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Renata Costa Fortes Adriana Haack

Distintas categorias profissionais que se inter- relacionam em prol de um paciente de forma independente caracterizam uma equipe multidisciplinar. Nesse contexto, há expectativas de que os diversos profissionais da área de saúde ultrapassem o desempenho técnico e metodológico baseado em apenas uma única especialização.

A lesão por pressão (LPP) é uma das principais consequências das doenças crônicas e debilitantes. No Brasil, observa-se que, cerca de, 40% dos pacientes institucionalizados ou internados por longos períodos desenvolvem feridas complexas e localizadas, as quais acometem a pele e os tecidos adjacentes. Isto ocorre como consequência de pressão ou fricção, o que requer auxílio específico de uma equipe multidisciplinar.

A atuação de uma equipe multiprofissional composta por nutricionistas, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, farmacêuticos e demais profissionais da área de saúde é imprescindível para a qualidade da assistência dispensada ao paciente com LPP.

O enfermeiro irá identificar os principais fatores de risco para o surgimento e desenvolvimento de LPP no

intuito de auxiliar na prevenção e no tratamento dessas lesões. Alguns instrumentos de avaliação de risco de LPP podem ser eficientes, destacando-se a Escala de Braden e a Escala de Norton, conforme visto no capítulo 2.

O nutricionista, por meio da triagem nutricional e da avaliação dos parâmetros antropométricos, clínicos e bioquímicos, além de identificar os sinais sugestivos de desnutrição (vide capítulo 6), poderá complementar as informações obtidas pelos enfermeiros por meio das Escalas de Braden e Norton, na identificação e na gravidade das LPP.

Quanto mais elevada a dependência do paciente, maior o risco de desnutrição. Isto ocorre, principalmente, em detrimento da falta de autonomia para a compra de alimentos e para o preparo das refeições, bem como para a capacidade de alimentar-se sozinho. Técnicas que auxiliem na melhora da capacidade funcional são imprescindíveis, tornando-se fundamental a atuação do fisioterapeuta.

O fisioterapeuta atua por meio da promoção da melhora na força muscular tanto de membros superiores quanto inferiores, na reeducação da marcha e na melhora da postura corporal e na prevenção de deformidades.

O farmacêutico tem sido incluído em equipes multiprofissionais devido ao importante papel desempenhado acerca dos medicamentos. O cuidado farmacêutico melhora a qualidade do uso de fármacos e, consequentemente, diminui os riscos e a gravidade das reações adversas a medicamentos (RAM). A atuação do farmacêutico na promoção do uso racional de

medicamentos otimiza a farmacoterapia e amplia a qualidade e a segurança do cuidado dispensado aos pacientes.

Para humanizar a atenção é preciso que haja um modelo de gestão que se paute nas decisões coletivas entre os médicos e toda a equipe multiprofissional. Torna- se essencial a democratização das relações, inclusive por meio da criação de espaços coletivos de discussão que permitam o envolvimento da equipe nas decisões sobre os processos de trabalho. A atenção e a gestão, ambas indissociáveis, serão mais efetivas ao fomentar o protagonismo, a corresponsabilidade e a autonomia dos sujeitos e dos coletivos.

As decisões e as mudanças devem ser frutos do trabalho em equipe. A perspectiva da humanização busca garantir que o poder seja compartilhado por meio de análises, decisões e avaliações construídas coletivamente. Apesar de a maioria dos profissionais não considerar o trabalho em equipe como totalmente explorado e desenvolvido, reuniões rotineiras com a participação dos diversos profissionais é de suma importância para a melhor integração na busca por uma atenção humanizada. Os espaços de reunião multiprofissional são importantes facilitadores dos encontros e das trocas entre os diversos profissionais.

Os profissionais que atuam em serviços de saúde devem oferecer um cuidado humanizado e integral, baseado em uma abordagem interdisciplinar e na promoção da saúde. Os principais objetivos a serem atingidos envolvem as articulações e ações de prevenção

de doenças e agravos à saúde, o tratamento, a reabilitação, a promoção da saúde e a abordagem interdisciplinar a partir do trabalho em equipe multiprofissional.

Cabe salientar que a interdisciplinaridade instiga a possibilidade de compreender integralmente o processo saúde-adoecimento e, em consequência, de enxergar o ser humano de forma holística. Os conceitos de núcleo de saber e campo de saber evidenciam a relação entre o que é específico de cada área profissional e o que se constrói a partir da interface entre as áreas e da confluência de objetivos.

O trabalho em equipe deve ser multiprofissional e interdisciplinar para que haja o desenvolvimento de uma compreensão abrangente do processo saúde- adoecimento, bem como no processo emocional. O psicólogo irá motivar os pacientes na tentativa de modificar as percepções negativas, promover a aceitação de si mesmos e proporcionar o restabelecimento da autoestima.

Torna-se imprescindível, para atuação eficaz de uma equipe multidisciplinar, a flexibilização da divisão do trabalho, em que os profissionais além de realizar intervenções em suas respectivas áreas, executem ações comuns integralizadoras de saberes provenientes de distintos campos.

Referências

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Capítulo 9 – Efeitos da Abordagem Multiprofissional