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3.3.2 ASPECTOS BIOFÍSICOS a) Solos

4.3. IMPORTANCIA AMBIENTAL DA CACAUICULTURA

O cacaueiro possui características de melhor adaptação e desenvolvimento em áreas de sombreamento, assim, a cultura é normalmente associada a outras espécies como bananeira (Musa sp.), seringueira (Hevea brasiliensis), mogno (Swietenia macrophylla King) e leguminosas sem valor econômico, cuja finalidade é a promoção de sombra desde a fase de implantação até a fase produtiva, proporcionando a utilização de sistema agroflorestal no plantio (SILVA NETO et al.,1999).

A aptidão do cacaueiro ao cultivo em SAFs é citada por Alvim (1989) destacando que a espécie reúne boas características no aspecto edáfico, pois proporciona elevada quantidade de biomassa, favorecendo o aumento do teor de matéria orgânica do solo, além de ser uma cultura que, naturalmente, requer um consorciamento com outras culturas, no sentido de lhe fornecerem sombra, quer seja como sombreamento temporário, quer seja como sombreamento

51 definitivo, exigências essas que vão ao encontro das características adotadas pelos sistemas agroflorestais, além de atuar como mantenedor do equilíbrio ecológico.

5.3.1. OS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

A floresta é composta por várias espécies, que se desenvolvem em diferentes contextos (nichos) e ocupam o espaço vertical de forma bastante completa, com seus estratos, de acordo com a necessidade específica de cada uma dessas espécies, em luz, direta ou filtrada, fazendo com que a energia do sol seja aproveitada da melhor maneira possível (PENEIREIRO, 200817 apud ABDO et al., 2008).

Nos SAFs as plantas cultivadas são introduzidas em consórcio, de forma a preencher todos os nichos, inclusive, considerando nessa combinação, espécies nativas remanescentes, espécies da regeneração ou reintroduzidas (ABDO et al., 2008).

Os sistemas agroflorestais são reconhecidos como modelos de exploração de solos que mais se aproximam ecologicamente da floresta natural e, por isso, considerados como importante alternativa de uso sustentável para o ecossistema tropical úmido (BANDY et al., 1994; CANTO et al., 1992; NAIR, 1993).

Em termos conceituais, os SAFs são definidos por Yared et al. (1998, p. 9, 2009) como:

“sistemas de uso da terra que envolve a integração de árvores ou outras espécies perenes lenhosas com cultivos agrícolas e/ou pecuária, procurando obter como resultado dessa associação a racionalização e o melhor aproveitamento do uso dos recursos naturais envolvidos no sistema de produção”.

Os SAFs são um exemplo específico de práticas agroflorestais encontradas em uma localidade ou área, de acordo com sua composição biológica e arranjo, nível tecnológico de manejo e características socioeconômicas (NAIR, 1993; YOUNG, 199118 apud ENGEL, 1999).

O cultivado em SAF possibilita o crescimento de matéria orgânica nos solos, a redução da erosão laminar e em sulcos e o aumento da diversidade de espécies (BEZERRA et al., 2000) e suas propriedades físicas e promovem uma ciclagem de nutrientes eficiente

17PENEIREIRO, F. M. 2008. Cuidando da natureza, cuidamos da humanidade. Palestra proferida no Segundo Módulo do Projeto “Formação de agentes multiplicadores Socioambientais na Bacia do Xingu”.

18 YOUNG, A. Agroforestry for soil conservation. Wallingford: CAB Internatonal, 1991, 275p. (ICRAF Science

52 YOUNG, 1991 apud ENGEL, 1999). Os ambientes com a presença de SAFs também é capaz de propicia a regulagem do microclima (GLIESSMAN, 2005).

Para Engel (1999) o objetivo principal dos SAFs é de otimizar o uso da terra, conciliando a produção florestal com a produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a pressão pelo uso da terra para produção agrícola.

Os SAFs, além dos ambientais, também podem trazer benefícios econômicos. Segundo Abdo et al., (2008), economicamente a diversificação da produção em diferentes épocas do ano pode ocasionar uma diminuição de riscos econômicos, melhor distribuição temporal e maior conforto do trabalho proporcionado pelo microclima existente.

Neste sentido, os sistemas agroflorestais podem contribuir para a solução de problemas no uso dos recursos naturais, por causa das funções biológicas, e socioeconômicos que podem cumprir (ENGEL, 1999).

Entretanto, quando não planejado adequadamente, os SAFs também podem trazer desvantagens que podem está relacionados tanto a concorrência por nutrientes entre as espécies, como a falta de remuneração no período improdutivo. Para a constituição do sistema, enquanto este não está gerando renda, o produtor enfrenta um período de espera que pode ser incompatível com as necessidades de reprodução da família. Este pode ser superado com o consórcio de culturas anuais com as de ciclo mais longo tais como bananeiras e mamoeiros, tendo retornos mais imediatos (MAY et al., 2005).

Tradicionalmente, a cacauicultura representa um bom exemplo para a abordagem de SAF, sendo considerada a mais eficiente comunidade vegetal, no que se refere à proteção dos solos tropicais contra agentes de degradação, por possuir muitos dos atributos de sustentabilidade da floresta heterogênea natural (ALVIM, 1989).

4.3.2 A CACAUICULTURA E O USO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM MEDICILÂNDIA

A utilização de SAF no plantio de cacau está relacionada às características da espécie que, segundo Silva Neto et al. (1999), possui características de melhor adaptação e desenvolvimento em áreas de sombreamento, assim, a cultura é normalmente associada a outras espécies, cuja finalidade é a promoção de sombra desde a fase de implantação até a fase produtiva.

Calvi (2009) em estudo sobre os sistemas agroflorestais de Medicilândia, identificou que desde a introdução da cacauicultura no território, na década de 1970, a CEPLAC tem

53 orientado o plantio do cacau com sombreamento de espécies arbóreas exóticas como a Eritrina (Erythrina sp.), Palitera (Clitoria racemosa) e a Guimelina (Gmelina sp.), que são árvores sem valor comercial. As principais justificativas do órgão para o uso destas espécies foi o fato de disponibilizarem quantidades de sombras em proporções ideais e terem capacidade de fixação de nitrogênio no solo através do sistema radicular.

No entanto, Alguns agricultores, contrariados com esta questão ousaram inovar. Estudos realizados por Maia et al.(200319 apud CALVI, 2009),identificaram experiências de SAFs de cacau x mogno, desenvolvidas por produtores familiares, no município de Medicilândia, que datam do início da colonização da Transamazônica.

Atualmente, segundo Calvi (2009) dentre as espécies plantadas com maior número de ocorrência em Medicilândia destacam-se o Mogno (Swietenia macrophylla), Ipê (Tabebuia

sp.), Andiroba (Carapa guianensis), Abacate (Persea americana), Cedro (Cedrela fissilis), Açaí (Euterpe oleracea), Manga (Mangifera indica), Cupuaçu (Theobroma grandiflorum), Laranja (Citrus aurantium ssp.), Tatajuba (Bagassa guianensis), Teca (Tectona grandis) e Copaíba (Copaifera multijuga).

Calvi (2009) também identificou que a maior parte das experiências de SAFs implantadas em Medicilândia está localizada na área de colonização antiga e mais de 90% tem o cacau como principal cultura. Essa área corresponde a grandes faixas de solos de alta fertilidade natural, onde ocorreu a implantação da cultura da cana de açúcar no município.

No período de implementação da cana de açúcar foi exigido que 100% da área se convertessem de florestas a campos de cana, sob o risco de perderem suas propriedades, o que de fato foi cumprido por alguns agricultores (FVPP, 2010).

No entanto, a adoção de SAFs no cultivo do cacau vem mudando a paisagem no município de Medicilândia. Estudos realizados por Godar et al. (2008) demonstram que em Medicilândia nas áreas de colonização iniciais situadas próximas da Rodovia a paisagem está se estabilizando, e inclusive a floresta está se recuperando. Boa parte das antigas pastagens e áreas de cultivo anual se transformou em florestas secundárias velhas e/ou cultivos de cacau.

Esta situação pode ser confirmada através do estudo Terra Class (2008) que mapeou 810,7 km² com mudança na cobertura vegetal, onde mais de 70% destas áreas alteradas observadas são constituídas de vegetação secundária, regeneração e pasto sujo,

19 MAIA, C.; CELESTINO FILHO, P.; SALGADO, I. Experiências de agricultores familiares em sistemas

agroflorestais na região da Transamazônica, Estado do Pará. In. SIMÕES, Aquiles (org.). Coleta Amazônica: Iniciativas em pesquisa, formação e apoio ao desenvolvimento rural sustentável na Amazônia. Belém: Alves, 2003. 326p.

54 correspondendo a (figura 11). As áreas de floresta correspondem a 6.432,03 km², ocupando aproximadamente 78% do município.

Figura 11 – Mapa de uso e cobertura da terra no município de Medicilândia segundo dados Terra Class (2008).

Segundo Calvi (2009), os principais aspectos avaliados pelos agricultores familiares como as vantagens proporcionadas na utilização de SAFs são sombreamento, aumento da produção e proteção do solo, conforme pode ser observado do gráfico 03.

Em quase três décadas de exploração comercial do cacau no Território da Transamazônica, esse cultivo foi capaz de minimizar os efeitos danosos da ação do homem sobre a floresta, contribuindo com o meio ambiente através de sua estrutura de plantio ecologicamente correta, e proporcionando renda capaz de estimular os agricultores a não optarem por outras atividades sem essa característica (MENDES, 2005).

Entretanto, Brandão et al. (2008), em estudo realizado sobre a cultura do cacau em SAFs na Transamazônica, concluíram que ainda não são incorporados benefícios sociais e ambientais prestados pela lavoura cacaueira em SAF na elaboração de projetos e análise de viabilidade econômica dos empreendimentos, fazendo com que essas atividades, mesmo sustentáveis, sejam igualadas a outras potencialmente degradadoras do meio ambiente. Os autores também citam que algumas vantagens efetivas precisam, portanto, ser apresentadas aos agricultores, de modo a incentivar o desenvolvimento de atividades produtivas que além

55 de propiciarem benefícios econômicos – garantindo renda digna e estável para atender as suas necessidades e as necessidades de suas famílias – possam também incorporar aos sistemas produtivos benefícios agronômicos, sociais e ambientais.

Gráfico 03 – Percepção dos agricultores de Medicilândia sobre os benefícios dos SAFs.

Fonte: Calvi, 2009.