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Parte II – Brincadeiras no espaço exterior e aprendizagens de Geologia: um estudo na

1. Revisão da literatura

1.1. Importância de brincar para o desenvolvimento da criança

Brincar é um direito e deve ser a atividade principal do dia a dia enquanto se é criança, pois quando esta brinca sente-se bem e feliz. Para além de sentir bem-estar ao brincar, a criança descobre o mundo que a rodeia, aprende e desenvolve-se.

Na Declaração dos Direitos da Criança, a Organização das Nações Unidas (1959) reconhece que “a criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito” (princípio 7.º), que é o primeiro direito da criança. Em 1989, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconhece que brincar é um direito fundamental no texto de CDE.

Os Estados Partes reconhecem à criança o direito ao repouso e aos tempos livres, o direito de participar em jogos e atividades recreativas próprias da sua idade e de participar livremente na vida cultural e artística. (artigo 31.º, Convenção dos Direitos da Criança, 1989).

Torna-se, pois, essencial compreender a importância que merece ser atribuída ao brincar no desenvolvimento da criança e se a mesma é validada nas instituições de educação, principalmente, ao nível pré-escolar (Rosa, 2013).

Brincar é importante para a criança, pois como refere Ferland (2005), “brincar é um admirável motor de desenvolvimento da criança”. Este autor refere, ainda, que o brincar contempla um conjunto de atividades caracterizadas pela diversão e pelo prazer, que se perpetuam de geração em geração. Ao brincar a criança aprende as regras, os valores e os costumes que regem o seu ambiente, ou seja, descobre o mundo em que vive (Rosa, 2013). Thomas e Harding (2011) referem que através do brincar a criança encontra estímulos, bem-estar e felicidade, que promovem o crescimento físico, cognitivo e emocional. Brincar é, antes de mais, encontrar o ambiente que rodeia a criança. Durante a brincadeira a criança tem a oportunidade de encontrar e delimitar as fronteiras do seu corpo. Ao manipular os diversos objetos a criança experimenta as várias possibilidades dos mesmos e usa-os de todas as formas possíveis. Brincar é uma das atividades mais importantes na formação global das crianças (Ferland, 2005).

Segundo Almeida (1987), o brincar corresponde a um impulso da criança e satisfaz uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta naturalmente uma

26 tendência lúdica. O brincar é algo intrínseco à criança e por não ser uma atividade sistematizada e estruturada, acaba por ser a própria expressão de vida da criança. Esta é a linha de pensamento de Piaget (1983), que defende que a criança realiza a sua aprendizagem pelo contacto que estabelece com o seu mundo exterior através do meio familiar, escolar e social. Valorizando não apenas o meio ou a pessoa na construção do conhecimento, o autor sublinha o papel interativo entre ambos.

Cada criança possui as suas distintas características e o seu ritmo de desenvolvimento, no entanto, todas as crianças brincam, em conformidade com a sua cultura e nível de desenvolvimento. Deste modo, embora hajam formas correspondentes ao período de desenvolvimento da criança, o brincar não é sempre realizado da mesma maneira, pois este está subjugado à individualidade de cada criança, às suas vivências, à cultura, ao meio onde vive, aos objetos que dispõe para brincar, entre muitos outros aspetos (Vital, 2012).

O brincar para a criança é indispensável, essencial e importante como comer ou dormir e por isso é fundamental ter-se em conta a satisfação destas e de outras necessidades básicas. Hoje em dia, constantemente, ouvem-se críticas de adultos referindo “falta” de tempo para estas ocasiões de brincar tanto dentro como fora da escola ou que o brincar serve apenas para preencher o tempo. Contudo, o brincar não poderá ser considerado como um simples divertimento ou diversão, mas como uma aprendizagem para a vida adulta (Solé, 1980).

Brincar é não só essencial para o desenvolvimento saudável do cérebro como possibilita que as crianças usem a sua criatividade enquanto desenvolvem a sua imaginação, destreza e força física, cognitiva e emocional (Ginsburg, 2007).

Na perspetiva de Piaget (1995), o brincar é visto como o princípio obrigatório das atividades intelectuais da criança tornando-se, assim, imprescindível à prática educativa. Através do brincar as crianças podem criar e explorar um mundo que elas controlem, superando os seus medos e desenvolvendo novas capacidades que levam ao aumento da sua confiança e resiliência, competências estas que serão muito úteis para que consigam encarar desafios no futuro (Ginsburg, 2007).

Brincar é uma atividade e um direito importante para as crianças, pois estas têm direito a experienciar situações de exploração ativa, variadas e ao seu próprio nível, têm direito a experienciar situações de descoberta e de conquista pessoal, por ensaio e erro, sem medo de errar, têm direito a vivenciar situações suscitadoras de imaginação e criatividade, têm direito a experienciar situações cognitivamente significativas e relevantes, têm direito a experienciar situações que as disponham bem, afetiva e

27 socialmente, têm direito a experienciar situações de implicação/envolvimento ativo em atividades potenciadoras de aprendizagem (Portugal, 2014).

No seguimento de todas estas perspetivas e face ao potencial de desenvolvimento, brincar é uma das atividades e dos direitos mais importantes para a criança. É esta atividade que alarga os horizontes, que abarca as mais variadas potencialidades e que estrutura o pensamento da criança, que a ajuda aprender e a resolver problemas. É através do brincar que a criança cria laços de amizade, que interage com os outros, que se fantasia. É ao brincar que a criança enfrenta os desafios, as dificuldades, os riscos e as frustrações, é onde todas as áreas do conhecimento se ligam e se constrói o bolo do saber. É a brincar que a criança sente o que é a liberdade sem saber o que a palavra significa, é o que as torna autónomas, atentas, curiosas, criativas, imaginativas, perspicazes, felizes. “Brincar dá alma! E dá sabedoria. E abre, todos os dias, uma avenida onde o horizonte fica sempre mais além” (Sá, 2015).