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A importância dos códigos garbage para a magnitude da mortalidade por causas

externas no Brasil, 2017

Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE/DASNT/SVS).*

Em 2017, 12% (158.658) dos óbitos constantes do Sistema de informações sobre Mortalidade foram registrados como causas externas no Brasil. Vítimas de lesões de transporte e acidentes foram 37,5% (58,7 mil) das mortes, enquanto violências 46,8% (73,5 mil).

Após investigação dos óbitos por causas externas, as equipes de vigilância de óbitos nos municípios conseguiram reduzir de 33,9 para 21,5 mil (13,6%) os códigos inespecíficos ou indeterminados em 2017.

Os CG de causas externas foram reduzidos para menos da metade nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Distrito Federal, Alagoas e Amapá (Figura 1).

FIGURA 1 Percentual de óbitos por causas externas classificados como códigos garbage, antes e após investigação, segundo unidade federada, Brasil, 2017

Fonte: CGIAE/SVS/Ministério da Saúde.

AP AL

% após a investigação

Variação do % antes e após a investigação

% antes da investigação

O percentual de CG apresentou-se acima da média nacional entre mulheres, nos grupos etários maiores de 39 anos e nos estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo-SP e Rio Janeiro-RJ (figuras 1-3).

As mortes por violências foram mais frequentes entre jovens e adultos de 15 a 49 anos, enquanto nas demais faixas de idade foram as lesões de transporte e acidentes (Figura 2). Na faixa etária de 15 a 19 anos,

houve 3,5 mortes violentas para cada morte por lesões decorrente de transporte e acidente. Entre os maiores de 80 anos, foram 18,4 mortes por lesões de transporte e acidentes para cada morte por violência.

As mortes acidentais não intencionais e os homicídios apresentaram perfis inversos entre os sexos: as causas acidentais não intencionais representaram 35% (10 mil) das mortes em mulheres e os homicídios 43,9% (57,1 mil) dos óbitos em homens. (Figura 3).

Figura 2 Distribuição percentual de mortalidade segundo faixa etária e grandes grupos de causas externas, Brasil, 2017

Fonte: CGIAE/SVS/Ministério da Saúde.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

<5 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 ou +

lesões de transporte e acidentes violências outras causas externas códigos garbage

24

Figura 3 Distribuição percentual de mortalidade segundo sexo e causas externas específicas, Brasil, 2017 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

feminino masculino

lesões por transporte acidentais não intencionais homicidios suicídios outras causas externas códigos garbage

Fonte: CGIAE/SVS/Ministério da Saúde.

A magnitude das taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) varia de acordo com o tipo de causa externa e a unidade federada (Tabela 1). As maiores taxas por lesões de transporte foram encontradas em Tocantins (31,9) e Piauí (28,4), enquanto as taxas por acidentes não intencionais, entre elas as quedas, foram mais elevadas em Roraima (26,7) e Espírito Santo (19,5). As maiores taxas de homicídio foram

encontradas no Rio Grande do Norte (62,9) e Acre (60,4). No entanto, as taxas de suicídio foram maiores no Rio Grande do Sul (11,4) e Santa Catarina (10,4). Por sua vez, as taxas por causas externas classificadas com CG apresentaram maior magnitude nos estados do Rio de Janeiro (19,9) e Bahia (14,4). As taxas de mortalidade por causas externas classificadas com CG foram a segunda causa nos estados do RJ, BA, RN e SP.

Tabela 1 Taxa padronizada* de mortalidade por causas externas específicas e códigos garbage, segundo unidades federadas, Brasil, 2017

uF lesões transporte acidentes não

intencionais Homicídios Suicídios Códigos garbage

Rio de Janeiro 8,1 12,3 29,3 3,5 19,9

Bahia 11,6 11,2 44,9 4,3 14,4

Rio Grande do Norte 10,6 8,0 62,9 5,4 13,2

Ceará 14,5 11,7 58,8 7,5 13,1

Minas Gerais 14,5 10,9 20,1 7,3 10,3

Roraima 26,1 26,7 43,6 10,4 10,0

Sao Paulo 9,1 10,4 9,0 5,2 9,9

brasil 14,0 12,5 30,0 6,2 9,6

Tocantins 31,9 18,3 33,7 8,2 9,4

Mato Grosso 24,5 18,4 30,8 6,1 9,1

Pernambuco 16,4 14,5 57,1 4,9 8,2

Maranhão 17,0 11,8 30,5 5,1 8,1

Pará 14,2 13,0 51,0 3,9 8,1

Espirito Santo 20,5 19,5 39,6 5,3 7,2

Rondônia 23,9 16,9 30,0 7,1 7,0

Paraiba 16,6 11,6 33,9 6,6 6,9

Goiás 19,8 17,2 40,7 7,6 6,8

Acre 10,9 14,8 60,4 8,5 6,4

Paraná 19,7 15,0 23,5 7,0 6,1

Amazonas 10,9 14,3 40,1 5,7 5,7

Piauí 28,4 10,2 18,7 10,3 5,4

Sergipe 17,6 17,1 56,4 6,0 4,9

Mato Grosso do Sul 20,0 15,2 22,7 10,2 4,8

Rio Grande do Sul 14,2 12,1 29,9 11,4 3,7

Santa Catarina 19,7 13,6 14,6 10,4 3,7

Distrito Federal 10,2 13,4 20,0 5,9 3,6

Alagoas 18,6 15,8 53,9 3,4 1,5

Amapá 12,9 13,3 40,0 6,5 0,8

Fonte: CGIAE/SVS/Ministério da Saúde e IBGE

*Taxa padronizada por 100 mil; população padrão Brasil 2010.

Os indicadores de causa de morte refletirão melhor a realidade se forem baseados em dados qualificados.

Caso contrário, nos oferecerão uma visão parcial e limitada do problema com limitado valor para políticas e planejamento de saúde pública que requerem informações precisas da causa básica de morte.5 A emissão de declarações de óbitos por causas externas classificadas com CG sobretudo pelos

da morte.6 Observa-se que o CG de causa externa está presente em todos os estados, mas afeta mais determinados estados e grupos populacionais.7 A investigação de óbito tem esclarecido a causa básica de parte dos eventos, reduzindo o CG em -37% no Brasil e pela metade o número de estados com mais de 10%

de CG em 2017. Ainda assim, permanece um volume

26 segunda maior taxa de mortalidade entre os acidentes e violências, ficando à frente das lesões de trânsito, dos acidentes não intencionais e do suicídio.

A qualidade dos dados de causas externas demanda intervenções intersetoriais para a melhoraria do registro das causas de morte emitidas pelos IML.8 Observa-se a necessidade de diálogo sobre as experiências e o estabelecimento de recomendações para a atuação conjunta da saúde e do IML nos estados. A promoção de diálogo institucional entre a saúde e a justiça nos processos decisórios de vigilância de óbitos por causas externas pode constituir-se em incentivo na direção da formulação de uma política nacional intersetorial de registro qualificado da morte por acidentes e violências.

Referências

1. Dias RIdSC, Barreto JOM, Vanni T, Candido AMSC, Moraes LH, Gomes MAR. Estratégias para estimular o uso de evidências científicas na tomada de decisão.

Cadernos Saúde Coletiva. 2015;23(3):316-22.

2. Murray CJ, Lopez AD. Mortality by cause for eight regions of the world: Global Burden of Disease Study.

1997;1(9061):1269-76.

3. L M, N R, AD L. Redefining ‘garbage codes’ for public health policy: Report on the expert group meeting, 27–28 February 2017. Melbourne, Australia: University of Melbourne; 2018.

4. Mortality GBD, Causes of Death C. Global, regional, and national life expectancy, all-cause mortality, and cause-specific mortality for 249 causes of death, 1980-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015. Lancet. 2016;388(10053):1459-544.

5. Delaney R, Karpati A. Fortalecimento do uso de dados de mortalidade na tomada de decisão de políticas públicas de saúde. Rev. bras. epidemiol.  [Internet].

2019  [cited  2019  Dec 11] ;  22 ( Suppl 3 ): e190019.

6. Lima RB, Frederes A, Marinho MF, Cunha CC, Adair T, França EB. Investigation of garbage code deaths to improve the quality of cause-of-death in Brazil:

results from a pilot study. Rev. bras. epidemiol. 

[Internet]. 2019 [cited  2019 Dec  11] ;  22 (Suppl 3):

e19004.supl.3.

7. Soares Filho AM, Vasconcelos CH, Nóbrega AA, Pinto IV, Merchan-Hamann E, Ishitani L et al. Melhoria da classificação das causas externas inespecíficas de mortalidade baseada na investigação do óbito no Brasil em 2017. Rev. bras. epidemiol.  [Internet]. 2019 [cited  2019 Dec  11] ;  22( Suppl 3 ): e190011. supl.3.

8. Marinho Maria Fatima. Como melhorar a qualidade da informação sobre mortalidade? Rev. bras.

epidemiol. [Internet]. 2019 [cited  2019 Dec 11] ; 22 (Suppl 3 ): e190017.

*Coordenação Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE/DASNT/SVS): Eduardo Marques Macário, Giovanny Vinícius Araújo de França, Valdelaine E. M de Araújo, Raquel Barbosa de Lima, Adauto Martins Soares Filho.

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Apresentação

O tracoma compõe o grupo de doenças relacionadas à pobreza que ocorrem nas populações mais vulneráveis socialmente e que persistem como problema de saúde, apesar das ações disponíveis para o seu controle.

Considerada como uma doença negligenciada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu a meta de eliminação global do tracoma como problema de saúde pública até o ano de 20201.

O compromisso para obter a eliminação da cegueira por tracoma nas Américas foi reafirmado pelos Estados Membros da Organização Pan Americana da Saúde/

Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) em 2009, por meio da Resolução CD 49. R19, que recomenda a eliminação da cegueira por tracoma e de outras infecções relacionadas à pobreza. Esse compromisso foi reafirmado pela Assembleia Mundial de Saúde, em sua Resolução WHA 66.12 de 2013, sobre a intensificação dos esforços para reduzir a carga das doenças infecciosas negligenciadas 2, 3.

Para verificar a situação epidemiológica e de eliminação da doença, a OMS recomenda a realização de pesquisas de investigação da presença de tracoma em populações vulneráveis e em áreas endêmicas. Com o objetivo de verificar a situação da doença no país, o Ministério da Saúde (MS), por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), realizou o Inquérito Nacional para Validação da Eliminação do Tracoma como Problema de Saúde Pública no Brasil na população não indígena.

O inquérito foi realizado nos anos de 2018 e 2019 em 9 unidades de avaliação, definidas como áreas rurais endêmicas ao tracoma e de grande vulnerabilidade social. A pesquisa será desenvolvida na população

Tracoma: uma doença em processo

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