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1 SOCIOLOGIA NA ESCOLA BÁSICA: EM BUSCA DE ESPAÇO E

3.2 A importância da Sociologia para formação dos alunos do ensino médio

A obrigatoriedade da disciplina de Sociologia foi estabelecida pela Lei nº 11.684, de 02 de junho de 2008. 60 Por este, entre outros motivos, não há uma metodologia específica destinada ao ensino de Sociologia para o Ensino Médio, nem mesmo há consenso sobre o que

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Palestra, IV Congresso Internacional de Educação, Santa Maria, 2015.

60 O Parecer 38/2006 do Conselho Nacional de Educação coloca as disciplinas de Sociologia e Filosofia como

ensinar e com isso a disciplina se torna “chata e pesada”, pois a linguagem é extremamente difícil, com conceitos até então desconhecidos e que se tornam densos aos alunos do ensino médio. 61

Entretanto, como aponta Oliveira (2013, p.359), “ainda que não haja atualmente um currículo nacional de Sociologia para o Ensino Médio, isso não quer dizer que não haja referências que possam nortear minimamente a prática dos professores que lecionam esta disciplina”. As referências, as quais o autor menciona são os Parâmetros Curriculares Nacionais, e as Orientações Curriculares Nacionais, que, embora tenham propostas distintas, ambas contribuem para a construção do currículo escolar.

Avaliando com cautela, entretanto, constata-se que, embora o PCN aponte para uma formação crítica e reflexiva, não especifica o que seja tal proposição. Enquanto isso, as OCNs (2008), reconhecem algumas singularidades deste campo do conhecimento resgatando sua historicidade e apontando possíveis contribuições. Além disso, assinala como finalidade da disciplina na educação básica, a busca pelo estranhamento e desnaturalização da realidade social.

Nesse sentido, ainda que não muito claro, apontam aonde se quer chegar com a Sociologia no ensino médio, deixando aos professores a decisão de qual caminho seguir para cumprir tais objetivos.

Em outros termos:

Ao enfatizar objetivos como o estranhamento e a desnaturalização do senso comum, as OCNs apontam para a forma pela qual a sociologia pode, por meio de seus conteúdos, facilitar o exercício da cidadania. De fato, noções como estranhamento e desnaturalização constituem a base de qualquer conhecimento. Como afirma Gadamer (1997), como seres humanos, estamos sempre imersos em uma tradição, isto é, em uma espécie de quadro de referência histórica, lingüística e normativamente mediado. (HAMLIN, 2009, p.74)

Nesse sentido, compreendo que o conhecimento proporcionado pelo ensino de Sociologia pode ser percebido como uma ferramenta que auxiliará os alunos a usarem as informações e a sua razão a fim de compreenderem com clareza o que acontece no mundo e também dentro de si, (MILLS, 1969). Isso consiste que a teoria sociológica contribuiu para que os sujeitos percebam coisas simples que passam despercebidas, que estas situações já naturalizadas possam ser vistas a partir de outro ponto de vista.

Cabe ressaltar que não estamos querendo colocar a Sociologia como “salvadora da pátria”, pois enquanto disciplina escolar ela não é a única a participar da formação escolar dos

jovens. Como se sabe, o ensino médio é considerado pela Lei de Diretrizes e Bases como parte da formação básica de todos os sujeitos membros da nossa sociedade. Isto é, pressupõe que à ninguém deve ser negada, pois é base fundamental, atribuída como direito a todo e qualquer pessoa. Isso se deve ao fato de que a Constituição de 1988 estabeleceu a universalização da escolaridade.

“ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria...” atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade (...)”progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio” (...) “Acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo”, (Art. 208 parágrafo primeiro da Constituição da Republica Federativa/1988). (BRASILIA 2011, p.123).

Dessa forma, ao identificar o ensino médio como educação básica ele ganha um sentido mais amplo, ou seja, deixa de ser um estudo que prioriza apenas aqueles que pretendem dar continuidade aos seus estudos, tanto em nível profissional como em nível superior e passa a ter a responsabilidade de dar conta das competências sociais e cognitivas necessárias para que os alunos continuem estudando, aprendendo, criando e construindo a sua própria singularidade pessoal. Isso significa dizer que a formação básica tem o dever de proporcionar ao aluno uma preparação que suponha capacidade de aprendizagem contínua, independente da escolha pessoal de cada estudante.

Os recursos intelectuais mobilizados no processo de aprendizagem devem ser empregados como conhecimentos que possibilitem o estudante agir dentro de situações concretas. É assim que a Sociologia vem para somar conhecimento junto a formação básica e auxiliar na conjunção entre as competências adquiridas na escola e as possibilidades reais de aplicabilidade delas.

Segundo Guiomar Mello (s.d. p.2-3), 62

“mobilizar conhecimento para agir em situações determinadas requer mais do que entender conceitos, compreender relações e fazer extrapolações. Exige senso de pertinência, intuição, sensibilidade para a oportunidade, julgamento de valor. Um currículo escolar, voltado para competências, requer o esforço permanente, para que sejam criados ambientes de aprendizagem facilitadores da constituição de conhecimentos que façam sentido e permitam ao aluno descobrir porque se aprende e para que serve o aprendizado.”

Um currículo voltado para competências significa dizer que, o que esta em jogo não é a transmissão do conhecimento acumulado, mas sim a capacidade de servir-se do que se

62 Disponível em < http://www.namodemello.com.br/pdf/escritos/ensino/coracoesecabecas.pdf> acesso 19

conhece para realizar o que se deseja, o que se projeta. Isso equivale a dizer que o currículo atribuiu “valor de uso”, vinculando o saber às práticas sociais (MACHADO, 2002). Objetivos equivalentes ao proposto para a disciplina de Sociologia, a qual seja vincular o conhecimento sociológico às praticas sociais.

De acordo com Ropé (2002), para que o currículo escolar seja definido por competências, o conhecimento apresentado ao aluno precisa identificar-se com a ação que este aluno realizará. Exige-se com isso que o estudante saiba fazer uso do conhecimento que adquiriu e não mais que apenas saiba, ou seja, não é suficiente saber que existe uma teoria, um teorema, etc., é preciso saber usar esta informação nas mais diversas situações que uma pessoa possa ser submetida no decorrer de sua vida.

O que se pretende com a efetivação da Sociologia na escola básica é precisamente isso. Ao vincular o conhecimento com a prática social, o aluno está, desde a formação básica escolar, exercitando aquilo que posteriormente com a vida adulta se torna imprescindível, ou seja, saber fazer uso, nas mais diversas situações postas, do conhecimento que adquiriu no decorrer de sua vida.

Dessa forma, conforme Perrenoud (1999), o currículo deve construir um conhecimento que se ajuste a um saber contextualizado, evitando uma hierarquização do saber pautado no conhecimento erudito. De acordo com o autor a abordagem por competência acentua a implementação da disciplina. Entretanto a reformulação curricular que esta posta em prática aqui no Rio Grande do Sul, agrupa as disciplinas em áreas do conhecimento, o que evidencia uma preocupação com a disciplina de Sociologia, pois esta, consequentemente, passa a poder ser ministrada, segundo a Coordenadoria Regional de Educação (CRE), por qualquer profissional com formação em Humanas: (História, Geografia, Filosofia, Sociologia).

Qualquer disciplina que pretenda alcançar um grau mínimo de reflexibilidade sobre sua práxis, concebida simultaneamente como dimensão educativa e social, deve buscar conhecer a realidade pedagógica e sócio-cultural de seus sujeitos – alunos, comunidade escolar e professores. É nesse sentido que a disciplina de Sociologia, que busca afirmar-se não apenas como uma disciplina obrigatória, mas de relevância social, deve refletir sobre os sujeitos do processo de aprendizagem. (RAIZER et. al., s.d, p.5-6)

Dentro desta ótica é que nos referimos que a sociologia não é salvadora da pátria, mas, quando compreendida, tem a capacidade de “desenvolver competências e habilidades” definidas no campo das Ciências Sociais, que não estão presentes em outros campos nem podem ser “desenvolvidas” por outras disciplinas ou por profissionais que não tenham sido

preparados. O que se desenvolve com este conhecimento é aquilo a que se tem chamado de “olhar sociológico”.

Dessa forma pondero que a disciplina de Sociologia, como elemento fundamental para formação básica dos sujeitos, contribuiu para o desenvolvimento da formação crítica dos mesmos, em função das necessidades do seu tempo. Todavia, para que esse objetivo se cumpra efetivamente, ponderamos que depende do modo como os profissionais responsáveis pela orientação deste conhecimento, decidirem ministra-lo, isto é, vai depender, e muito, dos caminhos pelos quais o professor conduzirá o aprendizado desta ciência e estando ela, aqui no Rio Grande do Sul, submetida a orientação de “qualquer” profissional, corre o risco de não cumprir com suas finalidades.