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1 INTRODUÇÃO

2.2 IMPORTÂNCIA DA PRONÚNCIA

Há autores que defendem e incentivam o ensino da pronúncia em LE. As razões são muitas.

(...) como conciliar a exigência da comunicação mínima com a ausência de ensino do sistema sonoro da língua quando é por esse último que a mensagem oral é transmitida. (LEBLANC 1986, p. 20

citado por LEBEL, 2015).

Segundo Abry e Chalaron (2010, p. 4, tradução nossa), é preciso lembrar que: “(...) a língua é, antes de tudo, uma matéria sonora.”

Essas autoras destacam, ainda, outros motivos:

- porque a fonética é um componente essencial da linguagem, assim como o léxico, a gramática e a ortografia;

- porque a sensibilização aos fenômenos fonéticos ou fonológicos favorece (...) a produção em língua estrangeira.

- porque sem um certo domínio do código fonético, corremos o risco de não sermos inteligíveis oralmente25.

Hirakawa (2007, p. 139) apresentou em sua dissertação de mestrado o resultado de uma pesquisa em fonética do FLE. Após ter ministrado dois cursos de fonética de trinta horas cada um, ela relata que seus alunos (brasileiros) ganharam mais confiança no momento de interagir. Além disso, graças a esse curso de fonética, seus alunos melhoraram em outras competências, tais como a compreensão oral e a ortografia.

O objetivo com o ensino da pronúncia em LE será melhorar a inteligibilidade dos alunos. Alves (2015, p. 402) aponta alguns aspectos para tentar compreender esse construto.

1. a inteligibilidade é fundamental para a comunicação, e, sem ela, a comunicação não ocorre; 2. a inteligibilidade vai muito além da percepção, ainda que também seja dependente desse último construto (SCHWARTZHAUPT, 2015); 3. a inteligibilidade é uma propriedade que depende não somente do falante, mas, também, do ouvinte, de suas expectativas e do meio em que ele se encontra (LINDEMANN; SUBTIRELU, 2013).

Alves (2015, p. 402), fundamentado em diversos autores, discorre, ainda, sobre o termo “compreensibilidade” que seria definido “como uma medida do grau de dificuldade, e consequente grau de esforço empregado pelo

25 - Parce que la phonétique est une composante essentielle du langage avec le

lexique, la grammaire et le code orthographique.

- Parce que la sensibilisation aux phénomènes phonétiques ou phonologiques favorise (...) la production de la langue étrangère.

- Parce que, sans une certaine maîtrise du code phonétique, on risque de ne pas être du tout intelligible à l’oral.

ouvinte, no entendimento da fala estrangeira”.

Em alguns casos, o que é entendido apenas como um “forte sotaque estrangeiro”, pode revelar, na verdade, dificuldades maiores na produção oral, que podem ocasionar interferência na compreensão dos enunciados.

Durante o ensino da pronúncia em um curso de LE, o objetivo não será “corrigir” o sotaque estrangeiro dos alunos, todavia alguns autores revelam que o sotaque pode, sim, interferir nas interações.

Segundo Neufeld (1980), Galazzi-Matasci e Pedoya (1983) e Varonis e Gass (1982):

... a detecção de um sotaque incomum pode levar o ouvinte a alterar sua avaliação (consciente ou inconsciente) da competência linguística do aprendiz e levar à interrupção da interação.26

Segundo LeBel (2015, p. 53): “Há pessoas cuja pronúncia e prosódia são dolorosamente árduas, a ponto de indispor e mesmo de afugentar o interlocutor.”

Lauret (2007, p. 19, tradução nossa) apresenta alguns depoimentos relacionados ao sotaque estrangeiro, tanto do ponto de vista do falante quanto do interlocutor, respectivamente: “Depois de alguns minutos as pessoas não querem mais me ouvir.” Ou “Ouvir alguém com um sotaque forte, por algumas frases, tudo bem, mas depois de um minuto, pode ser insuportável.”27

Como afirmam Champagne-Muzar e Bourdages (1998, p. 26, tradução nossa):

... é em situação natural de comunicação que se afirmam os hábitos articulatórios e prosódicos. Considerando como acessório o aperfeiçoamento dos hábitos articulatórios e prosódicos, contribuiríamos talvez a restringir os contextos onde o aluno pode se exercitar na língua segunda. Fora do meio estruturado da sala de aula, no qual o professor está familiarizado com os erros articulatórios e prosódicos dos alunos, de forma que o sotaque deles não constitui uma fonte de interferência, o aluno terá poucas ocasiões de se

26 « (...) la détection d’un accent inhabituel pouvait porter l’auditeur à altérer son évaluation

(consciente ou inconsciente) de la compétence linguistique de l’apprenant, et entraîner l’interruption de l’échange. »

27 « Après quelques minutes, les personnes ne veulent plus m’écouter. ». « Écouter quelqu’un

qui a un fort accent, pour quelques phrases, ça va, mais après une minute, ça peut être insupportable. »

aperfeiçoar na língua-alvo se, cada vez que ele tenta utilizá-la, seu interlocutor procura pôr fim à interação (…)28

A essa observação, acrescentaríamos o fato de que, em imersão, o aluno não almeja somente praticar a língua-alvo, mas ele precisa dela para se comunicar e realizar as atividades cotidianas.

Se um aprendiz de francês vivendo em imersão se limita na hora de falar, por receio de ser incompreendido ou de não pronunciar bem, ele perderá inúmeras chances de melhorar sua competência na LE e também de se desenvolver pessoal e profissionalmente. É nesse sentido que o ensino da pronúncia pode contribuir para o desenvolvimento dos alunos em LE.

Conforme destaca LeBel (2015, p. 65):

Não se faz pronunciar melhor somente para pronunciar melhor e contabilizar os erros: corrige-se, trabalha-se a pronúncia para tentar obter uma comunicação melhor e para suscitar um prazer maior na comunicação oral, tanto do lado emissor/locutor quanto do lado receptor/ouvinte.

Ao não se trabalhar a pronúncia em sala de aula, corre-se o risco de os alunos cristalizarem alguns desvios na LE. Segundo LeBel (2015, p. 66): “É necessária uma intervenção em nível de percepção/pronúncia antes que os erros se instalem e se estabilizem na zona de irreversibilidade”.

Somando-se a isso, há aprendizes que, mesmo não estando em imersão, demonstram interesse em melhorar sua pronúncia. Conforme já citamos, a produção oral, competência da qual a pronúncia faz parte é, de certo modo, o aspecto que legitima a capacidade de “falar uma LE”.

“(...) O único objetivo válido da correção fonética é facilitar a pronúncia da L2 para o aprendiz que sente essa necessidade e que deseja fazer o esforço.” (LEBEL, 2015, p. 44)

Segundo Dufeu (2001), trabalhar a pronúncia pode resultar em vários benefícios para o aprendiz de LE, tanto do ponto de vista linguístico e

28 « (...) c’est en situation naturelle de communication que se fait valoir la maîtrise des habitudes

articulatoires et prosodiques. En considérant comme accessoire le perfectionnement des habitudes articulatoires et prosodiques, on contribuerait peut-être à restreindre les contextes où l’apprenant peut s’exercer dans la langue seconde. Hors du milieu structuré de la salle de classe où le professeur est familiarisé avec les erreurs articulatoires et prosodiques de ses apprenants, de sorte que l’accent de ces derniers ne constitue plus une source d’interférence, l’apprenant aura peut d’occasions de perfectionner sa langue cible si, chaque fois qu’il tente de l’utiliser, son interlocuteur cherche à mettre fin à l’échange (...) ».

comunicativo quanto do ponto de vista interpessoal. No esquema a seguir, ele faz uma sistematização desses benefícios.