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CAPÍTULO IV AS VOZES DOS SUJEITOS

4.1. Importância dos encontros/cursos oferecidos em serviço

Antes de iniciar, vale ressaltar que a importância dos encontros/cursos oferecidos pela PMU, juntamente com a SME, durante o período escolhido para este estudo foi analisada de acordo com as versões narradas e transcritas das depoentes. Conforme estudos de Ferreira (1997, p.59), ao estarmos diante do narrador e do personagem, nós, os pesquisadores, levamos em conta a relação entre o que se ouve e o que se diz, com muita responsabilidade e compromisso com os sujeitos e com o trabalho de pesquisa:

[...] há o pulsar do que se diz, a partir de uma experiência pessoal que é também a de um grupo, a recriação de estruturas narrativas assentes no imaginário e ainda a remissão direta a enredos mais ou menos presentes que naquela ocasião, se reativam.

A partir dos depoimentos, pode-se perceber como cada professor, de maneiras diferentes, relata a importância de um momento em sua vida profissional e como esses momentos estão entrelaçados na vida profissional de um grupo.

Vale destacar, neste ponto do trabalho, a importância e o papel da memória coletiva. Halbwachs (1990), estudioso das relações entre história e memória, mostra que a última é construída a partir da convivência do indivíduo com as várias instituições como a família, com a classe social, com a profissão, com a igreja, enfim, com os grupos que este indivíduo mantém relações sociais. Toda memória é coletiva, segundo Halbwachs. Ele explica que o passado social do indivíduo deixa sempre suas marcas.

Os depoimentos abaixo elucidam tal assertiva, além de trazerem valiosas ponderações e avaliações sobre o período em que havia sistematicamente os encontros de formação entre os professores da PMU. Optei por escrever os nomes das depoentes em minúsculo para diferenciar dos autores pesquisados.

“Olha, esses encontros para mim, eu acho que ocorreram bem no início (...)32foi a época que mais valeu para mim, na minha vida

profissional (...) a gente tinha aquela troca de experiência de colegas (...)” (Cunha, p. 2).

“(...) a Prefeitura começou a dar cursos pra gente. Eu acho super enriquecedor, principalmente ao professor iniciante (...) Os cursos da PMU me ajudaram demais (...) Tudo que aprendi, agradeço à prefeitura (...) (Leal, p. 2).

“Quando eu entrei na prefeitura tinha... eu lembro que a gente, além do fato de que aconteceu que a escola não estava pronta, eu aprendi muita coisa. Estava em outubro. Os alunos foram dispensados uma semana, você lembra? E aí a gente ia para o UBERSHOP e ali tinham oficinas. Você podia escolher. Tinha palestra, você ficava uma semana estudando. Teve uma vez que eu fui para o Luís Rocha e a gente ficou mais uma semana estudando, lá (...) teve o CEMEPE eu fiz uma oficina lá de Ciências, nossa (...) é uma parada porque em outubro a gente tá cansado. É uma parada necessária, o aluno cansa da gente, (...) e aí a gente tem uma oportunidade de aprender, isso não tem mais... não tem e eu sinto falta disso eu acho que é uma parada necessária. (Mesquita, p. 3).

“(...) a gente tinha reunião, a gente se encontrava em reuniões, em algumas palestras, seminários, a gente se conhecia, a gente conversava, a gente falava de momentos bons da vida da gente, comentava até de alguns alunos né, mesmo do próprio ensino” (Cunha, p. 2).

“Eram promovidos pela divisão. Era outra realidade né, por exemplo, era uma semana de estudos que a gente ficava durante o ano, alguma coisa assim, foi nesse sentido” (Cunha, p.12).

“Eu acho que tem os pontos positivos e negativos. O positivo, porque a gente tinha aquela semana pra estudar, que era assim, mais continuado, e agora não. Fica assim, à vontade do professor, que vai fazer a escolha que ele quiser fazer. Só que um dia é muito pouco. E assim, são quatro horas, quatro horas e pouco a oficina, ou a palestra. Então dá pouco tempo. Aí, tem aquela coisa de andar muito rápido, passar muito rápido. Muita coisa fica a desejar” (Ferreira, p.9).

32 Neste capítulo utilizamos as seguintes convenções: parênteses com reticências “(...)”: para indicar cortes nas falas das entrevistadas; reticências “...”: para indicar quando as falas das entrevistadas não foram concluídas e colchetes

Percebo, nos depoimentos acima transcritos, que os entrevistados demonstram a importância dos encontros da época referente aos anos de 1984 a 1995, que se referem ao período anterior da existência do CEMEPE e ao início dos trabalhos desenvolvidos pelo CEMEPE ressaltando a riqueza, a troca de experiências entre os cursistas.

Em sua fala, Mesquita chama a atenção para o fato de que os cursos ajudaram em sua aprendizagem como professora. Importante ressaltar que, para ela, as oficinas oferecidas na época possibilitavam que se aperfeiçoasse como profissional e ficaram marcadas em sua memória. Segundo a entrevistada, os docentes ficavam estudando por até uma semana, sem interrupção.

Kleiman (2000, p. 27), ao analisar um projeto de formação em serviço que coordenou juntamente a uma Rede Municipal da região de Campinas, reconhece o quanto tem sido precário o investimento neste tipo específico de formação aos professores em exercício. Em função dessa constatação, ao problematizar o tipo de formação privilegiada, o projeto desenvolvido ressalta a importância do trabalho com os textos: “Quanto aos conteúdos tratados no projeto de formação, o trabalho já centrado no texto. Privilegiamos a leitura de textos (...)” Esse posicionamento de Kleiman reforça os depoimentos dos professores sobre a relevância dos estudos de textos que eram feitos nos cursos no final da década de 1980 e início da década de 1990, quando tais cursos eram realizados nas escolas.

Todos os depoimentos ressaltam a validade dos encontros oferecidos antes da existência do CEMEPE e, no seu início, época em que os alunos eram dispensados e os professores participavam de oficinas, palestras etc.

Importante ressaltar o depoimento de uma professora que destaca o momento de estudo, a parada para reflexão como um aspecto primordial na vida do profissional:

“Tem que parar (...) eu acho que a parada para reflexão é uma coisa muito importante. A gente tem que fazer reflexão e a gente só pára nessas ocasiões. A gente não pára pra refletir se não somos provocados e convocados para isso. A gente pára pra refletir junto com todo mundo ali no curso. É ali que refletimos e essa reflexão é muito importante. É onde o professor vai ver o que ele está fazendo de bom e o que ele está fazendo de ruim e tem dos dois, tem de bom e de ruim. Mesmo o mais experiente, o mais estudado, ele tem de bom e de ruim, tem que parar para pensar, para melhorar (...) Tem que ter essa parada” (Mesquita p.19).

A partir dos depoimentos acima transcritos é possível identificarmos que no discurso dos professores aparecem diversas menções aos encontros de formação, enfocando-os de forma positiva. E, em relação a isso, estariam dando conta do papel da formação continuada mencionada na LDB 9394/96.

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