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CAPÍTULO I – I NTRODUÇÃO

1.1. Caracterização geral do estudo

1.1.3. Importância do estudo – Justificativa

Aquele que é um verdadeiro professor toma a sério somente as coisas que estão relacionadas com os seus estudantes – inclusive a si mesmo.

Nietzsche

Tendo em vista que o aluno é o sujeito da educação e dos professores, vale a pena ter em consideração, o que Morin (1996) refere acerca do sujeito:

Em quase todas as línguas, existe uma primeira pessoa do singular; mas também é uma evidência à reflexão, tal como indicou Descartes: se duvido, não posso duvidar de que duvido, portanto penso, ou seja, sou eu quem pensa. É nesse nível que aparece o sujeito. (p.45)

É, portanto, de extrema importância saber quem são os estudantes em sala de aula, os sujeitos, para que o ensino seja de certa forma adaptado para alcançá-los em sua linguagem e na necessidade de desenvolver as competências necessárias.

Os estudantes são o elemento mais importante da realidade académica; e é função da universidade cumprir a satisfação dos seus interesses e expectativas pessoais (J. Oliveira, 2006). Assim, facilmente se pode admitir que o conhecimento acerca do “perfil” do universitário, seja ele da universidade privada ou pública, passa a ser cada vez mais necessário, tendo-se em vista os objetivos de caráter profissional e institucional (Garrido & Prada, 2016). E como dizem L. Almeida e Castro (2017), conhecer as características dos

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estudantes torna-se importante para a definição de políticas de acolhimento e elaboração de currículos, a adequação das práticas docentes e a criação de serviços de apoio aos estudantes.

Um conceito de educação como objeto epistêmico próprio, o educando. É ele que deve ser o principal beneficiado pela educação, respeitado como ser digno, único e insubstituível. A meta educacional deve estar concentrada nele. Se a meta da intervenção é algo externo a ele, mesmo com a costumeira promessa de um suposto benefício futuro para ele, não se trata mais de um processo educacional. A educação se tornaria braço prolongado de interesses políticos, económicos, sociais ou ideológicos. (Rohr, 2013, p.156)

Há um conjunto significativo de instituições que alertam, de diferentes formas, para a importância de se ter em conta a formação integral do aluno.

Como estabelece a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2002), “os estudantes não são o objecto da educação mas sujeitos com direito a uma educação que potencie ao máximo o seu desenvolvimento como pessoas, e lhes permita inserir-se e influir na sociedade em que estão imersos” (p.10). Não obstante, o Projeto Regional da UNESCO sustenta que “persiste uma cultura muito instalada que considera os estudantes como meros receptores e reprodutores de informação e não como sujeitos activos na construção de conhecimentos” (p.10). Como é descrito claramente sobre a importância de se estudar este perfil do aluno, “a educação – afirma a UNESCO - deve ter como centro os estudantes e considerá-los como protagonistas da sua aprendizagem e não como receptores do ensino” (p.15).

Dada esta declaração pode-se ver a importância de um estudo que contribua para a identificação do perfil do aluno, bem como sua relação com uma educação que seja plena para um real aprendizado, descrita neste caso como a formação integral.

As exigências de qualificação profissional e de aprendizagem contínua (D. Soares, 2000; Jenschke, 2003), somadas à expansão e à democratização do acesso ao ensino superior no Brasil (Ministério da Educação, 2007) têm estimulado o ingresso de um número cada vez mais significativo de estudantes nas universidades. Como consequência disso, constata-se a heterogeneidade dos estudantes universitários em termos de idade, classe social e procedência geográfica (Macedo et al., 2005; M. Soares, 2002; N. Zago, 2006). Ao mesmo tempo em que se observa a ampliação do sistema de educação superior, verifica-se a necessidade de apoio e orientação aos universitários no decorrer de seus anos de formação a fim de facilitar sua aprendizagem, sucesso escolar e desenvolvimento psicossocial (L. Almeida & Soares, 2004). Por toda esta heterogeneidade é necessário conhecer e identificar quem são os estudantes que

a universidade recebe, bem como suas expectativas e ao mesmo tempo qual o perfil que a própria universidade se propõe a formar.

Segundo o Ministério da Ciência e do Ensino Superior (MCES, 2005a):

A mobilidade de docentes e de estudantes terá que atingir níveis que permitam a visibilidade deste processo a nível europeu e a nível mundial. A mobilidade constitui, por si só, uma fonte de aprendizagem; o contacto com regiões diversas e com as diferentes realidades linguísticas, culturais, sociais e religiosas representa um contributo decisivo para a dimensão europeia, para a educação para a cidadania e para o desenvolvimento. (p.15)

Vê-se aqui um respaldo e alusão à uma formação que seja completa, ou seja, que contemple todas as dimensões e as diferentes realidades como descritas acima, pode-se interpretar que esta fonte de aprendizagem mencionada, nada mais é do que uma formação integral.

Com a implementação das medidas associadas ao Tratado de Bolonha nos vários países da União Europeia, uma vez que se propõe um ensino centrado no aluno e se assume a formação académica, menos no sentido da simples aquisição de informação, e mais como apropriação e desenvolvimento de competências (L. Almeida et al., 2009).

No processo de Bolonha, pode-se encontrar respaldo nos European Credit Transfer System ECTS II - Portugal, direcionados ao perfil do aluno e desenvolvimento de uma educação Integral.

O ECTS surge como novo paradigma: i) na organização do ensino centrado no aluno e nos objetivos de formação; ii) na passagem de um sistema curricular tradicional baseado na “justaposição” de conhecimentos para um sistema centrado no desenvolvimento de áreas curriculares alargadas, desenhadas em função dos objetivos de formação a prosseguir. (MCES, 2005b, p.27)

Segundo a mesma fonte, o ECTS III., “…propõe mudanças ao nível de Metodologia de aprendizagem mais ativa e participativa, Capacidades e competências horizontais: aprender a pensar, aprender a aprender, aprender a ensinar” (p.27).

Encontra-se também respaldo de justificação para o presente estudo ao se analisar o processo de Bolonha vigente, onde encontramos a menção de áreas curriculares alargadas, visando uma formação que se pode ler como uma educação que contemple o todo do aluno, assim como o complemento dos ECTS dizem que visam o desenvolvimento de competências e as questões dos pilares da educação no aprender a ser, pensar, aprender, ensinar como Edgar Morin (2001), já descrevia nos sete “saberes necessários para a educação do século XXI”, e estes

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pilares estão directamente ligados a uma formação integral, ou seja, visando o desenvolvimento harmónico do aluno.

Por sua vez, o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE, 2017a) português, salienta a relevância da temática “Perfil dos estudantes para o século XXI”, presentes em estudos, pareceres, recomendações e publicações, a nível nacional e internacional, ao longo das últimas três décadas e principalmente no período recorrente após a viragem para o século XXI.

No artigo 11º da Lei n.º 49/2005, de 30 de agosto, Lei de bases do ensino educativo para Portugal, encontramos dentre os objetivos propostos para o ensino superior, respaldo para um ensino que valorize o aluno como um ser completo, quando nos objetivos é mencionado as diferentes áreas que se pretende desenvolver no aluno, bem como o entendimento do homem e sendo assim, para se formar é necessário uma identificação de quem é o seu discente, ou seja, o perfil.

Objetivos do ensino superior:

a) Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e empreendedor, bem como do pensamento reflexivo;

b) Formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em sectores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade, e colaborar na sua formação contínua;

c) Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, das humanidades e das artes, e a criação e difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que se integra;

d) Promover o espírito crítico e a liberdade de expressão e de investigação.

Na Lei de Directrizes e Bases da Educação (LDBE) no Brasil - Dos Princípios e Fins da Educação Nacional, artigo 2º, “A educação, dever da família e do Estado”, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Neste caso, é claramente mencionado de maneira explícita o intuito de se formar o discente em seu desenvolvimento pleno, ou seja, um respaldo muito claro a uma formação integral. E quanto aos objetivos propostos para o ensino superior, pode se identificar que são os mesmos já mencionados anteriormente na legislação de Portugal, tendo portanto também o mesmo respaldo a uma educação que contemple a formação integral e a identificação e valorização do perfil do aluno.

Da educação superior (artigo 43º), a educação superior tem por finalidade:

I- estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

II- formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

III- incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive.

Para além disso, este estudo torna-se relevante tendo em consideração que todo ano Portugal recebe muitos estudantes brasileiros, segundo S. Silva (2016), nos cinco anos lectivos mais recentes para os quais existem dados (2009/10 a 2013/14), o total de estudantes não nacionais inscritos no ensino superior passou de 19.425 para quase 34 mil. Um aumento de 74%. E dentre as nacionalidade com mais estudantes inscritos ao abrigo do Estatuto do Estudante Internacional (2014/2015) o Brasil lidera o ranking segundo a Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), IES, e segundo o Ministério da Educação (2017) português, há universidades em Portugal que obtem grande crescimento de estudantes brasileiros, pois estão a aproveitar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) do aluno no Brasil e dispensando os exames de entrada, e desde 2014, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) Anísio Teixeira tem acordo firmado com universidades portuguesas (Coimbra e Algarve) de aproveitamento dos resultados do exame para ingresso em suas graduações. No mesmo sentido, segundo F. Fontes (2017), a maior universidade brasileira fora do Brasil é Universidade de Coimbra, ou seja, entre estudantes e investigadores, estudam e trabalham na universidade de Coimbra 2.123 brasileiros, perfazem quase 10% da academia coimbrã e os brasileiros ocupam a maior fatia das 86 nacionalidades e no ano de 2015 havia

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um total de 116.271 brasileiros em Portugal, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty, 2015).

Olhando pela perspectiva do outro lado do oceano, no ano de 2012, o aumento do número de estudantes portugueses nas universidades brasileiras foi de 214%, o Brasil concedeu 3.079 vistos a estudantes portugueses entre 2011 e 2013, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Vilhena, 2013). Os residentes nascidos em Portugal constituem a maior população imigrada no Brasil. No Brasil, os portugueses representam cerca de um quarto (23%) do total de residentes no país nascidos no estrangeiro. Em 2013, as entradas de portugueses representaram 5% das entradas totais no Brasil, o que fez desta emigração a quinta maior para aquele país (Gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, 2014). Em 2015, foram 1.294 entradas de portugueses no Brasil, com um total de 670.760 portugueses no Brasil com registro consular (Observatório da Emigração, 2016).

Estes dados, devido a constante mobilidade entre os dois países, também justificam o interesse pelo estudo do perfil universitário entre uma amostra de uma IES de Portugal e do Brasil.

Este estudo centra-se na análise do perfil universitário na dimensão integral (sociodemográfico, estilo de vida, competências de estudos e cosmovisão) dos estudantes de 10 cursos das instituições universitárias em estudo. A ideia subjacente é a de que identificando os resultados das dimensões relevantes na área integral do ser, poderemos ter um respaldo/ subsídios/suporte visando uma possível adequação da educação a fim de que seja equilibrada respeitando todo o ser do aluno que entra na universidade. Isto pode proporcionar:

Aos estudantes: uma formação harmônica/integral;

Aos professores; um parâmetro, um caminho para a possivel integração nos conteúdos; À comunidade: uma devolutiva do cidadão que se pretende formar para a sociedade.

À Universidade: um panorama de quem são seus clientes-sujeitos da educação, na qual todas as ações da instituição são direcionadas.

Aos países: informação sobre os perfis universitários com suas semelhanças e diferenças, fator importante para a mobilidade e globalização atual, repeitando o que dizem as leis educacionais dos países.

E, desta forma, colaborando para uma academia mais informada, fator de inclusão para a sociedade da informação e do conhecimento.

O que referimos justifica o que pensamos para a realização desta investigação. Para além disso, não existem muitos estudos sobre esta temática em Portugal e no Brasil. No processo de revisão bibliográfica, ao submeter palavras e expressões-chave, como Perfil Universitário, Formação Integral, em motores de busca como Portal Capes, ERIC, Scielo e também após levantamentos mais detalhados em periódicos especializados em Ciências da Educação, Educação e Filosofia, B-On, Authenticus e Repositórios Universitários, não foram obtidos muitos resultados sobre a relação desse conceito, mas sim do perfil docente ou apenas do perfil dos estudantes do 1º ano em relação às vivências e adaptação académica. Alguns poucos artigos encontrados em anais de eventos ou livros, demonstram o caráter inovador deste projeto. Dada esta declaração pode-se ver a importância de um estudo que contribua para a identificação do perfil do aluno, bem como sua relação com uma educação que seja plena para um real aprendizado.

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