defesa do Meio Ambiente-IDEMA. Perfil do seu município: Nísia Floresta. 2013.

Disponível em:<

http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/idema/DOC/DOC000000000016676.PDF>.

Jesus, S. M. O Relatório do projeto produção de saberes e práticas de trabalho das catadoras

de mangaba. Universidade Federal de Sergipe. Financiamento CNPq. 43.p. São Cristóvão,

Moreira, D. A. O Método Fenomenológico na Pesquisa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

Mota, D. M. da; Silva Júnior, J. F. da; Schmitz, H. Os catadores de mangaba e a conservação da biodiversidade no território sul-sergipano. In: XLIII Congresso Brasileiro de Economia e

Sociologia Rural, 2005, Ribeirão Preto. Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no

Sistema Agroindustrial, 2005.

Mota, D. M. da.; Santos, J. V. dos. Populações tradicionais e conservação dos remanescentes de mangabeira na Barra dos Coqueiros/Sergipe. In: III Congresso Brasileiro de Agroecologia, 3, 2005. Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2005.

Mota, D. M. da; Santos, J. V. dos. Uso e conservação dos remanescentes de mangabeira por populações extrativistas em Barra dos Coqueiros, Estado de Sergipe. Acta Sci. Human Soc.

Sci. Maringá, v. 30, n. 2, p. 173-180, 2008.

Mota, D. M. da et al. Disputas pelo acesso aos recursos naturais: o dilema das mulheres catadoras de mangaba em Sergipe. In: 33º Encontro Nacional da ANPOCS, 2009, Caxambu. 33º Encontro Nacional da ANPOCS. Caxambu: ANPOCS, 2009.

Nascimento, R. S. M.; Cardoso, J. A.; Cocozza, F. D. M. Caracterização física e físico- química de frutos de mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) no oeste da Bahia. R. Bras.

Eng. Agríc. Ambiental, v.18, n.8, p.856–860, 2014.

Oliveira, D. M. Percepção, conhecimento e uso de recursos vegetais no assentamento

agroextrativista São Sebastião, Pirambu, Sergipe. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2012. Okamoto, J. Percepção ambiental e comportamento. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002. Perfeito, D. G. A. et al. Caracterização de frutos de mangabas (Hancornia speciosa Gomes) e estudo de processos de extração da polpa. Revista de Agricultura Neotropical, Cassilândia- MS, v. 2, n. 3, p. 1-7, 2015.

Pereira, B. E.; Diegues, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade de conservação da natureza: uma reflexão sobre a perspectiva da etnoconservação.

Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 37-50, 2010.

Rosa, L. G.; Silva, M. M. P. da. Percepção ambiental de educandos de uma escola do ensino fundamental. In: VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Vitória- ES, Brasil, 2002.

Santos, J. V. dos. 103 f. O papel das mulheres na conservação das áreas remanescentes de

mangabeiras (Hancornia speciosa Gomes) em Sergipe. Dissertação (Mestrado em

Agroecossistemas). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007.

Santos, S. S. C. dos. Conservação versus conflitos socioambientais (comunidade Jatobá) no

futuro Parque Estadual das Dunas: Barra dos Coqueiros, Sergipe. Dissertação (Mestrado em

Santos, A. da S. et al. Divisão sexual do trabalho e resistência do extrativismo na sociedade atual, um estudo no assentamento São Sebastião/SE. Anais... In: Resumos do VII Congresso Brasileiro de Agroecologia, Fortaleza/CE, 2011.

Saraiva, R. M.; Jesus, S. M. S. A. de; Silva, A. S. da. As catadoras de mangaba e o seu papel

no contexto da sociedade sergipana. In: VI Colóquio Internacional “Educação e

contemporaneidade”, São Cristóvão - SE, 2012.

Singer, P. Ética prática. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

Tuan, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980, 288 p.

Vargas, M. C. et. al. Água & Cidadania: percepção social dos problemas de quantidade,

qualidade e custo dos recursos hídricos em duas bacias hidrográficas do interior paulista. In:

Anais do 1º Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, Indaiatuba – SP, 2002.

Vieira, I. R.; Loiola, M. I. B. Percepção ambiental das artesãs que usam as folhas de carnaúba (Copernicia prunifera H. E. Moore, Arecaceae) na Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, Piauí, Brasil. Sociedade & Natureza, Uberlândia, v.26, n. 1, p.63-76, 2014.

Zampieron, S. L. M.; Fagionato, S.; Ruffino, P. H. P. Ambiente, Representação Social e Percepção. In: O estudo de bacias hidrográficas: uma estratégia para educação ambiental. Schiel, D. et al. (orgs./eds.). São Carlos: Ed. Rima. 2ª ed. 2003.

Whyte, A. V. T. Guidelines for fields studies in Environmental Perception. Paris: UNESCO/MAB, 1977.